Lágrimas escrita por Felipe Melo


Capítulo 4
Capitulo 4


Notas iniciais do capítulo

- Realmente a vida de Alana está tão bagunçada... do que ela precisa para ser organizar?



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Capitulo Quatro

Cheguei atrasada na aula de Química. Todos me olhavam com espanto. Eu sempre fora referencia em pontualidade e notas. Sorte a minha, que tínhamos cinco minutos de tolerância.

Enquanto começava a pensar no que havia ocorrido, e tentar assimilar, ele entrou na sala. Parecia triste, mas na verdade não demonstrava. Hoje ele estava tão bonito. Estava com uma camiseta preta, e shorts listrados. Seus cabelos estavam rebeldes. Mas nele ficavam lindos. Meu Deus! Eu tinha que parar com isso.

Vee pareceu notar algo, pois logo me cutucou na carteira atrás:

– O que aconteceu com ele? – ela sussurrava e ao mesmo tempo olhava para ele de soslaio.

– Não sei Vee – tentei ser indiferente – Ele apenas deve estar em um dia ruim. Todos temos dias ruins.

– Ele não. – agora ela reprimia uma risada.

– Por quê? – dessa vez havia ficado curiosa.

– Opa – disse agora se tocando de alguma coisa – Nada demais. Apenas comentei.

– Vee...

– Não quero comentar isso com você – disse ela agora se concentrando na matéria.

– Começou, Termina.

– Fiquei sabendo por Carlos sabe... O fofoqueiro aqui da escola, que ele está saindo com a vaca da Sarah Marques.

Okay. Ele podia sair com quem quisesse. Mas minha vontade no momento era só de levantar ir até a sala daquela vadia, e arrancar sua cara.

– Jura? Que bom Vee – disse eu

– Você não vai fazer nada? – agora ela me encarava feio.

– Não tenho nada com ele. Não gosto dele. Apenas tivemos um incidente no corredor. Ele está livre. Deixe-o livre.

Vee não me respondeu. Mas continuo com aquele bico. Com a raiva em que estava agora, achei até melhor ele ter ganhado um tapa daquele senhor. Ele merecia mais vinte daquele. Mas eu sabia que isso ia acontecer. Ele nunca gostara de mim. Mas saber que isso era uma ilusão, tinha me deixado contente, tinha-me feito ser notada. Mas ilusões ao final machucam, e eu estava machucada.

Vee e eu não nos falamos durante o dia inteiro. Isso me incomodava. Ela era minha melhor amiga, mas ao mesmo tempo me irritava que ela quisesse que eu falasse com Miguel. Ele tinha sido estúpido comigo dias anteriores. E eu não estava a fim de fazer o papel da idiota que corre atrás de moleque.

– Realmente não consigo entender – disse Vee agora olhando para mim – Ele parecia vidrado em você.

– Vee eu disse que foi só impressão. Ele não gosta de mim. Nunca gostou, e pra mim é melhor assim.

– Você tem certeza que não está nem um pouquinho magoada? Ou com vontade de matá-lo?

– Não – isso mente feio.

Não quis responder a mais nada. A próxima aula seria com ele. Ele infelizmente sentaria do meu lado. Já que dias antes, era esse o lugar que escolhera. Tentei não pensar nisso, mas logo o sinal tocou, e eu como sempre me sentia no inferno. Será que o mundo ou Deus não podiam me ajudar ao menos um instante?

– Vou começar perguntando quem de vocês já leu livros mitológicos? – disse nossa professora de literatura Ângela.

Praticamente toda a sala levantou a mão. A professora pareceu satisfeita.

– Miguel, poderia nos contar que gênero de seres mitológicos você mais gosta?

Okay. Tentei permanecer impassível, e não olhei para o lado.

– Gosto de Deuses, mas me atraem as sereias.

– Por quê?

– Elas te hipnotizam – ele olhou para mim – eu não sei explicar. É como se quando eu as lesse fossem reais. O modo como elas não podem amar, me deixam frustrado. Fico imaginado o pobre dos marinheiros que gostaram ou as amaram de verdade.

– Entendo – disse a professora agora escrevendo algo na lousa – quero que cada um escolha um gênero de personagem e me traga aula que vem. No máximo vinte linhas, explicando porque gostam deles, como se sentem quando as leem, e o que vocês acham da literatura fantástica atual.

Anotei completamente tudo. Mas o gesto seguinte me surpreendeu.

– Alana – ah não de novo não – podemos conversar?

Nossa! Como ele conseguia me paralisar desse jeito?

– Claro – burra! – Não estou com pressa.

– Bom classe, vejo vocês depois estão dispensados.

Esperamos até todos saírem. E ele se aproximou de mim.

– Não queria ter dito aquilo – ele dessa vez passava a mão pelo cabelo escuro – Fui muito grosseiro. Desculpe.

– Não tudo bem. – eu não ia bancar a chorona.

– Sério? – ele parecia surpreso.

– Sim – não pude deixar de comentar – fico feliz por estar com a Sarah.

– Oi? – dessa vez ele ria – não acredito que confundiram tudo. Boatos aqui se espalham rápido.

– Não estou entendendo.

– Hoje de manhã – disse ele agora parecendo sério – ajudei Sarah com alguns problemas, a abracei e a aconselhei com algumas coisas. Mas algum infeliz saiu espalhando que eu a beijara.

– Realmente – disse eu agora aliviada – pensei que vocês estivessem juntos.

– Não me interessa ninguém aqui – ele olhou para mim – mas estou começando a mudar meus conceitos.

Não pude deixar de não ficar vermelha. Ele realmente ganhara minha atenção.

– Eu vou ficar aqui por pouco tempo.

– Por quê?

– Quando eu e minha família terminamos uns assuntos aqui, vamos nos mudar.

– Desculpe – disse eu – esses assuntos seriam estudos?

– È complicado – o disse meio desajeitado – nos vemos depois.

Ele virou as costas, mas dessa vez olhou para mim. E sorriu. Esse simples gesto fez meu coração antes quebrado e machucado, bater tão intensamente, que quase saiu pela boca.

– Não acredito – disse Vee virando a esquina para chegarmos a minha casa – como inventaram tudo isso?

– Não sei Vee – disse eu sorrindo – eu só sei que ele está solteiro.

Ela pareceu notar meu sorriso.

– E você – disse ela parando na frente de casa – está pronta para atacar. Ai como esperei por esse dia.

– Não exagera – agora eu ria – vejo você depois.

Não encontrei minha avó em casa. A casa estava deserta. As palavras daquela espécie de oração estavam em minha mente. Não sei por que, mas aquilo me parecia familiar. Mais uma vez me via em um dilema de paranóia.

Como não havia ninguém ali, resolvi fazer uns sanduíches e estudar. O lance com Miguel me deixara animada, e enquanto eu estava assim, melhor focar. O livro que eu comprara com Vee, ainda permanecia intocado, mas logo teria que lê-lo para o trabalho de literatura.

Abri as janelas, e se não fosse verdade eu não acreditaria, mas havia um carro vermelho parado em frente a minha casa. Okay. Se fosse apenas o carro. Mas tinha alguém dentro, um menino, e ele olhava para a minha janela. Tentei pensar em Miguel, mas não me parecia o estilo dele de carro, e nem de ficar observando os outros.

Tentei não ficar louca. Às vezes era só alguém admirando alguma coisa. Nossa! Grande conforto. Resolvi entrar e fechar a janela. Se não fosse pelo susto que tomei do celular tocando, teria tido tempo para ver se o carro misterioso continuava parado ali.

– Honey – disse Vee exasperada – Preciso da sua ajuda.

– Meu Deus o que foi Vee?

– O carro... – ela gaguejava, na verdade estava chorando.

– O que foi Vee? – ela estava me deixando nervosa.

– Sua... – ela não terminara a frase, mas meus olhos e meus ouvidos já não queriam mais escutar.

– O que tem Vee, Fala logo – berrei já aos prantos no celular.

– Sua avó foi atropelada por um carro aqui no centro – meu coração pareceu desmoronar.

– Honey? Honey?

O celular caíra no chão. Eu não ouvia nada. Não escutava nada. Não conseguia ver nada. Não sei se Vee gritou algo... Mas o que consegui ver foi apenas o ambiente ao meu redor se tornando mais escuro...

– Honey – eu sentia que estava sendo balançada – Fala Comigo.

Reconheci que era a voz de Vee. Mas tormentas do que ela havia me dito me vinham agora. Atingiam-me como ondas, e eu abrindo os olhos já comecei a chorar fortemente.

– Não querida – disse Vee me erguendo e me dando um abraço – Vai ficar tudo bem.

Eu não conseguia falar. Minha avó tinha me dito isso quando se lembrava de minha mãe. Tudo parecia mais não fazer sentindo. Desmoronei mais ainda.

– Sua avó está bem – disse Vee.

A surpresa me fez abrir os olhos. Dessa vez eu a encarava.

– Ela por incrível que pareça só sofreu arranhões. É incrível que a velocidade em que o carro estava não tenha passado por cima dela.

– Como?

– Não me pergunte querida – ela agora sorria – agora vamos. Sua avó está te esperando no hospital.

Eu ainda não conseguia acreditar. O centro da cidade era movimentado. Alguns motoristas não respeitavam as leis de trânsito. E era por isso que a cada dia morriam mais de cinco pessoas por dia, só atropeladas. Minha avó seria o único caso na história que não tinha sofrido algo mais grave. Se eu acreditasse em milagres poderia jurar que tinha sido um. Mas infelizmente eu era cética. Desde que tudo que me envolvia era cinza, não tinha cor, eu não acreditava em nada, só em mim e no que meus olhos podiam ver.

– Você parece meio pálida – disse Vee interrompendo meus pensamentos – vamos comer alguma coisa, para que sua avó não fique mais preocupada.

– Vee?

– Sim Honey?

– Como percebeu que tinha acontecido algo comigo?

– Quando ouvi você chorando e gritando e ouvi um baque mudo ao chão. Ai sai correndo com o carro, e acredite correndo mesmo. E você estava estirada no chão. Mas consegui ver, que quando os médicos chegaram para atenderem sua avó, ela estava lúcida debaixo do veículo e falava muito bem.

– Vee... Não consigo... Minha avó... È muita coisa...

– Não tem sido fácil amiga – disse ela me trazendo um sanduíche e um suco de uva – mas a vida é assim. Lembre-se que você é forte.

Isso eu não duvidava. Só que ultimamente muitas coisas erradas vinham acontecendo. Eu sou forte. Mas Deus não precisava me testar tanto. Sentia que pela primeira vez, algo que chamavam de intuição, estava por vir. Nunca tinha intuições. Vee brinca comigo que sou meio macho. Não sou de sentir essas coisas. Resolvi deixar pra lá.

– Vamos? – não podia mais aguentar a ansiedade dentro de mim.

– Vamos. – era só o que o precisava ouvir.

O hospital estava muito movimentado. Minha avó estava no último andar, no quarto quinhentos e dez. Meu coração palpitava forte, queria vê-la, queria abraçá-la. E dizer que eu a amava muito.

– Você vai ver – disse Vee – ela está ótima.

– Vee não exagere. Ela passou por um trauma. Pode ter sido um milagre ter sobrevivido. Mas minha avó já é de idade. Com certeza estará péssima. E eu terei que ajudá-la a se recuperar.

– Do jeito como ela conversou com os paramédicos, duvido muito.

Não respondi. Conhecia minha avó melhor que ela. Era eu a neta. Eu sabia que com certeza ela não estaria bem.

O elevador parou. As portas eram enfileiradas. Cada uma a qual bem organizada, junto com corredores limpos. Logo vi o quarto dela, e se não fosse o forte barulho de risada, acho que não teria acreditado no que meus ouvidos ouviam, e meus olhos viam.

– Alana querida – disse vovó rindo descaradamente – pensei que não viesse mais. Está com uma cara pálida.

Sei que minha reação seguinte seria rir. Mas eu realmente estava chocada.

– Ah – disse eu – estava pensando que a senhora não estava bem.

– Estou ótima – disse ela se levantando – estou apenas com alguns arranhões.

Percebi que ela rira junto com o homem que parecia ser o doutor. Apesar de assumir uma profissão de tanta responsabilidade, ele parecia novo demais.

– Sua avó – disse ele me entregando os exames – teve bastante sorte. Não está machucada. Nem com ossos fraturados. Com o estado em que o carro ficou, era para ela realmente estar morta.

– Eu não disse – sussurrou Vee em meu ouvido.

– Vó – disse eu agora conseguindo compreender que realmente milagres aconteciam – como aconteceu?

– Podemos falar disso em casa? Estou muito cansada.

– Claro – sentia que ela me esconderia algo – Vee você pode nos levar?

– Estou aqui para isso baby – disse Vee girando as chaves nos dedos, com certeza ela percebera também que o doutor era jovem e já se insinuava.

– Vamos – disse eu agradecendo o doutor e pegando no braço de vovó.

– Não precisa querida – disse ela se soltando do meu braço – quem cuida de você ainda sou eu.

Naquele momento foi como se ela quisesse expressar algo mais do que palavras. Algo oculto. Tentei ao máximo expressar o quanto ela era importante para mim pelo o olhar. Mas ela já virara as costas e caminhava atrás de Vee silenciosamente.


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Notas finais do capítulo

- Muitos mistérios ainda... muita coisa por vir... haja folego...



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