Cheguei em casa e fui tomar um banho, afinal, estava toda ensanguentada. Por quê? Pergunte pro Yankee. Quando estava defendendo ele eu acabei sendo premiada com um soco no nariz, coisa que raramente acontecia. Agora teria que mandar minha roupa pra lavanderia e esperar dois dias a mais. Que droga!

Saí do banheiro e vesti meu pijama. Uma calça folgada branca com uma camisa preta com caveiras também brancas. Fiquei descalço.

Comecei a descer as escadas pra ver TV na sala de estar, então percebi que meu celular estava tocando. Era Peter.

– Fala, coisa chata - Eu atendi.

– Pede pros guardas aí da tua casa abrirem o portão que eu já estou chegando, hein, punk?! - Falou Peter.

– Hã... Como assim?

– Estou levando o Yankee pra sua casa, porque foi você que se responsabilizou por ele.

– Ele não tem casa, não?

– Não. Ele foi expulso de Harvard, veio pra cá visitar a irmã e agora ela está furiosa com ele por ter ido no jogo com a gente. E isso significa que ele não tem onde ficar. E isso também significa que ele vai ficar na sua casa.

Deu um grito e soltei um palavrão bem feio. Por que eu fui dizer que me responsabilizaria por ele? Por quê? Que droga! Então desliguei o telefone.

Depois de um tempo ouvi a campainha soar. Quando abri a porta avistei o carro de John e ele mesmo sentado no lugar do motorista com o veiculo em frente à casa e Peter no banco do carona. Foi só então, que percebi que o Caio estava parado na frente da porta de casa com uma mochila nas costas e uma bolsa grande na mãos.

– Entra logo - Eu falei enquanto fechava a porta. - Vai ficar no quarto de hóspedes. E é só isso que você tem de roupa? - Perguntei apontando para as bagagens.

– Na verdade, é só a bolsa. Na mochila só tem os livros da universidade - Ele respondeu.

– Então vamos ter que comprar mais roupas. Amanhã depois da aula. Ok?

– Tudo bem. E gostei do pijama - Ele comentou apontando pra roupa que eu vestia.

– Valeu - Agradeci antes de subir as escadas, indo em direção ao meu quarto e fechando a porta.

Liguei o rádio e pus um CD do Green Day para tocar. Começou a tocar Holiday e eu comecei a dançar feito louca com o volume no máximo. É assim que se ouve rock.

Não demorou muito e comecei a ouvir gritos do lado de fora. Abaixei o volume e abri a porta. Caio estava em frente a ela.

– O que houve, seu idiota? - Eu perguntei, arrogante.

– Abaixa esse som, louca! Olha o volume que tá! - Ele rebateu.

Começamos a brigar até que simplesmente fechei a porta no seu rosto.

– Ei! Por que fez isso? - Ele gritou do outro lado.

Fiquei em silêncio.

– Por que você não gosta de mim? O que eu fiz? - Ele perguntou mais calmo.

– Só não gosto. Precisa de um "por que"? - Eu respondi.

– Sim, precisa. E, com certeza, tem um motivo.

E pior que tinha. Eu não queria ser sua amiga. Se fosse amiga dele, e ele se tornasse um Hooligan, iria morrer. Pelo menos, teriam muito mais chances, então eu começaria a sofrer por perder um amigo. Não queria isso. Me lembrei de meu namorado. Era um Hooligan. Morreu brigando com Jack, o chefe do Millwall. Fazia dois anos. Já havia superado, mas não queria mais sofrimento. Foi então que as lágrimas vieram e eu não pude aguentar. Comecei a chorar em silêncio.

Caio abriu a porta e eu corri para minha cama, enterrando o rosto no travesseiro para que não visse chorando.

– O que houve? - Ele perguntou se aproximando.

– Sai daqui! - Eu gritei.

Ele não foi. Só se aproximou mais e começou a acariciar meus cabelos.

– Ei! Você ainda não me disse seu nome! - Ele comentou.

– Alicia Young - Respondi.

Ele me levantou e me fez sentar ao seu lado, me abraçando.

– Não me abrace! - Eu falei saindo de seus braços e me virando pro outro lado.

– Ok, mas por quê?

– Abraços são só para amigos, e você não é meu amigo! Não é nada meu!

– Basta você deixar eu ser seu amigo.

– Mas não vou!

– Por quê?

– Meu namorado morreu dois anos atrás. Ele era um Hooligan. Se você for meu amigo, vai passar mais tempo comigo, até talvez ser um de nós, mas vai correr o risco de morrer, então vou ficar sofrendo muito! Eu não quero isso! - Desabafei.

Ele ficou em silêncio.

– Você e Charlotte podem me dar mais aulas. Não deve ser tão difícil.

– Ok, você venceu. Vou tentar ser menos chata e começar a me aproximar mais - Eu falei abraçando ele. - Estou com sono. Pode sair agora. Valeu.

– Feito - Dito isso, ele saiu do quarto.

Comecei a me lembrar do meu ex-namorado. Percebi que havia agido do mesmo jeito que agi com o Caio desde que conheci os dois. E então me liguei que estava gostando do Yankee.