4 horas depois. Bem vindos ao Reino da Terra.

Seus olhos mal puderam capturar a extensão do lugar além da borda. Os cabelos castanhos de Jim balançavam sem peso pela brisa seca. Haviam deixado a área litorânea para trás e entraram em um reino completamente diferente e exótico.

Algumas arvores frondosas aqui e ali, ligeiramente contorcidas, davam um ar bizarro e fantástico ao reino da Terra. Ariel colocou a mão gentilmente em seu próprio cabelo, impedindo-o de levantar-se. Era simplesmente uau. Toda a areia sob seus pés era da cor de café, principalmente com os raios de luz do por do sol.

– Pessoal, vamos fazer uma pausa, eu estou faminto. – Miguel falou, com certa dificuldade, já que sua boca estava cheia de fios de seu cabelo loiro, por culpa da ventania.

– Estranho, parece mais Reino do Ar, - Ruby começou, colocando dois dedos abaixo de seu queixo. E então murmurou, com as sobrancelhas cerradas. – Areia esquisita.

Depois de um rápido lanche, começaram a caminhar, segurando as pranchas de lado. Em poucos minutos de caminhada, eles perceberam o porque de ser chamado Reino da Terra. Massas solidas de areia e material rochoso por toda parte, raras arvores encontradas pelo caminho. Bem, arvores com folhas. A maioria parecia morta, por falta de agua ou pelo calor intenso.

– Hey, Mulan, você nunca veio á essa parte da Terra dos Lobos? – A ruiva perguntou, voltando seus olhos azuis até ela.

– Não. Eles não permitem. Mas eu sei sobre a geografia do reino da terra. De qualquer modo, esses lobos tem um ciúme de seu território... É de dar medo!

– Ei! – Ruby se pronunciou, virando o rosto rapidamente logo depois.

– Qual é o problema? – Jim perguntou, com uma sobrancelha erguida. – Você é...

– Sim, eu sou uma loba. E não gosto que vocês zombem de meu povo dessa maneira.

Sua expressão estava dura e os punhos cerrados, mas seus olhos tinham algo de assustados, como uma criança temerosa.

– Sinto muito. – Ariel respondeu pelo resto. Tentou curvar os lábios, levemente embaraçada.

– Hum, tudo bem. – A morena virou-se e voltou a caminhar, com passos mais rápidos.

Enquanto os outros voltavam a conversar sobre frivolidades, Vitor apressou os passos silenciosamente.

– Ei, Ruby. – Ele chamou sem receber resposta. Finalmente chegou próximo o suficiente para tocar o braço da garota. – Você esta bem?

A morena se virou com os lábios comprimidos e os olhos apertados.

– Escute, eu não quero sua preocupação. Já fez o suficiente da ultima vez. Você não me deve nada. – Com as palavras surtindo efeito, ela chacoalhou seu braço uma vez e se afastou, cerrando os punhos.

O rapaz de cabelos prateados sentiu seu rosto contorcer-se imperceptivelmente com dor. Sentiu lagrimas, oh, como ele as odiava!, queimarem seus olhos. Droga!

Sentiu-se deslizando para um flashback que ele preferia evitar. E foi o que fez, sacudindo a cabeça vigorosamente.

Mulan inclinou a cabeça intrigada ao assistir a cena. Qual era o problema entre aqueles dois, afinal?

Ia respondeu á pergunta da sereia á seu lado, mas seu pé enroscou-se em uma pequena pedra e ela caiu de braços abertos e boca na areia. Ouviu uma irritante risada, mas resolveu fechar os olhos e contar ate dez.

Ariel se abaixou para ajuda-la, mas a mesma foi puxada com força para longe, caindo rolando um pouco mais distante dela.

– Mas o que... ? – Porem Miguel não pode terminar sua pergunta. Um lobo enorme, maior do que aqueles na costa á beira mar, se materializou á sua frente, as presas rasgando seus lábios em algo que parecia ser um sorriso.

– Olá. Eu me apresentaria, mas já que são invasores do reino, não vou me dar ao trabalho.

Ótimo. Tudo o que precisavam um lobo com senso de humor irônico e sorriso psicopata.

O loiro ouviu algo similar á um rosnado e então um grito. Virou-se e viu Mulan caída, aparentemente inconsciente, Ariel ao lado dela, se afastando aterrorizada de um lobo negro de garras curvas. Jim havia desaparecido das vistas e Vitor parecia estar em estado de choque. Parado, com os olhos arregalados, mirando dois lobos lutando entre si.

– Mas que diabos...? – Ele voltou seus olhos ao lobo de pelo castanho á sua frente. A expressão em seu rosto animal era de desgosto e desprezo. Usualmente, Miguel não era bom em analises, mas ele arriscaria dizer que a razão era Ruby. Deveria ser desagradável observar alguém de sua espécie, bem, quase isso, traindo-os daquela maneira.

Sabia que deveria fazer algo, mas antes que reagisse completamente as cenas que havia visto, foi acertado por algo pesado, e antes de apagar, viu sangue escorrendo do ferimento de Mulan.

Maravilha, fui nocauteado sem nem mesmo lutar.

Vitor continuava em estado de choque. Não por medo, ele não sentia isso. E já havia visto lobos antes. Mas, havia algo que fazia seu corpo travar por completo. Pouco antes de Ruby transformar-se em lobo, ele viu um corvo, com penas brancas e pretas descer com suas garras apontadas para o rosto de Jim. O garoto tentou se defender, mas a ave o carregou contorcendo-se, pela camisa, e socando o ar. Quando o moreno bateu contra a areia, os olhos azuis claros do loiro viram sangue por todo o seu rosto. O fluido vermelho e quente, escorrendo por diversos arranhões.

Hematofobia era tão humilhante. Porem, ele não pode evitar, seus músculos congelaram no lugar e ele ficou apenas olhando os outros resistirem e serem capturados.

Muito tempo depois ele se recuperou, contudo pode ver, embora tudo se mostrasse embaçado e confuso, uma enorme caverna, onde entraram deitados, já que os lobos estavam carregando-os pelos colarinhos. Eles foram separados, homens para um lado e mulheres para o outro. Ruby estava amarrada e as outras duas também, ainda que a pirata continuasse desmaiada.

Ouviu conversas em uma língua estranha, mas não pode compreender nem uma palavra.

As grades da cela impediam a maior parte de sua visão da parte externa. Toda a área era escura e as poucas tochas que existiam, estavam tão separadas umas das outras no corredor de pedra, que enquanto o encaminhavam ao calabouço, ele se sentiu flutuando nesses vácuos escuros ate encontrar a luz do fogo novamente.

Ao deitar-se no chão frio, fechou os olhos com força, desejando que a sensação ruim e as imagens do sangue deixassem de piscar dentro de seu cérebro a todo o momento.

O som de pingos de chuva entrou em seus ouvidos, aparentemente vindo de muito acima de suas cabeças. A realização disso só ajudou-o a sentir-se pior. Ser enterrado vivo definitivamente era uma maneira horrorosa de morrer.

Pensou em Ruby, em uma cela muito afastada dele. Lembrou-se do dia em que ela começara a odiá-lo. Se ele tivesse sido mais corajoso poderia... Não, não adiantaria nada. E lamentar-se não ia ajudar á escapar dessa prisão.

Mais uma vez a imagem dela sorrindo lampejou em seus pensamentos. Por que ela insistia em aparecer? Por que ele não conseguia simplesmente esquece-la?

Porque, mesmo que um pouquinho, você á ama, uma voz ecoou, fazendo-o abrir os olhos e levantar-se alguns centímetros.

– Maldita loba. – Suas palavras saíram como um resmungo rouco, enquanto ele voltava a ajeitar-se no chão. – Malditos cabelos castanhos que tiram o meu foco.

Ao seu lado, Miguel se moveu, bocejando. Era melhor que dormisse antes que os outros acordassem, e além do mais, um bom descanso iria acalmar seus nervos.

Uma espaçonave, duas espaçonaves, três espaçonaves...

ΩΩΩ