A menina no bosque escrita por Silva chan


Capítulo 5
Jogo




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''Todas as artes são como espelhos nos quais o homem se conhece e reconhece algo dentro de si que ignorava. ''

– Alain, Vinte Lições sobre as belas artes.

Três dias. Três dias sem o menor sinal dela. A moça havia desaparecido. Se deixara enganar pelo rosto infantil, os gestos inocentes e pela habilidade de responde-lo sempre a altura. Apenas uma moça bonita que sabe usar as palavras ao seu favor, uma criança que sabe jogar com as palavras. Ela disse que Maquiavel era um gênio, mostrou que acabou induzindo-o para a destruição sem que ele percebesse. Se fosse uma guerra ele já estaria morto e seu povo dominado. O homem soltou um murmúrio de raiva. Estava furioso por ter sido manipulado tão facilmente por uma mulher com a metade de sua idade. Resolveu dedicar seu tempo a reforma da casa.

Homens trabalhavam dia e noite desde quatro horas após a saída dela. Haviam começado pelos quartos. A suíte principal já havia sido concluída, outras suítes menores também, todos os banheiros já haviam sido finalizados. O jardim estava sendo exclusivamente aparado por ele. Ve-la tantas vezes correndo entre as plantas o fez repensar se queria um outro homem cuidando de seu jardim.

Foi ao centro encontrar seu amigo novamente. No escrito estava ele, o amigo e o sobrinho do amigo, Itachi Uchiha. Os três conversaram sobre muitas coisas, de política à religião. Em uma de suas mudanças de assunto um dos homens percebeu que algo estava errado.

–O que há de ruim, Kakashi? A reforma não está indo conforme o planejado?

–Não se trata da casa, Obito. O assunto é outro. - O risalho se pos a olhar a rua pela janela.

– Deixe-me adivinhar, se trata de uma dama. - disse o sobrinho.

–Acredito que uma dama não poderia afetar tanto um homem como o Hatake.

– Infelizmente Itachi tem razão.

Os dois morenos entreolharam-se estupefatos.

– Quem é ela?- Perguntou Itachi.

–Não sei seu nome.

– E já se apaixonou?- perguntou o mais velho.

– Não me apaixonei.

– Se não é paixão, o que há de ser?

–Ela só é diferente.

– Que clichê! Todo homem apaixonado diz isso – disse Obito com uma carranca. - Fale tudo homem. Quem? Quando? Como? Por que pensa que ela se destaca?

– Não sei nome. Conheci-a na ultima semana. Ela estava no bosque de minha propriedade. Quanto a ultima parte, ela é uma peça rara de se encontrar nos dias atuais.

–Rara?

–Sim, Itachi, rara. Diga-me, quantas mulheres inteligentes e espertas conheces? Do tipo que acredita que pode lhe enganar e o faz sem muito esforço?

– A dama sem nome te enganou?

– Ela me manipulou! Uma louco, sem o mínimo de escrúpulos e boa o suficiente para faze-lo.

– Definitivamente é algo raro de se ver, mas tudo tem sua primeira vez.

– Tio!

– Que foi?

– Ela não é qualquer uma para fazê-lo. Vamos Kakashi, conte-nos o que a dama te fez.

– Eu não queria deixa-la partir como sempre fazia, queria arrancar a verdade dos lábios graciosos dela, saber quem ela é, de onde vem e quem é seu pai.- Ele soltou um suspiro pesado.- Mas a ninfeta é escorregadia e sabe ser arisca- novamente uma pausa-. A prendi em um abraço do qual ela não conseguia se soltar. Ela pediu que a deixasse partir. Estava assustada e eu sabia que se a soltasse ela não voltaria.

– E então...?- encorajou o mais novo.

– Ela começou a falar e me deu uma charada. Ela me disse que eu só saberia quem ela é se a deixasse partir- ele trincou os dentes-. Como fui tolo. De inicio resisti a proposta e ameacei mantê-la ao meu lado para sempre, ela riu e disse que se eu fizesse o pai dela me caçaria e me mataria, que se eu a queria, não poderia fugir com ela, pois a única forma de me livrar das garras do pai era matando-a. Ela sabia que eu não o faria.

– Que inocente!

– Ela debateu comigo até a curiosidade em mim me forçar a deixa-la ir. Me convenceu de que eu queria isso, me conduziu a liberta-la. Disse que sei quem ela é, mas ainda não abri meus olhos. Antes de sair disse que Maquiavel era um gênio e ...

– E ela não voltou – Itachi terminou por ele-. Ela é articulada de tanto ler O príncipe penso eu. Ela também sabe que está muito próximo ao pai dela, mas apenas não o fez.

– E como diabos acharei um homem nessa cidade inteira?

– Isso eu não sei.

Kakashi continuou a observar a rua pela janela até algo chamar-lhe a atenção. Um homem descia de seu cavalo com o rosto erguido e andava sem se importar com os olhares invejosos ao seu redor. Os cabelos castanhos, lisos e longos, o rosto simétrico e austero, o ar de imponência que ele exala, mas os olhos principalmente. ''Esta cor de olhos é inconfundível'', pensou o grisalho, '' é o homem do quadro dela''.

– Quem é ele?- apontou e Itachi se levantou para ver quem era.

– Hiashi Hyuuga, o patriarca da segunda família mais rica dessa cidade, só perdendo em poder e dinheiro para o nosso clã, os Uchiha.

–Itachi vive tentando conseguir a mão da herdeira, mas o pai é um home duro na queda. O Sr. Hyuuga é, sem duvidas, bom em negócios até quando se trata da filha – alfinetou Obito.

– Aquele velho vive fazendo exigências, diz que está me testando. Não me deixa chegar perto da moça ou ficar as sós com ela.

– A Srta. Hinata Hyuuga é disputada por muitos homens, nada mais normal que tentar diminuir a concorrência e preservar a pureza dela.

– Hinata? – Hatake questionou.

– Sim, a Srta. Hinata é a bela e perfeita herdeira do clã Hyuuga.

– Vai com calma, Itachi. Ela não pode ser perfeita.

– Vamos tio, diga-me um defeito nela.

– Ela parece ser amorosa, gentil e submissa, assim como mandam os bons costumes, mas acredito que quando quer ela é infernal.

– Com aquele rostinho e jeito de anjo? Acho que não.

– Eu a conheço a mais tempo. Já a vi se embrenhar em copa de arvore e ninguém, além do pai, conseguir faze-la descer.

– Em comparação a outras, isso não é problema.

Ouviram alguém bater na porta. O Uchiha mais velho pediu para o secretario entrar. O homem disse que o Sr. Hyuuga esperava para entrar. Os homens autorizaram e o assunto entrou no escritório.

– Bom dia Sr. Hyuuga- cumprimentaram os três.

– Bom dia Srs. Uchiha e Sr...?

– Hatake, Kakashi Hatake.

– Sr. Hatake. Vim convida-los para jantar em minha residência, o senhor Hatake está incluído no pedido.

– Claro que iremos.

Continuaram a conversar sobre o jantar e negócios por um bom tempo. Hiashi ouviu as circunstancias que levaram o grisalho a se afastar da cidade e retornar. O homem refez o convite e depois partiu. Os três conversaram um pouco mais e depois foram se arrumar. Chegaram juntos ao casarão. Foram recepcionados por uma bela serviçal chamada Annabeth que os guiou até a sala de jantar. Kakashi percebeu que mesmo sendo bela, a Srta. Anna, como preferia que a chamassem, era de uma falsidade fora do comum. A dama foi fazendo charminho para eles durante todo o percurso.

Chegando a mesa devidamente arrumada sentaram-se a esquerda do patriarca. O líder se encontrava na extremidade com o sobrinho, o Sr. Neji a sua direita, e o Sr. Obito se encontrava no extremo oposto. A herdeira e sua irmã mais nova estavam ao lado do primo e os doi convidados estavam a sua frente.

– Obrigado pela presença dos senhores- começou o anfitrião com polides-. Sr. Hatake, lhe apresento minha primogênita, Srta. Hinata, meu sucessor, Sr. Neji, e minha filha mais nova, a Srta. Hanabi.

Prazer em conhecê-los.

– O mesmo, Sr. Hatake- responderam em uníssono.

– Hinata, minha filha, o Sr. Itachi veio para reforçar o pedido de casamento – disse o homem como quem nada quer.

– É realmente uma boa proposta de matrimonio, mas a Srta. Hinata ainda é muito nova para tal. Futuramente há de ser um benefício.

– Irmão, se continuar a por todos os pretendentes da Hina para correr não sobrará nenhum!- repreendeu Hanabi, o que arrancou uma risada da mais velha.

– Não seja impertinente irmã.

– Olhe isso minha irmã, veja como ele me maltrata!

– Não faça tempestade em copo d'água, minha filha. Neji apenas está tentando te educar. Quanto a tua irmã, Hinata apenas se diverte as suas custas.

– Papai!- a primogênita repreendeu.

– É a verdade.

– Irmã?

– Não confie em todo que ouve, minha irmã.

A mais nova fechou a cara e o jantar transcorreu sem mais interrupções do gênero. Até que começaram a falar de politica e economia. Sem se conter ao ouvir a conversa sobre um de seus assuntos preferidos a herdeira tomou coragem e entrou na conversa.

– Papai, o presidente dos Estados Unidos anda cada vez mais agitado, percebestes?

– Não entendo.

– O céu esta muito azul, não acha?

– Seja sucinta, Srta. Hinata.

– Quero dizer, Sr. Neji, que em plena Revolução Industrial, como alguns chamam, a calmaria é prenuncio de perigo- ela baixou o olhar para o prato e depositou os talheres simetricamente.

– Não iremos entrar em batalha alguma.

– Não disse isso meu pai. É só que... A região de dominação espanhola parece um barril de pólvora e os norte-americanos estão se envolvendo demais em uma briga que não é deles. O senhor é o rei das armas, como alguns gostam de apelidar-te, e não querendo me intrometer em seus negócios, mas já o fazendo, penso que a venda anda meio alta para um período de ''paz''.

– Acredito, Srta. Hinata, que com a recente alta da violência as pessoas apenas desejam ter como se defender.

– Creia no que quiser, Sr. Itachi – a voz dela era seca-. Pode ser que esteja certo e pode ser que esteja errado, estou apenas mostrando meu ponto de vista.

– Educação, Hinata, educação.

– Sim papai.

Não se ouviu mais a voz melodiosa dela até o fim do jantar. Os homens conversaram sobre negócios durante a maior parte do tempo enquanto as irmãs apenas permaneceram ali caladas e de rosto baixo. Ao fim da refeição todos foram para outra sala. Hiashi e Obito debatiam estratégias de negócios, Itachi e Neji jogavam cartas, Hinata costurava e Kakashi fingia ler ao lado dela, Hanabi tricotava alheia a tudo e a todos.

– Então o nome da Srta. Sem Nome é Hinata? – o grisalho começou com a voz baixinha.

– Interessante, não? No fim o senhor me achou. Decepcionado por ter sido tão fácil?

–Nem um pouco. O que significa seu nome?

– Lugar ao sol.

– Combina com a sua beleza.

– Eu sou torrada?- ela o encarou discretamente boquiaberta.

– Céus, não. Quero dizer que és uma dama iluminada. De onde tirou tal conclusão?

– Neji diz que alguém que fica muito ao sol é torrado. *

– Isso não faz o mínimo sentido.

– Não é para fazer- disse desviando do assunto.

– Vai se casar com o Sr. Itachi?

– Talvez.

Houve um breve momento de silencio.

– Talvez? Seu pai não autoriza?

– Ele autoriza. Mas reio que o Sr. Uchiha não faz parte do diminuto grupo que aceita mulheres como eu.

– Grupo?- ele a encarou de esguelha escondendo um sorriso divertido.

– O senhor sabe. Ele é um homem autoritário, austero, arrogante e tudo mais. Admirável nos negócios e não aceita máculas. Como marido precisa de uma mulher que por vias das dúvidas não suje sua imagem. Ela deve ser sempre meiga e adorável, se dispor a ouvir todas as lamurias dele mesmo sem ter noção alguma sobre negócios, que cale os berros de ciúmes dele com um beijo e mil juras de amor. Posso ser paciente e por vezes calma, mas não aguentaria ouvir os problemas dele sem dar minha opinião ou repreende-lo. Se ele gritar comigo furioso por ciúmes, eu ouvirei tudo calada e depois levarei um cobertor para o sofá e dormirei lá sem nada dizer. Não sirvo para ele.

– Se continuar a pensar assim, nunca se casará.

– Como és pessimista!- ela soltou uma risada contida.

– Sou realista, minha dama.

– Tua? Não sou tua.

–Por enquanto.

– Desejas a mesma mulher que teu amigo?

– Voce não pertence a mim e tampouco a ele. O pobre homem sequer te conhece direito.

– E o homem que me viu durante menos de um mês sabe mais do que o que me visita por anos. Que coisa estranha.

– Não me venha com sarcasmo. Sabe que digo a verdade.

– E por que julga estar correto?

– Te conheço de momentos a sós. Ele nunca pode tocar-lhe.

– Julgas, portanto, que por me conhecer sem as restrições que são impostas a ele, tu me conhece pelo que sou e ele pelas aparências?

– Sim.

Ele a encarou discretamente e ela fingiu se concentrar na linha que escapava da agulha.

– É a verdade nua e crua.- ela disse sorrindo.

– Viu? Tenho mais chances de me casar contigo do que ele.

– Nunca afirme isso. Você é o lobo mal aqui.

– Lobo mal?

– Sim. Nunca ouviu falar que toda historia tem um fundo de verdade?

– E por que logo o lobo mal?

– És fruto de uma quebra de regra. Não passa de um homem se aproveitando de minha curiosidade infantil.

– Gosto de ser o lobo mal.

– És um pervertido!

– Ora, tu não voltou tantas vezes a minha casa? Vim busca-la. O preço pago pela chapeuzinho é a vida de sua avó e, como ela, você também tem de arcar com suas responsabilidades.

– Não passo de um jogo para ti.

– Não diga isso.

–Se não sou parte de um jogo, diga-me porque estas aqui.

– Vim lembrar-te que és minha.

– E quem lhe contou tal mentira?

– Se não sou eu, quem? Que homem aguentará te ver pintar quadros todos os dias, sendo todos muito melhores do que os que ele pintaria? Que marido vai deixar que tu dirija seus negócios junto a ele? Que leias todos os livros de seu acervo? Cite-me a lista – ela ficou calada.- Viu? Percebe isso? A sua única chance de ser feliz é permanecendo ao meu lado.

– Está tentando me manipular.

– Talvez sim, talvez não. Amanhã volto e peço sua mão ao teu pai.

– E o Sr. Uchiha?

– Ele aceitará.

– Como tens tanta certeza.

– Perguntas de mais, menina.

– Desculpe-me.

– Tudo bem.

Ele se levantou e se juntou a Itachi e Neji. A moça terminou sua costura e pediu para se retirar junto a irmã. Depois da saída de ambas, os senhores decidiram conversar sobre negócios mais abertamente. Decidiram questões importantes para o futuro de suas fábricas. Depois de fecharem negócios, assinarem contratos e concordarem com decisões os convidados partiram.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem. O que acharam?



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