O relâmpago fez uma enorme claridade entrar pela fresta de uma janela no fim do corredor, a porta continuava fechada e Steve do outro lado continuava em um silêncio nórdico, semelhante ao de um esqueleto que atira flechas em nossa direção friamente...

–Não é isso. É que a Saphire pode acordar, fale mais baixo pelo menos...

Soltei a fechadura e deixei a porta ranger lentamente, aos poucos o corpo de Steve foi aparecendo conforme a porta ia se abrindo revelando um alguém diferente para mim, um alguém que tenho certeza não estar nada bem agora.

–O que faz aqui Adália?

Apertei minhas próprias mãos e deixei o nervosismo bater à porta, de alguma forma, ele estava diferente agora, estava mais frio...

–Nada, só queria te ver... –Disse em tom baixo. Um pouco transtornada com a situação em que acabava de me meter. Ao que parece ele ficou surpreso com aquilo.

–Adália vá embora, por favor...

–Por que quer tanto que eu vá? Não me quer por perto?

–Não é isso.

–E o que é?

Ele desviou o olhar para baixo e notei uma leve frustração inundar seu rosto angelical.

–O que você está fazendo é errado Adália... –Ele segurou na fechadura da porta e fez que ia fechar. –Vamos nos meter em encrenca...

–Por favor Steve... –Fechei meus olhos e o abracei, passando a mão por suas costas e sentindo os cortes feitos pelas unhas de Saphire. –Oh meu Notch, por que ela fez isso com você...

Ele afastou minhas mãos de seu corpo e deu um passo para trás, nesse momento percebi que minhas mãos estavam encharcadas de sangue. E para meu azar Saphire tinha acordado e estava a ver tudo.

–Steve, o que significa isso?! –perguntou ela.

Meu pequeno amado se sentou ao lado dela na cama e começou a acalma-la e a explicar-lhe o que se sucedia, logo em seguida Saphire olhou para mim e deu um sorriso sarcástico.

–Então você veio atrás do meu homem sua idiota? –Ela deixou suas presas desenvolvidas amostra em um sorriso altamente humilhante. –Ele não gosta de você sua rapariga. Ele é meu agora.

Steve se encurvou lentamente e começou a beijar Saphire, ela continuava a me encarar com seu olhar vitorioso, lagrimas de tristeza e ódio passaram a escorrer de meus olhos, chorei muito nos últimos dias e não sei por que, mas sinto que essa não será a ultima vez, não suportava ver aquela cena, não mais. Juntei minhas forças e me retirei dali, corri pelo corredor aos prantos até chegar a meu quarto, onde encontrei Aiden ainda dormindo tranquilamente, me atirei na cama e afundei meu rosto no colchão onde chorei pela segunda noite por Steve.

***

Estava prestes a amanhecer quando eu dormia tranquilamente, alguém bate à porta, levanto um pouco desnorteada e a abro, fico boquiaberta quando vejo o rosto dele iluminado pela luz do sol que agora tinha dominado o horizonte, seus olhos azuis petrificados em mim e sua boca com um sorriso singelo e inocente, o sorriso que me fez desmoronar e fechar a porta no mesmo instante.

–Vá embora! –Sussurrei em um tom baixo fechando os olhos e abrindo-os novamente, eles ardiam por que acabara de acordar. –Você já me machucou o suficiente por hoje Steve...

–Mas do que você está falando Adália? Eu...eu...

–Você o que?! Veio até meu quarto dizer que gosta de outra! Já disse que não me importo.

Ele fez um silêncio que durou por alguns segundos, como se pensasse no que dizer...

–Adália, me desculpa se eu fiz algo de errado, eu prometo não fazer mais...

–Steve eu já disse para ir embora droga!

–Adália, por favor...

Nesse momento eu fico com raiva e empurro a porta de uma vez, ela bate em Steve com força e o empurra para trás fazendo ele se chocar contra a parede, uma caixa de cor lilás que ele segurava se abriu durante o choque e pequenos suportes de tinta caíram sobre ele melando seu rosto e seu corpo, ele ficou parado e olhou para mim assustado, da mesma forma que se olha para um zumbi prestes a atacar. – Ele se levantou rapidamente e virou de costas, se colocando a correr, percebi que os cortes feitos pelas unhas da Saphire não se encontravam mais lá, logo deduzi que o que eu havia presenciado na noite passada havia sido um sonho. Gritei o nome dele mas ele já se encontrava virando o corredor, correu para longe de mim, me abandonado entre pincéis e baldes de tinta.

Aiden acordou nesse instante e me encontrou apanhando os pincéis e limpando a tinta do chão, ele caminhou até mim e colocou sua mão em minhas costas, me chamou de linda e perguntou o que estava acontecendo, ergui minha cabeça e olhei em seus olhos, tão serenos, tão calmos e contentes comigo, abaixei a cabeça e voltei a limpar a tinta sem responder nada, estava sendo difícil conter as lágrimas, minha saúde se deteriorava aos poucos, os distúrbios emocionais aos poucos me corroíam e a culpa também, e as noites de sono mal dormidas não perdoavam... Isso somado ao fardo de estar com Aiden, que não tinha culpa de nada. Retirei-me de sua companhia dando um sorriso forçado e entrando no banheiro do quarto, assim começava mais um dia cheio para mim, onde iriam ter duas reuniões para decidir o futuro dos jogos vorazes...