A semana seguinte passou lentamente. Foi mais cansativo do que o normal. Muito trabalho , muita matéria… Acho que estou começando a sentir falta da escravidão do acampamento. Mas, apesar de tudo, foi uma boa semana. Peter não foi às aulas nos dias seguintes, mas claro que eu esbarrei com Ethan e Kyle pelos corredores. Encontros totalmente desagradáveis, sem nenhuma palavra vinda da parte deles, e não seria eu a quebrar o silêncio mortal que se instala quando nossos olhares se cruzam.

Tive apenas um encontro com a Sarah e Lilyan, mas não posso dizer que nossa conversa foi menos estranha do que os olhares com Kyle e Ethan.

*Flashback on*

– Eu ainda não sei se posso acreditar em você, Scott. Você pisou feio na bola. - Sarah disse.

– Sarah, tudo o que eu disse era e é verdade. E aquele beijo só serviu para me mostrar, mais uma vez, que eu eu gosto mesmo da Alysson.

– Ah, sério? - ela disse, usando todo o seu sarcasmo - E como beijar outra garota te mostra isso, exatamente?

– Eu não senti nada durante o beijo.

– Ah, claro. A típica frase do cara que traiu a mulher. Você acha que a gente não assiste a filmes? - perguntou a pontado de si mesma para Lilyan, que permanecia calada ao nosso lado, fitando um ponto distante. Esse é o momento em que eu tenho mais medo dela, quando ela está quieta demais.

– Caramba! O que eu preciso fazer para você acreditar em mim? - quase gritei, fazendo com que alguns poucos pares de olhos próximos, voltassem sua atenção para nós.

– Eu também não tenho a resposta para essa pergunta. - respondeu tristemente. Droga, eu odeio vê-la assim.

– Você acha que eu não me sinto mal com isso tudo, não é? Acha que eu não me arrependo, pensa que eu não me preocupo com o que a Aly sente. Eu sei o quanto ela sofreu, Sarah, e eu nunca seria capaz de fazer nada nem parecido. Eu entendo o instinto de proteção que vocês duas tem em relação a ela, mas uma hora vocês terão que confiar em alguém. E, principalmente você, Sarah, que se aproximou de mim nessas últimas semanas, sabe que eu mudei, que eu sou de confiança. Eu posso ter errado, e admito esse erro, mas me diz alguém que nunca tenha errado na vida. Além do mais, foi só um erro. Não que tenha sido sem importância, mas foi um único erro, que pode e está sendo reparado. - alguns minutos de silêncio se seguiram, até que:

– Scott tem razão. - ergui meu olhos, que antes fitavam o chão, e encarei Liyan, que prosseguiu - Não é como se o Scott tivesse um lance sério com a Alysson pare chamar aquele beijo de traição. E, de qualquer forma, a Alysson já o perdoou. Não vejo o porque continuar o crucificando. - completou dando de ombros.

– Você está do lado dele? - Sarah perguntou, com um tom de indignação.

– Não. Eu estou do lado da Alysson. E, até o momento, ele não representou nenhum “perigo” a ela. A não ser, é claro, o fato de ser um completo idiota. - Tudo bem. Isso me surpreendeu… Sarah contra mim e Lilyan me defendendo.

Eu devo estar em algum universo paralelo.

*Flashback off*

Alysson também me procurou um dia desses para me pedir desculpas pelo ocorrido em sua casa. Eu aceitei, é claro. Afinal, a culpa não é dela, e eu não estou em condições de “brigar” com ela por qualquer coisinha. Duas semanas é tudo o que eu tenho para cumprir a segunda parte da aposta… Só não sei ainda qual das duas partes eu vou cumprir.

Até que minha experiência de quase morte na casa dos Cooper não foi em vão. Alysson e eu estamos bom mais próximos. Mais ainda do que éramos no acampamento. Não estamos próximos do tipo “andamos juntos na escola todo dia”, mas sim do tipo “mal olhamos um para o outro na escola, mas nos falamos por telefone e mensagem o tempo todo”. Isso é bom… Muito bom. Sem muito contato físico, menos chance de eu me apegar a ela, como aconteceu com a Ruby. Ficamos só na aposta. Mas eu preciso saber qual versão da segunda parte do acordo que eu vou cumprir, antes de concluir a aposta.

Você pode pensar: Ah, essa é fácil. É só dormir com ela e pronto. Você já fez isso tantas vezes.

Não é tão fácil assim. Porque, além de ela ser a filha do diretor, ainda tem a Lilyan e a Sarah. Primeiro: como a Alysson é só uma aposta, assim que eu conseguir concluir, eu vou largá-la porque não vou ter mais motivos para continuar com ela. E ela não vai ficar bem com isso, com certeza. Seu pai provavelmente (com certeza) vai ficar sabendo, e aí eu estarei ferrado; segundo: Sarah e Lilyan confiam em mim. E eu não sei se conseguiria trair a confiança delas, principalmente a da Sarah. Sem falar que a Lilyan vai me matar se eu fizer qualquer coisa à Alysson.

Então, não dorme com ela, ué. Vai num encontro, termina com ela e tudo será arco-íris e unicórnios.

Realmente, terminar com a Alysson depois de um simples encontro seria muito mais fácil. Ficaria menos óbvio que ela é só uma aposta, o que diminuiria a mágoa dela e eu não estaria tão ferrado. PORÉM (eu odeio essa palavra), não podemos esquecer que Peter, Ethan e Kyle existem. E Peter não ameaçou apenas o Anthony e o Zac, mas a Sarah também. Não posso deixar que ele os machuque. Principalmente porque é um assunto meu. Eles podem até estar um pouco envolvidos nisso tudo, mas é algo que eu tenho que resolver. Logo, eles não deveriam sofrer as consequências pelas escolhas que eu tomo. Não seria certo.

Então, estou num empasse. Ou eu uso a Alysson, corro risco de até ser expulso da escola e me odeio para o resto vida, ou faço o contrário do que Peter me propôs, saio limpo da história, meus amigos apanham e eu me odeio para o resto da vida. Dois caminhos igualmente desagradáveis.

Hoje é quarta-feira, dia 16 de abril, e eu estou prestes a quebrar cara de um loiro desconhecido. O motivo? Ele está impedindo minha aproximação da Alysson. Os dois estão conversando animadamente há não sei quanto tempo. Acontece que hoje temos os dois tempos de aula antes do intervalo, vagos. Por coincidência, os dois professores faltaram. E aqueles dois estão ali, desde o primeiro tempo vago, até agora, quase na hora do intervalo, conversando. Alysson ignorou todas as mensagens que mandei para ela nesse tempo todo. Ela até leu as primeiras, agora nem se dá ao trabalho de verificar a tela do celular. Isso já está me irritando profundamente. Meu autocontrole é a única coisa que me impede de ir ali e quebrar a cara daquele filho da mãe.

– Disfarça pelo menos, Scott. - alguém disse atrás de mim, e eu logo reconheci a dona da voz.

– Sarah Foster. Resolveu voltar a falar comigo, sem que seja para me dar lição de moral?

– Não força a barra. Estou me esforçando para voltar a ser como era antes. - abri um sorriso - Você devia parar de encarar os dois.

– Que dois? Não estou encarando nenhum dois. - brinquei. Sarah me mandou um olhar, como se dissesse: “sério?” - Eu não estou encarando ninguém. - reafirmei.

– Até um cego veria você secando a Alysson com o loirinho.

– Alysson está falando com algum loiro? Onde?

– Eu vi você mandando mensagens pra ela, Scott. Para de se fazer de lerdo. Acha que eu sou idiota?

– Tudo bem, tudo bem. - suspirei e dei mais uma olhada naqueles dois - Quem é aquele? - perguntei ainda os encarando.

– Lucca. Não lembra? O cara que tocou no seu lugar na fogueira. - ela respondeu refrescando minha memória.

– Hum… - murmurei. Pegou meu lugar na fogueira, agora está querendo pegar minha garota.

– Você fica uma graça com ciúmes.

– Ciúmes? Está falando comigo? - ela começou a rir.

– Está escrito na sua testa. Você está morrendo de ciúmes.

– Eu não sinto ciúmes. E não teria porque sentir quando se trata da Alysson.

– Ah, não?

– Não. - não?

Não!

Não tenho certeza…

Revirei os olhos com meus próprios pensamentos.

– O que foi? - Sarah perguntou voltando a rir. Zac e Lilyan passaram por nós nesse exato momento.

– Esses não se desgrudam mais. - comentei, desviando o assunto.

– Não é?! Quem diria… Zac e Lilyan.

– O casal mais improvável.

– Com certeza.

Passei o intervalo todo sozinho, observando Alysson e o tal Lucca, de longe. Não sei, mas essa intimidade desses dois está me incomodando. Se esse Lucca der qualquer passo além do permitido, eu vou pra cima dele. Não quero nem sabe se vou parar na diretoria, se vou levar suspensão, ou até expulsão. Ele não pode chegar assim, do nada, e mexer com os pertences dos outros.

Durante as duas últimas aulas, o diretor Cooper passou na sala avisando que não teríamos provas, por causa do acampamento. E mais vantagens daquele trabalho todo aparecem. Aquilo foi tudo, menos perda de tempo. Quer saber? Eles deviam planejar mais desses acampamentos. Eu não reclamaria dessa vez. Por falar em diretor Cooper, ele voltou para o colégio essa semana.

No fim das aulas, eu fiquei esperando a Alysson se livrar daquele loiro, que já está me dando nos nervos. Quando o parasita finalmente deixou ela livre, eu a abordei no portão do colégio.

– Srt.ª Cooper. - a cumprimentei.

– Sr. Miller. - ela repetiu meu gesto.

– Já tem tempo para mim, ou ainda está ocupada demais para ler minhas mensagens? - Alysson revirou os olhos.

– Você é muito dramático, sabia?

– Dramático? Você me ignorou a manhã inteira!

– Eu estava conversando com um amigo. - rebateu.

– E eu não sou importante?

– Claro que é. Mas não existe só você no mundo, Scott. Eu tenho uma vida além de você.

– Você podia ter respondida minha mensagem, pelo menos. - murmurei.

– Qual das milhares? - ela perguntou - A cada cinco segundos meu celular vibrava com a chegada de uma nova mensagem. Sério, Scott. Acho que você anda muito carente.

– Então, tire minha carência. - apelei. Não vou deixar que qualquer um entre no meu caminho e atrapalhe meu planos– Sábado a noite, no cinema que eu tenho te chamado desde o início do ano.

– Sábado agora? - perguntou. Ela vai aceitar? Assim… tão fácil?

– Sim. - respondi.

– Não dá. Nem no próximo. Só daqui a duas semanas.

– Vai fazer o que nesses sábados? Sair com o Lucca. - ela bufou.

– Já vai começar com os ciúmes?

– Não é ciúmes. É só… curiosidade. - tornou a revirar os olhos. Sinto que estou sendo patético.

– Eu vou para casa da minha tia, em Miami. Aniversário de 15 anos de uma prima. Vou ficar uns 10 dias lá.

– Ah… - suspirei - Então, no primeiro sábado que você estiver aqui, nós vamos ao cinema. E eu não aceito não como resposta. Se for preciso, até te sequestro. - ela ergueu as mãos em sinal de rendição.

– Tudo bem. Você que manda. - olhou para mim e sorriu - Mal posso esperar. - me deu um beijo rápido e foi embora.

Fiquei ainda um tempo no portão a observando sumir ao virar a esquina. Anthony saiu com o carro, junto com Zac, James, Ross e Lilyan. Acho que foram ver alguma coisa sobre videogame. Não recebi detalhes.

– Scott Miller, queira me acompanhar até a minha sala, por gentileza. - ouvi alguém gritar e me virei. Diretor Cooper, o pai da Alysson.

Tenho a impressão de que ele viu a cena toda. E se viu, o que vem por aí não é coisa boa.

Apressei o passo até o portão, onde ele me esperava, e seguimos para a sala dele. Quanto mais próximos da sala, mais rápido batia o meu coração. Quando ele abriu a porta, eu senti que estava prestes a ter um ataque cardíaco.

– Então, Scott - ele começou -, você e a Alysson. - ele parece tão desconfortável quanto eu falando sobre isso.

– Sim, Senhor. - afirmei - As minhas intenções são as melhores. - me apressei em dizer. Ah, depois dessa meu nariz tem que crescer.

– Espero que sim. - suspirei - Mas aquele episódio no meu sofá não contribui em nada na convicção das suas palavras.

– Senhor Cooper, e-eu... Ahn… Aquilo foi...

– Formule uma frase decente antes de abrir a boca, Sr. Miller. - respirei fundo e fitei a mesa por uns instantes.

– Me desculpe por aquilo, Senhor. Não vai acontecer de novo.

– Não, não vai. - ele afirmou - Agora vá para casa. Conversamos sobre isso outro dia, num lugar mais apropriado.

– Claro. Com licença. - me despedi dele com um aperto de mãos formal, e saí da sala, indo para casa em seguida.

…

– Por que demorou? - perguntou Dylan assim que entrei pela porta da sala.

– Anthony saiu com o carro e o diretor me chamou para uma conversa. - ele virou-se para mim com os olhos arregalados.

– O diretor? Diretor Cooper? O pai da Alysson?

– O próprio. - afirmei.

– O que ele queria?

– Falar sobre a Alysson.

– E?

– E eu acho que ele pensa que estamos namorando. - respondi, fazendo uma careta. Acho que nunca vi Dylan gargalhar tão alto.

– O que você disse?

– Que minhas intenções são as melhores. - a risada dele está começando a me incomodar - Eu vou subir. - avisei e fui em direção à escada, enquanto ele tentava parar de rir.

Me joguei na cama e mandei uma mensagem para Alysson. Ela não havia me ligado, nem mandado mensagem, e faz quase 1h desde que nos vimos pela última vez.

“Conversei com seu pai hoje - S”

Demorou alguns minutos até que ela resolvesse responder.

“Meu pai? O que você fez? - A”

“Beijei a garota mais gata da escola - S”

Enviei. Fiquei esperando que ele respondesse tão rápido quanto das outras vezes, mas a resposta não veio. 10 minutos e nada. 15 minutos e eu comecei a ficar preocupado.

“Ainda tá aí? - S”

“Quem foi dessa vez? - A” - enviou logo em seguida.

E só então eu percebi o duplo sentido da minha resposta. Alysson é tão insegura.

“Uma tal de Srt.ª Cooper. O diretor nos pegou no flagra duas vezes - S”

“E como foi a conversa? - A” - desviou o assunto. Não pude deixar de rir da sua atitude.

“Tranquila. Acho que agradei o sogro - S”

“Sogro? O que você quer dizer com isso? - A”

“Você me apresentou para seu pai como seu namorado. O que você acha? - S”

“Temos um problema? - A”‘

“Só se você quiser que seja - S”