Rette Mich escrita por gaara do deserto


Capítulo 1
Sobre os Céus de Leipzig - A Briga


Notas iniciais do capítulo

Como sou nova nesse ramo, peço a colaboração de vocês.
Ajudem com sugestões, comentários, críticas, o que puderem.
Vão fazer uma autora muito feliz!

Gaara do Deserto: Vê se não me esqueçe, sua irmã desnaturada!



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Em Leipzig, o tempo é sempre imprevisível. Há aqueles dias de sol, onde é sempre bom esticar as pernas e tomar sorvete do carrinho que é dirigido pelo mesmo homem há 50 anos. Há também aqueles dias nublados, que não dá vontade de sair de casa, pois uma inocente chuvinha pode virar uma tremenda tempestade de duas horas ou varar pela noite, encharcando o canteiro de flores e os cachorros ficam latindo tão alto que não dá para dormir.

Mas para a família Kaulitz, residente do número ***** (n/a: eu sei, mas eu não digo), os dias sempre começam da mesma forma:

- Vamos levantar tá na hora de ir para a escola! – gritou Simone Kaulitz, ao adentrar o quarto dos gêmeos de 12 anos, batendo numa frigideira com uma colher de pau.

Bill e Tom Kaulitz acordaram ao mesmo tempo em suas camas, irritados por terem sonhos interrompidos. Puxando as cobertas até a cabeça, falaram ao mesmo tempo:

- Ah... Mãe, a gente tem mesmo que ir?

Ela deixou a panela de lado e pôs as mãos na cintura, naquela atitude autoritária que eles sempre adivinhavam que ela ia fazer.

- Mas é claro que tem – retrucou a mãe - A escola... – ia dizendo, mas foi interrompida pelos gêmeos, que já sabiam de cor esse discurso.

- É muito importante.

- Tá, tá – resmungou Tom, descobrindo a cara, emburrado como todas as manhãs.

- A gente já sabe disso – completou Bill, fazendo coro.

- Então para que vocês me fazem repetir isso todo santo dia? – perguntou Simone com rispidez.

- Pra ver se você se cansa e deixa a gente ficar dormindo – respondeu Bill com sarcasmo. Simone ouviu e franziu o cenho de um jeito muito parecido com os filhos.

- Bill... – sibilou em tom de ameaça. Os gêmeos se levantaram da cama, esfregando o canto dos olhos com os nós dos dedos.

- Desculpa – pediu Bill, o mais novo, antes que acabasse irritando-a de verdade e ficasse sem suas habituais fatias de pizzas no domingo.

Tom resmungou coisas ininteligíveis que soavam como “que merda”.

- Porque vocês não param de reclamar, se arrumam e descem para tomar café? – disse ela antes de sair do quarto levando a panela e a colher, os saltos do sapato fazendo barulho ao descer a escada.

- Táááááá´! – exclamaram em uníssono.

Vinte minutos depois, Bill e Tom desciam as escadas com a mesma expressão de aborrecimento. Deixa-se claro que, apesar de terem dividido o mesmo espaço na barriga da mãe, eles não faziam qualquer questão de serem idênticos e por isso tinham, além do figurino diferente, personalidades diferentes. Bill, mesmo com a pouca idade, tingira o cabelo de preto, deixara-os curtos e desgrenhados, usava roupas que acentuavam sua magreza e passara a utilizar lápis de olho que o deixavam mais pálido; Tom, por outro lado, gostava de roupas extremamente folgadas para seu corpo esguio, tinha um estilo meio rapper, vivia de boné por cima dos dreads compridos e exibia com satisfação seu piercing no lábio inferior, dando um sorriso torto pra chamar a atenção. Bill era mais medroso e frágil e sua aparência andrógina não era o melhor cartão de visita. Tom gostava de se fazer de pegador, mas seu currículo de namoradas era mais escasso do que ele dizia.

Quando chegaram à cozinha, uma voz bem humorada os saudou:

- Bom dia meninos! – Gordon Trümper dobrou o jornal que estava lendo para espiar os garotos.

- Bom dia, pai – entoaram os gêmeos, desanimados. Desde que a mãe se casara com Gordon, Bill e Tom pegaram o costume de chamarem-no de “pai”, já que eles nem se lembravam do pai biológico, que passava a maior parte do tempo dirigindo caminhões e demonstrava igual indiferença aos filhos.

- Mas que voz de desânimo é essa? – perguntou o padrasto, depois de tomar um gole de café fumegante. Eles se sentaram à mesa, lado a lado e Tom tratou de puxar uma enorme caixa de cereal com brinde (n/a: dos Backyardigans!)

- Que voz? Essa é a minha voz de sempre – sussurrou Bill escondendo a cabeça entre os braços, enquanto o irmão jogava leite na tigela transbordando de cereal.

Gordon olhou para o enteado, preocupado.

- Qual é cara? O quê que tá pegando? – por ser músico, ele sabia se comunicar muito bem, inclusive com adolescentes.

- Nada pai, é sério, o Bill que nasceu assim mesmo – desconversou Tom, para poupar o irmão de ter que dar uma resposta.

Nesse momento, Simone apareceu atarantada, perguntando por tubos de tinta e pinceis escondidos na gaveta de talheres. Aproveitando a oportunidade, Bill escorregou pra fora da cadeira e fez sinal para o irmão o acompanhar. Este movimento não passou despercebido a Gordon, mas ele preferiu fingir que nada vira. 

- Thau! – ouviu depois quando os gêmeos pegaram suas mochilas e bateram a porta.

***

A escola em que eles estudavam tinha uma estrutura moderna pós-nazista. No seu portão de entrada tinha sido gravada a seguinte frase: Educando com responsabilidade e profissionalismo desde 1960. E ao ler isso, Bill falou:

- Ha, se isso fosse realmente verdade, não acontecia tudo o que acontece com a gente. Profissionalismo? Fala sério!

Eles passaram pelo estacionamento onde os pais deixavam seus filhos, em carros e caminhonetes reluzentes com adesivos de propagandas de Fast-Food ou academias de ginástica ou os dois. Os filhos, que na sua maioria eram daquele loiro bem europeu e tinham bochechas rosadas por causa do frio matinal, puxavam dos bancos traseiros dos carros pesadas mochilas que continham mais lazer do que material escolar. E tanto eles como seus pais olharam sem disfarces quando os gêmeos Kaulitz entraram no prédio principal, onde Frau Marburg arrebanhava todos para listar as boas qualidades de um aluno e cidadão de Leipizig.

- Bom, a gente chegou – disse Tom, entediado ao chegar ao corredor que dava para o pátio que se concentravam desde os alunos do infantil até os maiores com caras de poucos amigos.

- É eu percebi. – sussurrou Bill, distraído com o horror de mais um dia naquele inferno camuflado.

- Ainda dá tempo de gazetar aula. – sugeriu o irmão olhando pro relógio de pulso – Se você quiser, a gente pode até pegar um ônibus até Magdeburg. A mamãe nem vai perceber.

- Não, eu acho melhor não – ele sabia que era melhor não arriscar. A mãe tinha um sexto sentido incrível e provavelmente leria na cara deles que eles haviam faltado a escola - A gente já tá aqui mesmo, vamo’ entrar.

- Você que sabe – avisou Tom, pousando a mão no ombro de seu gêmeo.

***

Eles andaram na direção do pátio, tentando parecer mais corajosos que o normal. Como previsto, a maior parte de suas turmas esperavam por eles, todos com uma cara muito feia.

Bill, que tinha um fio de esperança que aqueles babacas parassem com aquela habitual sessão de provocação, se sentiu mais surpreso do que Tom ao encarar os “colegas de classe”.

- Ai, eu não acredito – ele olhava com espanto para todo mundo.

O primeiro de seus algozes se destacou da massa de alunos, o primeiro Judas a sair julgando e distribuindo o castigo que, segundo sua crença, era merecido a seres estranhos como os “Kaulitz”.

- Aí idiotas, é melhor vocês caírem fora daqui – a voz grossa de Greg Linsenbröder veio à frente, acompanhada de sua estrutura pouco comum para um adolescente de 13 anos. Os punhos retesados eram a principal arma do garoto, assustava qualquer um. Inclusive seus brinquedos favoritos, os gêmeos.

Mas Tom não deixou que o habitual medo o impedisse de se pronunciar.

- E se a gente não tiver a fim? – toda a ginga de rapper e o olhar de profundo desprezo que lançou a Greg saíram meio que ensaiadas de seu íntimo, mas não menos verdadeiras.

Bill deu um beliscão no braço de Tom, completamente acuado pela presença daquele monstro de músculos esculpidos à base de cultura nazista. O que o irmão estava pensando? Ficara louco? Decidido a morrer?

Seria bem melhor ter seguido a idéia de Magdeburg. Ao menos estariam a salvos.

- Aiiii! – sibilou Tom, bem baixinho. Virou-se para o Bill, sem entender.

- Tá me desafiando pirralho? – Greg viu nas palavras de Tom a possibilidade de começar o dia do jeito que queria, distribuindo socos por todos os lados. E não importava a resposta que ele daria, tudo ia acabar da mesma forma no fim. Só que seria mais divertido dessa vez.

- E se eu tiver? – os presentes ficaram divididos com suas reações ao ouvirem a resposta de garoto. Uns pareciam sinceramente surpresos e viam um maluco suicida nele; outros, de pensamentos semelhantes à Greg, adoraram o aceitamento do desafio.

- Tom! – ele temia por seu irmão, como qualquer pessoa racional. Era só olhar para o desafiador e desafiante e perceber quem sairia seriamente ferido numa briga. E, ele sabia por experiência, aquele touro não deixaria Tom enquanto não provocasse danos satisfatórios.

- Peraí, Bill! – numa débil tentativa de contê-lo, ele o puxara pela camisa enorme, mas o outro se desvencilhou, com raiva.

- Tom, é melhor a gente dá o fora daqui mesmo – explicou, mesmo que já fosse tarde demais – Olha, vamos pra Magdeburg como você falou, a gente até pode se encontrar com o Georg por lá...

- Qualé Bill, você vai querer ficar fugindo a vida inteira desse cara? – todos escutavam a conversa dos dois com sorrisos nos rostos, inclusive Greg, apesar daquela demora que já o estava deixando impaciente.

- Se fosse só ele, eu não me importaria de enfrentar, mas é a turma inteira! – os argumentos eram mais do que suficientes, apesar de Tom não querer aceitá-los. Mas já estava de saco cheio daquilo. Ser apontado e comentado não era de todo importante ou digno de atenção para ele, mas a agressão sem motivo que recebiam e o descaso da direção para com isso o enfurecia e ele sentiu que já estava na hora de fazer algo.

- E aí as gazelinhas, vão ficar de cochicho? – provocou Greg, não vendo Tom avançar em sua direção - Ou vão encarar? – ele ergueu mais os punhos, demonstração de sua fé inabalável na força bruta.

Bill olhou aquilo como um mau sinal. Péssimo, na verdade.

- Olha no que você meteu a gente – sibilou para o irmão, irritando-se com o mesmo por querer se fazer de lutador. Nenhum dos dois tinha físico pra enfrentar quase 80 quilos de monstruosidade.

- Calma, vai ser divertido – tranqüilizou-o Tom, se desvencilhando novamente. Ninguém os socorreria. Então, ele teria que se valer do que achava que podia fazer. - Aí galera, a gente vai passar, então abram caminho! – exclamou, decidido a entrar de queixo erguido naquele desafio.

Bill suspirou. É claro que acompanharia o irmão. Se não fosse agora, provavelmente o pegariam mais tarde. Adiar a dor em nada adiantaria. Seguiu Tom, nem tão seguro, nem tão amedrontado. Seu estado de espírito era indefinido quando era agredido. Era uma dor que ele não chegava a presenciar. Logo que entraram em meio aos alunos, foram jogados ao chão. 

- É isso que você merece – falou Greg, pisando em Bill.

Enquanto levava chutes e socos, Bill pensava quanto mais aquela situação iria durar, pensava que por mais que alguém visse a briga, ninguém ia prestar ajuda, pois todo mundo os odiava. Mas o que ele não sabia, é que estava totalmente enganado.

No final do corredor uma figura de longas tranças ruivas passou e viu o que acontecia. A surpresa deteu-a por um momento, e seus grandes olhos verdes piscaram algumas vezes antes que gritasse, horrorizada:

- Meu Deus, o que isso?! – e rapidamente saiu em busca de ajuda. Precisava socorrer aqueles garotos, apesar de não fazer idéia de quem eram. Mas não era justo.

Para que inferno seus pais a haviam mandado?

 

A sala de Frau Marburg era adornada de várias fotografias e prêmios emolduradas em retratos caros. Pensava que talvez já fosse hora de ir até o saguão falar com seus alunos, porque todos deveriam estar lá, esperando-a.

Foi quando sua porta foi chutada do nada e uma garota avançou, arfando.

- O que é isso?! – gritou, jogando os papéis que lia para o alto, teatralmente.

A menina se apoiou nos joelhos, tonta. Correr nunca lhe fizera bem.

Mas aqueles garotos não podiam esperar.

- Diretora, por favor, faça alguma coisa! – exclamou, tomando fôlego – No saguão, uma briga...

Frau Marburg saiu de trás de sua mesa para ampará-la.

- Do que está falando, menina? – e segurou-a pelos ombros, ajoelhando-se para ficar da mesma altura que a garota.

- Aqueles meninos! – as palavras ficavam presas na garganta dela. A diretora precisava entender logo – No saguão, apanhando!

- Qual o seu nome? – perguntou a mulher, antes de puxá-la para fora da sala.

- Aline Marback – respondeu Alice, correndo com tudo que suas pernas podiam agüentar.

Bill e Tom continuavam apanhando.


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Notas finais do capítulo

thau.

Obs: É de família atrasar capitulos.
Desculpa.