A menina no bosque escrita por Silva chan


Capítulo 8
Diário da Rin




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A vida é panico num teatro sem chamas.

Jean-Paul Sartre

– Era para ela ser minha esposa. Desde pequenos esse era o destino que nos foi traçado. Mas algo saiu do controle e o acordo foi a ruína. Numa madrugada fria de inverno um homem bateu em minha porta. Irritado e um pouco confuso, afinal o que fazia alguém na minha porta a tal hora? Eu a abri e me deparei com Itachi.

Uma brisa carregou gotículas de água na direção deles. A cachoeira fazia um enorme barulho ao bater nas pedras. Observando a água violenta o casal se encontrava lado a lado. O sol poente refletia sobre a superfície do liquido transparente e fazia os peixes que nadavam tranquilamente reluzirem. Era uma cena bucólica. Era uma cena agressiva. Era um emaranhado de coisas assim como os sentimentos dos dois. Fora permitido que saíssem sozinhos agora que eram noivos, com a unica condição de que deviam ficar em um local onde pudessem ser observados. Kakashi respirou fundo imerso em lembranças antes de continuar a falar.

– Naquele dia eu ainda não sabia, mas na minha ausência ele havia conseguido chamar a atenção dela. Ele dizia ama-la, mas por ser 7 anos mais novo que ela , era impedido que se casassem a tempo de impedir que fosse eu o marido.

– E então?

– Ela era apaixonada por mim e minha viagem a negócios a destruiu. Uma dama de 22 anos, belíssima e noiva. É o sonho de tantas mulheres...- ele novamente suspirou- ...Mas nenhuma delas pensa em ficar sozinha em casa enquanto o noivo viaja. Eu tive que deixa-la, tive que sair do lado dela para concertar o acordo. Passei muito tempo viajando e passaria mais se não fosse por Itachi a minha porta naquela fatídica noite.

– O que ele te disse?

– Que ela estava gravida.

Houve um momento de silencio.

– E, naturalmente, ficaste feliz e voltaste para acompanhar o desenvolvimento da gravidez. Afinal era teu filho.

Ele ficou calado por alguns minutos que pareceram horas.

– Não foi bem assim. Quero que vá para a cozinha da sua casa por volta das dez da noite.

– O que...?

– Não vou dar-lhe uma prévia. É questão de segurança.

Ele virou as costas e saiu. Fitando as costas largas do homem que agora cruzava o quintal, ela se afogou em pensamentos. A primeira coisa que rondou sua cabecinha era que ela nunca se suicidaria, ela queria-o desde que o vira pela primeira vez e se tornou dependente dele. Ele se tornou um vicio do qual ela não pode se ver sendo capaz de largar. Desejava ser a Sr.ª Hatake mais do que queria saber sobre sua antecessora. Mas uma vez que começara, devia terminar, afinal estava andando sobre uma fina camada de gelo sobre um lago e qualquer passo em falso a faria se afogar. Agora que estava no meio do lago, ela devia atravessa-lo até a borda.

As nove horas e cinquenta minutos da noite ela desceu para o local combinado e se manteve na sombra observando a janela. A nevoa densa a impedia de ver se havia alguém do lado de fora. Levou um susto quando Kakashi apareceu de supetão na janela e tratou de segurar o grito. Ela a abriu e pela brecha ele passou uma pasta de couro. Disse-lhe que ela devia ler de madrugada e ninguém podia saber da existência de tal pasta devido ao conteúdo. Ele sumiu na nevoa mais uma vez e ela fecho a janela novamente. Subiu as escadas o mais rápido que pode tendo cuidado para que não soltasse ruídos. Entrou no quarto, acendeu uma vela, abriu a pasta e encontrou varias folhas amareladas, as quais ela começou a ler ávidamente.

''Diário, hoje o Sr. Kakashi partiu em sua viagem de negócios. Estou triste por ele não ter se casado comigo antes de partir, pois, se o fizesse, eu poderia acompanha-lo.

Estou irritada em demasia para descrever todo o meu dia.''

A folha estava em branco no resto da página. Hinata pegou a do próximo dia e pôs-se a ler.

'' Diário, hoje encontrei-me com o Sr. Itachi.

Passamos o dia conversando e acabei por tomar conhecimento do quanto ele gosta de mim.

Sinto não poder esperar até que ele atinja a idade legal para propor-me casamento,

pois já estou noiva do Sr. Kakashi a tanto tempo que se eu me casasse com o pequeno Sr. Uchiha seria um desrespeito sem tamanho.

Falando no meu noivo, ele ainda não enviou-me nem uma carta até agora.''

Havia uma semana inexistente e a Hyuuga lembrou-se que era a parte que continuava presa a capa do diário escondido da Srta. Rin. Na segunda semana sem o noivo ela escrevera:

''Desejo por fim em meu noivado.

Itachi é, sem sombras de dúvidas, o homem que sempre almejei casar-me.

Ele me ama de maneira tão intensa que chega a sufocar-me de prazer e me vicia.

Hoje me entreguei para ele e não tenho medo que o Sr. Hatake desfaça nosso noivado.

Creio que ele ficara ofendido ao saber que me entreguei a outro e não ele, mas que posso eu fazer diante disso?

Agora amo um certo garoto de olhos negros e cabelos cor de corvo.''

Hinata leu sem muito interesse algumas páginas com relatos insignificantes, como sobre o quanto Rin acreditava amar o ''Príncipe Uchiha'' como ela chamava-o no diário, ou o tamanho da raiva dela ao continuar sem receber cartas de seu noivo. Depois de varias páginas outro relato chamou a atenção da moreninha.

''Venho tendo constantes enjoos e acabei por perceber que posso estar grávida.

Não contive minha alegria e corri para contar ao meu amado minha suspeita.

De inicio ele sorriu, havia um brilho de alegria em seu olhar, mas depois fechou a cara e pediu que eu abortasse.

Não contive meu pranto e pus-me a chorar sobre a grama do nosso lugar secreto.

Foi quando ele chamou minha atenção para algo que eu não tinha parado para pensar.

Estou grávida de um e noiva de outro.

Ele partiu hoje para relatar o ocorrido ao senhor Kakashi.

Temo por sua vida e pela minha.''

As páginas que deviam estar ali narravam como o pai da moça a submeteu a espartilhos apertados, seu sofrimento com isso e o quanto o Sr. Hatake enlouquecia buscando limpar a reputação manchada dela. Hinata conhecia aquelas paginas ausentes de cor, pois passara muito tempo sentada na madeira fria da casa do homem grisalho lendo o diário da moça. As páginas que estavam ali narravam o resto na gravidez e a depressão da escritora com o parto pré-maturo.

Parada encarando todas aquelas paginas amareladas ela se sentiu injusta com o noivo. As duvidas sobre a conduta e o medo dele se esvaíram de seu corpo pequenino. Guardou as paginas na pasta novamente e depois guardou tudo na caixa que continha seu diário. Descrevera tudo o que acontecera em seu dia, cada uma das descobertas em seu próprio diário, apenas para guarda-lo junto com o novo conteúdo da caixa e tranca-lo, escondendo anto a chave quanto a caixa. Um ultimo pensamento cruzou sua mente antes de adormecer.

Agora ou ela casa com ele, ou ela casa com ele.

Ela sorriu com a informação.

Acordou com o som de um pássaro bicando sua janela. Vestiu-se com um longo vestido púrpura de manga curta e trançou seu cabelo. Desceu correndo para a cozinha e comeu. Logo seu pai despediu-se dela e a levou até um cavalo marrom. Foi cavalgando até o distrito Uchiha onde foi muito bem recebida. Ela deixou seu animal no estabulo e andou até a a maior casa que havia ali. Uma moça a recebeu e conduziu-a ate o Sr. Obito. Encontrou o mais velho no jardim e sentou-se no banco de madeira ao lado dele. O cumprimentou e ficaram em silencio enquanto ele verificava os arredores e a levava para um local mais reservado.

– Cá estamos, Srta. Hyuuga. Agora sacie minha curiosidade e diga-me, o que te traz aqui?

– Antes de falecer, o Sr. Itachi me aconselhou procurar-te.

– Itachi?

O homem vincou o cenho.

– Sim. Ele me disse que eu devia perguntar certas coisas sobre o comportamento de meu noivo.

– E o que seria?

– Ele disse que o Sr. Hatake pode ficar violento por razão nenhuma aparente e que eu deveria me refugiar aqui quando isso acontecesse.

– É bastante simples. Para conviver com ele você deve obedecer algumas poucas regras, são elas: nunca mentir para ele, não importa se você pensa que a verdade vai magoa-lo muito, ele aguenta; nunca omita algo dele; e sempre seja você mesma. Sobre ele, saiba que o senhor Kakashi é um homem imprevisível, por isso se esforce para faze-lo sorrir mesmo quando ele estiver calmo. Dedique a maior parte do seu tempo a ele, quanto mais você souber sobre ele, mais chances de sobreviver quando ele está fora de si a senhorita tem. Nunca expulse-o do lugar em que você esta, ele é como o Sasuke, vai continuar inexpressivo, mas por dentro esta fervendo de raiva. E...

– Me desculpe interromper, mas porque devo fugir dele e me refugiar aqui?

– Fugir dele é um erro.

Houve alguns minutos de silencio.

– Quando ele estiver nervoso, não saia de perto dele, está me ouvindo? Não saia de perto dele!- sua voz era um sussurro autoritário.- Tente reconforta-lo, o abrace e diga que vai ficar tudo bem. Quando ele estiver irritado, não saia de perto, assista-o em silencio ou tente acalma-lo aos sussurros. Não grite ou erga a voz para ele se ele estiver irritado, me prometa que não o fará!

– Por que?

– O Sr. Kakashi é um bom homem, mas o passado dele é...- o homem se interrompeu.- Mante-lo por perto o fara feliz e será a tua defesa. Quando ele começar a batucar os dedos, ou balançar os pés sem cessar enquanto te observa, a senhorita deve estabelecer uma distancia segura. Sempre esteja perto da porta com o caminho livre e em uma posição que possa assisti-lo de todos os ângulos possíveis.

– Por que devo faze-lo?- ela insistiu.

– Ele fica altamente violento as vezes. Pode acabar te espancando ou algo do tipo. A vó dele batia muito nele quando eramos crianças, até o dia em que...

– Em que...?

– Ele a matou quando tinha treze anos - os olhos do estavam fixos no chão de madeira.- Mas não se preocupe, tu ainda tens tempo de aprender a controla-lo. Ele só fica agressivo quando o mês em que ele costumava ser enviado para ficar com a avó começa.

Passaram alguns minutos em silencio e depois mudaram de assunto, passando a passear pelo distrito e conversar sobre os moradores. A moça agradeceu e partiu. Durante o caminho de volta para a casa ela refletiu tudo que tinha ouvido. Seu noivo matara a própria avó! Sangue de seu sangue. Entrou em sua casa e deliciou-se com o lanche das quatro da tarde, pois já havia almoçado com o Uchiha. Ao terminar de comer voltou ao torturante ritual de provar o vestido de casamento e escolher o enxoval. Assim que se viu livre, lá pelas oito horas da noite, ela fez o percurso para seu amado rio no bosque sozinha.

Havia avisado o pai rapidamente sobre onde estaria nas próximas horas e isso lhe dava um bom tempo de liberdade. Despiu-se e entrou na água gelada, imediatamente seu corpo se arrepiou e ela começou a tremer. Passou a nadar de uma margem a outra. Sua cabeça estava ocupada com todas aquelas informações sobre o noivo. Em um dos mergulhos um detalhe gritou em sua mente turbulenta.'' Se a avó do Sr. Kakashi morreu ha quatorze anos e a Srta. Rin ha seis, então as crises dele são bastantes antigas. Sendo assim, como o Sr. Obito suspeita, a agressividade que todos tanto falam não é devido a ter assistido sua noiva morrer, mas por ser maltratado quando mais novo. Então porque Rin não relatou nem uma crise? Por que ela nem sequer mencionou alguma crise? Eles passaram a infância e juventude juntos até completarem 22 anos, ela praticamente morava com ele mesmo ante do noivado oficial'', ela pensou.

– Ainda não estão me contando toda a verdade - a morena sibilou.

Vestiu e começou a caminhar rumo a sua casa. Foi então que algo chamou sua atenção. Havia um veado morto a sua frente, o machucado bastante visível de onde o sangue continuava a escorrer em uma velocidade baixa por entre o sangue seco e preto. Mais a frente estava a corda que fora usada cheia do mesmo liquido viscoso. Fora da temporada de caça isso não ocorria, mas o que mais chamava a atenção era que a caça não tinha sido levada. Um arrepio correu por sua espinha quando ela se lembrou da ultima frase do Sr. Obito antes dela sair do distrito Uchiha naquela tarde.

''- Algumas pessoas precisam satisfazer seus desejos mais obscuros. Entre essas, nem todas possuem alternativas que não prejudiquem ninguém.''


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