A menina no bosque escrita por Silva chan


Capítulo 6
Decisão




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O cabelo estava sendo trançado por uma das empregadas. Seus olhos sem cor analisavam o quarto com tédio. Sua mente se concentrava no espartilho apertado que coçava sem cessar. Céu estava limpo exceto pela fumaça cinzenta proveniente de alguma fábrica. Um dia lindo, porem decisivo para ela. Cada segundo que se passava a deixava mais nervosa.

Não sabia se o pai aprovaria ou não um pedido de matrimonio vindo do Sr. Hatake. Pelos anos que passou se embrenhando pelo bosque e refugiando-se na casa abandonada, ela muito sabia sobre os donos. Ela sabia que o homem de cabelo grisalho era muito rico, tinha titulo da nobreza e que já fora noivo de outra mulher.

Embaixo de uma das tábuas de madeira que compunham o piso do pavimento inferior do casarão havia uma agenda de capa grossa com a caligrafia impecável intitulando-o de ''Diário da Srta. Rin''. Nas páginas manchadas de café e amareladas pelo tempo, a mulher contava que fora apaixonada por ele, o belo homem de porte elegante e educação sem igual que era sempre apático, porem adorável. Contava ela que seu charme era tamanho que ela se tornou refém de sua essência a primeira vista. Poucos meses depois de se apaixonar ela narrava que o havia conquistado. Três longos meses de namoro as escondidas e ele teve que partir em uma viagem de negócios. Havia algumas paginas ausentes, talvez ela tenha se arrependido das baboseiras que escrevera no período que compreende a viagem dele. Assim que voltou ele noivou com ela, apenas três meses depois.

O problema era que ela estava gravida antes mesmo de noivar e seu pai descobriu quando a noticia pegou força nas fofocas pela cidade. O Sr. Hatake se julgava novo demais para ter filhos e o pai se recusava a olha-la por estar escandalizado. Para abafar os rumores da gravidez precoce o pai da Srta. Rin a forçou a usar um espartilho. A moça deu a luz a um feto morto, cheio de ossos deformados; e minúsculo devido a falta de espaço no útero da mãe. Um dia antes de se casar, a mulher se suicidou alegando tristeza extrema. Havia feito uma forca com os lençóis e se jogou do terceiro andar da mansão. Este fora o triste motivo que fez o loiro abandonar a casa e sair em viagens no estrangeiro.

Depois que ele voltara, ela bisbilhotou suas belíssimas maletas de couro e achou inúmeras cartas que ele mesmo escrevera. Depois da morte da amada ele se dedicou ao dinheiro e a vida boemia. Ia de bar em bar, falava besteira e se engana propositalmente, seduzia mulheres, se deitava com elas e depois sumia. Guardava todas as cartas repletas de juras de amor de mulheres que jamais veria novamente, eram ilusões delas que ele guardava como boas recordações. Ele havia pego horror a mulheres gravidas e repetia que nunca teria filhos em suas anotações.

Criada para formar uma família, ajudando a criar e educar os filhos de suas empregadas, considerava a morte não da a luz. Compreendia o suicídio da outra por ver seu filho morto e deformado nos braços e o motivo do medo do Sr. Hatake de que sua mulher engravide. ''De que me adianta um marido, se o casamento não dará frutos? Se filhos não hei de ter?'', ela pensava tristemente, ''como serei feliz ao lado dele, se a felicidade divina não me for entregue? Condenada a felicidade parcial até o meu fim. Oh papai, não aceite, se o fizer, apaixonada como estou, não hei de recusar.''

– Que pensas minha criança?

– Penso nos filhos que quero ter.

– Ora menina, se filhos tiveres, terá uma dádiva, mas até este dia muito caminho há de ser percorrido.

– Mas é meu futuro e meu dever.

– Criança, somos criadas para tal, mas nem todas recebem o mesmo dom. Minha irmã mais velha, Lucy, é estéril. Por mais que seja uma moça bonita e de boa índole, não engravida. Mas ela é feliz com seu marido. Creio que ela é mais feliz em seu casamento que minha prima, Charlotte, que teve oito filhos e vive tentando matar o marido.

– Mulher louca!

– O Sr. Euclides é um homem charmoso, desses que vivem a desvirtuar meninas tolas. Ele é infiel e deixa minha prima passar fome com sua prole. Ameaça que se ela continuar a reclamar do casamento será enviada para trabalhar num bordel como meretriz.

– Lamentável.

– Sem dúvidas, minha criança. Acredito que agora que ele partiu para as Índias, pode muito bem morrer por lá.

– E o sustento dela?

– Teu pai ofereceu um abrigo e, em troca de lençóis bordados, a sustenta. De fome não morre mais, mas de desgosto provavelmente.

Houve um longo período de silencio que foi quebrado por um empregado. Seu pai a esperava na biblioteca. Desceu as escadas com lentidão, tentando aliviar o tremor nas pernas e o estomago embrulhado. Suas mãos suavam frio e ela as remexia nervosamente. Respirou findo, ergueu seu vestido para que não tropeçasse na barra e adentrou o local. Encontrou seu pai do lado do Sr. Hatake e do Sr. Itachi.

– Papai, Sr. Uchiha e Sr. Hatake.- ela fez uma leve reverencia.

– Minha filha, o senhor Hatake veio pedir-me que conceda sua mão em casamento. O senhor Itachi alegou que se é o amigo ele aceita desistir de sua mão. Eu aceito que ele se torne seu marido e esperamos apenas pela sua decisão. O que pensa sobre se tornar a futura senhora Hatake?

– Eu...- ela começou a mastigar o lábio – Eu...

– Não precisa responder agora- intercedeu o Sr. Uchiha- Meu amigo sabe ser paciente e ninguém faz boas escolhas sob pressão.

Ela viu o brilho no olhar do grisalho com a fala dele. Seu primeiro instinto foi recuar um pouco. Ela agradeceu e saiu dali o mais rápido que pode. Refugiou-se no jardim, escondendo-se atrás de uma frondosa árvore. Depois de não muito tempo, mas mesmo assim, um período relativamente longo, ela sentiu que alguém se aproximava e virou-se para ver quem era. Seu primo, Neji, a encarava com seus olhos claros cheios de ternura.

– O que pensas tanto, minha menina?

– Casamentos.

– Ainda enrolando o Uchiha?- ele sorriu.

– Não. Devo me decidir se caso com ele ou com o Hatake.

– O Sr. Hatake? – ele a olhou espantado.

– Sim.

– Que imprevisível. Cheguei a perceber certo interesse da parte dele ontem, mas pensei que ele ponderava se o amigo estava fazendo a escolha certa.

– Talvez de inicio o fosse- ela mentiu-. Estou com medo- sussurrou enquanto fitava o céu.

– Não se envergonhe de ter medo. O medo faz bem. – ele suspirou- Qual é o seu medo?

– Medo de não fazer a escolha certa. Qual devo escolher?

– Conheço o Itachi faz muitos anos e sei o quanto ele pode ser carinhoso com uma mulher e ate mesmo liberal, ao contrario do que tu pensas. Já o Sr. Hatake, ele tem algo estranho. Ninguém sabe do paradeiro dele desde a morte da noiva. Muitos acreditam que não foi suicídio e sim que ele a matou. Se mantenha longe Hinata. Sinto que ele não é como a maioria e é melhor prevenir.

– Então sua preferencia é pelo Uchiha?

– Sim.

– Talvez seja a melhor escolha.

Eles ficaram juntos sob a nogueira por um tempo. Seu silencio era confortável e, enquanto durava, ela se sentia protegida. O moreno se foi deixando-a novamente sozinha. Sem ninguém para fazer-lhe companhia ela adormeceu. Acordou com alguém fazendo carinho em seu rosto.

– Uchiha?- ela o fitou com espanto .- Digo, Sr. Uchiha.

– Srta. Hinata pode me acompanhar?

– Cla- Claro.

Enquanto o seguia ela percebeu que ele estava nervoso. Seguiu-o sem calma alguma. Os passos de ambos ecoavam pela floresta, apressados e sem ritmo quebrando galhos secos a margem do rio tão amado por ela. Quando o barulho de água se tornou forte o bastante ele parou e a olhou de soslaio, pareceu averiguar se alguém os seguia e continuou a andar. Passaram por dentro de uma gruta rasa de duas entradas e saíram nas terras sem dono do outro lado. Lá ele a fitou longamente e sorriu.

– Lindo, não?- ela assentiu – Srta. Hinata te trouxe aqui para que obtivéssemos privacidade.

– Sobre o que desejas falar?

– Sobre suas opções de casamento.

– Não é meu assunto predileto.

– Eu sei disso, mas preciso que me ouça. - Ele sentou na grama e ela fez o mesmo, ficando de frente para ele.- Pedi sua mão há mais de nove meses e sei que nunca aceitou meu pedido por acreditar que não é a mulher feita para mim. Tenho anos de experiência a sua frente e é por conhecer o mundo a mais tempo que conheço todos os perigos.

– A onde quer chegar?

– O senhor Hatake é um velho amigo da minha família. É o melhor amigo de meu tio, o , e por isso convivi com ele desde pequeno. Bem... - ele olhou para o céu -.. Ele é um bom homem, mas tome cuidado. Ele já perdeu uma amada e ele estava na hora em que ela morreu. Isso custou sua sanidade. Se aceitar se casar com ele saiba que encontrará algumas dificuldades peculiares. Quero dizer que se ele começar a gritar com você, tranque-o na casa e vá correndo até o distrito Uchiha. Quero que me prometa isso.

– Não entendo. Prometo que irei para lá, mas não entendo as circunstancias.

– Ele nunca grita. Nunca. Então quando ele começar a elevar a voz quero que fuja e se possível corra armada.

– O que quer dizer com isso?

– Existem duas semanas no ano em que ele enlouquece. Não sei direito como funciona. Vá até o Obito e se inteire sobre as datas com ele. Uma das semanas é a que a Srta. Rin morreu. Ele mata qualquer um que entrar na frente. E uma ultima coisa. Sei que não serei escolhido e por isso digo agora que te amo, Hinata. Amo-te como nunca amei ninguém.

– Itachi- murmurou antes de ser surpreendida pelo beijo do mesmo.

Foi algo rápido, feroz e necessitado. Ele precisava sentir a maciez daqueles lábios rubros ao menos uma vez. A mãozinha feminina tentava empurra-lo para libertar-se do beijo faminto. Em vão. Ela sabia que mesmo se colocasse toda sua força nos braços pra separar-se dele, o homem mal se moveria. Amaldiçoou-se por ser fraca e não poder libertar-se daquelas garras. A imagem de Kakashi e seu toque macio, a sensação de ser amada por ele quando esteve em seus braços surgiu e sua mente.

– Adeus, minha princesa- ele disse assim que finalizou o beijo, ainda sem solta-la -. Não se esqueça de falar com meu tio e de correr para nosso distrito. Sasuke e Obito te protegerão e nenhum mal lhe será infligido.

– ...

Ele partiu e ela ficou refletindo suas palavras. ''Sasuke e Obito te protegerão e nenhum mal lhe será infligido'', mas se era ele que a queria por que não se incluiu naquelas palavras? Ela sempre tivera um mal pressentimento em relação a ele. Sentia-se enganada em sua presença e não conseguia acreditar em nenhuma de suas palavras. Quem era taxado de insano era Kakashi, mas ela se sentia bem mais protegida com o louco do que com ele. Sempre acreditou de Itachi fosse um lobo em pele de cordeiro e agora todos os seus instintos gritavam que ele deveria ser eliminado.

Sorriu enquanto voltava para seu lar. Ninguém mentia para ela e saia impune. Hinata amava jogar pôquer com o pai e em todos os fins de ano ela jogava com todos os homens da família. Se alguém sabia detectar um blefe a distancia essa pessoa era ela e, definitivamente, Itachi estava blefando. Destrui-lo-ia depois, em segredo, como sempre fazia com os pretendentes da irmã que ela percebia segunda intenções. Encontrou o pai na biblioteca e depois de ver que estavam a sós, ela respirou fundo. Estavam jogando com ela, certo? E estava na hora dela tomar as rédeas desse jogo.

– Pai.

– Sim.

– Já me decidi.

– E qual é a sua decisão?

– Vou me casar com o senhor Uchiha.

– O Uchiha?

Algo no tom da voz dele a fez entender. Seu pai era muito bom em negócios por saber disfarçar muita coisa. Mas o que eram anos de treinamento dele para os negócios, comparado a quanto ela sabia sobre o pai? Nunca fora uma moça burra, mesmo que fosse tratada como tal. Ela sabia o resultado do jogo. Sabia muito antes de eles terminarem suas jogadas ensaiadas.

– Que seja feito então.

A porta se fechou e ela ficou sozinha no meio dos livros. Era uma questão de paciência. Lembrou-se do tremor na mão de Itachi quando ele foi falar com ela. Lembrou-se da cor do chá que ele tomava. Todas as cartas estavam devidamente marcadas. Ela sorriu de costas para a porta. O relógio marcou que já eram seis da noite. Já havia acontecido. Só restava a noticia.

– Srta. Hinata?

– Sim?

– Seu pai te chama. Alega que é urgente.

Rapidamente ela foi para a porta da casa. Encontrou-o na escada da porta principal. As mãos dele estavam enterradas em seu cabelo castanho escuro, o rosto baixo. Algo havia dado errado e ela já sabia o que.

– Papai?

– Hinata? Eu tenho uma má noticia para te dar.


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Notas finais do capítulo

Alguém gostou? Se sim, por favor, comente.
Ah!, e me desculpem por demorar a postar.



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