Atraída por um Darcy escrita por Efêmera


Capítulo 25
Corações que Não Combinam


Notas iniciais do capítulo

Bom, vamos lá... estamos aqui de novo e com mais um capítulo. Espero que gostem, bjs!



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— Vamos! — Exclamou estendendo a mão para mim. Estendi a minha também para segurar a dele, uma expressão confusa em meu rosto.

— Para onde? — Indaguei e ele sorriu como se fosse óbvio.

— Para o meu quarto, vamos perder a virgindade.

Eu soltei sua mão no mesmo instante, meu olhar chocado.

— Que lógica é essa? — O perguntei achando incrível como a mente do gênio era realmente rápida. Ele pareceu confuso, mas algo me dizia que havia mais ali… eu estava começando a conhecê-lo melhor.

— Ué, estamos namorando, agora podemos transar. Algum problema nisso?

— Darcy! — Exclamei chocada. Transar assim? Segundos depois de ser pedida em namoro? Bem, não bem pedida…

— O que foi, Lizzie? Algum problema? — Agora ele parecia um pouco preocupado.

— Todos! —, respondi. — A gente namora há… —, procurei alguma coisa para ver que hora era, mas não consegui encontrar nada por perto. Ainda assim… — menos de dez minutos! Você não pode estar querendo dizer o que está parecendo que quer dizer!

A expressão dele era impagável e eu teria rido se a situação fosse outra.

— Mas foi você mesmo quem disse! — ele lançou. Olhei-o confusa, afinal não estava entendendo onde queria chegar.

— Como assim? Quando eu disse isso? Você deve estar ficando louco! —, revidei, nada daquilo estava fazendo sentido para mim.

— Louco? Eu? Você que deve estar louca! — Darcy respondeu e se afastou, dando a volta no sofá para ficar do outro lado. — Eu nunca esqueço de algo que me falem e você disse que uma vez namorando não teria problema em transar!

O olhei confusa, não estava entendendo nada. Como assim eu havia dito aquilo? De forma alguma! Tinha certeza que nada do tipo havia saído da minha boca, poderia afirmar com toda certeza que jama-

Então me lembrei.

Eu realmente havia dito algo como aquilo. Não exatamente com aquelas palavras, mas agora, depois de ter recordado, tinha certeza que havia realmente falado algo e cada vez que a memória se tornava mais viva mais o meu rosto esquentava. Ainda assim eu arrisquei olhá-lo e quanto mais eu o olhava mais a expressão dele mudava, tornando-se cada vez mais divertida. Até que ele riu. E eu bufei.

— Idiota! — Exclamei e me apressei para pegar uma almofada e jogar na direção dele. Ainda rindo, ele pegou a almofada no ar e colocou sobre o sofá de novo, andando até a poltrona e se sentando.

— Você é tão estúpida… — ele disse, ainda rindo, enquanto eu o olhava do mesmo lugar. Porém, percebendo o quão patética eu parecia, despertei do meu estupor e me sentei no sofá.

—  Certo, certo… você está se divertindo —, concordei, afinal não havia muito que eu poderia falar depois daquilo. Porém… — Mas vamos esclarecer algumas coisas. — Diante da minha pequena pausa ele assentiu e eu levantei a mão para dar ênfase com os dedos ao que eu queria dizer. — Primeiro, você não deve chamar a sua namorada de estúpida. É inadequado e humilhante... — Ele ia abrir a boca, mas eu o cortei. — Mesmo que você acredite que ela seja e que isso não seja um xingamento, as pessoas não gostam de serem chamadas de estúpidas. Você me deve o mínimo de respeito, porque do contrário isso vai desandar.

— Certo, você tem um ponto —, ele disse depois de algum tempo em silêncio.

— Segundo, se sua memória continuar tão boa assim isso será péssimo para o nosso namoro. Há coisas que um namorado sensato deve fingir esquecer, assim todos podem ser felizes.

— Hm… — Ele murmurou enquanto pensava sobre o que eu havia dito, mas não demorou muito para falar. — Você deseja que eu esqueça das coisas engraçadas que fez até hoje? — Eu ia responder afirmativamente, mas ele me cortou. — Esqueça, isso jamais irá acontecer. Não deixarei de usar o seu passado para rir de você sempre que tiver uma oportunidade.

— Mas…

— Deseja que o nosso relacionamento seja baseado em falsidade? — interpelou e eu suspirei; de acordo com aquela escolha de palavras ele tinha razão.

— Ok, esqueça o ponto dois.

— Certo. E quais os outros pontos? — Indagou curioso.

— Não tem outros pontos —, respondi.

— Sério? Pensei que teria no mínimo três —, disse divertido.

— Na verdade tinha um terceiro —, disse com um suspiro. — Mas no segundo eu percebi que você jamais irá deixar de rir de mim em coisas que geralmente iriam me constranger, então desisti desse ponto.

Ao ouvir isso Darcy gargalhou e eu fechei a cara novamente.

— Bom, você precisa compreender o meu lado… — Ele começou. — Nunca fui de rir muito, mas você despertou uma vontade de fazer isso que eu não quero abrir mão.

Eu não pude desgostar disso, afinal de certa forma era uma coisa boa, então apenas assenti um pouco feliz por ser responsável por fazê-lo rir. Como ainda estávamos sozinhos, ficamos ali por mais algum tempo, conversando, até que ouvimos um barulho vindo da porta e fomos receber seus pais. O Sr. Darcy estava com uma expressão fechada (mais fechada do que o normal, eu diria até contrariada), a Sra. Darcy também, mas ela olhava para o marido como se ele fosse o culpado, e Georgiana... bem, Georgie parecia ter tido a melhor noite de sua vida. Ou quase isso.

— Então, como foi a noite? — Perguntei sem saber o que me esperava. Todos olharam para mim, mas foi o Sr. Darcy quem falou primeiro. No entanto ele não olhava para mim, e sim para algo atrás de mim.

— Na próxima vez que você resolver que a festa está tão chata me avise antes, não saia e me deixe bancar o pai que não tem controle sobre os filhos na frente dos meus parceiros de negócios! — Ele exclamou nitidamente irritado.

— Isso é necessário? Hoje? A essa hora? — Perguntou Maggie e ela parecia não gostar nem um pouco de tudo aquilo.

— Claro que é, ele me humilhou na frente dos meus amigos e de suas filhas! — Esbravejou o Sr. Darcy e eu me assustei, pois nunca o vi tão alterado. Georgie passou por mim, mas sentou-se próximo à escada e lá ficou olhando para tudo. Eu fiquei em silêncio, mas me sentia muito desconfortável. Onde meu pai estava?

— Pai, antes de tudo precisa entender que você não me controla —, Darcy começou e eu me assustei quando seu pai deu um passo na direção dele, furioso, mas foi parado por Maggie. — É isso, você jamais irá me controlar. Sou um filho obediente? Sim, mais até do que muitos! Porém não espere que serei um joguete nas suas mãos para conseguir ampliar seus negócios. Você já tem tanto poder e tanto dinheiro, por que precisa arriscar minha liberdade para conseguir mais?

— Fitzwilliam... — O Sr. Darcy começou, mas parecia mais um aviso de algo que não veio, pois Darcy tornou a falar.

— Ainda que você não tivesse a Darcy Enterprises ainda seria um homem muito poderoso, por que precisa que eu bajule as filhas dos seus ditos amigos para conseguir mais? Não compreende como isso parece?

— Não comece, você tem tanta responsabilidade sobre a empresa quanto eu. Um dia irá assumir a presidência e precisa começar a se familiarizar com como as coisas andam! — O Sr. Darcy exclamou, nada nele mostrava que estava mais calmo... ao contrário.

— Não, pai, eu não vou. — Darcy, por outro lado, estava muito calmo. — Não tenho nem nunca tive o mínimo interesse em assumir a presidência da sua empresa.

— O que você está dizendo? — Sr. Darcy perguntou, sua voz um pouco mais baixa.

— Isso mesmo. Eu não tenho interesse na sua empresa, na verdade eu também não tenho interesse por esse título de Duque, isso mais complicou minha vida do que ajudou. Mas eu o aceito porque ele não vai definir totalmente quem eu serei no futuro, mas ser presidente da sua empresa vai me fazer seguir por um caminho que eu não quero ir.

 

— Eu não posso acreditar no que estou ouvindo! — Sr. Darcy falou enquanto dava alguns passos na frente da escada dupla. — Meu filho, meu próprio filho, desprezando tudo o que construí, o que a família dele construiu por vários séculos!

— Eu não estou-

— Sim, está! Você está falando que séculos de tradição não o importam, que um título que foi dado aos seus antepassados por honra e trabalho não lhe interessa, que a história da sua família é nada em comparação às suas escolhas egoístas e que você menospreza tudo o que fiz para que tivesse tudo do bom e do melhor! — Sr. Darcy exclamou. Além de exaltado sua expressão parecia torturada. — Acha mesmo que seria o que é hoje se não tivesse toda essa história sobre você? Que seria tão excepcional se não tivesse estudado nas melhores escolas e tivesse os melhores tutores? Você está muito enganado se acha que seria o que é hoje se eu, seu pai, não tivesse cuidado para que tudo ocorresse como tinha que ocorrer. Você não tem ideia de tudo o que fiz por você, mas não se importa e simplesmente quer jogar tudo fora porque descobriu que é capaz de pisar nos desejos dos outros sem dar a mínima importância!

— Pai, eu-

— Não fale mais nada, Fitzwilliam, acredito que o conheci mais em uma noite do que achei que o conhecia em vinte anos. E infelizmente não gosto do que vejo —, ele falou e subiu as escadas.

Todos ficamos em silêncio por um tempo. Desde que eu havia ido morar ali, há alguns anos atrás, aquela havia sido a primeira vez que me deparei com algo assim. Darcy, apesar de sempre fechado, nunca foi contrário a nada que o pai falasse. E o Sr. Darcy jamais levantou a voz para os filhos, exceto no dia em que eu fui morar lá. Na verdade aquela havia sido a primeira discussão daquela família que eu havia presenciado e eu só conseguia pensar que havia dedo meu nisso. Se eu não tivesse dito aquelas coisas para Darcy ele poderia simplesmente fazer a vontade do pai e não ficar pensando no que desejava fazer do futuro... eu era mesmo uma droga!

 — Depois que ele esfriar a cabeça irei conversar com ele, filho —, Maggie falou ao se aproximar de Darcy. Eu levantei o olhar na direção dele, só então notando seu aspecto triste. — Você precisa entender que seu pai não está acostumado a ser contrariado, querido. Você é seu maior orgulho, ele tem planejado toda sua vida desde antes de saber que você existia. Eu sei que ele errou nisso, não devemos impor nossas vontades a você e Georgie, mas compreenda que ele foi criado para algo grande demais e é difícil para ele abrir mão do controle e passar para você. — Ela continuou, então pausou um momento antes de continuar: — Além disso tem a empresa... no começo ele não tinha muito interesse, mas o sonho de passá-la para você foi o que o impulsionou a torná-la o que é hoje. Agora ele deve estar mais triste por ele do que pela sua escolha, porque deve se culpar por nunca ter lhe escutado. Eu conheço o seu pai, deve estar se criticando e se achando o pior pai do mundo.

— Mas ele não é, mãe. Não poderíamos ter tido um pai melhor! — Darcy exclamou. Maggie sorriu e assentiu.

— Eu sei, filho. Mas ele não seria um Darcy se não se culpasse por não fazer tudo perfeitamente. E sabemos que ele nunca o escutou de verdade. Ele lhe deu tudo, mas nunca sentou para perguntar quais eram os seus desejos para o futuro... — Ela pausou novamente, sua face abaixando-se antes de tornar: — Eu não posso me elogiar por isso, de qualquer forma, também me recusei a dar ouvidos a vocês.

— Mãe, não diga isso. Nós amamos vocês como são —, Georgie falou depois de se erguer do seu lugar e se aproximar para abraçar a mãe. A Sra. Darcy retribuiu o abraço, mas logo se afastou.

— Eu sei disso, mas é uma verdade. Bom, agora devo ir e ajudar o pai de vocês a se acalmar. Boa noite, queridos —, e ela subiu as escadas, sua postura um pouco desanimada. Georgie também não ficou muito tempo ali, despediu-se com um boa noite e foi para o seu quarto. Eu estava sozinha com Darcy, aquele clima muito tenso para qualquer um de nós gostar de estar em tal situação. Pensando que ele desejava ouvir algo eu me virei, mas ele me parou com a mão.

— Não, Lizzie, depois... agora eu preciso tomar um banho e dormir. Boa noite.

Então ele subiu as escadas, me deixando muito preocupada para trás. Eu sabia que Darcy não estava bem... na verdade ninguém daquela família estava bem. Mas o que mais me deixava preocupada era o meu namorado. Sim, namorado... eu não conseguia acreditar que isso estava acontecendo. Mesmo sendo muito errado, acabei não conseguindo suprimir a felicidade que sentia com aquele nosso status, mas ao mesmo tempo eu ainda me sentia preocupada com o estado mental dele. Como será que ele estava se sentindo?

E foi assim que passei a noite. Não posso dizer que dormi bem, porque quase não preguei os olhos. Darcy não saía da minha mente, seja porque eu pensava nos seus beijos ou porque estava me perguntando como ele estava no momento. O fato era que eu desejava estar com ele, seja o beijando ou apenas o ouvindo, mas não conseguia criar coragem para ir até seu quarto. Além do mais, ele havia dito, de forma indireta, que desejava ficar sozinho. Isso fazia meu peito se apertar, porque quanto mais ele desejava ficar sozinho mais eu queria ficar com ele.

Quando os primeiros raios de Sol atravessaram as janelas do meu quarto eu desisti e me levantei. Queria mais que tudo ir até ele, mas me segurei. Usei o máximo de tempo que consegui para me arrumar, então deixei o quarto. Era Natal, afinal, acordávamos cedo para abrir os presentes... será que ainda haveria clima para isso?

Assim que saí do quarto eu desci as escadas, me deparando com a Sra. Darcy aos pés da escada dupla.

— Lizzie, querida, que ótimo que você já acordou! — Maggie falou animada e eu sorri em resposta.

— Acabei ficando ansiosa demais para conseguir dormir mais tempo —, disse sorrindo. Se ela percebeu o que havia por trás das minhas palavras não demonstrou. — E você, Maggie?

— Eu também! — Replicou. — Mas também tenho coisas a fazer. Me recuso totalmente a afastar os empregados de suas famílias em pleno Natal apenas para me fazer uma jarra de suco, então sempre acordo mais cedo para fazer o café da manhã. — Ela disse sorrindo.

— Você quem faz o café da manhã no Natal? — Indaguei. — Céus, eu nunca percebi, não notei diferença alguma! — Exclamei praticamente chocada e Maggie riu.

— Bom, eu praticamente faço. Há uma padaria não muito longe daqui que entrega parte do café da manhã todos os dias e eles fazem a mesma coisa no Natal. Reynolds também deixa algumas coisas prontas. Então, basicamente, eu preparo as bebidas e coloco a mesa. Um tanto de trabalho, não acha? — Disse divertida. — Venha, me ajude. — E foi em direção à cozinha, eu a seguindo.

Eu e Maggie não levamos muito tempo para preparar o café da manhã. Digo, preparar os sucos, chás e café para o café da manhã. Já estava tudo pronto quando Georgie chegou, surpreendendo nós duas por ser a primeira depois da gente.

— Qual é, é Natal, quero ver o que prepararam para mim —, foi a resposta dela antes de dar de ombros e ir até a cozinha para ajudar a trazer o que faltava.

O próximo a chegar foi o Sr. Darcy. Ele, depois de dar um beijo na mulher e sorrir para mim, foi até a entrada buscar o jornal do dia. O próximo foi o meu namorado, que deu bom dia para todos e passou por mim sem sequer me olhar. Eu o segui com o olhar e o vi quando se perdeu nos fundos da casa. Pensei em ir atrás dele, mas algo me dizia que não era para fazer isso. Maggie, no entanto, não estava dando a mínima sobre o que devia fazer ou não, simplesmente foi atrás dele. Me preocupei sobre o que isso significava, mas no fim cheguei a conclusão de que a mãe dele saberia o que fazer sobre isso.

E estava certa! Maggie voltou pouco tempo depois trazendo Darcy. Ele passou por mim e dessa vez me olhou, sorrindo de lábios cerrados, porém seu sorriso não chegava aos olhos. Quando terminamos com tudo seguimos para a mesa da sala de jantar, tudo pronto para o café da manhã que havíamos “preparado”. Os últimos a se aproximarem foi o Sr. Darcy e meu pai, que andava enquanto parecia bastante entretido com o jornal em suas mãos.

— Feliz Nata! — Meu pai exclamou com seu bom humor. Todos sorriram e responderam à saudação, ele sorriu mais abertamente e se inclinou para beijar minha face antes de tomar seu lugar. — O dia parece excepcionalmente lindo nessa época, não acham? Talvez seja o clima frio ou simplesmente a magia natalina, mas essa é a minha época favorita no ano.

E foi isso que fez com que o assunto girasse em torno do Natal. Maggie concordou com o meu pai e logo eles estavam perdidos em uma discussão sobre o que era mais lindo no Natal. Georgie se juntou a eles em um determinado momento e eu fiquei a olhá-los enquanto concordava com uma coisa ou outra. Apenas duas pessoas não participavam da conversa, ambos silenciosos enquanto ingeriam o que havíamos preparado. Por sorte o café da manhã não se prolongou por muito tempo e logo seguimos para a árvore, onde cada um entregou seus presentes e todos abriram com um sorriso estampado no rosto. Nesse momento eu busquei não me preocupar muito sobre tudo, me esforçando para me divertir tanto quanto os outros presentes. Por fim, quando tudo havia terminado, cada um seguiu para onde desejavam ir. Eu acompanhei com o olhar enquanto Darcy seguiu em direção a estufa e fiz o mesmo caminho quando vi que ninguém estava olhando. Enquanto me aproximava observei como o seu perfil parecia lindo ao olhar para as árvores através do vidro, seu corpo apoiado sobre a bancada e sua face séria. Ele deve ter notado minha aproximação, pois olhou para o lado e sorriu.

— Como sempre, previsível —, ele disse depois de inclinar sua cabeça para o lado, sua mão direita se afastando da bancada para ser introduzida no bolso da calça. Ele então se afastou e estendeu sua mão esquerda para me chamar. — Lizzie, venha aqui.

Eu ainda dei dois passos antes de parar, o olhando desconfiada.

— Agora a pouco você estava me criticando?

Ele me olhou em silêncio, então entrecruzou os braços e sorriu.

— Não, apenas apontando o óbvio. Vamos, venha aqui —, chamou novamente e dessa vez eu obedeci, parando à sua frente. Ele descruzou os braços e me envolveu, me fazendo dar mais um passo para a frente e nossos corpos se tocarem. A força do seu abraço aumentou e eu inclinei meu rosto sobre o seu peito, apoiando e ficando assim por tanto tempo que não fiz questão de contar.

— Feliz Natal —, ele sussurrou depois de algum tempo e depositou um beijo sobre minha cabeça.

— Feliz Natal! — Disse em resposta, um pouco mais empolgada que ele, e levantei meus braços para o abraçar. Ficamos abraçados por mais algum tempo até que ele disse que tinha algo para mim e o olhei confusa.

— Mas você já não me deu?

De fato, ele havia me dado um presente mais cedo. Um conjunto de brincos e colar que eu amei de tão lindo que era! Sem falar que devia ser caro...

Darcy sorriu, parecia que havia alguma piada interna que eu não sabia.

— Lizzie, espero que você não se ofenda com o que vou dizer... —, ele falou e eu comecei a me ofender desde já, porque se ele havia falado aquilo significava que era realmente ofensivo! Ele deve ter visto algo no meu olhar porque gargalhou. — Céus, não é tão grave assim!

— Então me fale logo porque estou imaginando o pior! — Falei receosa.

— Certo, certo... —, ele disse ainda sorrindo. — Então, lembra dos natais anteriores? — Eu assenti e ele continuou: — Você sempre recebeu um presente meu, certo? — Eu assenti novamente. — Eles sempre eram de um extremo bom gosto para um homem comprar, não eram? Sem falar que era sempre o que você mais estava precisando no momento... — Eu assenti novamente e dessa vez ele fez silêncio, erguendo as sobrancelhas e me olhando fixamente. Eu levei um tempinho para compreender, confesso, mas quando entendi meus olhos e minha boca se abriram em choque e eu tentei soltá-lo, porém fui impedida pela força dos seus braços em torno de mim.

— Eu não acredito que sua mãe fez isso comigo! — Exclamei chocada e extremamente ofendida. Darcy fez uma careta.

— Não culpe apenas ela, também tem dedo da Gê nisso. — Minha careta aumentou. — Mas entenda que elas só estavam pensando em você. Eu nunca movi um dedo para comprar um presente para você e elas achavam que isso a deixaria triste, então compravam e me obrigavam a entregar... Por mais que eu tente jamais poderei ir contra elas, sou um nada quando meus adversários são as duas. — Ele falou e seus ombros caíram em desânimo, eu ri.

— Tá bom, entendi, você não tem poder algum sobre o medo que sente delas —, falei ainda sorrindo. Então a noção do que ele havia dito chegou a mim e meu peito apertou. Com meus olhos ainda fixados aos dele eu vi o quanto havia sido tola em pensar que ele alguma vez se daria ao trabalho de ir em alguma loja escolher algo para mim. Como pude pensar em tal coisa? Céus, havia nascido para ser estúpida mesmo! Além disso, tudo aquilo me magoava muito, pois eu finalmente compreendia a minha insignificância diante de tu-

— No que está pensando para ficar tão séria? — Ele perguntou de repente, fazendo minha linha de pensamento ser interrompida. Ainda me olhando, esperou que eu desse uma resposta para a sua pergunta, porém me recusei, abaixando a cabeça e ficando em silêncio. — Eu sei, você deve estar pensando que eu nunca me importei com você e que por isso sequer perdia meu tempo comprando um presente de Natal, algo que é tão básico. Acertei?

Eu levantei o olhar e o encarei, parecia que tudo sempre estaria estampado em minha cara. Como ele conseguia me ler tão rápido assim? Droga!

— É, acho que acertei —, ele assentiu, sorrindo. — Lizzie, você precisa entender que eu não gostava mesmo de você. Não irei fingir dizendo outra coisa, não seria certo com você nem comigo, o fato é que eu não queria você por perto e sequer gostava de dar o presente que me obrigavam a dar. É simples! Você invadiu minha vida de uma forma que ninguém nunca havia feito antes e eu detestei isso. Não que eu tenha detestado você, só detestei a situação e eu não queria você na minha vida. Mas —, ele pausou por um momento e liberou um suspiro, erguendo a mão para tocar meu queixo. — Mas acho que já deixei claro que isso é coisa do passado.

Ele então abaixou sua face para tocar seus lábios nos meus. Foi apenas um roçar, algo tão ingênuo quanto mágico, e ele logo se afastou sorrindo. Ele ainda colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha antes de afastar a mão por completo, parando para me olhar por mais um tempo.

— Acho que eu nunca te disse isso, mas você é linda —, ele sussurrou enquanto me olhava. Eu tentei abrir a boca para falar, mas ele abaixou novamente a cabeça e pressionou seus lábios aos meus. Então, depois de poucos segundos, se afastou. — Não quero ouvir você se menosprezando novamente, acho que já tive o suficiente. O fato de eu rir do quão atrapalhada você é não significa que você possa usar os seus defeitos para se sentir inferior. — Eu tentei falar novamente e mais uma vez ele me parou, erguendo novamente a mão que agora trazia uma corrente pequena com alguns pingentes. — Sinto muito se não tem uma caixa adequada, mas achei que não teria muita importância. — Darcy disse e afastou-se um pouco para colocar a pulseira em meu pulso. — Comecei a montá-la no momento em que decidi sair de casa. A pulseira e o diamante original pertenceram à minha avó, é uma relíquia de família, porém os outros pingentes eu fui adquirindo nos lugares que visitei. Há ainda alguns espaços vagos, mas espero terminar de preenchê-los no futuro se você não se importar —, ele completou terminando de colocar a pulseira em meu pulso e erguê-lo para beijar, depois se afastou olhando em meus olhos.

Eu não tive qualquer intenção de olhar atentamente para a pulseira naquele momento. A única coisa que passava em minha cabeça era tudo o que ele havia dito e o fato dele estar ali na minha frente, sendo mais romântico do que eu jamais imaginei que ele poderia ser. E isso justamente quando eu menos esperava. Ele havia me deixado para se descobrir, isso era verdade, mas agora eu estava sabendo que eu nunca saí da sua mente. Um sorriso brotou em meus lábios ao pensar na importância disso e ele foi ampliando pouco a pouco, até que não havia mais nada a dizer ou fazer além de ter meus braços em volta dele. E foi isso que eu fiz, ergui meus braços e apoiei sobre o seu ombro, trazendo-o para mim e tomando seus lábios com toda a voracidade que eu precisava.

Darcy não demorou a responder, separando seus lábios e fazendo com que nossas línguas se tocassem, meu corpo vibrando àquele contato e aquecendo ainda mais quando nossos corpos descobriram um novo contato. Ele então nos virou, fazendo com que meu corpo fosse pressionado sobre a bancada enquanto o dele mantinha sua força sobre o meu. Eu senti o exato momento em que seu corpo tomou vida e, talvez por instinto ou necessidade, meu quadril impulsionou ainda mais para frente, como se tentando se fundir ao dele. Quando aquele toque não se mostrou bom o suficiente, Darcy me ergueu e eu me vi sentada sobre a bancada, minhas pernas se separando no instante em que ele se impulsionou para frente e trouxe meu corpo ao dele, o toque sendo ainda mais maravilhoso do que o anterior.

Apesar de todo aquele amasso, suas mãos se mantinham sobre minhas costas, enquanto meus dedos se infiltravam nos fios de seu cabelo, nossas bocas não se separando exceto para tomar ar e logo voltando a se devorarem. Devemos ter ficado assim por vários minutos, ou talvez por alguns segundos; eu não saberia dizer. Porém a noção da realidade tornou quando ouvimos passos se aproximando. Darcy me soltou no mesmo instante e eu o olhei confusa até compreender. Apressei-me em arrumar o meu cabelo enquanto Darcy tentava ajeitar sua aparência até algo apresentável, então desci da bancada e me virei para os fundos da estufa, evitando a entrada a fim de impedir que vissem o quanto meus lábios deviam estar vermelhos por causa do nosso pequeno interlúdio naquele momento. Segundos depois Georgie entrou.

— Oh, Lizzie, você está aqui —, ela falou e eu me virei, me deparando com sua expressão que mostrava uma mistura de choque e preocupação; não saberia dizer. Será que ela desconfiava de algo? Por Deus, não, a última coisa que eu queria era ser pega na mentira. Não, não, não e não!

— O que deseja, Gê? — Foi Darcy quem falou; eu estava surpresa por ele conseguir parecer tão composto depois do que havia acontecido entre a gente segundos antes.

— Eu, er... — Georgie murmurou nervosa e eu comecei a me preocupar.

— Algum problema, Georgie? — Perguntei meio preocupada e meio desconfiada. E se ela estivesse pensando no que estou pensando que ela está pensando?

— Não, nada. — Ela definitivamente estava escondendo algo. Então, sem falar mais nada, Georgie se virou para sair. — Tchau, gente, até depois.

E foi embora, me deixando muito desconfiada. E pelo jeito não fui a única, porque o próprio Darcy achou estranha a atitude da irmã (veja bem, Georgie é estranha, mas pelo jeito aquela sua atitude era mais estranha do que o estranho “normal” para ela) e me olhou com uma expressão confusa. Antes de dizermos qualquer coisa, porém, seu celular sinalizou e ele o pegou para ver alguma mensagem que havia chegado. Sua expressão mudou, tornando-se sombria e ele me olhou fixamente com algum sentimento no olhar que eu não soube ler. O olhei preocupada, porém ele apenas disse que precisava ver algo e me deixou sozinha na estufa. Isso foi o que faltou para que a desconfiança me dominasse. Fiquei pensando sobre o que poderia estar acontecendo, afinal se Darcy se comportou daquela forma era por algum motivo maior do que simplesmente ela desconfiar que estávamos juntos... É, não é?

Nem isso eu sabia!

Droga, eu precisava fazer algo! E foi por isso que a curiosidade e preocupação falaram mais alto e eu me vi indo até a biblioteca, onde eu sabia que em algum momento iria o encontrar. Porém o encontrei mais rapidamente do que esperava, pois sua voz alterada chegou aos meus ouvidos assim que abri a porta.

— Isso foi algo infantil, Georgiana, jamais pensei que se tornaria algo tão grande! — Darcy dizia, sua voz alta chegando a mim sem problema. Eles não haviam me visto e, como a curiosa que sou, deixei que assim continuasse.

— Não importa, Will, você fez com que chegasse à atual situação —, Georgie respondeu, sua voz um pouco mais baixa, mas ainda bem audível.

— Eu não sei o que fazer... não posso magoá-la depois de tudo, ela vai me odiar. Eu... eu... —, sua voz se perdeu; pela primeira vez, eu via um Darcy totalmente sem palavras.

Espera... magoá-la? A mim? Por que eu iria odiá-lo?

Droga! Odeio escutar conversa alheia! Mas ainda assim tentei escutar mais um pouco, vai que conseguisse decifrar o que eles estavam falando.

— Coloque um fim nisso o mais cedo que conseguir. Você a fez esperar por todos esses anos, não pode fazê-la esperar mais —, Georgie falou. — Você não é mais criança, irmão, precisa assumir suas responsabilidades.

— Eu não posso... ela realmente vai me odiar... depois de tudo o que sofreu... — Ele murmurava sem realmente parecer dizer algo.

— Você tem 24 horas para tomar uma atitude, depois poderá ser tarde.

Meu Deus, que atitude? O que ele iria fazer comigo? Iríamos terminar? Mas nem havíamos começado direito... e por que ele iria terminar assim do nada? O que estava acontecendo?

— Eu amo a Anne, Gê, você sabe o quanto a amo... — Ele sussurrou e minha mão foi à minha boca, o choque nítido em minha expressão. Anne? Ele amava Anne? Que Anne? E como assim ele a amava? Não era suposto que ele amasse a mim, a sua namorada? E se ele amava essa Anne por que estava comigo?

Eu não consegui ouvir mais nada, praticamente corri para sair da biblioteca e subir as escadas para me trancar em meu quarto. Aos poucos, apesar do sofrimento que começava a dominar meu corpo, a compreensão começou a chegar e eu passei a entender o que estava acontecendo. Darcy não me amava, isso era óbvio. Ele nunca havia me dito que amava, então não tinha do que me queixar. Mas ele amava Anne, seja lá quem fosse, e estava preocupado sobre como aquilo iria me atingir. E, pelo que havia escutado, iria me atingir bem cedo, mais precisamente em 24 horas. Mas por que em 24 horas? O que aconteceria até lá? Pouco a pouco eu ia pensando sobre isso e quanto mais pensava mais o medo começava a me dominar.

Ele iria me deixar, eu tinha plena certeza disso. Ele mal havia sido meu e já iria me deixar. Eu precisava me preparar para isso... mas como se prepara para perder o amor da sua vida? O medo, a desilusão, a esperança e todo meu amor transformaram-se em lágrimas que passaram em deslizar por meu rosto enquanto eu abraçava o mais forte que podia meu travesseiro. Dentro de mim, a dor abraçava a solidão de forma desesperada e eu mais uma vez provava o dissabor de uma esperança vazia.


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Notas finais do capítulo

O que eu posso dizer sobre escrever esse capítulo? Bem, não tenho muita certeza, só sei que comecei a escrever sorrindo e terminei quase chorando. Talvez seja porque quando comecei o meu estado de espírito era um e quando terminei era outro... vejam bem, estamos fora da copa e tem alguns anjinhos presos em uma caverna na Tailândia, eu não poderia ter outro estado de espírito em nossa atual situação. Mas o que podemos fazer além de lamentar pela seleção e orar pelos garotos presos? Estamos de mãos atadas. ): Enfim, espero que esse capítulo tenha servido para distrair vocês um pouco de tudo o que vem acontecendo. Estou sem internet, o que é uma barra para alguém que vivia logada, mas isso está servido para que eu escreva mais. Tenho uma história que já tem mais de 25 mil palavras escritas, porém ela só será lançada quando estiver totalmente pronta (e isso tá um pouco longe) porque é um suspense romântico (estou indo por esse caminho agora, me julguem!). Na verdade não tenho apenas uma, mas várias histórias que estão dominando minha cabeça, sequer penso na minha vida real mais... como faz? Nos próximos dias estarei atualizando todas as minhas histórias, fiquem ligados. Não estou de férias, como citaram aí, ainda tenho que fazer uma atividade para entregar essa semana, mas tenho gastado muito tempo adiantando as coisas por aqui. No próximo capítulo teremos a introdução do personagem que eu mais tenho esperado desde que comecei a escrever (já devem saber quem é). Talvez vocês chorem um pouco, mas espero que gostem mesmo assim. Nos falamos em breve, até depois. ♥