Atraída por um Darcy escrita por Efêmera


Capítulo 24
Meu Namorado é o Papai Noel — Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente. Quanto tempo. E aí, como estão as coisas por aqui? Rs. Então antes de tudo eu preciso admitir uma coisa: estava com bloqueio criativo. E foi um senhor bloqueio. Não sei quantas vezes peguei nesta fic e tentei, tentei, tentei... e nada! Digitei várias versões do que seria o capítulo e nada, sempre terminava apagando. Enfim, acho que agora saiu algo realmente aceitável por mim, posso finalmente respirar. E respirar muuuuuuuuito.
Além disso eu trouxe um presentinho para vocês: https://www.youtube.com/playlist?list=PLhqz0Q8ZOWTx11t6lUViK7bAXNdlYYtLy
É isso, sempre que achar necessário estarei atualizando a playlist de APUD e como já notaram tem muita música oriental, afinal Itazura na Kiss é oriental. Haha
Bem, é isso, nos vemos lá embaixo. E não me batam se esse capítulo for mais triste do que vocês possam aguentar. ):



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Com esse tipo de pensamento em mente continuei a tomar o meu café da manhã, o desconforto me tomando pouco a pouco. O que eu mais queria era sair dali, mas sabia que se me levantasse iria deixar um clima chato para trás, então fiz o maior esforço possível para terminar o café da manhã a fim de me trancar em meu quarto na primeira chance que tivesse.

Eu estava tão concentrada em meus lamentos que me assustei quando senti uma mão tocar na minha coxa e movi a face para olhar o que era no mesmo instante, me surpreendendo quando percebi que era Darcy. Bem, não era um toque que incitava segundas intenções, era meio como se ele estivesse me chamando para algo. O olhei confusa e, exceto por uma rápida olhada para a minha mão que estava sobre a mesa, nada em Darcy indicava o que ele estava fazendo. Não é de se imaginar que eu só levei o tempo para disfarçar o que ia fazer e coloquei minha mão sob a mesa, tocando a sua que no mesmo instante entrelaçou seus dedos aos meus. Um sorriso surgiu em minha face e eu tentei continuar comendo, embora a felicidade fosse tanta que havia tirado o meu apetite quase que completamente. Aproveitei que Maggie e Georgie estavam falando sobre algo entre elas e o olhei novamente, meu sorriso ampliando quando notei que seus lábios estavam levemente puxados. Teria como ficar mais feliz? Eu acreditava que não.

Mas irritada e com ciúmes tinha, e muito!

E eu notei isso quando Georgie abriu a boca.

— Agora só precisamos ver com quem você irá, Will.

Darcy nem sequer olhou para ela, continuou tomando o seu café da manhã normalmente enquanto eu me mordia por dentro.

— Como assim com quem eu vou? Com você, é claro.

Ai, droga, isso não ia prestar!

— Comigo não, irei com o Rick. —, ela falou com um sorriso tão grande que eu esqueci a burrada que havia feito e sorri em reflexo. — Você terá que encontrar alguém, irá arruinar tudo se entrar sozinho.

Darcy pareceu pensar por um momento (um momento que me pareceu longo demais), até que falou:

— Então irei com a Lizzie. — Sua voz parecia tão natural que aquilo quase me pareceu normal, quase. Me olhando, ele indagou: — Você se importa em me acompanhar?

Juntamente às suas palavras eu senti o aperto de leve nos meus dedos e estava a ponto de dizer que com ele iria para qualquer lugar quando Georgie abriu a boca mais uma vez e jogou uma represa de água gelada em minha felicidade.

— Lizzie não irá, ela sairá com suas amigas.

Darcy me olhou no mesmo instante e, embora envergonhada, eu retribuí o olhar. Sua mão afastou-se da minha e o vazio me envolveu no mesmo instante. Sua expressão denotava desgosto por ouvir aquilo e era quase como um chute no estômago. Mas também era culpa dele, não era? Como eu iria saber que ele estaria voltando? Afinal, era Natal…

Droga, era Natal, quem não passaria com a família?

Ai.

Alguém. Me. Bate.

Sem falar que aquela festa era algo esperado por todos, inclusive por Darcy.

Mordi o lábio, a essa altura ele já devia ter notado o meu arrependimento.

— Bom, já que é assim, não se preocupe, Georgie, chamarei Meghara para me acompanhar.

Ai. Droga, droga, droga, mais essa não!

— Er, bom… eu acho que talvez possa ir… —, estava tentando falar quando ele me cortou.

— E trair as suas amigas? Que espécie de amizade é essa?

Ele me olhava de um jeito tão estranho que eu poderia ter quase certeza de que estava me provocando. Mas isso apenas se não fosse Darcy ali. Será que ele considerava aquilo como eu não o esperando? Mas eu nem sabia que ele iria voltar!

Ok, não era desculpa.

— Mas é que…

— Você realmente faria isso, Lizzie? — disse Maggie esperançosa e eu comecei a pensar sobre fazer ou não fazer, até que vi que seria uma traição deixar minhas amigas na mão apenas porque Darcy tinha voltado.

— Não —, sussurrei. Eu estava quase me arrependendo até de ter amigas.

— Acho uma atitude linda, Lizzie, embora esteja triste por você não acompanhar Fitzwilliam.

— Muito linda — Darcy resmungou e agora eu quase tive certeza de que ele estava realmente me provocando. Cachorro!

Depois do café da manhã Georgie e Maggie foram para o seu dia da beleza, já eu e Darcy permanecemos na mansão. Como as meninas iriam chegar bem mais tarde eu aproveitei para descansar um pouco na Biblioteca, me jogando em um sofá enorme que havia lá enquanto lia o último lançamento de Julia Quinn; eu não era lá muito fã da autora, até mesmo porque todas as obras dela que eu havia lido sempre seguiam um padrão… e eu odiava padrão, gostava do diferente. Então, bem, considerando isso é de se imaginar que eu não fiquei nenhum pouco chateada quando Darcy bateu na porta da biblioteca antes de entrar. Meu olhar foi para ele no mesmo instante, seguindo-o até que ele sentou em uma poltrona bem na minha frente.

— Onde você esteve? — perguntei de repente, achando que estava na hora de saber algo sobre ele além do que conseguia ver.

Ele, antes de responder, olhou para a grande janela de vidro que se estendia pela parede ao nosso lado. Então, quando achei que o silêncio iria perdurar, ele continuou:

— Em alguns lugares… Alemanha, Itália, França, Grécia… —, ele respondeu, suas mãos sendo pressionadas uma contra a outra.

— Tantos lugares assim? —, indaguei novamente, voltando meu olhar para o livro apenas para fechá-lo e deixar repousar ao lado.

— Sim —, ele falou, seu corpo sendo inclinado para frente depois que os cotovelos foram apoiados nos joelhos. — Eu fiquei trabalhando nesses lugares.

— Como? —, perguntei de repente, afinal não entendia o porquê dele trabalhar se tinha tanto dinheiro.

— Eu saí daqui levando pouco dinheiro, apenas o suficiente para sobreviver no básico na primeira semana. Não tinha planos de viver do dinheiro da minha família, se fizesse isso seria o mesmo que continuar aqui. Então eu arrumava trabalho nesses lugares e ficava um tempo. Foi legal, deu até para praticar as línguas que quase não costumo falar —, disse sorrindo ao fim.

— Ah, entendi… Espera! Você disse Grécia… Você fala grego?

Nem sei pra que eu fiz tal pergunta a um gênio. Tosco.

— Sou fluente em nove línguas, Lizzie —, ele falou como quem fala que o céu é azul.

— Nove? —, respondi com espanto. — Você conhece nove línguas!

— Não, bem… Eu disse que sou fluente, há outros casos particulares que prefiro não falar agora. Mas sim,  eu preciso ser útil para alguma coisa. Posso virar intérprete oficial da ONU se desejar, ou, quem sabe, caso minha mãe resolva dissipar toda minha herança em roupas e artigos supérfluos.

Olhei-o com espanto, Maggie nunca faria algo do tipo!

— Maggie nunca... —, eu tentei dizer, mas novamente ele era mais rápido que eu.

— Eu sei, só acho interessante você a defendendo. — Disse sorrindo e lançou uma piscadela. Em seguida ele levantou e eu, achando estranho ele ir tão cedo, acho que fiquei o olhando de forma desesperada. Devo até ter deixado isso bem evidente, porque ele me olhou confuso antes dos lábios se separarem em compreensão.

— Eu preciso me organizar para o baile. Você sabe, ligar para a Meghara e tudo mais. Mulheres gostam de ter algum tempo para se arrumar, não são desleixadas como os homens que fazem isso em dez minutos.

Ao ouvir suas palavras meu peito comprimiu, fazendo com que uma dor iniciasse ali e começasse a me envolver. Eu não disse nada por um tempo, apenas assenti em concordância - tinha medo que minha voz embargada pudesse me denunciar -, então, talvez por me ver em silêncio, Darcy deu as costas e começou a andar até a saída. A dor em meu peito aumentou, algo como ter quase certeza de que aquela noite seria crucial para o meu relacionamento com ele. Talvez, só talvez, eu perdesse completamente a minha chance com ele caso permitisse que Meghara o acompanhasse para o baile. Porém havia um outro talvez, o que me unia completamente ao homem que amava cada vez mais quanto mais o tempo passava. Talvez fosse o nosso momento, ainda que eu não pudesse lhe fazer companhia. Eu precisava ter coragem…

— Eu te esperei. — disse de repente e vi quando ele parou no meio do caminho. — Te esperei por todos esses meses. Não… Tenho te esperado por um longo tempo, são anos estando aqui em uma espera que antes me parecia vazia, mas que há algum tempo começou a fazer algum sentido. Foram anos de espera, eu sei, mas eu poderia esperar por muitos outros. Eu sei que faria isso, apesar da sua indiferença. Mas eu não sei qual é o meu limite, não sei até onde poderei ir por você, nem sei quando acharei que isso será demais. Eu posso desistir de você a qualquer momento, não porque estarei cansada de esperar, mas por você ter me forçado a isso. Eu, ainda que te ame, não aceitarei ser um joguinho em suas mãos. Ainda que não pareça, eu tenho amor próprio e não abrirei mão dele por ninguém, nem mesmo por você. Então, antes que você me force ao meu limite, aceite um pedido meu. — Aguardei um momento para que ele falasse alguma coisa, ou quem sabe se virasse para me olhar, porém Darcy nada fez; ficou ali, parado e de costas. Eu prossegui com a voz quase um sussurro: — Não vá com ela.

Não sei realmente se ele disse alguma coisa. Se tivesse dito, havia sido baixo demais para que eu pudesse ouvir. Então, quando eu pensei que finalmente fosse falar algo para que eu ouvisse, ele tornou a andar, saindo pela porta e me deixando sozinha no silêncio sepulcral da biblioteca. No entanto, ainda nem tinha conseguido relembrar tudo o que havia dito, e tentado compreender toda aquela coragem súbita que havia tido, quando assustei-me com o som do meu celular. Peguei-o rapidamente, indo até o aplicativo de mensagens que usava para ver que havia uma nova de um contato que não estava registrado na minha lista. Fiquei confusa olhando para a mensagem e para o número, até que cliquei nele e fui para os dados, parando quando notei o “Darcy”. Então, agitada, voltei para olhar o que ele havia enviado.

Não estou pronto.

Um suspiro deixou meus lábios. Ia ser mais difícil do que eu havia pensado. Frustrada, mas ainda esperançosa, registrei o número dele e guardei o telefone. Então, excitada demais para continuar a leitura, deixei a biblioteca e me dirigi até a cozinha, onde adiantaria todos os preparativos para a noite.

@@@@@

A família Darcy deixou a mansão logo depois de escurecer. Darcy estava desacompanhado, mas eu suspeitei de que iriam buscar Meghara em casa. Pelo menos por um momento, até que Georgie desceu as escadas emburrada, acompanhada de Richard que tentava a acalmar, dizendo que o irmão não podia fazer aquilo com ela, que chegar em um baile sozinho iria novamente fazer os rumores surgirem. Eu não compreendi que rumores eram aqueles, mas não pude evitar o sorriso que surgiu em meu rosto, quase tomando toda a região da minha face de tão iluminado que era. Notando isso, Darcy me olhou e sorriu, sussurrando um “é uma pena que você não possa ficar comigo esta noite” antes de sair pela porta depois dos outros membros da família. Depois disso eu precisei de alguns minutos ali, parada, sem mover sequer um dedo, com medo de que pudesse cair com o menor dos movimentos. Mas então, quando tudo pareceu controlado, eu consegui ir até meu quarto terminar de me vestir.

Não demorei muito para terminar de me arrumar, afinal Jane iria chegar a qualquer momento - uma vez que Char havia ligado mais cedo, enquanto toda família esperava para sair, avisando que não poderia ir porque seu namorado misterioso havia resolvido a apresentar para a família; eu ri disso, fiquei imaginando a Char em um relacionamento sério. Dava até pena do cara.

Estando pronta, fui até a sala de jogos, onde havia preparado tudo, para aguardar a chegada de uma das minhas melhores amigas. Estava lá, totalmente distraída jogando, quando assustei-me com o telefone tocando. Olhei para quem me ligava confusa, afinal era para Jane já estar lá, não estar me ligando.

— Alô? — Falei assim que atendi. Não demorou muito para ouvir a voz do outro lado.

— Lizzie… Desculpa, desculpa, desculpa… — Ela parecia desesperada e eu não compreendi muito bem. Era só um atraso!

— O quê? Não tem problema em se atrasar, Jane. Eu posso esperar mais um pouco.

Empós isso não consegui ouvir nada vindo do outro lado, era quase como se Jane tivesse desligado. Aguardei mais um pouco, mas estava começando a ficar preocupada.

— É que… Lizzie, Charles está… Eu sinto muito. — Eu não precisei de mais explicações. Sabia o que aquilo significava.

No fundo isso me chateou um pouco, afinal para as minhas amigas seus relacionamentos amorosos eram mais importantes do que eu. Homens, que haviam surgido no outro dia, eram motivos suficientes para elas quebrarem uma promessa que havíamos nos feito. Porém, apesar disso, eu procurei suplantar o sentimento de mágoa que começava a se formar em meu íntimo e tentei parecer o mais feliz possível.

— Não se sinta mal, isso é motivo para estar feliz. Você deve passar o Natal com ele, afinal é um dia para se estar com os namorados, não é? Eu vou compreender, tenho até outro lugar para ir. Depois a gente se fala. Feliz Natal! — E desliguei o mais rápido que consegui, mas não antes de Jane se desculpar mais algumas vezes.

@@@@@

Vinte e duas horas. O relógio na sala de jogos fazia questão de esfregar na minha cara. E eu, sendo tão boba quanto sempre poderiam me fazer, olhava-o com muito ódio por tudo o que estava passando. Tendo sempre aquela facilidade em tentar ver o lado positivo das coisas, eu acabei conseguindo esquecer por um tempo da nuvem infeliz que me rodeava e assim consegui passar boa parte da noite sem pensar na minha infelicidade. E, para minha sorte, ainda havia alguns filmes que eu poderia ver.

Vinte e três horas. Mais uma vez o relógio gritou o quanto eu era infeliz. Meus olhos foram para ele automaticamente e eu só não joguei a almofada que abraçava sobre ele porque Maggie o adorava. Ainda assim, o fuzilei com toda a ira que havia dentro de mim (uma ira que era dirigida a mim, afinal era por um erro meu que eu estava ali sozinha quando poderia passar a noite dançando abraçada com Darcy) até que um som me assustou. Pulei de súbito, olhando assustada para a porta da sala de jogos. Em um primeiro momento pensei que poderia ser os Darcy, mas logo depois lembrei que a festa estava longe de acabar. E seguida pensei que poderia ser algum empregado, mas a lembrança de que todos haviam sido liberados para passar a véspera de Natal com suas famílias logo enviou essa ideia para longe. Entao…

Não, não podia ser o que eu estava pensando.

Assim que essa ideia se fixou na minha mente eu me sentei novamente, dessa vez me encolhendo para não ficar visível aos que poderiam atravessar aquela porta. Meu coração batia acelerado diante do medo que eu sentia e, quanto mais o som do que parecia ser passos ficava mais perto mais eu temia o meu destino e me arrependia ainda mais de estar naquela imensa casa sozinha. Então, quando o som foi ficando ainda mais perto, o que denotava que a pessoa estava na mesma sala que eu, eu escolhi fechar os olhos e me abraçar o mais forte que conseguia, fazendo todo o silêncio que via sendo possível fazer. Então, nesse instante, senti um toque no meu ombro e um grito sem fim deixou minha garganta.

— Você está louca? — A voz grave e familiar gritou em resposta, me fazendo calar em choque. Aquilo não estava acontecendo…

Darcy… Darcy não estava ali comigo. Não, aquilo era uma miragem. E mesmo sendo uma miragem eu senti o meu âmago se acalmar, afinal só em pensar nele tudo parecia certo. E era.

— Lizzie… Tudo bem? — Agora ele parecia preocupado, o que não era de se estranhar.

— E-e… Er… —, comecei tentando me recompor. — Digo, o que você está fazendo aqui? Maggie e Georgie já chegaram? — Indaguei e me ergui, já começando a dar a volta no sofá para deixar a sala.

— Não —, ele começou, me fazendo parar. — Só eu estou aqui. — E, dando a volta no sofá, sentou-se ao meu lado. Parecendo exausto, ele começou a se livrar as peças que vestia. —  Minha mãe se aproveitou do fato de eu estar só para me fazer dançar com o máximo de jovens solteiras que ela conseguiu. E, se eu não tivesse arrumado um jeito de fugir, com toda certeza ainda estaria dançando neste momento. — Disse bufando, então parou de se despir, restando apenas a calça e a camisa branca; até os sapatos e meias haviam sido deixados de lado. — Eu não aguento a minha mãe tentando me dizer o que devo fazer. Ela sempre faz isso. Eu me sinto muito mais novo do que realmente sou sempre que estou com ela, até vulnerável. É algo que posso definitivamente passar.

Ao fim, Darcy se apoiou melhor no encosto do sofá e fechou os olhos, permanecendo assim por alguns minutos. Optei por ficar em silêncio durante todo esse tempo, e apenas sentei ao seu lado para admirar aquele perfil que me parecia tão encantador. Então, quando eu menos esperei, ele abriu os olhos e moveu a face, me olhando sob a pouca iluminação.

— Mas há uma voz que insiste em me dizer algo, talvez seja a minha consciência. Essa voz repete sempre que ela pode ter acertado em uma coisa. — Novamente ele fez silêncio, me olhando fixamente (nunca havia ouvido o Darcy falar tanto sem ser palavras rudes). — Você me ama, não é Lizzie? — Ele perguntou, mas eu permaneci em silêncio esperando para ver até onde aquilo iria. Então, como se já soubesse da resposta (o que era um fato), ele prosseguiu: — Eu não sei o que é amor, Lizzie, e talvez eu nunca venha saber. Ainda assim eu sinto que se você me ama eu tenho que aceitar que esse amor existe e que eu não posso ignorá-lo. Talvez o seu amor seja suficiente para duas pessoas, mas eu não sei se sou a pessoa certa para você. Você entende o que eu quero dizer?

Eu fiz que não, apesar de ter alguma ideia do que ele queria dizer com aquilo: estava me dando um fora definitivo.

Darcy riu. Mas não foi um riso divertido, era mais como se ele estivesse rindo da própria estupidez. Então, pegando minha mão na sua, ele entrelaçou os nossos dedos e ficou a olhá-los.

— Sua mão se encaixa perfeitamente na minha. — Isso era estranho. Sim, muito estranho; ele não estava me dando um fora? Erguendo o olhar novamente para o meu rosto, ele continuou: — Eu não sou para você, Lizzie. Você merece um homem descomplicado, alguém normal que poderá retribuir o que você sente. Eu nunca vou ser essa pessoa, ser normal é algo que está longe da minha capacidade, seja porque a vida já me recebeu assim ou pela minha excentricidade. E quanto mais o tempo passa para mim mais anormal eu me torno. Eu carrego responsabilidades sobre o meu ombro desde muito antes de nascer. Aos treze, quando meus amigos iam passar o verão com outros amigos, eu ia ajudar meu pai em Pemberley. Aos dezoito, quando eles conseguiram tirar a carteira de motorista, eu ganhei foi a autonomia para administrar a fazenda. As namoradas deles, no máximo, precisarão enfrentar o constrangedor momento que é serem apresentadas às famílias, as minhas terão que aguentar toda a sociedade especulando se o relacionamento é por interesse amoroso ou financeiro. E, se finalmente se casarem, elas ganharão uma família, a minha ganhará uma responsabilidade que mais parece um fardo. É isso que eu quero dizer, Lizzie, eu não sou para você.

Ao ouvir aquilo eu tentei no mesmo instante puxar a minha mão e sair dali correndo antes que fosse tarde demais e eu começasse a chorar na sua frente, mas Darcy me impediu segurando ainda mais forte. Então, sussurrando:

— Mas… se você estiver disposta, eu quero tentar.

Eu gelei. Talvez tivesse ficado até branca, mas felizmente a iluminação não favorecia a humilhação da minha aparência.

— Er… Tentar? — Indaguei como se testando aquela palavra para ver o que ela realmente significava. Darcy sorriu, mas parecia meio incerto.

— Sim, tentar. Eu e você. Juntos —, disse ele e eu olhei para nossas mãos. Apesar de tudo o que ele havia dito, nada me pareceu mais certo.

— Você quer dizer… eu e você. Juntos, tipo… juntos? — indaguei ainda olhando para nossas mãos.

— Sim… —, Darcy começou e moveu-se se aproximando um pouco de onde eu estava. Quando estava perto o suficiente, sua mão livre foi até meu queixo e ergueu minha cabeça, fazendo-me olhar para ele. — Eu e você, juntos. Com direito a beijos, abraços e mais o que você quiser. — Então, sorrindo, ele tornou ao indicar nossas mãos: —  Se quiser podemos apenas ficar de mãos dadas para sempre.

— Uma ova que vamos! — Soltei antes que pudesse me frear, a indignação do meu olhar logo dando lugar à vergonha diante do que tinha dado a entender. O sorriso de Darcy alargou-se e eu me perdi naquela visão antes de finalmente tornar à realidade. — Digo… seria algo muito estranho ficar apenas de mãos dadas sem nenhum beijo, você não acha?

Ele pareceu pensar, e eu preferi acreditar que ele estava fazendo exatamente isso.

— Bom, beijo seria um bônus, afinal você beija bem para alguém que nunca beijou.

— Ei! — exclamei horrorizada até que percebi que não havia mais sentido em ter tal sentimento; eu e Darcy estávamos em um novo tipo de relacionamento onde falar sobre beijo seria algo bastante normal. — Tá, ok, você foi meu primeiro beijo. Na verdade eu nunca beijei outro homem, o que pode fazer de mim uma tola. Mas eu também sei que fui o seu primeiro beijo, só não sei se beijou outras mulheres durante essa viagem que fez.

— Acredito que era algo certo a se fazer, assim eu poderia voltar mais maduro e com alguma experiência —, ele disse sorrindo e eu fechei a cara. Vendo tal cena Darcy riu e puxou minha mão, fazendo-se ficar melhor acomodada sobre o seu colo. Em tal posição, nossos rostos ficaram ainda mais próximos, e ele retornou: — É engraçado como você acredita em tudo o que eu falo. — Como eu fiquei em silêncio, mais hipnotizada do que tudo, ele tornou a falar: — Não, eu não beijei mulher alguma além de você. Diferente de todos os homens que tem a minha idade, meu histórico de beijos só tem uma mulher, Elizabeth Bennet.

Então, quando eu menos esperava (mentira, eu esperei por aquilo durante boa parte da minha vida), ele inclinou-se um pouco para frente e seus lábios tocaram os meus. O beijo começou até um pouco pudico, apenas com um roçar de lábios nada malicioso, mas pouco  a pouco Darcy começou a aprofundar lentamente. Primeiro mordiscando meus lábios, então sua mão soltou a minha e veio parar na minha cintura, apertando-a contra ele no mesmo instante em que sua língua avançou e encostou à minha. Eu me perdi naquele beijo, acreditando que não poderia haver qualquer outro lugar onde eu iria preferir estar, e deliciei-me da sensação de finalmente tê-lo em meus braços, até que...

— Espera, Darcy, você está pegando no meu seio. — Disse de repente. Ele teve a sensibilidade de parecer confuso.

— Estou?

— Está. — Respondi, sentindo uma mistura de dois sentimentos contrários: querer rir e bater nele pelo que sabia que viria a seguir.

— Desculpe, não notei a diferença. — Ele falou com um pequeno sorriso surgindo em sua face, mas pelo menos afastou a mão. Confesso que fiquei um pouco chateada com aquilo e precisei de alguns segundos (bem poucos, na verdade) para novamente puxá-lo para os meus braços, fazendo com que nossos lábios entrassem em contato em um beijo tão delicioso quanto o anterior. Enquanto o beijava, sentindo sua língua invadir a minha boca com uma paixão que me tornava inútil, novamente senti suas mãos me tocando livremente, até que uma apoiou-se na minha coxa e a outra novamente foi para o meu seio, ambas me apertando com uma força que me fez sentir vontade de não ter nenhuma peça de roupa nos separando. Mas isso era rápido, rápido demais para o gosto da minha racionalidade.

— Darcy… Dar...cy… — Eu tentava falar entre os muitos beijos, mas ele não me dava uma folga. Foi só depois de algumas tentativas que eu consegui ouvir um “huh?” deixar seus lábios, então o afastei rapidamente para poder ter algum poder sobre minhas ações. — Olha aqui.. —, comecei, assegurando de que minhas mãos estavam firmes em seu peitoral para que ele não avançasse. — Isso está indo rápido demais. Suas mãos bobas, esse amasso todo e a gente sequer resolveu o que somos um do outro. — Ele pareceu confuso, mas logo a compreensão veio à sua mente. — Não que eu esteja reclamando, não sou nenhuma idiota. Mas nós moramos juntos, isso pode ficar complicado. Eu não quero que depois a gente tenha que conviver com uma nuvem tensa nos rondando, precisamos definir as coisas.

Darcy riu nesse instante, me olhando como quem estudava algo já sabendo o que iria descobrir. E ele ficou assim por tempo demais para o meu gosto, embora não tivesse passado de alguns pouquíssimos segundos.

— O quê? — perguntei de repente, achando que estava no meu direito perguntar.

Ele esboçou um sorriso ainda mais amplo e eu me senti ficando cada vez mais vermelha, meu rosto esquentando. Então, quando já estava quase me levantando e indo embora, ele abaixou o olhar por brevíssimo tempo antes de me olhar de novo, um pouco mais sério.

— O que você quer? Ficar? Namorar? — Não entendi o porquê dele me fazer aquela pergunta daquele jeito, afinal seria muito mais aceitável que me dissesse apenas o que ele queria comigo e eu dissesse se poderia aceitar. Quando ele me perguntava daquela forma me fazia sentir bem desconfortável, como se o estivesse obrigando a ficar comigo. — Não sei bem o que poderia oferecer, Lizzie, porque nunca fiz nenhum dos dois. Sei que você também não, então isso é um pouco complicado para ambos. Tudo pode sair errado com apenas um comportamento impensado meu, até porque somos muito diferentes, como já falei. Resumindo, eu não sei o que poderíamos ter um com o outro nesse momento, deixo para você escolher, mas devemos manter isso entre a gente até termos certeza de que é realmente o que queremos.

Eu ouvia tudo aquilo tentando compreender as suas palavras, mas sentindo uma dor no meu âmago por ter que esconder que finalmente estava com o homem que amava. Mas Darcy parecia sério, o que mostrava que seu discurso não era vazio, que havia pensado muito bem no que dizia. Eu então assenti, sabendo que eu poderia dizer o que seríamos um do outro, então nada mais justo que acatasse aquela solicitação dele. No fim, ambos teriam algum controle naquele relacionamento que, se Deus permitisse, duraria para sempre.

— Sendo assim, estamos namorando. — Disse com convicção, me surpreendendo quando ele não expressou qualquer sinal de que desejava o contrário. Eu gostei daquilo, me fazia sentir bem. Darcy, afastando-me, levantou-se de repente, parecendo ainda mais animado.

— Vamos! — Exclamou estendendo a mão para mim. Estendi a minha também para segurar a dele, uma expressão confusa em meu rosto.

— Para onde? — Indaguei e ele sorriu como se fosse óbvio.

— Para o meu quarto, vamos perder a virgindade.


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Notas finais do capítulo

Hahahahahahahaha Enganei vocês. :3 Será que no próximo capítulo vai ter secsu? Não sei, será se...
Até a próxima ♥