Esse é o Meu Pai escrita por Virgo


Capítulo 15
Noticia


Notas iniciais do capítulo

Fui rápida dessa vez :)



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¬ Papa. - chamou. - Eu não tô me sentindo bem...

Fukano estava com a mão na cabeça, o corpo meio tombado, pele pálida, respiração entrecortada e cara de quem desmaiaria a qualquer minuto. Não era a primeira vez que ele reclamava de sua saúde, de inicio, Shun pensou que era uma gripe, mas agora estava com sérias duvidas, ainda mais depois de algumas reclamações que andou recebendo.

As professoras estavam reclamando de Fukano, que até então era um aluno exemplar, ele estava com sérios problemas de percepção e memoria, estava sempre dizendo que não enxergava e ouvia, as vezes parecia sofrer de demência, elas diziam que eram “surtos” momentâneos, mas ainda sim eram muito preocupantes.

Toda vez que o menino reclamava, lá estava o virginiano mais velho o examinando, mas, por mais que o examinasse, nada identificava, mesmo sendo médico. Queria levar o menino ao hospital de qualquer jeito, então esperou Ikki chegar para que pudessem ir.

Chegaram ao hospital em total desespero, pois Fukano tinha desmaiado poucos minutos antes da chegada do leonino. O pequeno estava reclamando de dor de cabeça e que não conseguia enxergar, depois disso saio correndo pro banheiro vomitar e desmaiou ali mesmo, sorte que não bateu com a cabeça em algum lugar. Assim que Shun, que estava em um estado até leviano de pânico, sentiu a cosmo-energia de Ikki, ele não esperou mais nada, só pegou os próprios documentos e os do menino, e desceu as escadas correndo com ele no colo e gritando para o irmão ligar o carro de novo.

Levaram o menino para o hospital onde Shun trabalhava, que ficava a poucos minutos da casa, e onde o menino foi atendido em poucos minutos.

Assim que o médico que cuidava de Fukano, um amigo de faculdade de Shun chamado Asuma, saio do quarto onde o menino estava com um pequeno sorriso, o virginiano não esperou que ele falasse nem nada, ele adentrou o quarto acompanhado do irmão. Shun abraçou o filho com força, este retribuiu o abraço e ria. Como todo pai que se preze, Shun ainda perguntou se o menino estava bem, se estava com fome, sede ou sono, se queria alguma coisa, se estava confortável, se foram educados com ele, se ele foi educado com os demais, entre outras perguntas um tanto quanto descabidas, bobas e, geralmente, desnecessárias. Todas as respostas a suas perguntas foram negativas acompanhadas de risos, por vezes constrangidos, por vezes alegres.

¬ Vai acabar sufocando o menino de tantas perguntas, Shun. Deixe ele respirar. - comentou o leonino com um sorriso. - Esqueceu que os membros da nossa família são duros na queda?

Fukano tombou a cabeça para olhar o tio que estava parado ao lado do batente da porta, o menino o olhava surpreso, era como se não tivesse o visto ali, ou melhor, era como se nunca o tivesse visto na vida. Aquilo era um pouco assustador, ainda mais com o olhar confuso e meio amedrontado que o menor sustentava.

¬ Quem é você?

A pergunta dirigida ao Amamiya mais velho fez o tempo parar naquele quarto. Como assim “quem é você”?

Ikki ficou em uma espécie de estado de choque por alguns minutos, chegando ao ponto de sua respiração se tornar quase nula. Ele não conseguia absorver as palavras do sobrinho em sua totalidade, mesmo assim, o pouco que conseguiu absorver o deixou se expressar, ele piscou algumas vezes, abriu a porta do quarto, que ele mesmo tinha fechado, e gritou por um médico com urgência.

Fukano foi levado para Emergência, onde começaram a realizar uma série de exames tão variados que mais parecia que estavam brincando com o menino. Os exames iam do clássico exame de sangue à uma tomografia. Foram horas esperando resultados e realizando mais exames, o menino já estava até cansado de ficar naquele zig-zag pelo hospital. Shun e Ikki ficaram para fora, “trancados” na Sala de Espera, não viram Fukano uma única vez nesse processo. Era um final de semana em que o virginiano estava de folga, eles pretendiam aproveitar esse tempo em família para viajar ou algo do gênero, mas por uma infame ironia do destino, lá estava ele em seu local de trabalho esperando o diagnóstico do próprio filho.

Passou-se horas – um dia inteiro – e nenhuma noticia, sinal de Asuma ou dos médicos que atendiam o menino. Os irmãos Amamiya já tinham passado a noite naquele hospital e já estavam se preparando psicologicamente para fazer isso novamente, quando Asuma apareceu, sua expressão era neutra, mas seu olhar era triste, até mesmo afetado. Shun se levantou em um pulo e correu até o amigo e colega de trabalho, ele estava desesperado por noticias, qualquer que fosse – mas de preferência boas noticias, é claro –, sobre Fukano.

¬ O que ele tem? - seu tom de voz expressava todo o seu sofrimento.

¬ Shun... - o homem nem sabia por onde começar. - Nós fizemos todos os exames possíveis em Fukano, e descobrimos que... - ele parou um pouco para tomar a coragem que necessitava. - Seu filho tem ALD. Ou adrenoleucodistrofia.

Shun sentiu-se a beira de um abismo sem fundo, de onde não havia saída, cura ou salvação, apenas trevas. Em seu trabalho como médico, já tinha presenciado diversas cenas como aquela, mas não tinha ideia do quão doloroso era, sabia que muitos já tinham estado do mesmo jeito e não acreditava em como essas pessoas tinham a coragem de dizer que, depois de um tempo, a dor não era tão ruim assim.

Ele estava com muito medo, respirava como se o ar lhe faltasse e chorava em silencio, mas chorava muito. E não importava quantas vezes fechasses os olhos ou quanta força empregava para fechá-los, só via trevas e solidão, queria acordar, queria que aquilo fosse um pesadelo e nada mais. Queria gritar pelo irmão, queria que este o salvasse, que o tirasse daquela escuridão, mostrasse que era só acender a luz e que nenhum mal o atingiria.

Sentia-se no fundo do poço, esquecido pelos deuses, só queria que alguém o salvasse. Não... queria que o filho, Fukano, fosse até ele e dissesse que estava tudo bem, que seguraria a mão dele e trilharia o caminho a seguir do lado dele.

¬ Prometo que faremos o possível e o impossível por ele. - Asuma ajoelhou-se ao lado do amigo caído, colocando a mão em seu ombro.

Muitos questionariam o porque de tanto drama. O próprio Ikki não estava entendendo nada, tanto que ele puxou o celular de última geração do bolso, acessou a Internet e procurou pela palavra usada pelo médico. Ao ler do que se tratava, ele deixou o celular cair e se “despedaçar” no chão.

A Adrenoleucodistrofia ou ALD, era uma doença genética rara, que geralmente era transmitida pela mãe e que só afetava os descendentes do sexo masculino. Era uma doença que afetava a produção de determinada enzima, a falta da enzima causava danos no cérebro, que por sua vez afetava o sistema nervoso de forma lenta e destrutiva. A “versão” clássica da doença era a que se encaixava na situação de Fukano, ela ocorria entre 4 e 10 anos, a expectativa de vida era de 10 anos. E o pior, Fukano já apresentava boa parte do sintomas. Problemas de percepção, disfunção adrenal, perda da memória, da visão, da audição e da fala, deficiência de movimentos de marcha, e demência grave.

Shun e Ikki nem mais ouviam direito, mas seguiram as ordens de Asume e fizeram alguns exames. Somente horas depois é que o virginiano pode explicar ao irmão que eles fariam testes para ver se a estrutura da medula óssea de Fukano era compatível com a deles, nesse meio tempo ele seguiria com o tratamento normal com hormônios, fisioterapia, apoio psicológico e, caso necessário, educação especial.

Seria mentira dizer que eles voltaram para casa dormir. A verdade mesmo foi que eles se “mudaram” para o hospital, pelo menos Shun, que trabalhava “normalmente” durante o dia e tarde, mas que passava o restante de todo o seu tempo livre ao lado de Fukano. Ikki, por outro lado, ainda voltava para casa uma vez ou outra, mas somente quando estava caindo de cansaço.

Quando os resultados finalmente chegaram, Shun saio correndo pelo hospital atrás de Asuma em pleno horário de trabalho, e quando o encontrou, quase o derrubou, sorte que tinha uma parede onde se apoiar.

¬ E então? - a indagação veio acompanhada de um leve desespero.

Asuma baixou o olhar e mordeu a língua, tentando se forçar a falar, o que não estava sendo nada fácil. Somente quando se sentiu ainda mais pressionado com a atmosfera criada pela aflição do virginiano e que se dispôs a falar.

¬ Nem vocês, nem ninguém no banco de dados é compatível. A estrutura da medula dele é única até o momento.

Se Shun se achava a beira de um abismo antes, agora, ele nem mais sabia onde estava. Ele sentou-se apoiado na parede e começou a rir de sua desgraça, aos poucos o riso foi se transformando em choro, o que atraio a atenção de muitos. Uma enfermeira, que estava sabendo de tudo, tratou de expulsar os curiosos, enquanto o virginiano era acalmado pelo amigo. Ikki chegou momentos depois, não foi preciso explicar nada ao leonino, o comportamento do irmão dizia tudo.

¬ Vamos continuar procurando, Shun. - Asuma tentava fazer o menor se levantar. - Seu filho ainda tem esperanças.

Esperança?! Ikki riu como o irmão e deu meia volta, em direção a saída daquela prisão. No caminho da saída encontrou três pessoas de quem não era muito adepto.

Shun já tinha contado aos amigos a situação de Fukano, e agora, quase todo santo dia, Shun, Hyoga e Shiryu iam ao hospital fazer companhia ao menino, que passava boa parte do dia sozinho. Não que ele não aprovasse a intenção deles, ele até apoiava, pois, se tratando do sobrinho, Ikki não via limites para nada, ele só não queria “esbarrar” neles, pois os três tinham o péssimo habito de serem "fofoqueiros".

Tentou passar reto por eles, mas foi nesse momento que comprovou uma de suas teorias.

¬ Ikki?! - ouviu a voz do libriano a chamá-lo.

Quanto mais você quer passar despercebido, mais você parece estar vestindo um colete laranja com os dizeres: “OLHA PRA MIM!!”. Já tinha sido descoberto, não adiantava mais nada mesmo, virou-se para os três e dirigiu-lhes a palavra.

¬ Digam ao Shun que eu vou fazer uma pequena viagem.

Ditou e deu-lhes as costas, dessa vez, sairia e não voltaria para dar satisfação a ninguém ou pegar suas coisas, que deixou naquele lugar. Sentiu seu braço ser puxado com certa violência, quase insatisfação, ao olhar quem era, ficou verdadeiramente surpreso ao ver Cisne.

¬ Eu me recuso a acreditar que você vai fazer isso! - parecia o francês ruivo falando. - Vai deixar seu irmão e sobrinho numa hora dessas para viajar?!

Aquelas palavras desceram secas pela garganta do leonino, que se desvencilhou com igual agressividade, retomando seu trajeto e proclamando sua vontade sem nem se quer olhar para trás.

¬ Eu não estou abandonando ninguém. - respondeu ácido. - Eu só vou fazer uma pequena viagem.


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Notas finais do capítulo

Eu espero que tenham gostado ^.^

Bjs. L



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