Capítulo 2: Nunca insulte um cavalo, pode ser doloroso

– VOCÊ DISSE CARNÍVORO? – perguntou o menino falando pela primeira vez desde que os estranhos chegaram. – Mas cavalos não são carnívoros. Eles comem grama, não é mesmo?

– Não esses cavalos, cupcake – respondeu Hedge fazendo uma careta de desgosto. Só agora Sam percebeu que ele estava segurando uma espécie de cajado de madeira, que mais parecia um tronco de árvore ainda com folhas e pequenos galhos quebrados. – Esses têm o hábito de comer carne, o que é de péssimo gosto se quer saber minha opinião.

O menino parecia estar em pânico, seus olhos âmbar estavam arregalados e as mãos iam do bolso do casaco ao bolso da bermuda sem parar. Parecia que ele ia sair correndo dali sem olhar para trás a qualquer momento. Sam não podia culpá-lo, também queria sair correndo dali. Mas não sabia para onde. Queria encontrar seu irmão Dean, mas não fazia ideia de por onde começar ou para onde seguir.

O relincho dos cavalos o trouxe de volta a realidade – se é que aquilo poderia ser chamado de real. Ele sentiu um frio na espinha ao perceber que aqueles não eram cavalos comuns. Aqueles cavalos de olhos vermelhos pareciam ser mais inteligentes do que a maioria dos animais e pareciam mesmo carnívoros, relinchavam e batiam os cascos no asfalto como se dissessem: hora do lanche.

– Certo – murmurou Jason sem tirar os olhos dos cavalos, todos os seus movimentos eram cautelosos, pois os animais os observavam e se aproximavam trotando lentamente pela calçada apenas aguardando para atacar a comida, que por acaso eram eles. As pessoas ao redor começavam a notar que havia algo errado. Alguns paravam para tirar fotos dos cavalos provavelmente achando que era alguma apresentação de rua. – O plano é o seguinte...

– Corram! – berrou Hedge arruinando qualquer que fosse o plano de Jason. – Eu cuido dos pôneis, cupcakes! Deixem esses cavalinhos comigo. Vou ensiná-los a comer tofu!

Ele ergueu o cajado no ar e avançou para cima dos cavalos gritando bravamente. Seria uma cena engraçada ver um homem vestindo aquela calça de náilon apertada correndo com um cajado de madeira de encontro a um bando de cavalos, se tudo não estivesse tão confuso e se aqueles animais não parecessem tão perigosos. Sam não teve muito tempo para pensar sobre isso, no momento em que o homem gritou os cavalos avançaram sedentos.

Ele só teve tempo de pular da cadeira em que estava e se esconder atrás da mesa mais próxima. Um dos cavalos saltou exatamente no lugar em que ele estivera. Os clientes da lanchonete saíram correndo desesperados, as garçonetes não sabia o que fazer e correram para dentro da lanchonete. O cavalo caiu quebrando a mesa ficando momentaneamente preso entre a mesa quebrada e as cadeiras caídas. Felizmente a menina também havia se levantado e já estava longe do cavalo. Infelizmente outro cavalo partia na direção dela, tentando abocanhá-la.

Sam estava prestes a correr para ajudá-la a se livrar do cavalo, embora não soubesse como, quando ouviu a outra menina, Piper, gritar.

– Não! Treinador Hedge!

Ele se virou a tempo de ver Hedge sacudindo o cajado de um lado para o outro atiçando um dos cavalos, gritando em desafio e chamando-os de pôneis molengas. Até que o cavalo negro relinchou furioso e lhe deu um coice no peito que o lançou para o outro lado da rua. O homem se chocou contra uma das árvores do Central Park e desmaiou logo em seguida.