A Herdeira de Hécate escrita por Rocker


Capítulo 2
Capítulo 1 - Nightmare


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo pra vcs, minhas fofas! No início ainda é meio confuso, mas depois as coisas vão se ajeitando. A fic é divida em umas três partes, mas todas aqui msm. Bem, obrigada pelos comentários, espero que apareçam bastantes nesse capítulo também!



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A Herdeira de Hécate

Hate to twist your mind,
Down to the Devil's show,
To be his guest forever,
(Peace of mind less than never!)

Capítulo 1 - Nightmare (Avenged Sevenfold)

O destino é algo incerto. É algo maior que nos controla - a tudo e a todos. O destino nos leva a fazer escolhas. Escolhas difíceis, muitas vezes, cuja tensão nos pressiona a cada segundo e cujas as consequências podem nos assombrar pelo resto da vida. Mas eu nunca pensei que meu destino já estivesse traçado. Por mais que eu acreditasse que o destino controla a vida das pessoas, nunca pensei realmente nele se aplicando a mim. Até que fora minha vez de fazer uma escolha difícil. Uma escolha que, anos depois, eu pararia para revê-la, pensando se eu seria capaz de seguir por outro caminho devido às coisas ruins que se seguiram. Mas então eu pararia e reveria tudo de bom que acontecera comigo e perceberiam que jamais teria coragem de fazer algo diferente.

Minha escolha?

Eu decidira me matar.

E não, não fora uma decisão tomada de uma hora para a outra. Minha vida sempre foi uma merda. Não há porquê negar, minha vida sempre foi uma merda. Nunca conheci minha mãe e meu pai era um bêbado desempregado que me batia quando bem entendesse. Minhas notas na escola pública de Nova York eram horríveis demais para que eu conseguisse até um emprego de lixeira. Eu tinha dislexia e hiperatividade e ainda sofria de um bullying sério na escola. Não que eu nunca tenha tentado resolver, denunciando à diretoria, mas era um colégio público, ela nunca iria se importar com isso.

E se nosso apartamento pequeno em Middagh St, no Brooklyn, não fosse um presente da minha avó, já teríamos sido despejados. E coisas estranhas aconteciam comigo. Já fui perseguida, quase morta, espancada, e uma vez eu consegui deixar meu quarto de cabeça pra baixo. Literalmente, como se os móveis estivessem colados no teto. E meus olhos ainda mudavam de cor de acordo com as minhas emoções, então eu tinha sempre que usar lentes negras para disfarçar. Então, além de dislexia e hiperatividade, eu ainda desconfiava que minha sanidade fora prejudicada.

Isso sempre fora motivo suficiente para que eu desistisse de tudo. Mas eu sempre tentara ser forte, superar tudo e conseguir sobreviver a cada dia. Eu tinha meus próprios métodos de escapar desse mundo. Por mais que eu gostasse de ler, minha dislexia sempre atrapalhava, então eu demorava meses para finalizar um livro que não chegava nem a duzentas páginas. Então, ao invés disso, eu pintava. Sim, eu pintava. Meu quarto tinha as paredes todas pintadas e pichadas e era cheio de quadros meus. Com o dinheiro que vovó me mandava todo mês, eu conseguia pagar as contas, colocar comida dentro de casa, e ainda sobrava um pouquinho pra comprar as tintas e o spray. Eu conseguia expressar tudo ali.

Mas hoje tudo desabou. Meu pai finalmente conseguira me destruir com sua bebida. Era até irônico, já que eu sempre dizia que ele iria acabar se matando. Jamais pensei que seria atingida primeiro - mas também jamais imaginei que meu pai teria a coragem, mesmo bêbado, de jogar vodka nas paredes do meu quarto, manchando todas as pinturas ali, e rasgar as telas espalhadas, alegando que "fora um acidente". Nunca é um acidente você ir bêbado, no quarto da sua filha - onde era proibida a sua entrada - com uma garrafa de vodka numa mão e uma faca na outra.

Eu aguentara tudo. Tudo mesmo. Mas agora já não dava mais - ele destruíra meu único ponto seguro que me impedira até agora de desistir da vida. E era por isso que agora eu estava correndo. Correndo como louca às três horas da madrugada até a Ponte do Brooklyn que cruzava o Rio East, que não ficava muito longe do que eu nunca consegui chamar de lar. Numa madrugada de feriado, quase nenhum carro passava, o que era impressionante. Mas eu não estava preocupada com isso. Eu só queria acabar de uma vez com meu sofrimento.

Não a atravessei muito, pois tinha uma extensão de quase dois quilômetros. Devo ter atravessado quase oitocentos metros e uma das estruturas imensas de suspensão quando parei e subi cuidadosamente - o que era irônico - nos cabos de sustentação. Olhei para baixo, para as águas escuras do Rio East, e imaginei o que aconteceria, mesmo já sabendo a resposta. Eu pularia, e ninguém nunca saberia que eu havia morrido; porque ninguém se importa comigo. Nunca se importou, por quê agora seria diferente? A única coisa que já me dera esperanças na vida se foi por causa de álcool e uma faca. Eu deixara minha esperança rasgada aos trapos no chão do meu quarto, do mesmo jeito que meu pai havia deixado os quadros.

Eu mal sentia as lágrimas escorrendo por minha bochecha e os soluços irrompendo pelo meu peito.

Carros e carros passavam, apesar de não serem muitos. Pessoas não passavam a pé por ali às três da manhã e carro nenhum parou ao me ver no parapeito da ponta, segurando uma das cordas de aço. Afinal, várias pessoas pulam dessa ponte por ano, eu era apenas mais uma. Apenas mais uma... Ninguém jamais se importaria comigo. Não havia muito o que continuar da vida medíocre que eu tinha. Então eu simplesmente soltei a corda de aço e me impulsionei para frente, preparada para a morte certa que me esperava assim que meu corpo batesse contra as águas do Rio East.

Mas eu nem ao menos senti o vento batendo contra meu corpo na descida. Porque não houve descida. Porque alguém me segurou pela cintura e me puxou de volta para o chão pavimentado, no lado seguro da ponte. Lágrimas ainda rolavam por meu rosto e os meus soluços irrompiam cada vez mais alto. Desta vez, de frustração. E eu já quase sentia as lentes negras se descolando.

– Está louca?! - ouvi uma voz masculina.

Virei-me para ver quem fora o meu salvador. E então eu percebi que estava no colo de um garoto que tinha mais ou menos a minha idade, dezesseis anos. Pele alva, cabelos negros e que caíam quase sobre as sobrancelhas, e olhos tão escuros que eu podia jurar que poderia me perder neles. Isso, claro, se mais um soluço não me acordasse do transe em que eu entrara. Levantei-me, assustada e meio sem saber o que fazer.

– E-eu... - comecei, enquanto ele se levantava.

Olhei-o e então olhei para a ponte, com todos os pensamentos retornando à minha mente e a vontade de correr até a beirada novamente estava me consumindo. E eu estava quase fazendo isso. A única coisa que me prendeu onde estava foram aquelas orbes negras me encarando profunda e preocupadamente. E então eu percebi ele havia sido a primeira pessoa na vida que havia se preocupado comigo. E ele nem ao menos me conhecia.

Me engasguei com as lágrimas e tapei o rosto com as mãos, com vergonha do que aquele garoto lindo pensaria ao ver a garota em trapos que eu era. Mas então seus braços me cercaram e ele me apoiou contra seu peito. Eu nem ao menos havia resistido; simplesmente me recostei contra seu peito e chorei. Chorei tudo o que eu precisava, tudo o que eu havia segurado durante todos esses anos. Ele nada disse, apenas me apertou forte e ficou acariciando meus cabelos. Me perguntei porque ele continuava ali. Ele com certeza não parecia o tipo de pessoa que se apiedava por uma garota problemática com desejos suicidas.

– O que aconteceu de tão ruim para você querer se jogar da ponte? - ele perguntou em sua voz rouca, próxima ao meu ouvido. E me assustei quando percebi que não havia repudiação em seu tom de voz.

– Tudo. - sussurrei; minhas cordas vocais não tinham forças para um tom mais alto.

Me afastei dele o observei olhar para os dois lados, preocupado. Franzi o cenho interrogativamente enquanto ele despia sua jaqueta de aviador e colocava em meus ombros desnudos. A primavera no Brooklyn era fria, ainda mais de madrugada.

– Qual seu nome?

Funguei. - Cristal D'Cleir.

– Meu nome é Nico di Angelo. Venha, eu não moro muito longe. - ele disse gentilmente, enquanto me direcionava para fora da ponte e amparava a maior parte do meu peso.

E enquanto andávamos, eu dizia tudo - ou quase tudo, preferi tirar as partes mais estranhas, como a dislexia, a hiperatividade e a mudança da cor dos olhos. Mas o resto eu não escondi nada.

Porque eu senti que podia confiar em Nico.


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