A menina no bosque escrita por Silva chan


Capítulo 9
Lágrimas




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''Experiência é o nome que damos aos nossos erros.''

– Oscar Wilde

O vestido branco parecia se fundir com a pele clara. Os cabelos negro-azulados estavam presos em uma complicada trança e contrastavam com todo o corpo. Seus olhos acinzentados brilhavam perigosamente. De frente para a menina vestida de noiva havia um homem trajando um terno preto impecável que, com seus escuros olhos felinos, devolvia o olhar na mesma intensidade. ''Esta feito'', pensaram ao mesmo tempo.

A Srta. Hyuuga agora era a Sra. Hatake. O sr. Hatake agora era um homem oficialmente casado. Juntos eles seguiram até a casa que compartilhariam. A casa, antes verde e com tinta descascando, fora pintada de azul, o jardim havia sido podado e organizado. Ele destrancou a porta e a ergueu em seu colo. Entraram juntos no lar que pertencia a ambos.

Ele a levou para o quarto principal e a depositou na enorme cama de casal. Passaram um longo tempo se entreolhando, sem dizer absolutamente nada. Lentamente Kakashi se aproximou dela e plantou seus lábios nos da sua esposa. Beijaram-se longa e calmamente separando-se quando ficou mais intenso. O par de olhos negros o fitava intensamente e ele sorriu. A deixou sozinha no quarto alegando que ela ainda não estava pronta. Para o que ela não sabia e por isso resolveu permanecer em silencio.

Hinata foi para o banheiro e se observou no espelho. O rosto de boneca era refletido sem mostrar manchas ou olheiras. Soltou o cabelo com um pouco de dificuldade e livrou-se do pesado vestido de casamento. Ela deixou a banheira encher enquanto se livrava do espartilho e anágua. Mergulhou na água da mesma forma que fizera na primeira vez que o vira.

Assim como naquele dia, lá estava ele a observa-la. Seus olhos escuros esquadrinhavam a pele clara com interesse, gravando cada curva dela em sua memória e a face corada por estar sendo analisada descaradamente. Ele puxou um banco que estava no canto do banheiro e pôs ao lado da banheira, sentando-se em seguida e retirou a própria blusa expondo seu peitoral definido. Passou a acariciar o rosto dela sem desviar o olhar dos leitosos olhos femininos.

– Isso é deveras embaraçoso. - ela cochichou como se fosse um segredo.

– Não deveria o ser.

– Mas...

– O que há de errado nisso?

– Me observas quando estou descoberta.

Ele riu.

– Estamos casados.

– Mas...

–Acostume-se. Feche seus olhos se isso a fizer se sentir melhor e apenas sinta.

Ela o obedeceu e acabou por apoiar suas costas nele, apenas aproveitando o carinho que ele a proporcionava. Ficaram naquela posição por um tempo. Ela na banheira sendo abraçada por ele, tendo seus cabelos e face massageados delicadamente pelas mãos dele. Quando a água esfriou, ele ignorou a suplica dela e a fez se levantar para que pudesse seca-la. Sem jeito e corada, tentando cobrir suas partes a menina obedeceu. Com muito cuidado ele a secou e a ajudou a se vestir. Sentaram-se na cama, ela ficou de costas para ele e o homem começou a escovar as longas mechas negras.

– Sr. Kakashi?

– Sim?

– Continue a contar a história da Srta. Rin.

– Acho melhor não o fazer.

– O senhor me prometeu.

Ele suspirou.

– Até onde sabes?

– Ela amava o Sr. Uchiha e acabou por engravidar dele. Você voltou e o bebê nasceu morto, então ela se suicidou.

– Essa é a história toda.

– Não acha superficial demais? Eu quero saber tudo e não um resumo.

Ele parou de escovar o cabelo dela e a menina se virou para olha-lo.

– Eu e ela íamos a todos os lugares juntos desde que nos conhecemos - ele respirou fundo-. Ela aprendeu a me amar e eu fiz o mesmo em relação a ela. Mas era um amor de amigo, entende? Quando fui viajar...

– Do que se tratava a viajem? – ela o interrompeu.

– Uma moça após a outra começou a desaparecer pelo nosso Estado. Depois de dois dias sempre as encontravam mortas na porta de suas casas. Fui ajudar nas investigações. - Ele fez uma pausa e voltou a falar: - Itachi veio até mim e contou que acabou engravidando Rin. Eu voltei para apoia-la e tentei uni-la a ele em matrimonio, mas havia um problema. Ela começou a ter medo dele.

– Por quê?

– Eu não sei exatamente. Ela costumava ter dois diários então procurei e achei os dois. Ela queimou varias folhas de um deles, quando perguntei o porquê ela apenas respondeu que com a verdade não se brinca. Ela surtou. Dizia que estava sendo perseguida e que estavam tentando mata-la.

–Estava em pânico então. As circunstancias de sua gravidez e parto podem ter desencadeado essa reação.

– Não. Ela chorava sempre que eu tocava no nome do Sr. Itachi. Eu pensava que era culpa e a consoava. Ela entrou em trabalho de parto ao correr daqui para o centro da cidade. Estava nervosa e não abria a boca por nada. Não soltou nenhum som nem durante o parto. A imagem dela amarrada enquanto a parteira fazia seu trabalho ainda ronda minha mente. - Ele cerrou o maxilar. – Ela não chorou ao ver que o bebe nasceu morto. Na realidade, ela sorriu! Nos dias que se seguiram ela cantava uma cantiga de improviso na qual a letra mencionava algo sobre Deus ter tido piedade e enviado a morte para salvar seu filho. Ela chorou apenas um vez pela perda e era uma mescla de tristeza com felicidade.

– Como ela estava feliz se no diário se dizia triste?

– Itachi sabia da existência do diário que você leu. Aquele é o diário que Rin gostava de falsificar as coisas. Não é inteiramente falso, os fatos são verídicos, mas o pouco que ela sentiu de ruim pela perda ela substituiu por alegria dizendo que foi o melhor.

– E então?

– Eu havia saído. Passaria dois dias fora e proibi que qualquer um se aproximasse dos arredores de minha residência. Ainda nesse dia ela passou por mim correndo e gritou um nome. Desisti de sair e fui atrás dela. Depois de exatamente dois dias ela apareceu no meu quarto chorando durante a madrugada. Estava toda machucada então desci para pegar álcool e bandagens. Voltei para o quarto e pedi que ela ficasse ali enquanto eu pegava agua no banheiro. Eu mal tinha enchido a garrafa quando ouvi o grito dela e voltei correndo. Ela estava do lado de fora da janela, morrendo enforcada e se debatia em puro pânico. Cortei a corda e corri para o lado de fora para pega-la.

– Mas ela já estava morta.

– Sim, a esfaquearam.

– Pensava que a causa da morte era o enforcamento.

– Era só para deixa-la mais fraca e indefesa, creio eu.

– Então ela nunca cometeu suicídio.

– A Srta. Rin não era capaz de cometer suicídio.

– E quem o fez?

– Acredito que o homem que eu investigava se revoltou e resolveu se vingar matando-a.

– Foi por isso que saiu daqui. Queria acha-lo.

– Sim.

– E o prenderam?

–Ele está morto.

– Oh! Sinto muito pela sua perda e por te fazer relembrar tudo isso, mas eu precisava saber.

– Eu entendo.

Ela ficou em silencio por um tempo e voltou a fita-lo diretamente.

–Você a amava?

– Sim - ela baixou o rosto e fungou, ele ergueu o rosto dela e sorriu-, mas não como te amo. A amei como se ama uma amiga e te amo como se ama uma esposa.

– Não precisa mentir para mim.

– Não fique insegura, eu não estou mentindo.

– Obrigada.

– Pelo que?

– Por contar tudo e me acalmar.

Ela o abraçou e depositou um beijo casto na fronte masculina. Deitou-se e esperou que ele fizesse o mesmo. Juntos, um de frente para o outro, testa com testa e abraçados eles adormeceram.


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Notas finais do capítulo

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