POV Lisbon

O som do despertador me acorda as seis e vinte da manhã. Hoje não tem como tirar mais cinco minutos de sono...

– Mamãe? – minha filha mais nova me chama na porta do meu quarto

– Bom dia, Melanie... Já acordou, meu amorzinho? – ela então anda até a minha cama e se deita, abraçando o travesseiro do pai

– Não consegui dormir... – ela diz – Eu não quero que você vá naquele lugar hoje – uma lágrima escorre no rosto dela, e eu levanto a minha mão para limpá-la

– Não chore, Mel... Eu e o papai, nós... – eu engulo um nó em minha garganta – Nós precisamos fazer isso... – ela começa a chorar – Mel, olha, a mamãe precisa que você entenda uma coisa, tá bom? – ela assente com a cabeça – Eu e o papai só vamos nos separar porque não estamos mais nos dando bem juntos. Mas ele sempre vai vir aqui e vocês vão poder ir ficar com ele, está bem? A única coisa que vai mudar é que não vamos mais morar na mesma casa.

– Eu não quero o pai morando em outra casa – eu escuto o meu mais velho na porta, e ele logo se dirige à cama

– Bom dia, Josh.

– Bom dia mãe, bom dia Mel – ele se deita e abraça a irmã – Mãe, não tem nada que a gente possa fazer para o papai voltar?

Eu suspiro... Como explicar para um menino de doze anos e uma menina de cinco que os pais estão indo até o tribunal para se divorciarem?

Já foram muito complicados os últimos três meses, desde que Patrick e eu brigamos e ele saiu de casa.

A pior parte foi ter que contar para as crianças no dia seguinte... Contar que o pai delas não voltaria para casa naquela noite, e talvez... Talvez que ele nunca voltasse.

“Porquê mamãe, o papai foi viajar?” Melanie me perguntou

“Não, querida... O papai e eu nos desentendemos e...” eu engoli seco “e o papai ficou muito bravo e decidiu ficar um tempo fora, para pensar”

“Então vocês se separaram?” perguntou Josh e eu assenti com a cabeça e lágrimas nos olhos “Por quê? Qual foi o motivo da briga?”

“Isso não vem ao caso, Josh” eu tento não me lembrar o motivo...

– Mãe? – Josh me puxa dos meus pensamentos

– Não, querido... Não tem nada que vocês possam fazer.

– E o pai vai ficar com a Kim? – ele pergunta

– Josh! – eu o repreendo. Falar isso na frente da irmã dele?

– Desculpa... – graças a Deus, Melanie parece achar mais interessante brincar com meu cabelo

– Precisamos nos arrumar. Eu vou deixar vocês na casa do vovô Virgil...

– Eba! – exclamou Melanie – Vamos ver o vovô! – e ela e Josh saem correndo para seus quartos para se arrumares

– Josh, ajude sua irmã, por favor! – eu grito

Sem pensar muito no que estava a minha frente, eu entro no banho e fico lá por alguns minutos.

Tento fazer tudo no piloto automático, mas quando paro em frente a cama de casal, pronta para colocar uma blusa de frio, eu me lembro de como eu o acordava pelas manhãs, antes do trabalho.

“Levanta dorminhoco” eu dizia enquanto espalhava beijos suaves em seu rosto “Se não levantar agora vai acabar indo trabalhar atrasado e fedido” eu brincava

“Atrasado eu não me importo” ele respondia sonolento “mas fedido sim... Sabe?! Tem uma morena de olhos verdes lá, que eu estou tentado conquistar” ele dizia me fazendo rir e corar.

Mas agora nada daquilo acontecia... Sem resistir, eu me deito do lado da cama dele e abraço o seu travesseiro.

Já nem tinha mais o cheiro dele. Tinha cheiro do sabonete de flores que eu usava e tudo aquilo fez com que meus olhos começassem a derramar lágrimas.

– Mãe, estamos pr- Oh, droga! Eu limpo as minhas lágrimas rapidamente na esperança que Josh não as visse. Mas, lógico, já era tarde demais...

– Já estão prontos? Que ótimo, filho! Obrigada por ajudar sua irmã – sem dizer nenhuma palavra, Josh vem e me abraça forte, para me consolar.

Ele é como eu. Na aparência e na personalidade... Não gosta de demonstrar sentimentos abertamente, é muito disciplinado e se importa com os outros.

Eu acaricio os cabelos pretos dele, e deposito um beijo no topo de sua cabeça.

– Vai ficar tudo bem! – eu digo

...

Fiz panquecas para o café da manhã, e assim que as crianças terminaram de devorá-las, fomos até a casa de Minelli.

– Vovô! – gritaram os dois saindo do carro

– Ah... Meus amores! – eu o ouço dizer e então desço do carro para cumprimenta-lo – crianças, por que vocês nãos vão indo lá pra dentro cumprimentar a vovó pra eu conversar com a mãe de vocês, hein? – e eles o obedecem, correndo até a casa.

– Oi – eu falo timidamente – Obrigada por ficar com as crianças...

– Não precisa agradecer, Teresa. Eu não iria querer que ela fossem ao tribunal com você.

– Obrigada! – meus olhos já começam a marejar apenas por imaginar a conversa que viria a seguir

– Olha, sei que você não quer falar sobre isso, mas... Saiba que se precisar de alguém para mata-lo e fazer parecer acidente, eu posso cuidar disso – ele brinca fazendo-me rir

– Vou pensar a respeito...

– Não quer entrar e comer alguma coisa? Mary preparou um bolo agora mesmo...

– Não. Não dá tempo... Preciso estar lá no tribunal daqui a quinze minutos.

– Bem, então quando sair de lá e vier pegar as crianças, nós podemos preparar um lanchinho.

– Está bem! Obrigada, Virgil...

– Por nada, minha filha – ele diz enquanto me abraçava forte

Assim que nos apartamos do abraço, eu me despeço e entro no carro, indo em direção ao final do meu casamento com Patrick Jane.