- Segredos de um passado obscuro - escrita por Willian Thiago


Capítulo 22
Uma noite estranha


Notas iniciais do capítulo

Aiden se levantou carrancudo e me beijou a testa com dificuldade.
—Pode ser que não aconteça Adália, não chore por favor, isso me machuca muito, é pior do que as feridas que tenho em meu corpo...



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As flores vermelhas e amarelas já se faziam presente nos campos verdejantes do Silício, o lugar onde aldeãos e camponeses passavam a maior parte de suas vidas trabalhando arduamente para produzir o alimento que nós, moradores comum iríamos comer. Os pássaros como é de se esperar nas manhas de verão já dominavam os céus, e o cheiro de grama molhada denunciava o orvalho que caía junto à neblina. – Na ferroviária os mineiros descarregavam as primeiras pedras de carvão que seriam usadas para manter a lareira acessa nas noites de inverno, e nas padarias os primeiros pães saíam do fogareiro prontos para serem devorados pela primeira alma caridosa que estivesse disposta a pagar uma pepita de ouro. Mais uma manha se iniciava em Théfires, e eu acabava de acordar de uma noite monótona, se não triste, pois chorei pensado no Steve até pegar no sono. No quarto do hospital, entra a primeira enfermeira trazendo consigo o café da manha, eu peço que o deixe sobre a mesinha ao lado da cama para que eu mesma possa dá-lo ao Aiden quando este acordasse, a noite anterior foi bem difícil para ele assim como foi para mim, e tenho certeza que tudo o que ele quer é ver um rosto amigo, se não o meu mesmo.

Não demorou muito eu ouço o som dos lençóis se mexendo, ele acordara.

–Bom dia. –Disse com um sorriso nos lábios. –Então quer dizer que o senhor acordou?

Ele me olhou de lábios cerrados e não deixou escapar uma única palavra, apenas um gemido rouco que fingi não escutar, pois foi quando ele percebeu que estava com os braços quebrados.

–A enfermeira acabou de trazer seu café. –Indaguei pegando no prato de sopa de galinha e na colher de ferro talhado. –Abre bem a boca que eu estou cuidando de você agora...

Ele fez cara feia de inicio, mas no final abriu, afinal de contas, o que será que ele tem? Queria que ele falasse...

–Está bom? –perguntei e ele apenas sorriu de leve fazendo que sim com a cabeça. –ótimo! –Disse levando mais uma colher até sua boca, fazia questão de assoprar bem e não deixar que ela escorresse pelos cantos de sua boca, seria muito triste já que ele está com os braços incapacitados. – Eu terminei de por a última colher de sopa em sua boca e repousei o prato vazio sobre a mesinha, estava aguardando a enfermeira voltar para pega-lo de volta.

–Aconteceu não foi? – perguntou-me com a voz rouca. –Eu perdi o controle. De novo...

–Não foi sua culpa. –Disse rispidamente evitando olhar em seus olhos, aquela não tinha sido a primeira vez que a marca o dominara, na outra vez que isso aconteceu eu estava presente e ele quase me matou, apesar de ser um poder imenso sempre acaba que Aiden paga um preço muito elevado. - Ele abaixou a cabeça e pareceu pensar de novo, tinha tido uma noite difícil, ainda consigo lembrar do som de seus ossos sendo destroçados quando Colossus e Destructor quebraram seus dois braços ao mesmo tempo.

–A culpa foi minha Adália... Eu não fui forte o suficiente... –Ele virou o rosto para o outro lado e notei que o lençol da cama foi ficando molhado com suas lágrimas.

–Não diga isso! –Disse sentando ao seu lado e virando seu rosto para mim. –Se você não tivesse feito poderia até estar morto agora! –Seus olhos adquiriram um tom cinza quando os raios de sol que entravam pela janela refletiram neles, aquele olhar que tanto me seduzia agora me causava medo, por mais que fosse o Aiden... Por mais que fosse o homem que amo a lembrança dele rasgando a garganta de Colossus com os dentes não me saía da cabeça de jeito algum.

–Adália, eu... eu... me perdoa... –Ele continuava a chorar muito, segurei em sua cabeça e a afundei em meu peito e deixei que ele continuasse até soluçar, ele se se rendeu ao afago do meu abraço e não demorou muito minha blusa estava molhada da mesma forma que o pano da cama. Sabia que nada do que eu dissesse faria efeito algum, mas ele precisava de mim e eu estava ao seu lado, independente do que acontecesse. Enquanto enxugava as lágrimas dele a enfermeira entrou no quarto discretamente e retirou o prato sujo dali, aproveitei e pedi que ela trouxesse um frasco de água. Dez minutos depois Aiden se acalmava um pouco e as lágrimas que antes jorravam como uma fonte de seus olhos azul lazulis agora haviam sumido, a enfermeira chegou com o frasco que eu havia pedido e eu dei para ele beber.

–Está melhor agora? –perguntei com voz serena. –Você não tem motivos pra chorar Aiden, você passou nos testes.

–Sim, eu sei disso Adália... –Disse ele voltando a se deitar ereto. –Mas eu lembro do que aconteceu ontem, foi horrível, não queria que me visse naquele estado...

Assustei-me um pouco com aquilo, achava que ele chorava por que tinha matado dois homens na noite anterior ou por seus dois braços quebrados, mas ele chorava por minha causa?

– Sei que deve estar com medo agora. –Ele olhou para mim e notei que era quase impossível para ele conter as lágrimas. - Por favor Adália, não se afaste de mim...

–Eu estou com você agora, não estou? –Disse me aproximando dele e passando o dedo em sua bochecha. – Não se preocupe comigo Aiden, eu estou bem.

***

Era meio dia quando meus soldados vieram ao meu encontro naquele quarto de hospital, passei as ordens da manha e disse para escolherem outro guarda costas para a princesa já que Aiden não estava em condições de exercer suas funções, e eles foram embora rapidamente. Como já era o meio do dia senti fome e foi inevitável que Aiden escutasse meu estomago roncar, eu não queria ir, mas ele foi tão insistente que acabei concordando, mas disse que já voltava para ficar com ele, Aiden sorriu e fez que sim com a cabeça. – Quando saia do quarto tive uma grande surpresa, uma pessoa que eu realmente não queria ver naquele momento estava vindo pelo corredor em minha direção, era Steve, ele vinha acompanhado da enfermeira que fazia a observação do meu quarto, com um sorriso nos lábios e usando a mesma camisa azul que eu havia lhe dado de presente, nossos olhos se encontraram rapidamente e eu me perdi nas ondas calmas daquele oceano azul mais uma vez. Virei-me de costas rapidamente e sai caminhando a passos largos na outra direção, ele chamou o meu nome, mas fingi não escutar. Não queria falar com ele, não agora, não ali.

Fiquei passeando no jardim do refeitório por mais ou menos uma hora depois que terminei de comer meu pão com gosto de areia. Não queria correr o risco de voltar pro quarto e encontrar com Steve e Aiden ao mesmo tempo. Quando já tinha criado um pouco de coragem retornei para o quarto, e para minha sorte ele não se encontrava mais lá.

–Onde está o Steve? – Indaguei entrando no quarto e olhando ao redor para me certificar de que ele não estava mesmo.

–Ele já foi. Disse que queria muito falar com você.

–Falar comigo? Sobre o que? –Disse me sentando.

–Ele queria te dar uma coisa... –Aiden me olhou de cima a baixo desconfiado. -Por que você demorou tanto Adália?

Olhei para Aiden e notei que ele realmente queria saber onde havia ido.

–Eu estava comendo no refeitório e me distrai. –mentir nunca foi um dos meus pontos fortes.

–Hum, está bem. –Respondeu Aiden calmamente. Tenho certeza de que ele engoliu.

–E então, o que o Steve queria me dar? –perguntei colocando o cabelo atrás da orelha, estava muito curiosa pra saber que tipo de presente seria esse.

–Eu não sei, ele disse que era segredo. –Aiden não parecia muito motivado em me falar aquilo.

–um segredo? – Insisti.

–Sim Adália, se quer tanto esse presente por que não olhou quando ele te chamou? –Disse ele me encarando. –Até eu que estava aqui dentro do quarto escutei quando ele disse seu nome.

–Eu não escutei... –Respondi olhando para os lados.

Aiden se limitou a continuar me encarando.

–Ora. Ele veio nesse quarto pra falar com você Aiden, tenho certeza de que nem imaginava que eu estaria aqui...

–Ele só veio me parabenizar por passar nos testes, eu e ele seremos parceiros nos jogos... –respondeu Aiden voltando a olhar pra baixo. -Ele vai voltar aqui amanha antes de embarcamos no Espirito de Aventura, você sabe não é Adália? a viagem é amanha...

–Sim, eu sei. –respondi. – Eu vou com vocês também.

Era cinco da tarde quando a enfermeira entrou no quarto para dar banho no Aiden, pois, como ele tinha quebrado os dois braços seria impossível para ele fazer tarefas consideradas até simples, como tirar a própria roupa. Disse que eu mesma poderia fazer aquilo, e que se qualquer coisa saísse errada eu a chamaria. Ela concordou. – Despi-o completamente e fomos caminhando para o banheiro, a essa altura o quarto tinha uma cor laranja de fim de tarde e o vapor que vinha do banheiro inundava o ambiente com uma fumaça fervente e húmida, segurei em sua mão e ele evitava olhar em meus olhos. Ensaboei Aiden com delicadeza para não agravar ainda mais seus ferimentos internos e fiz questão de olhar em seus olhos o tempo todo, passei a mão por seu abdômen e senti que nele tinha dezenas de cicatrizes que se seguiam até a altura do seu peitoral e se espalhavam pelas costas, fruto de intensas batalhas contra monstros durante o seu tempo de treinamento. Passei a mão por seu corpo e acariciei seu cabelo macio e agora molhado, ele ficou com o olhar perdido e o pensamento distante, como se seu mundo fosse somente minhas mãos e aquele momento, sua pele estava fria. A água caía do alto da sua cabeça e passava por seu rosto levando consigo as impurezas e a dor, lavando os resquícios das lágrimas que tanto lhe afligiram naquele dia. - Enxuguei-o e coloquei um banco próxima à janela, onde o ar não era tão rarefeito e onde ele poderia presenciar o crepúsculo do fim de tarde, me posicionei de pé logo atrás dele e comecei a pentear seu cabelo escuro, ele continuava calado, sei que ele estava muito feliz por me ter ao seu lado, e que eu estava muito feliz por estar com ele, por me sentir útil e ser amada de verdade por alguém. – Quando o Sol se escondia entre as montanhas Aiden beijou minha mão, e me sentei ao seu lado. Beijei-o muito, e apesar de não poder me tocar, fiquei feliz em poder sentir seus lábios junto aos meus naquele fim de tarde. O dia havia passado tão depressa, é isso que acontece quando estamos perto de quem amamos.

A lua já reinava no céu quando Aiden se levantou da cama e insistiu para irmos jantar no refeitório, ele queria que fôssemos a um lugar especial mas não me revelou o motivo especifico, aceitei, saímos do quarto e caminhamos até uma mesa que ficava em um lugar mais reservado e ele me mandou pedir o que quisesse, pedi apenas um frasco de água, odiava o fato de alguém pagar por algo que eu havia comido.

–Tem certeza que só vai pedir isso? – Disse ele franzindo o cenho.

–Sim, e deixa que eu mesma pago.

–Está bem... –ele sorriu. – Você não mudou nada esses anos todos...

Levantei meu olhar e fitei seu rosto, percebi que ele me fitava também.

–Como assim? –perguntei.

–Nada, é só que ainda me lembro de como você era... sabe, de como você odiava quando eu fazia as coisas por você, quando eu arrumava sua cama, quando preparava seu café da manha. Lembra?

–Isso foi a muito tempo, é difícil... –Respondi voltando a beber minha água. Ainda me lembrava dos dois anos em que treinamos juntos na vila Npc.

–é... –Ele suspirou. –eu ainda me lembro...

Ele se arrumou na cadeira de uma forma que seus braços ficaram sobre suas coxas, logo em seguida voltou a me olhar. Na verdade ele me fitava a maior parte do tempo.

–Você sabe que os jogos estão perto de começar não é Adália?

Balancei a cabeça consentindo.

–O que tem?

Seus olhos ficaram distantes dos meus, e foi como se sua mente viajasse para além das montanhas de um horizonte distante.

–Pode ser que eu não retorne dos jogos...

–Como assim!? –Disse erguendo o tom da voz. –Não diga uma coisa dessas Aiden, você não vai morrer!

–Mas Adália... Eu não sei se posso vencer. –Ele abaixou os olhos e sua expressão ficou triste. –Estou muito feliz porque pude passar esse dia ao seu lado, esperei por isso há muito tempo...

–Não importa! Você não pode Aiden! –Disse já perdendo a razão. - Você não pode fazer isso comigo! Eu jamais vou te perdoar se isso acontecer!

–Por favor, entenda. –Ele voltou a me olhar. –é uma possibilidade. Pode ser que não aconteça...

Abaixei minha cabeça e enxuguei uma lágrima traiçoeira que escorreu de meu olho esquerdo, agora descobria a verdadeira dor dos jogos vorazes.

Aiden se levantou carrancudo e me beijou a testa com dificuldade.

–Pode ser que não aconteça Adália, não chore por favor, isso me machuca muito, é pior do que as feridas que tenho em meu corpo...

–Mas Aiden, como pode me pedir uma coisa dessas agora? –Me levantei e abracei-o sem me importar com as outras pessoas. –Eu te amo muito...

Senti que ele suspirou forte e seu coração começou a bater acelerado em seu peito, minhas palavras soaram mais forte do que eu mesma esperava.

–Adália... Por que me fazes sofrer ainda mais? Não percebe que quanto mais você tenta me impedir mais sinto vontade de ir?

Continuei abraçando-o forte, seu cabelo ainda estava húmido do banho que eu lhe havia dado.

–Adália, você está me machucando...

Soltei-o rapidamente e fiquei de cabeça baixa, não queria encara-lo de forma alguma, não depois de tudo que eu havia dito, minha insegurança em ouvir o que ele poderia responder me causava tanto medo quanto encarar um Enderman numa noite escura.

–Você é uma mulher linda Adália, não fique com vergonha de mim...

Levantei meus olhos e notei que ele continuava a me fitar.

–Temos poucas chances de realmente sermos felizes na vida, e hoje eu tenho certeza que jamais encontrarei outra mulher como você. –Ele virou de costas para mim e começou a andar para o quarto. –Se for por uma questão de capricho do destino ou não nunca vamos saber, mas se é preciso ganhar os testes para ficar com você... –Ele parou de caminhar e me fitou de canto de rosto. -foda-se, eu já ganhei.

***

Monstros, creepers, todas as criaturas da noite agora dominavam o mundo vindos de um lugar desconhecido, eles agem como demônios traiçoeiros que roubam almas humanas e as condenam a serem torturadas no inferno. A ficarem aprisionadas em areia das almas pela eternidade, sem saída, apenas o vazio e a solidão para todo o sempre... Meu destino seria esse dentro de poucos meses, se eu não fizesse nada. Minha jornada para encontrar Melanie, a feiticeira que acorrentou um demônio à minha alma acabava de se iniciar.

Acordei com o som de explosões de fogos de artifícios ao longe... Era o anuncio da chegada do Espirito de Aventura, o maior navio já construído em todo o Minecraft. Apanhei minhas roupas ao lado da cama e corri para o banheiro, queria me aprontar o mais rápido possível para pegar Aiden no hospital como nos tínhamos combinado na noite anterior, quando ele me obrigou a voltar pra casa, dizendo “não quero você dormindo nesse banco rígido outra vez!”, como se eu não já tivesse dormido no chão muitas vezes na vida. – Quando retornei a noite dei graças a Notch, pois Steve não estava em casa, acho que resolveu me abandonar? Talvez esteja melhor ao lado da Saphire do que comigo... Ainda mais agora que sei que ele ganhou um monte de minérios apostando, no fundo sinto um pouco de raiva dele. Ou saudade... ou os dois...Vai saber. Pelo menos agora tenho a casa toda pra mim de novo. - Depois de secar o cabelo terminei de me vestir, um short jeans curto e blusa vermelha de mangas longas, foi questão de tempo até eu estar com minhas botas de couros recém-tingidas nos pés e minha mochila nas costas. Iria viajar para um reino distante, e tinha certeza de não estar esquecendo nada. A não ser Pink meu pequeno creeper, que Notch me perdoe, vai ficar com um de meus soldados.

Saí correndo pela casa e mal tive tempo de trancar as portas, ao sair do lado de fora encontrei dezenas de pessoas rumando todas no mesmo sentido, subiam a rua carregando baús lotados de suprimentos e outras levavam animais como galinhas e porcos. Estavam indo para o navio que iria zarpar em uma hora, e eu ainda estava ali. Corri para o hospital e em poucos minutos cheguei na porta de entrada onde encontrei Aiden em pé, ele me olhou de longe, usava um casaco de Enderman Negro e mesmo incapacitado carregava a espada na cintura, nos beijamos rapidamente e mais do que depressa fomos entrando na multidão e caminhando juntos para o Espirito de Aventura.

–E o Steve? Ele não vem conosco? –perguntou-me ele com a sobrancelha enrijecida.

–Não... Ele está com a Saphire agora, lembra?

–Hum... Está bem.

Nós caminhamos para o navio através de uma rua que eu já conhecia de anos atrás, e acabamos saindo de frente para o porto de embarque, cruzamos uma pequenina ponte e em poucos segundos estávamos entrando porta adentro. - Foi quase inevitável que Aiden fosse reconhecido como tributo, mas ao contrário do que ocorria com Steve, ele era ignorado, e as pessoas não o admiravam sentiam mais medo, ele tentava ignorar, e sei que estava sendo difícil para ele ter que depender de mim para pegar toda e qualquer coisa, mas ao contrário do que ele pensava eu estava começando a gostar de ser útil para ele.

Cruzamos o salão principal e nos limitamos a vislumbrar o cômodo, os glowstones caíam do teto aos montes como uma cascata de flocos de neve e remetendo os hospedes à uma noite de baile de gala, ainda me recordo da vez em que estive aqui, de como foi frustrante ver Steve com outra, de como foi frustrante passar a noite ao lado de um homem que não sabia como tratar uma mulher, e pior, de quase ser morta em uma briga com duas feiticeiras... espero que dessa vez, com Aiden, a história seja diferente.

Caminhamos entre trancos e barrancos até chegar ao corredor do nosso quarto, no nosso bilhete indicava o quarto trezentos e vinte e um de fato o barco estava repleto de camponeses e comerciantes, e dar um único passo tinha se tornado uma missão difícil, mas não impossível. Chegamos ao nosso quarto e já fomos jogando nossas coisas dentro dos baús e esticando nossas pernas, três dias de viajem para o sul, sem escalas, sem paradas, apenas o mar aberto e ríspido, o azul e o horizonte sem fim devem ser suficientes para por meus pensamentos confusos nos devidos eixos. Deitei-me na cama e Aiden foi para junto da janela, agora que me lembrava que aquela era sua primeira vez em um navio...

–Está tudo bem? –Indaguei me sentando ao seu lado na janela.

–Sim, sem problemas... –Respondeu ele olhando para a última pessoa a entrar no navio.

Olhei para os lados e discretamente deixei minha mão serpentear até ficar sobre a sua, ele olhou para mim e para minha surpresa apertou minha mão.

–Você...

–Sim, eu já tenho um pouco de movimento em meus braços Adália.

Aiden se recuperava muito rápido, se me recordo bem foi no dia anterior que ele havia dado entrada no hospital com os dois braços quebrados. Fico feliz que ele possa se recuperar tão rápido assim, quero que ele chegue bem nos jogos.

Saímos para dar uma volta no espirito de aventura, os solavancos e o balançar do navio por algum milagre não estavam me incomodando, e Aiden era muito comunicativo, sempre tinha o que falar, e quando não, vez ou outra me lançava um elogio de perder o folego, totalmente o oposto de Steve, que sempre estava calado e quase nunca, ou nunca me elogiava, ele tem muito que aprender ainda... Subimos calmamente para o ultimo andar e ficamos de frente para um lindo céu azul embalsamado de nuvens, brincamos de encontrar figuras. O resto do dia passou ligeiro, como se o sol estivesse com medo da noite.

***

Maldito seja aquela noite em alto mar, o navio balançava de leve por causa da tempestade que caía do lado de fora, os raios e trovões ao longe eram suficientes para afugentar todos os tripulantes do espirito de aventura ao ponto de quase todos se trancarem nos quartos. Dormia tranquilamente quando sou acordada ao som de uma trovoada. – Era madrugada, olhei pela janela e percebi que todas as lâmpadas de redstone do navio haviam sido apagadas deixando os corredores e quartos em uma escuridão total, voltei a me deitar e fechar meus olhos mais uma vez, no entanto, o vento do mar que entrava pela cortina da janela insistia em me manter acordada, como estava só de sutiã não demorou até meus pelos se eriçarem e meus dentes rangerem pela friagem. Despertei-me por fim cedendo às forças da natureza e me abaixei pegando uma tocha embaixo da cama acendendo-a na lareira do quarto, Aiden dormia tranquilamente enquanto fazia tudo isso. – Não sabia o motivo que me levava a despertar assim tão der repente na madrugada, mas sabia bem para onde meu corpo quase que inconscientemente me guiava, para o quarto de Steve, os solavancos do navio me faziam perder o equilíbrio e da metade do percurso em diante, tive de esgueirar-me pelas paredes gélidas do espirito de aventura, alguns minutos de caminhada me levaram direto a uma porta de madeira escura, empurrei-a de leve e tamanha foi minha surpresa quando encontrei Steve acordado em um canto do quarto, seus olhos azuis brilhavam à luz que provinha da lareira como dois diamantes bem lapidados, ele usava somente a calça Jeans preta que havia lhe dado de presente a alguns dias atrás, consegui perceber que em suas costas tinham cortes profundos, marcas vermelhas das quais transbordava sangue, caí ao chão perto da porta, olhei para a cama e consegui ver Saphire dormindo, em suas unhas tinham gotas de sangue que respingavam e manchavam o chão ao redor da cama enquanto Steve se encontrava sentando ao seu lado acariciando seu cabelo, e passando a mão por seu ombro desnudo. Fechei a porta de leve, não queria mais ver nada daquilo, mas antes que pudesse tirar a mão da fechadura alguém tentou abri-la, segurei com força e voltei a fecha-la.

–Steve, me deixa fechar a porta, por favor. –Disse eu chorando.

–Adália, é você quem está aí? –Ele fez uma pequena pausa e tentou abrir a porta mais uma vez, mas eu segurei. –O que você...

–Não Steve, eu não estou fazendo nada. –Disse em sussurro. –Me deixe ir embora, eu imploro...

Percebi que ele ficou em silêncio atrás da porta, um silêncio que cortou meu peito de um canto a outro, achei ter ouvido um grunhido seu...

–Adália... Vá dormir. –Disse ele atrás da porta. –A Saphire pode acordar...

Cerrei meus olhos e um ódio invadiu meu peito quando escutei o som do nome dela dito por ele, como se fosse uma conhecida de anos...

–Você parece bem feliz agora não é... –Disse em tom de escárnio.

–Por que está falando assim comigo? –perguntou ele como se não estivesse tão triste agora.

–Não sei, me diga você Steve... –Ele largou a porta e pareceu me escutar. –Você namora a princesa do reino de Théfires, é rico e famoso agora...

–E o que tem a ver? –Perguntou ele em tom sério, me fazendo ter lembrança do velho Steve, um que encontrei morando sozinho no meio da floresta a meses atrás. –Adália vá embora.

–Está me expulsando Steve? –perguntei.

–Não é isso. É que a Saphire pode acordar, fale mais baixo pelo menos...

Continua...


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Notas finais do capítulo

Bom, quanto à demora para postar eu não tenho muito o que explicar... eu estou em aula agora e não estou nem ligando muito o computador, fora o fato de não ter tempo pra escrever eu estou em um curso à tarde... Espero que possam me entender, Ah, e eu não abandonei a fanfic e nem niguém vio >:( só estou muito o culpado agora... bom, é isso. espero que me entendam. até...



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