Ela:

“Eu o observava ao longe, desejando ao máximo estar próxima dele, tocar seu rosto angelical e poder me perder no calor de seu hálito. Desde quando fora tão lindo? Seus belos olhos claros estavam mais brilhantes hoje? Seu cabelo estava mais arrumado ou tudo era apenas minha mórbida impressão? O fato era que, cada detalhe nele me encantava de uma forma inestimável.

Mas quem era eu para ter o que eu queria? Muitos me diziam que eu era bastante talentosa, poderia ter o que quisesse e quando quisesse, mas não era assim que as coisas funcionavam, pelo menos não com ele. Ele trazia um grande enigma consigo. Sempre deixava algo oculto por trás de suas palavras. E além do mais, sempre se mostrou indiferente em relação à mim. Nunca dava muita atenção ao o que eu falava e sentia que, quando estávamos juntos, ele ficava bastante disperso.

Ele nos auto-denominava amigos, entretanto creio que estávamos longe de sequer sermos isso. Não agíamos como amigos, não nos falávamos como amigos, não me sentia como sua amiga. Então, por que seríamos?

— Violetta, está me ouvindo? — Alguém me tira do meu transe melancólico.

Olho para o lado e Maxi me fitava com preocupação.

— Ahn? — pergunto, desorientada. Sacudo a cabeça, tentando me concentrar. — O que disse?

— Disse para irmos ao camarim, temos que ensaiar…

— Ah claro, vamos. — respondo de imediato, esgueirando-me para o lado dele.

— Está tudo bem? — pergunta.

— C-claro. — Coloco um sorriso nada convincente no rosto.

Ele põe o braço em volta de meus ombros e me guia em direção ao camarim. Enquanto caminhávamos, passamos exatamente ao lado do alvo de meus pensamentos.

Ele nem levanta o olhar ao perceber nossa passagem, o que me deixa ainda mais angustiada. O que eu mais queria, naquele momento, é que todo aquele sentimento que tinha por ele simplesmente evaporasse.”

Ele:

“Ela passa ao meu lado e seu doce perfume me deixa nas nuvens por um breve segundo. Seguro-me ao máximo para não levantar o olhar nem falar algo inapropriado.

León, você tem namorada, concentre-se. Eu repetia essa frase para mim mesmo constantemente, tentando tirá-la de minha cabeça ao menos por um milésimo de segundo, mas sempre ia em vão.

Sim, eu tinha namorada. Eu e Lara estávamos juntos há três anos e eu a amava loucamente. Mas se era assim, porque Violetta me provocava de uma forma tão abrasadora? Por que, quando eu a via perto de outros garotos, meu corpo era consumido pela fúria e eu tinha vontade de socar cada um deles? Por que quando seu olhar encontrava o meu, meu coração se acelerava? Isso não estava certo.

Eu disse para ela certa vez — não me lembro quando — que éramos bons amigos e colegas de trabalho. Mas eu sabia que não era assim. Não agíamos nem falávamos como amigos normais. Sempre que estávamos perto um do outro, trocávamos apenas poucas palavras.

Queria, com todas as minhas forças, agir com normalidade diante de sua presença. Porém, eu não conseguia. Não podíamos estar juntos, pois era como se uma força gravitacional me puxasse até a ela. Um imã que nos ligasse de uma forma inumana. Tendo consciência de tudo isso, eu tentava ao máximo manter distância.

Na maioria das vezes, agia com indiferença e frieza. Ás vezes ignora suas falas, temendo que minha voz saísse falha em algum momento e acabasse entregando, sem querer, a forma da qual eu me sentia.

— Heeey, León! — Broduey bate em minha testa.

Fuzilo-o com o olhar.

— O que é?

— É a quinta vez que eu falo contigo. — Ele diz.

— Estou ouvindo. — afirmo.

— Vamos gravar? Está na hora.

— Ah sim! — Pego os roteiros que encontram-se em cima da bancada. — Vamos.

E então assim, tento ao máximo ocultar meus pensamentos. Sem sucesso, é claro.

Ele quer, ela também, ninguém demonstra, nada acontece.