Perdidos escrita por Mariii


Capítulo 5
Capítulo 4




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– Sherlock

Percebi, quando Molly me encarou, que estava com um pedaço de bolo parado a meio caminho de minha boca e meus olhos estavam fixos nela. Também reparei em reações estranhas que surgiram em meu corpo só pelo fato dela estar limpando os dedos. Com os lábios, é verdade.

Ela ficou verdadeiramente constrangida. Com razão. Provavelmente eu parecia alguma espécie de tarado olhando-a. Não me culpo. Não é como se nunca tivesse reparado nela em Londres, claro que sim. Mas aqui, sem aquelas roupas de frio, o jaleco e tudo o mais, ela estava diferente. Isso é óbvio, dado as roupas que ela usava. Mas não era só isso. Acho que nunca tinha olhado para ela assim, sem um corpo ou um crime por perto. Ou pior ainda, sem pedir para que ela fizesse algo por mim.

Já não bastava aquela cena com as queimaduras um pouco mais cedo. Tocá-la já tinha me deixado um pouco perturbado, com ela me encarando com aqueles doces olhos castanhos o tempo todo, como se eu estivesse fazendo alguma coisa anormal. Talvez cuidar dela não fosse algo que eu fazia sempre mesmo, enfim... Mas quando eu cometi a mesma besteira que ela e ela veio cuidar de mim, não sei... Senti algo estranho. Nunca alguém tinha cuidado dos meus ferimentos antes.

Aqui, nessa ilha maldita, ela estava relaxada, sendo ela mesma. Não tínhamos opção. Claro que para ela isso era muito mais fácil. Eu ainda tentava me manter na sobriedade habitual, mas essa combinação de vestido curto com chocolates nos dedos não estava facilitando as coisas.

– Minha vó fazia esse bolo para mim quando eu era criança.

Saí dos meus devaneios ao escutar a voz dela. Por que ela estava dizendo isso? Era só uma mudança de assunto? Foquei meus olhos nela e percebi que ela olhava ao longe, no horizonte. O que vou dizer para essa mulher?

– Você teve uma infância feliz, então.

O bolo era bom, oras. O que queriam que eu dissesse?

Ela olhou em minha direção. Com isso eu quero dizer: ela olhou no fundo dos meus olhos.

– Sim, eu tive.

E sorriu. Tímida. De repente o clima pareceu mudar. Alguma coisa muito esquisita estava acontecendo ali. Essa ilha não era saudável.

– E quanto a sua infância, Sherlock?

Que tipo de pergunta era essa? Nunca tinha falado com ninguém sobre minha infância e sinceramente não era agora que me sentia propenso a isso.

– Foi ok, com Mycroft sendo insuportável o tempo todo. Vou dar uma caminhada, Molly.

Deixei-a com uma expressão confusa e fui andar por aí. Eu era um exemplo do que não fazer. E de como não tratar uma mulher.

Andei por toda nossa enorme ilha, me sentei em uma espécie de sofá redondo de vime que havia na tenda romântica e fiquei por um longo período ali. Tentava achar alguma lógica nisso tudo, algo que eu estava deixando passar. Forcei ao máximo minha memória para que algo voltasse. Mas nada. Não me lembrava de nada. Isso me incomodava demais. Eu sempre achava respostas e agora tudo que via era um vazio, coisas eu não faziam sentido.

Quando voltei, já era noite e Molly estava deitada no sofá lendo um livro que ela achou em algum canto. Nós não tínhamos o que fazer nessa ilha. O dia nem tinha acabado e eu já me sentia tendo um surto. A TV estava ali, desligada. Eu odiava TV e filmes. Não queria fazer nada disso.

– Tem o que sobrou de uma lasanha que descongelei lá na cozinha, se você estiver com fome.

– Ok.

Praticamente um rei do diálogo.

Sentei-me no sofá, próximo aos pés de Molly. Ela tinha arrumado o vestido de modo que nada aparecesse, mas não quer dizer que minha imaginação não viu alguma coisa. Comecei a tamborilar meus dedos no braço do sofá e me lembrei do dia em que discutimos. Pelo visto, ela também, porque levantou os olhos do livro e me encarou.

Levantei as mãos, alegando inocência. Só estava entediado de verdade dessa vez. Ela voltou para o livro. Mas ela não podia me deixar aqui sem fazer nada e olhando para o teto. Decidi testá-la.

– Cianeto.

Ela pousou o livro sobre a barriga. Olhando-me como se estivesse ficando louco. Talvez eu estivesse.

– Vamos lá. Vamos jogar um jogo. Quem errar o maior número de questões dorme na sala.

Vou ser sincero, ela riu de um jeito tão maquiavélico que senti que já tinha perdido o jogo antes de começar.

– Ele aglomera e retira as partículas de ferro das células sanguíneas, impedindo que elas transportem oxigênio pelo corpo e matando a pessoa por asfixia em minutos. É minha vez agora?

Dancei.

– Khan.

Mas que porra é KHAN? Molly estava apelando, aposto que essa droga nem sequer existia.

– Isso é um veneno?

Vi ela torcer o lábio para não rir.

– Tão mortífero quanto.

Acho que eu estava sendo levemente enrolado, mas decidi dar um crédito a ela.

– Não sei. Estricnina.

– Ataca os nervos da espinha dorsal, causando fortes espasmos musculares. Little Charles.

Ela não aguentou e riu. Eu fiquei bravo, muito bravo. Isso não era nome de veneno nem aqui, nem em lugar nenhum. Molly Hooper estava me enganando e ainda ria disso.

Levantei num pulo e me dirigi para o quarto, dizendo:

– Você perdeu.

Até eu achei minha reação bem infantil. Por que tinha ficado tão bravo em ser enganado por ela? Não sei, mas meu sangue fervia em minhas veias. Será que era essa reação que eu causava nela quando a irritava?

Tomei outro banho, escolhi algo que parecia ser um pijama e me deitei. Não apaguei as luzes. Nem eu mesmo sei por que. Não estava esperando Molly, ou estava?

Ela veio para o quarto mais ou menos meia hora depois. Já não ria mais. Mantive meus olhos fechados. Ela passou direto para o banheiro, ouvi o chuveiro ser aberto, alguns minutos depois ser fechado, e o que pareceu ser ela fuçando no closet.

Ouvi seus passos vindo em direção ao quarto mas não abri os olhos.

– Sherlock?

Mas que penitência era essa ilha. E por que essa voz cautelosa dela me fazia sentir coisas? Abri os olhos devagar. Só a cabeça dela estava para fora do closet.

– Sim?

Tentei voltar à frieza habitual. Não sei bem se tive sucesso.

– Me empresta um pijama seu? Ou uma camiseta e uma bermuda?

Não entendi nada.

– Seu closet está repleto de roupas, por que você quer as minhas?

Ela ruborizou e eu entendi. Lembrei que durante a minha vistoria em suas roupas, só tinha visto minúsculas camisolas. Segurei-me para não rir.

– Não. E não pense em pegar escondido.

Ouvi-a suspirando. Talvez ela quisesse me matar naquele momento. Fiquei no aguardo de que roupa ela escolheria e que jeito daria de não aparecer seminua no quarto. E foi então que me surpreendi novamente.


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Notas finais do capítulo

Ou tem review ou deixo vocês na curiosidade eterna... kkkkkkkkkk
*malvada*