Já fazia alguns incontáveis minutos desde que Mactwisp havia saído para procurar Absolem. Jack batia impacientemente os dedos na mesa, Elena brincava com uma bola de fogo, Elsa fazia um boneco de neve em miniatura, Anna ajudava Elsa a montá-lo, Jacky andava de um lado para o outro, Rapunzel mexia nos seus curtos cabelos castanhos, Merida estava quase dormindo, Soluço se mantinha quieto lendo um livro sobre dragões e Mirana estava absolutamente imóvel e distraída.

Tudo só foi interrompido quando as portas da sala foram abertas e de lá, entrou Mactwisp trazendo Absolem e um pergaminho.

– É isso? – Jack arqueou uma sobrancelha, olhando para o pergaminho duvidoso.

– Simplicidade é um bom disfarce. – Mirana sorriu com desanimo e se aproximou do Coelho Branco e da Lagarta Azul, que como sempre estava soltando fumaça para todo lado. – E então?

Absolem não disse nada, apenas gesticulou para Mactwisp, que logo entregou o pergaminho a Mirana. Absolem pulou em cima do ombro da jovem e observou-a abrir relutantemente o pergaminho.

Os demais na sala apenas ficaram observando-a com expectativa, esperando que a Rainha Branca dissesse algo, mas ela permaneceu em silêncio, concentrada em algo que estava vendo. Depois de se recuperar de sua aparente paralisia, Mirana virou-se para Mactwisp, que a olhava com curiosidade.

– Vá. – A Rainha Branca disse apenas isso e o Coelho assentiu, retirando-se rapidamente da sala.

Mirana largou o pergaminho no chão e saiu quase correndo do salão, deixando todos ali confusos. Elena se aproximou do pergaminho velho e desgastado, erguendo-o para olhar. Todos se reuniram atrás dela, querendo ver por sobre seu ombro.

No pergaminho, as imagens se mexiam como em um jornal bruxo, apesar de mais lentamente, sendo apenas desenhos ao invés de fotos. No dia descrito como Glorian Day, era possível ver o que parecia ser um dragão em cima de uma torre. Havia também ali uma garota de costas, vestindo o que lembrava uma armadura e prestes a matar o dragão, que Elena reconhecera como o Jaguadarte.

– Eu reconheceria esse cabelo em qualquer lugar. – A morena sorriu e deixou o pergaminho na mesa.

– Alice. – Jack falou, olhando para a porta por onde Mirana havia saído. – Depois de tudo isso?

– Elas eram como irmãs. – Elsa respondeu, seguindo o olhar de Jack até a porta. – Confie em mim. Desse tipo de relação, eu entendo bem. – Segurou as mãos de ambas as irmãs, que sorriram ao seu lado.

– Então parece que a loirinha vai voltar. – Jacky deu de ombros, embora estivesse visivelmente mais feliz.

– Vou falar com a Mirana. – Elena declarou e foi andando em direção à porta.

– Vamos com você. – Merida propôs, aproximando-se.

– Sozinha. – Elena respondeu com um sorriso de canto e saiu dali.

Os outros entenderam e começaram a conversar entre si, sentando-se novamente nas cadeiras em que estiveram anteriormente.

–

Elena foi andando pelo castelo e acabou por encontrar Mirana na sacada de seu quarto. Aproximou-se da amiga e encostou-se à parede perto da porta.

– Você não parece muito feliz. – Declarou, vendo a face inexpressiva da garota de cabelos brancos.

– Deveria? – Mirana arqueou uma sobrancelha, ainda sem se virar para a amiga.

– Alice está voltando, não está? – Elena deu um sorriso mínimo e se aproximou da garota, ficando ao lado dela.

– Ela não vai se lembrar de mim. – Mirana deu de ombros e abaixou a cabeça, olhando para o pátio do castelo que era bem visível dali. – Mesmo que ela me veja, serei apenas uma estranha para ela. Apenas a Rainha Branca, não sua amiga Mirana.

– Você não sabe. – Elena franziu o cenho.

– O Diretor foi bem claro. – Mirana respondeu ainda sem se virar para a amiga, mantendo seus olhos no pátio como se realmente fosse algo interessante. – Para ela, é como se nunca tivesse saído da Inglaterra.

– Ou talvez sua tristeza também se deva ao fato de que não foi apenas sua melhor amiga que você perdeu. – Elena pressupôs, desviando o olhar quando Mirana a fitou. – Notícias correm rápido por esse Reino, principalmente se são ruins. – Explicou, afinal Mirana não havia dito nada a ninguém.

– Não é sobre o Hansel. – Mirana suspirou pesadamente e mais triste do que antes. – Não há mais nada que eu possa fazer por ele.

– Sinto muito. – Elena abaixou a cabeça ao ver os olhos da Rainha Branca se enchendo de água.

– Está tudo bem. – Mirana sorriu minimamente e limpou as lágrimas dos olhos.

– Mas se não é sobre o Hansel, o que a preocupa? – A morena arqueou uma sobrancelha, preocupada e curiosa.

– Alice vai enfrentar o Jaguadarte. – Mirana suspirou. – Poucos são os que sequer o viram e sobreviveram para contar a história.

– Iracebeth não deve ser tão difícil de derrotar. – Elena respondeu, lembrando-se da forma animaga da agora Rainha Vermelha.

– Não estou falando de Irace. – Mirana declarou, ainda mantendo seu costume de chamar a irmã pelo apelido apesar de tudo. – Ela realmente tem um Jaguadarte.

– Não quer dizer que ela se transforma em um? – Elena levantou uma sobrancelha, preocupada.

– Irace nunca foi boa em Animagia. – Mirana deu um sorriso infeliz e desviou seu olhar novamente para o pátio do castelo, onde agora podia ver Jack, Merida, Elsa, Anna, Rapunzel e Soluço duelando, parecendo se divertir. – E minha tia mantinha um Jaguadarte verdadeiro preso em Salazen. Como acha que Irace conseguiu tomar o Reino de Copas tão facilmente?

– Faz sentido. – Elena abaixou a cabeça com o mesmo desanimo que Mirana demonstrava.

As duas ficaram em silêncio, observando os outros se divertindo no pátio.

– Seu Oráculo costuma errar? – Elena deu um sorriso mínimo que trazia uma fagulha de esperança.

– Não, por quê? – Mirana perguntou sem virar-se para ela, ainda desanimada.

– Então Alice vai matar o Jaguadarte. – Elena deu o primeiro sorriso verdadeiro que esboçava desde os acontecimentos na biblioteca no ano anterior e saiu dali.

Mirana virou-se para ela e a viu deixando seu quarto. A Rainha Branca sorriu com verdadeiro ânimo e permitiu-se ter a esperança que todos os outros pareciam ter.