O cão de Caça e a Raposa escrita por Patucio


Capítulo 3
Capítulo 2 - Obsessão




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Já tinham se passado duas semanas desde que Erik tinha conseguido o celular de Sam. E foram duas semanas incrivelmente tranquilas para todos.

Erik havia parado de atacar e amedrontar as garotas da escola e tentava evitar atacar os garotos mais fracotes, apesar de que não ignorava um insulto ou algo do tipo em sua direção.

Ninguém sabia por que ele havia mudado daquela forma e vários rumores começaram a aparecer pela escola. Uns diziam que ele havia perdido uma briga e agora estava se sentindo mal, mas esse durou pouquíssimo tempo, já que ele havia procurado e ameaçado quem o liberou. Depois apareceu um que falava que ele era na verdade gay, e por isso ele apenas brigava com os mais fortes da escola. O cara que soltou esse rumor nunca se arrependeu tanto na vida, ele foi pendurado na arvore pela cueca e Erik proibiu qualquer um de resgata-lo pelo resto do dia. O mais recente era que provavelmente alguém havia amolecido seu coração de cachorro. Dessa vez ele nada fez com a pessoa, parte porque era uma garota, parte porque não era exatamente mentira.

Ele sempre pensava naqueles olhos fascinantes, tanto que durante dois dias ele começou a desenha-los no caderno de desenho. Obviamente ele removeu as paginas e enterrou elas perto da arvore. Não tinha vontade de destruí-las de vez.

Nas aulas de matemática, historia, geografia e física, ele simplesmente não prestava atenção. Tudo bem que nunca precisou, já que queria cursar uma faculdade para artes, então só precisava de créditos em artes e outras duas matérias. Ele optou por inglês e culinária, era um bom cozinheiro quando queria. Mas agora o motivo de se deixar distrair nessas aulas era que ficava olhando para sua esquerda. Ele reparava no jeito dela de estudar, em como balançava os cabelos quando não conseguia uma resposta satisfatória da matéria e como ela colocava o cabelo atrás da orelha. No fim de cada período, ele sempre era o primeiro a sair da sala e sempre ficava sentado apoiado na sua arvore.

Ela passou essas ultimas semanas como se nada houvesse mudado. Bem, nada além do fato que Erik tinha um sorriso lindo e que suas melhores amigas Lizzie e Ashley tinham ficado caidinhas por ele.

– Sam, ele é mó gatinho! E ainda por cima, você nunca mais iria precisar se preocupar com problemas! Olha que pacotão! – Liz era muito extravagante e adorava ser mimada pelos outros. Sempre agia da maneira mais fofa possível e graças a isso sempre dava um jeitinho de conseguir o que quisesse, principalmente de garotos.

– Liz, eu já falei, não importa o quão lindo aquele sorriso era, eu não consigo ignorar o fato dele ser o maior delinquente dessa escola! – Ela sempre repetia a mesma resposta, era como se precisasse se lembrar daquilo.

– Olha Samantha, eu conseguiria facilmente ignorar isso depois do que vi naquele dia de chuva... – Ashley era uma garota bruta, não queria e nem precisava ser fofa.

– Ash, poderia parar de lembrar daquilo? – Ela estava cansada das garotas da sala ficarem comentando o ocorrido.

Na última sexta, durante a aula de ginastica, as garotas resolveram não praticar e ficaram assistindo o treino dos garotos do beisebol. Estava indo muito bem até que uma chuva repentina começou a cair. A ultima bola tinha sido rebatida e voou longe do campo. Sam se voluntariou e correu apanhar a bola na chuva, mas enquanto voltava escorreu numa das bases e caiu numa pequena poça gelada. Erik voltou no meio da chuva, pegou ela no colo e correu pro ginásio. Quando chegaram, ele a colocou no chão, tirou a jaqueta que usava e entregou para ela. Ela agradeceu e foi se secar. Erik então viu como estava seu uniforme e retirou a camisa para não pegar um resfriado. Funcionou, mas isso causou suspiros de todas as garotas da sala. Ele tinha um tanquinho definido. Nos 30 segundos que levaram para ele guardar a camisa molhada e pegar uma seca, nenhuma garota desviou o olhar, mas ele nem reparou. Ele tinha ficado ligeiramente eufórico com o fato de ter pegado Sam no colo e a tirado da chuva.

– Ah, vai dizer que não gostou de ter ficado naqueles braços definidos e fortes durante alguns momentos? – Ashley também era um pouco tarada, adorava olhar pra bunda dos garotos e qualquer ponto físico que achasse atraente.

– Claro que não! – Ela cruzou os braços e balançou os cabelos. Aquilo era um costume estranho que tinha, ela sacudia os cabelos para fazer as pessoas notarem em outra coisa que não seu rosto. Ela havia corado nessa ocasião.

Porem houve um fato que nem todos da escola haviam descoberto que ocorreu na sexta passada. Durante a saída, Erik desta vez foi um dos últimos a deixar a escola, ele tinha desenterrado os desenhos que fez, dobrando-os e guardado no bolso, mas precisou fazer isso sem ser descoberto.

Seth havia visto a cena do “grande resgate”, como gostava de chamar, e não gostou nem um pouco daquilo. Ele tinha uma certa “obsessão” por Sam a alguns anos. O único namorado que a garota poderia acabar arranjando foi afastado por Seth, inventando historias sobre o rapaz para que ele não precisasse dividi-la com mais nenhum homem. Ele via aquilo como um rival e queria se livrar dele.

Quando Erik chegou ao portão, Seth o esperava e notou suas mãos sujas de terra.

– Ei cão! Acho melhor lhe avisar que a Samantha não é pro seu bico. Esqueça ela e tudo ficara bem. – Seth o olhava muito serio.

Erik olhou para ele e depois se virou para ir embora, como se fosse indigno de sua atenção. O loiro correu atrás dele e o segurou pelo braço.

– Cão, estou falando com você. A Samantha é minha, sou o único cara na vida dela, então vai saindo, entendeu? – Os olhos laranjas se voltaram para ele.

– Não tenho a menor intenção de me afastar dela, esta entendendo? – Foi apenas o fato dele ser amigo da Angel que o impediu de dar um soco naquela cara.

– E o que andou desenterrando em? – Ele colocou a mão no bolso de Erik e retirou os papeis. Erik não tinha conseguido impedir. – Mas o que diabos é isso? Esses desenhos são dos olhos da Sam?

– Me devolva isso agora! – Ele arreganhou os dentes, estava pronto pra atacar.

– Hahahaha! – Seth tinha um olhar vitorioso. – Então quer dizer que você quer mesmo ela não é? Bem, se quiser que isso aqui fique em segredo é melhor se afastar dela logo. Eu posso até considerar devolver isso.

Erik atacou, mas Seth lhe deu um golpe de judô que o derrubou no chão. Erik teria facilmente acabado com ele em outra situação, era muito bom em lutar, porem quando ele perdia o controle, não conseguia raciocinar direito e perdia facilmente de alguém com alguma habilidade em lutas.

Seth saiu andando rindo e entrou no ônibus que passava. Erik se levantou, mas já não havia o que fazer.

Ele passou o fim de semana inteiro pensando naquela ameaça. Não queria se afastar da garota, mas tão pouco queria que ele revelasse os desenhos para alguém. Não sabia o que ocorreria com isso.

Ele evitou pensar nela o fim de semana todo, mas na segunda tudo conspirou contra ele.

Havia começado novamente a aula de ginastica, mas dessa vez tudo estava correndo bem, nenhuma chuva repentina, nenhum acidente, nada. Parecia que Erik iria poder guardar seu segredo e talvez recuperar seus desenhos. Mas então, enquanto bebia água, ele avistou Seth sussurrando para Sam, ela ficou chocada com algo e olhou pra ele e começou a caminhar na sua direção. Quando chegou bem perto, disse com uma voz estranhamente triste e chorosa.

– Eu não acredito nisso, então quer dizer que tudo que disse e fez nesses últimos tempos era uma aposta com um amiguinho babaca seu? – Ela não gritava, ela falava baixo até demais. Ele ficou surpreso.

– Do que você ta falando Samantha?

– Você sabe do que to falando, não se faça de besta. De que outra forma teria conseguido meu celular eim? Nunca mais fale comigo. – Ela se afastou e saiu em direção à porta.

Erik estava extremamente confuso. Ele olhou para Seth e viu um sorriso maldoso em sua face. Ele tinha aprontado algo.

Erik saiu correndo pela porta atrás de Sam, ela estava chegando ao portão já.

– Samantha! Espere! – Ele foi se aproximando.

– Não! Não quero ouvir nada do que tem para dizer. – Ele estava perto o suficiente para olhar bem para os olhos dela, dessa vez eles expressavam uma grande triste e desapontamento em meio a umas lagrimas que se formavam.

– Escuta, eu não sei o que o Seth te disse, mas é mentira, entendeu?

– Então por que você tinha o numero do meu celular? Por que começou a respeitar as garotas e os mais fracos depois que nós conversamos? Você sabia que eu odiava aquilo! – Ela estava erguendo a voz, novamente ela estava ficando a flor da pele.

– Olha, prefiro não dizer o porquê da minha mudança ta bom? Mas o numero eu posso explicar!

– Então explique, quero saber de você da onde arrumou meu numero. – Ela cruzou os braços, agora o desafio havia se juntado às outras sensações que seus olhos passavam.

Ele suspirou, viu que não tinha escolha.

– Ta bom. Eu consegui seu numero de uma das suas amigas. Eu fui o primeiro a sair, mas resolvi me esconder para ver se você estava bem mesmo. Vi você saindo e realmente estava tudo bem, então me lembrei de que não gostava daquele apelido e vi que uma das suas amigas, aquela marrenta, tinha ficado sozinha. Me aproximei e pedi o seu número, que queria perguntar algo para você. Ela ficou meio relutante, mas resolveu dá-lo. É isso. – Ele finalizou, mas logo viu que ela não acreditava, ela sacudiu os cabelos.

– Se é verdade por que ela não me contou isso?

– Vou saber? Pergunta isso pra ela ué. – Ele notou que os estudantes começaram a sair para ir embora. Já eram 15h30min.

– Mas ainda tem o fato de você ter mudado, qual foi o motivo?

– Olha, é particular entendeu? Não vou contar.

– Isso não te ajuda em nada.

– Eu sei muito bem disso.

As pessoas começaram a parar para olhar. Alguns passavam e apenas deixavam a escola, outros paravam no portão e ficavam observando ao longe. Ele estava ficando incomodado com tanta atenção nessa conversa.

– Samantha, você ainda acredita no que o Seth fala? Você já viu que ele não é tão santo assim.

– Não venha me colocar contra o Seth! Ele pode errar em algumas coisas, mas nunca pensou ou agiu igual a você! – Ela olhou por cima do ombro de Erik. Ele se virou e viu Seth chegando. Ele estava com as folhas de desenho dele na mão.

– O que você esta fazendo com isso? – Erik estava ficando bravo, Seth começou a abrir os desenhos.

– O que eu tenho aqui é prova do que eu disse a Sam. Olhem isso aqui! – Ele abriu os desenhos para que todos vissem.

Erik ficou em choque. Todos olharam os desenhos e ficaram cochichando entre eles. “Mas aqueles são os olhos da Sam”, “Esse cara ta desenhando o olho de alguém? Ele é louco?”

– Seth, guarde isso. – Ele começou a arreganhar suas presas.

– Oras, mas eu preciso ler o que esta escrito aqui.

– Não se atreva! – Mas antes que ele pensasse em avançar, Sam se colocou na frente dele. Ele não podia passar por ela.

Seth limpou a garganta e começou a ler em voz alta com um tom pervertido.

– Esses olhos heterocromicos, eles não saem da minha cabeça. Quando me aproximei dela naquele dia, vi sentimentos muito incríveis passando por eles. Estou fascinado, quero muito saber que outros sentimentos posso tirar deles. – Ele terminou a leitura e varias pessoas olharam para Erik como se ele fosse algo nojento, como se visse Sam apenas como um objeto de estudo. Ele havia tornado suas palavras em algo perverso. Sam olhava de Seth para Erik, com uma cara de espanto, ela não acreditava no que ouviu.

– Samantha, não é o que parece- Ele estendeu a mão na direção dela, mas ela se encolheu de medo. Ela correu em volta dele e saiu pelo portão. Erik olhou para Seth e pulou em cima dele tentando sufoca-lo com as mãos. – Seu maldito! Você me fez parecer um monstro! Eu vou te matar! – Apesar de estar bem preso e estar sufocando, Seth tinha um sorriso triunfoso no rosto. Varias pessoas avançaram para os dois e tiraram com dificuldade Erik de cima de Seth.

– Viram só? Ele tentou me matar! – Seth tinha uma voz medrosa.

Erik se livrou de todos e saiu correndo embora. Ele não parou um instante e tudo que tinha na cabeça era o rosto de Sam, como ela o olhou depois do que Seth leu. Ele só parou quando chegou ao cais. Ele se apoiou na grade e soltou um grito, um grito de cortar a alma. Ele caiu de joelhos no chão e começou a chorar. A coisa mais próxima de uma amizade que teve agora tinha um medo mortal dele, tudo por causa de um cara que era obcecado por ela. Quando viu, estava segurando as folhas na mão, nem se lembrava de ter pegado-as de volta. Ele amassou tudo em uma bola, segurou firme e tentou jogar no mar. Mas sua mão não obedecia. Ele não queria destruir aquilo, era precioso demais. Ele abriu o papel e olhou os desenhos. Mas agora, todos eles tinham uma expressão horrorizada para seus olhos. Ele voltou a chorar ajoelhado.


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Notas finais do capítulo

Gostaria de avisar que postarei 3 capitulos por dia, porque ainda preciso dar os toques finais no 11 que é o ultimo (Sim, é bem curta) então a partir daqui terão que esperar xD



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