Capitulo Dezenove

Sylvia

Ela sabia que a neta havia mentido. Ela não podia reprimi-la, ou ao menos brigar. Sylvia sabia que esse chegaria. Alana precisava de respostas. Ela imaginava o que aconteceria quando Alana descobrisse a verdade. Será que ela se tornaria igual Lisandra? Será que ela seria compassiva como a mãe

Sylvia a viu chegar, mas permaneceu em seu quarto. Alana parecia pasma, mas ao mesmo tempo parecia que já sabia a verdade. Ela imaginou a cena da neta partindo. Isso era demais. Sylvia já havia perdido tanta gente! Não seria justo que Kianda tirasse mais um bem precioso dela.

Sylvia durante anos depois da perda de seu marido estudava esse mundo desconhecido. Sabia da hierarquia marinha. Seus males, e até mesmo seus demônios. Tudo eram muito relativo e ao mesmo tempo sombrio nesse mundo. Como ela queria ser normal. Como gostaria de não saber desse mundo.

Quando ela se preparava para deitar, ela ouviu um batido na porta.

– Vó? – a voz de Alana estava chorosa – preciso falar com a senhora.

– Entre querida – disse Sylvia sentando-se na cama.

Para a surpresa de Sylvia Alana corria aos prantos tampando um dos braços com uma toalha. Sylvia não entendeu o desespero da neta.

– O que aconteceu querida? Cortou-se?

– Vó – disse Alana aos prantos – tem algo no meu braço. Parece uma escama. Vó o que é isso?

Sylvia ficou pasma. Por um momento achou que fosse desmaiar. Mas manteve-se firme. Pegou o braço da neta e tirou a toalha que a cobria. Ali onde deveria haver pele, havia uma escama dourada com tons de verde. Tinha chegado a hora!

– Eu sei o que é isso – sussurrara ela.

– Vó? Será que é algo contagioso?

Sylvia respirou fundo.

– Não é obvio minha neta? Creio que você já saiba.

– Não é possível... Vó não é possível...

– Se eu te pedisse que se sentasse e me escutasse você faria isso?

Alana pareceu relutar. Era demais para uma jovem. Sylvia sentia que essa era hora.

– Sim – disse Alana.

Sylvia sabia que agora o mundo viraria de ponta cabeça.

– Chegou a hora de você saber de tudo. E peço a você mais uma coisa. O impossível nessa história se tornará real. Então por favor, só fale quando eu terminar.

Lisandra

Ela sabia que aquela era hora. Ela sentia. Ela saberia a hora que Alana descobrisse. Lisandra se sentia ávida. A batalha se aproximava. Ela teria que escolher. Tudo ali era muito fácil. Ela só precisava mexer mais alguns pauzinhos e aquele jogo estaria ganho.

– Será mais fácil que tirar doce de criança – comentou-a.

– O que será mais fácil Lisandra? – a voz de Minos estava bem perto dela.

– Alana descobrirá a verdade hoje – disse Lisandra – e nós poderemos agir sem nenhum disfarce.

– Como?

– Simples meu rei – disse ela virando-se para o demônio marinho – despejaremos a verdade que Sirena está viva. Ela vai enlouquecer. Duvido que até mesmo Sylvia saiba que a filha está viva.

– Mas acha mesmo que Kianda não vai agir?

– Kianda da livre arbítrio aos seus filhos. Se ela se envolver, estará quebrando suas próprias regras.

– O que estamos esperando?

– A hora certa. Quando for saberemos.

Alana

Fiquei esperando a verdade que minha avó tinha para me falar. Eu ao fundo ansiava, mas ao mesmo tempo não queria saber. Era como se eu estivesse com o mundo nas costas ao bom tempo. E agora ele ficasse mais pesado que nunca.

– Alana – começou vovó – antes de tudo vamos voltar ao passado. Quando conheci seu avô ele era um homem muito bonito. Muito misteriosas também, todas as noites depois que o casamos fugia as noites. E por um momento pensei que ele tinha uma amante.

Ela fez uma pausa e continuou. Eu não conseguia parar de ouvir.

– Os anos foram passando e eu engravidei de sua mãe. Sirena era incomum. Nadava muito bem e seu canto era o mais doce entre todas as meninas. Mas seu avô estava acometido de uma doença misteriosa, e quando ele estava prestes a morrer ele me revelou algo que mudaria toda a minha vida.

As lágrimas agora saíram do rosto de minha avó. Fiquei com vontade de abraçá-la, mas sabia que não podia. Ainda não. Deixei que ela se recompusesse.

– Ele me revelou que sua mãe era uma Sereia. E que eu a escondesse de seu destino se fosse possível. Eu no momento duvidei e achei que ele estivesse mentindo. Mas enganei-me. Logo Sirena revelou sinais como os seus na mesma idade. E ela teve que partir...

– Partir? Para onde vó? Isso é loucura.

– Deixe-me continuar. Existe uma deusa das sereias. Kianda. Ela governa a hierarquia sereiana. E assim sua mãe partiu.

– Kianda... Não pode ser... Não vó...

– Eu sei que tudo é estranho. Acalme-se estou quase terminando.

Sentei-me, mas as lágrimas já escorriam. Não queria saber. Eu não podia ser uma sereia. Eu era humana. Tinha que ser. Não... Nada era real.

– Sua mãe após sete anos retornou. Disse que tinha abnegado o direito de ser sereia para ter uma vida normal. Eu fiquei muito feliz. E assim ela conheceu Joseph.

– Meu pai...

– Sim seu pai. Eles logo se apaixonaram e tiveram você. Sua mãe queria evitar a qualquer custo, mas sabemos que você faz parte das sereias.

Aquilo era bizarro. Olhei atentamente minha mão e não havia mais nada. Aquilo parecia mentira. Mas toda a história que minha avó contara de algum modo era certo de um modo estranho.

– Eu acredito – disse eu meio alto demais – mas como vou competir na natação?

– Não pode competir – disse ela – se não é possível que você se transforme.

Fiquei em silêncio. Tirei a toalha da minha mão e por um momento me permiti pensar nas possibilidades que tinha.

– Não há escolhas – disse vovó – quando sua primeira transformação acontecesse você tem que achar o caminho para o reino de Kianda.

– E como se acha o caminho para isso?

– Apenas sua mãe sabia!

Ah inferno!