Esse é o Meu Pai escrita por Virgo


Capítulo 14
Amigo


Notas iniciais do capítulo

Demorei? Demorei :( Mas posso pedir desculpas?



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Com a ajuda da Armadura, Fukano se colocou de pé com certa dificuldade, chegou a cuspir sangue enquanto se erguia. Ele agora estava de “pé”, apoiando todo o peso sobre uma das pernas, enquanto a que estava machucada apenas tocava o chão, ele segurava um dos braços e tinha um olho fechado pelo sangue que escorria. Ele respirava com certa dificuldade e tentava se manter. A Armadura parecia um animal preocupado com o dono, não saia de seu lado, como se tivesse medo que ele caísse, mas também não desviava a atenção do servo de Apolo, que também se levantara e secava as lágrimas o mais rápido que podia.

A arena estava em murmúrios bem baixos, quase em perfeito silencio. Ninguém ali conseguia acreditar no que via, aquilo certamente entraria para história do Santuário, um guerreiro caído seria consagrado Cavaleiro?!

Alguns murmúrios eram mais frequentes do que outros e alguns ecoavam pelo lugar.

¬ A armadura...

¬ Escolheu um Cavaleiro caído...

¬ Isso é impossível...

Os olhares logo se voltaram para jovem deusa, que saio de seu lugar acompanhada por seus fiéis Cavaleiros de Bronze e agora caminhava austera até os jovens. Eles, por puro respeito, se ajoelharam perante a deusa quando esta se aproximara ainda mais, o pequeno virginiano teve certa dificuldade, mas foi auxiliado pela Armadura, esta logo se afastou e saio correndo para junto de sua caixa, que estava ao lado do assento onde a deusa estava, a caixa se abriu e a Armadura entrou nela, para que esta depois se fechasse.

¬ Fukano. - chamou a deusa, já que o menino tinha acompanhado a trajetória da armadura.

¬ Lady Atena. - respondeu ao despertar de seus devaneios.

¬ O que a armadura disse-lhe pelo cosmo? - indagou com verdadeiro interesse. - Porque ela o escolheu, ao invés do rapaz que lhe derrotou em justa luta?

Fukano não se surpreendeu pela deusa ter notado a troca de cosmo-energia entre ele e a Armadura, porém, ele não queria dizer, era surreal demais, nem ele estava acreditando que fora escolhido quando na verdade perdera a luta. Ele ainda estava de cabeça baixa, não ousava e nem tinha forças para erguê-la, mas sentia-se na obrigação de olhar o rosto da deusa antes de respondê-la. Forçou-se a levantar o rosto para só então responder meio a contragosto.

¬ Disse que sou especial, diferente, Lady Atena. - ele abaixou o olhar.

Ficou constrangido com o que falou. Podia parecer arrogante, mas foi exatamente isso que a Armadura lhe transmitiu, com aquelas mesmas palavras. Por ter um grande respeito por sua deusa, achou melhor responder fazendo uso das mesmas palavras. Mordeu levemente o lábio inferior antes de prosseguir.

¬ Disse que nasci destinado a conquistá-la. Disse que me escolheu, porque eu sou filho da luz e da escuridão. - ele tossiu um pouco cuspindo mais sangue.

Shun não pode ser segurado pelo irmão, ele correu até o menino e o sustentou, estava dando muita pouca importância para presença de Atena. Ela que se ferrasse, o filho precisava dele e isso já estava de bom tamanho. O menino sabia que aquilo podia ser mal interpretado, então se afastou um pouco do pai e voltou a se portar perante a deusa.

¬ Ela me escolheu porque sou como seu Senhor. - concluiu.

¬ Que Senhor? - indagou.

¬ Órion. - respondeu sem hesitar. - Porque sou como Órion. E Sírios tinha apenas um senhor, apenas uma pessoa a quem dedicava tudo, uma pessoa que conquistou-lhe alma e coração, esta pessoa era Órion, e a armadura disse que sou como ele.

Atena estudou o menino, não só sua expressão, como sua mente e coração também, sendo uma deusa, ela era capaz de ver o verdadeiro essência de seus Cavaleiros. Fukano não mentia e nem gostava de mentir, havia verdade em suas palavras, havia verdade em sua mente, havia verdade em seu coração e, principalmente, havia algo diferente no menino. A jovem deusa via com clareza uma assinatura no cosmo do menino, era como uma marca, a Armadura o tinha marcado como seu Cavaleiro.

Atena sorriu para o menino de cabeça baixa.

¬ As batalhas acabaram. - ditou para toda arena ouvir. - Temos nosso mais novo Cavaleiro. Recebam seu irmão Fukano de Sírios.

A arena foi a loucura. Palmas, assovios, gritos e vivas ecoavam pelo lugar e além. Ikki foi correndo até irmão e sobrinho, os tirando do chão enquanto ria de alegria, foi algo um pouco estranho de se ver, afinal, o leonino não tinha por habito expressar sua alegria. Shun também ria e ao ser solto pelo irmão, abraçou o filho com força, mas este reclamou de dor e tossiu mais sangue. Para os Amamiya a “festa” acabou ali, Shun pegou o filho no colo, agarrou Ikki, que já tinha pego a caixa da armadura, e saio correndo para “enfermaria” do Santuário. Enquanto o menino era tratado, o Santuário parecia ter entrado em festa, não tinham um Cavaleiro, Amazona ou Aspirante que não cantasse, literalmente, vitória da conquista.

¬ Hoje eu quero beber um copo de hidromel!– podia-se ouvir a cantoria ao longe. - Hoje eu quero ouvir um pequeno menestrel! Pois hoje uma abelha tagarela eu senti me ferroar. E ela me contou que um novo Cavaleiro nosso Santuário há de consagrar!

¬ Hei! Hei! Hei!– podia-se ouvir o ritmo ser definido pelo bater de pés e palmas.

Era uma festa animada pelo que se podia ver e ouvir. Talvez todos estivessem comendo e bebendo, parecia até que aquilo tinha sido planejado com antecedência, porém o cheiro agradável que vencia qualquer distancia, revelava que a comida estava sendo feita agora. O simples fato de estarem festejando poderia ser considerado um desleixo, mas levando em consideração que se a Armadura tivesse escolhido o vencedor da luta, Hélio, uma nova Guerra Santa poderia ter se iniciado, motivo para se comemorar era algo que não faltava.

Falando no jovem servo de Apolo...

Hélio foi abandonado ali mesmo na arena. Ninguém se importou com ele, estava tão mal quanto Fukano, mas ele era um inimigo, não se deve ajudar o inimigo, ele se deitou na arena e esperou, não sabia dizer pelo quê – talvez esperasse que todo o sangue saísse de seu corpo para que morresse de hemorragia –, mas apenas esperou. Não soube dizer quanto tempo ficou ali deitado apenas esperando, só sabia que era noite quando sentiu um cosmo muito familiar se aproximar.

Ele olhou para trás e viu uma pequena figura se aproximando com uma lamparina na mão, não conseguiu ver seu rosto, somente quando já estavam a menos de um metro é que pode ver quem era.

Fukano estava quase todo enfaixado e engessado, daria para confundi-lo facilmente com uma estátua de múmia, ele se sustentava com a ajuda de uma muleta, usava uma espécie de cinto, nele estavam presos uma bolsa de soro e outra de sangue – um péssimo sinal, por falar nisso –, e levava uma caixa presa em suas costas. Sem dizer nada, ele se sentou com dificuldade ao lado de Hélio, com a lamparina do lado, tirou a caixa de suas costa – uma caixa de primeiros socorros – e começou a cuidar de suas feridas.

Fukano não era um gênio, muito menos um médico, mas sabia cuidar de cortes e roxos. Eles não conversaram durante o “tratamento”, não sabiam nem o que falar um com o outro, mas se admiravam como guerreiros, isso era dito nas poucas trocas de olhares. Fez o que pode por Hélio, mais tarde convenceria seu pai a cuidar do rapaz.

Após receber a ajuda do pequeno virginiano, o servo de Apolo se levantou com uma leviana dificuldade e se colocou a andar para fora do Santuário. O menor se levantou o mais rápido que podia, tentando impedir o mais velho, que estava muito mal, este se desvencilhou e olhou com gratidão para o menor.

¬ Foi uma boa luta. - tentou iniciar um dialogo, era loucura ele sair do Santuário naquele estado.

¬ Igualmente. - o que o menor não sabia era que os companheiros de Hélio o esperavam do lado de fora do Santuário. - Devo admitir que você me deu trabalho, nunca esperei tamanha força de alguém como você, o que me prova mais uma vez que ainda tenho muito a aprender. - disse em tom de brincadeira. - Mas agora devo ir. Estão me esperando. - deu as costas.

¬ Não está bravo? - Fukano não queria deixá-lo ir antes de receber o tratamento adequado. - Você ganhou a luta. Deveria ser você a vestir a Armadura de Sírius, não eu, que cai em batalha. - o que não deixava, de certo modo, de ser verdade.

Hélio olhou para o virginiano incrédulo. Será que o menino não ouviu as palavras da Armadura? Até ele, que não foi escolhido, pode ouvir suas palavras, compreendê-las e aceitá-las por completo.

¬ Nunca. - ditou. - Você realmente a merece. As armaduras escolhem seus Cavaleiros e se ela te escolheu, quem sou eu para questionar? Se ela te escolheu, é porque você a conquistou, não só através de lutas, como também através da essência. - o menor estava branco pela atitude do mais velho, não estava acostumado a ver humildade num garoto da idade de Hélio. - Tem meu respeito como Cavaleiro, Fukano Amamiya, e espero que nos encontremos uma vez mais, não como inimigos e sim como amigos e aliados, em um futuro próximo, talvez, ou em outra vida, quem sabe? - o rapaz lhe estendeu a mão direita. - Mas devo dizer que, mesmo em meio as circunstâncias, foi um prazer lhe conhecer.

Fukano olhou a mão do rapaz por alguns instantes, antes de estender a sua esquerda e apertar a mão dele com igual força.

¬ Igualmente. - respondeu com um sorriso.

Fukano se sentou na arquibancada e assistiu o servo de Apolo sair do Santuário e de sua vida. Pouco depois sentiu um tapão da nuca e ao olhar pra cima, em busca da anta que lhe bateu, sabendo como ele estava, encontrou um par de olhos verdes esmeraldinos encarando-o com fúria e lágrimas.

O sermão que levou do virginiano mais velho foi tão grande, que ele quase se esqueceu o porque de ter ido até ali, mas era impossível esquecer que tinha saído de sua cama, sabendo que podia se machucar ainda mais só por tentar andar, para ir ajudar um amigo. Mesmo levando uma senhora bronca, o menino conseguiu sorrir.


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Notas finais do capítulo

Bem, apesar de meu atraso, eu espero que tenham gostado do cap ^.^

Bjs. L



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