A Guerra dos Imortais escrita por Cora, O Raposa, Camille M P Machado, PinK Ghenis, Mr Viridis, Mr Viridis, Julia, H M Stark, SuzugamoriRen, Joko


Capítulo 11
Capítulo 11 - Nikoletta


Notas iniciais do capítulo

OI GENTEM!!! Aqui é a Cora, FINALMENTE MAIS UM CAPÍTULO MEU, WEEEEE.
Espero que gostem, esse foi o maior até agora e a tendência é que todos aumentem a partir de agora.
Espero que gostem, mamãe ama vocês



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Ela sentou na poltrona do avião e olhou para fora. Odiava viagens internacionais, mas amava a sensação de estar acima das nuvens, totalmente distante da realidade. Havia algo muito íntimo em viajar de avião, algo muito próximo a voltar para casa depois de anos longe. Sempre pegava os voos mais longos, queria aproveitar o máximo possível.

Olhou a tela do celular mais uma vez. Não havia nenhuma ligação e isso era estranho. Erik sempre ligava para ela quando os dois discutiam. Ligava milhares de vezes e a atormentava com mensagens de voz e de textos. Mas não havia nada, nem sequer um maldito sinal de vida.

Nikoletta suspirou, sentia-se culpada e com raiva. Não era comum eles discutirem, ela sempre evitava as brigas dentro de casa, mas o que mais poderia ter feito?

Não conseguia acreditar que ele tinha dado um tapa nela, não podia aceitar. Tinha sido a esposa perfeita durante anos e era assim que ele a tratava? Como uma maldita escrava? Não. Ela não toleraria uma coisa assim, não sem bater o pé e vê-lo implorar para que ela voltasse, não enquanto ele não ligasse para ela e jurasse que mudaria. Então ela ficaria uma semana na casa dos pais, para torturá-lo um pouco, e voltaria para casa. Para seu marido. Para a vida que estava consumindo o tempo que ela tinha. A casa era grande e confortável, ela não tinha do que reclamar. Vivia muito bem para uma assistente social que cuidava de crianças órfãs e que foi criada em uma casa pequena. Ela mantinha tudo sempre limpo e organizado demais, não gostava das coisas fora do seu controle.

Porém era exatamente isso que sua vida estava se tornando.

Tinha 20 anos quando se casou. Conheceu Erik Sullivan em um almoço, ele era advogado. Trabalhava para uma família que queria adotar uma menina, porém houvera alguns problemas burocráticos...

Claro que por fim tudo havia dado certo. Nikki tinha certeza que nunca mais veria Erik, mas ele ligou para ela no dia seguinte e marcou um encontro. Levou um ano e meio para se casarem. A família Sullivan era tradicional e muito influente, queriam a esposa perfeita para o filho, alguém que pudesse levar o nome da família a diante.

Nikoletta era grega, ela, a irmã mais velha e os pais, haviam saído da Grécia quando ela era uma garotinha e viveram nos Estados Unidos por muitos anos. Mas Nikki mantivera sua cultura. Até mesmo o sotaque permanecia forte. Tinha muito orgulho da sua origem.

Anna e Giorgos Benaki voltaram para a Grécia fazia três anos. Nikki sentia muito a falta dos pais. Mas sentia ainda mais a falta da irmã, que estava trabalhando como Médica em algum país da África que ela não conseguia lembrar o nome.

Estava sozinha.

Erik tinha sido um bom marido. Paciente, gentil, divertido. Porém nos últimos anos o casamento tinha desandado. Estavam juntos há oito anos, completariam nove daqui dois meses. Mas eram completos estranhos. Nos dois primeiros anos havia sido fácil, simples demais. Ela sempre esperava por ele com a comida feita e a roupa lavada. Faziam amor quase todas as noites, e Erik sempre levava presentes para ela, mas então as coisas ficaram cansativas. Um dia Nikki disse a ele que queria um filho. Era o grande sonho da vida dela, ser mãe. Achava que dois anos de casamento era o suficiente e que ela queria muito ter um bebê.

Mas o marido falou que não. Ele não queria filhos, nunca quis. Disse que estavam felizes assim, pra que colocar um filho nesse mundo? Não, ele dissera, eu não quero. É só mais uma boca para alimentar, só mais um problema para lidar. Não importa se você é a mulher, eu não quero filho nenhum. Se você engravidar, eu fujo de casa e peço o divórcio. Erik disse que nunca mais queria que ela tocasse nesse assunto, e depois de meses discutindo, ela desistiu.

Os sorrisos se apagaram e o sexo, que na opinião dela sempre fora sem sal, agora raramente acontecia. Ela chegava cedo em casa, fazia questão de deitar-se sedo para não ter que falar com o marido e durante a manhã trocavam somente algumas palavras. Nikki estava se afogando no trabalho e Erik também.

No ano anterior ela tentara de tudo para acender a relação. Fizeram terapia, mas sempre que voltavam para casa depois da sessão, brigavam. Nikki queria um filho, tinha até comprado lingeries novas e se vestido com fantasias extravagantes, mas não adiantou de nada.

Então ela simplesmente desistira.

Vivia com medo que ele a traísse. Com medo de que ele pedisse o divórcio. Mesmo com tudo, não queria se separar. Ainda mantinha esperanças que ele pudesse mudar, talvez, só talvez, Erik Sullivan percebesse o quanto àquela decisão era idiota. Mas parte dela sabia que isso nunca aconteceria.

Mergulhou fundo em uma tristeza amarga. Sempre havia se considerado uma mulher bonita e sensual, mas agora duvidava. Será que não era suficiente? Pensou em si mesma, a imagem da pele levemente dourada, como se ela sempre estivesse em baixo do sol, dos cabelos vermelhos como fogo ardente e dos olhos castanhos como avelãs, ela parecia exatamente como era antes de se casar. Não, não exatamente, agora as curvas do corpo estavam mais acentuadas. Graças à perda da virgindade, Nikki tinha ganhado mais quadris e seus seios estavam mais fartos. Maiores do que a média das mulheres gregas. As coxas também estavam mais grossas, não de forma exagerada, mas a diferença era nítida. Será que isso tinha descontentado Erik? O fato de que Nikoletta não era mais tão magra quando antes?

Ela nunca acreditara no amor, mas sim no respeito. E o marido não a respeitava mais. Não contou para a mãe o que estava acontecendo. Não contou para ninguém além do terapeuta de casais. Fingia que era a esposa perfeita nas reuniões de família, representava muito bem seu papel e então voltava para casa, tomava um banho e ia dormir se perguntando o que havia feito de si mesma.

Tinha crescido em uma família muito bem estruturada. Talvez por isso ela sempre buscasse a perfeição em tudo, principalmente em seu casamento. E talvez por esse mesmo motivo não conseguisse aceitar as atitudes de Erik, ele não era o marido que sempre desejou ter. Não eram como os pais dela, unidos, felizes.

Nikoletta sentiu o coração apertar. Sempre sentiu falta de algo em sua vida, algo que nunca conseguiu explicar. Pensou que era alguém do seu lado, mas depois de casada as coisas só pioraram. Talvez fosse a necessidade de ter um filho, mas esse sentimento sempre a tinha perturbado, antes mesmo de pensar em casamento e homens.

Céus, o que estava fazendo? Não conseguia mais encontrar o homem com quem tinha se casado, o gentil e romântico Erik que tinha levado rosas em seu segundo encontro. Que tinha segurado a mão dela no dia que se casaram, que tinha perguntando baixinho, logo depois de terem feito amor, se ele a tinha machucado. Esse mesmo homem praticamente a tinha estuprado na noite anterior, exigindo o que ela não podia dar.

Nikoletta sentiu vontade de chorar enquanto as lembranças voltavam sem que ela pudesse impedir. Fechou os olhos e pode ouvir o som que a cama fazia enquanto ele se aproximava, cheirando a bebida. Então sentiu um par de mãos frias puxá-la devagar.

– O que está fazendo? - a voz dela pareceu fria e cruel. Erik se enrijeceu, com raiva.

– Estou tocando minha mulher – respondeu ele de supetão, a voz irritada – O que mais estaria fazendo?

– Pois não quero que me toque. Estou cansada e quero dormir.

– Você sempre está cansada, Lette.

Nikki serrou os dentes. Odiava quando a chamavam assim. Odiava que ele a chamasse assim.

– Não comece, Erik.

– Não comece o que, Lette?

– Isso – disse com raiva – não me chame assim. Merda, me deixe.

Ele não a largou. Do contrário, os dedos finos desceram a abertura da roupa, tocando a pele quente da barriga. Nikoletta tentou se afastar, mas ele segurou-a com força no lugar. Deixou que a tocasse, pensou que se ele brincasse um pouco, talvez a deixasse em paz. Ela esperou que Erik a beijasse, mas não aconteceu. Fazia muito tempo que ele não fazia mais isso, muito tempo desde que foi beijada pela última vez.

Do contrário, ele apertou o corpo contra o dela.

Montou por cima de Nikoletta e explorou o corpo com as mãos, a boca. Quando ele começou a tirar-lhe a roupa, ela protestou mais uma vez, mas foi vencida pela insistência do marido. Não usava nada por baixo da camisola. Nem calcinha ou sutiã. Achava muito incômodo usar tais coisas enquanto dormia. Na verdade, odiava usá-las em qualquer momento. Porém sabia que não era correto ficar sem nada.

Erik estava excitado quando tirou a roupa, ela não.

Doeu quando ele a penetrou, cavalgando como um cavalo enquanto Nikki sentia uma tristeza profunda. Chorou quando ele deitou, exausto, ao seu lado. Ela, porém, virou o corpo para o outro lado e chorou ainda mais.

Quando acordou, ainda era muito cedo. O sol não havia nascido e a casa estava escura e fria. Ela se levantou da cama, olhando para o marido e para si mesma. Estava cansada. Nunca mais queria ser tocada outra vez. Nunca mais permitiria que um homem a machucasse daquela forma. Sentia uma leve pontada na região íntima, ela se surpreendia que Erik não percebesse que ela não estava pronta para o sexo. Talvez nunca mais estivesse.

Já que ele não queria filhos, talvez o destino a tivesse deixado estéril.

Começou a chorar outra vez.

Sem perceber, com a visão turva pelas lágrimas e pela escuridão do quarto, Nikki recuou. Raiva borbulhava de seu interior enquanto ela dava um passo de cada vez, indo em direção a uma prateleira cheia de objetos dela. Sentiu as costas batendo contra o móvel, as mãos encontraram um objeto frio e liso. Ela reconheceu o que era, a pequena estátua em forma de deusa que havia ganhado de sua mãe pouco antes de se casar.

Que a deusa do matrimonio a proteja, querida. Ela abençoará sua casa e te fará fértil para construir sua própria família. Lembre-se de quem você é. De onde você veio. Os deuses nunca se esquecem dos seus filhos...

Quem ela era?

Quem Nikoletta Benaki era?

Ninguém. Nunca soube encontrar uma resposta, nunca conseguiu se sentir verdadeiramente alguém. Sempre perdida, não importando para onde fosse, sempre estranha, sempre vazia. Mesmo quando todos a olhavam com admiração por seu trabalho, por sua calma, por sua paciência. Era sempre tão perfeccionista. Sempre tão detalhista em tudo que fazia. Cuidando de tudo e todos quando na verdade era ela quem deveria ser cuidada...

Segurou a estátua e jogou-a contra a parede. O barulho alto do mármore se quebrando assustou Erik, que acordou com um pulo. Era difícil lembrar tudo que tinha acontecido depois daquilo, parecia que a mente de Nikki estava coberta por uma névoa branca, imagens dela gritando e jogando inúmeros objetos no marido, enquanto ele gritava de volta, insano, os olhos brilhando de raiva e medo.

Era como se não fosse ela, como se um filme passasse dentro de sua cabeça e ela fosse uma espectadora, não a protagonista. Nem sequer lembrou da dor que a mão de Erik provocou em seu rosto, quando ele a esbofeteou com força, fazendo-a recuar contra a parede.

Só lembrava de segurar a mala e entrar dentro do taxi, indo em direção ao aeroporto.

Nikki estava tão presa em seus pensamentos que não notou a figura que tinha se ocupado a poltrona ao lado da dela chegar.

Ele estava incomodado; não conseguira o assento da janela. O ar era sua primeira casa. Agora mais do que nunca.

Num dia, um simples humano rico com problemas com o pai, sem compromisso com nada. No outro, um deus grego. E não apenas "um" deus grego, mas "o" deus dos deuses. Zeus, Senhor do Trovão!

Uma dor aguda gritou sob sua grossa e rosada cicatriz; uma lembrança constante do quão idiota ele era.

Ao massagear a têmpora, virou levemente a cabeça para o lado, estudando a mulher que tomara o lugar que era de seu profundo desejo. Sentia-se quase claustrofóbico naquele banco do corredor.

A mulher estava acordada, mas distante, muito distante. Tão imersa em devaneios que não percebeu que Roman a encarava diretamente. Aqueles cabelos... Os olhos... A ingenuidade estampada em seu frágil rosto, misturada a uma ferocidade contida.

Roman levantou discretamente a manga do braço esquerdo, revelando a tatuagem de uma mulher bela, porém, tímida a seu ver. Aquele rosto tênue estampado entre o açoite dos raios naquela noite infeliz. Era ela! Eram idênticas!

Ele virou seu olhar para a mulher outra vez. Mesmos olhos, mesmos cabelos ruivos e curtos, mesma expressão. Quais as chances daquilo acontecer?

Um arrepio fez Nikki virar o rosto e encarar a figura que se sentara ao seu lado. Os olhos cor de chocolate fixaram-se em poças de um tom acinzentado muito profundo e assustador. Uma sensação muito forte percorreu seu corpo, sentiu medo, insegurança e também desejo. Quem diria. Havia algo naquele desconhecido que rompia com tudo o que ela acreditava, algo que a fazia sentir-se envergonhada.

– Você não deveria encarar os outros assim - disse ela de forma brusca, desviando os olhos para o manual de segurança da aeronave - Não sei se sabes, mas é falta de educação.

Roman sustentou seu olhar confuso, porém, acusador.

Então apertou as pálpebras.

– Qual é o seu nome? - Perguntou, com a voz áspera.

– Desculpe, mas você está sendo muito impertinente.

– Não se faça de boba - sussurrou Roman, bruscamente. - Conheço esse seu olhar carregado de pureza. Sei o que esconde por trás disso. Eu vi! As luzes... Elas me revelaram! - Seu tom era baixo, porém, duro como uma rocha.

"Estúpido! O que você está fazendo?!" advertiu-se. Ela era a única pessoa que podia confirmar sua visão. E a bebida estava estragando tudo; mais uma vez, como um tumor em sua vida.

– Como? Desculpe meu caro, mas não estou compreendendo você. Nunca te vi antes.

– Viu! Não sei o que você fez e não sei "porque" você fez. Mas você está metida nisso. Eu te vi!

"Idiota, cabeça dura!" ele bradava dentro de sua própria mente. Era como se a bebida fosse um demônio em posse de seu corpo.As pessoas temem o que desconhecem. Seu desespero é tão grande a ponto de desafiar alguém completamente estranho. Não há limites para a insanidade.

– Se não parar de agir como um louco, eu vou chamar a aeromoça e pedir que se retire de perto de mim! - esbravejou ela - Não vou aturar um maluco bêbado do meu lado, pode apostar!

"Não... Não pode ser... Eu a vi!" insistiu em seu recanto insano. "As luzes... Elas revelaram! Ela era... Não... Por quê?"

Roman fitou a janela, à procura de algo. O que? Uma resposta? Não... Conforto... Sim... Uma calmaria invadiu seu coração ao imaginar o vento açoitando as asas do avião, os pássaros cortando o céu graciosamente, os campos verdejantes, prometendo uma colheita abastada.

“Ela não sabe. Ela... Ela deve estar na mesma situação que eu após os raios... Sim..."

Foi então que ele percebeu que ela o encarava, esperando algum tipo de resposta. Que louco ele parecera! Gritando com ela, bêbado e então espairecendo subitamente, fitando a paisagem e imergindo em devaneios.

"Estou na beiro do abismo insano. Um passo e estou perdido" disse para si mesmo. Era uma frase constante em sua vida.

– Não... Não precisa chamar ninguém - respondeu incerto. - Eu só... Desculpe-me, ok? Eu... Exaltei-me um pouco e...

– Um pouco?!

Roman abriu um sorriso esbelto, que contrastava tanto com sua aparência ébria que era algo inteiramente surreal. Fazia tempo que não sorria assim.

– É verdade, eu exagerei bastante. Permita-me compensá-la por isso, senhorita...

– Nikoletta - Ela não conseguiu conter o sorriso, aquele homem parecia um grande imã, como se cada gesto dele controlasse os dela em resposta - mas pode me chamar de Nikki.

Ela olhou para ele, mas desta vez olhou de outra forma. Notou que além dos olhos misteriosos, os cabelos dele eram brancos e não loiros como supôs antes. E havia uma cicatriz no lado direito do rosto, não que isso fosse algo ruim, mas dava uma sensação de perigo e sensualidade ao rosto anguloso.

– Hum... Nikoletta... - Roman saboreou o nome por meio segundo antes de prosseguir. - Um nome lindo. Diferente. - Roman acenou para a aeromoça. - Um suco de... O que você prefere, Nikki? - Ele repetiu seu apelido apenas para senti-lo vibrar em seus lábios. Ela era "mais" do que apenas a mulher daquela visão.

– Não, obrigada - um leve rubor coloriu as bochechas dela- Você não me disse seu nome.

– Deuses! - Proferiu, com um sorriso dançando entre seus lábios. - Ah, eu vou querer um suco de caju, por gentileza - respondeu à aeromoça, dispensando-a. Então tornou a encarar aquela floresta que residia no olhar da ruiva. - Roman. Roman Daniels - disse, estendendo a mão para ela.

– Prazer. - o toque das mãos gerou uma corrente elétrica que cruzou o corpo de Nikki, fazendo-a se arrepiar. Ela sentiu um calor subir pelas faces, a pele macia parecia murmuras para ela palavras de conforto, promessas de coisas que ela nunca se imaginou sentir. Afastou a mão com rapidez. O que diabos aquele homem tinha que estava fazendo a cabeça e o corpo dela saírem do controle e da razão? - Roman, tenho a sensação que o conheço de algum lugar... Não, não, desculpe. Acho que me lembraria do seu rosto. Você não é advogado, é?

– Hum... Definitivamente não. Desafio a acertar o que eu faço. - Seu olhar estudava cautelosamente qualquer mudança no rosto daquela bela mulher. Aqueles curtos cabelos tão rubros quanto sangue, aqueles olhos penetrantes, mas evasivos, aquela expressão frágil, como se tocar nela a quebrasse. Tudo contribuía para a imersão num mundo perigoso, muitas vezes mortal.

A aeromoça voltou e Roman nem se deu conta de tal.

– Senhor - ela precisou chamar. Foi de uma dificuldade extrema desviar o olhar de Nikki. - Aqui está o seu suco - a mulher disse, após Roman finalmente se virar para ela.

Ele pegou o copo descartável, deu um longo gole e voltou a encarar a ruiva.

– Você costuma encarar as pessoas assim, Roman?

– Normalmente, não. Eu gosto de apreciar as belezas que o universo nos impõe - disse, sorrindo. Era impossível dizer que esse mesmo homem estava bêbado momentos antes e a acusava de algo completamente insano!

"Estou na beira do abismo insano. Um passo e estou perdido" repetiu para si.

– Vamos, adivinhe, o que eu faço? - Insistiu, estudando o contorno daqueles lábios tão convidativos quanto a pétala de uma rosa.

– Ahn - ela sentiu-se envergonhada - Não sei. Médico? Bombeiro? Policial? Halterofilista?

– Halterofilista - Ele repetiu confuso. - O que um halterofilista faz, senhorita? E você errou.

– Ahn, você sabe. Exibem o corpo, os músculos... - Nikki começava a ganhar tons mais fortes do que o vermelho agora - Não sei se notou, senhor, mas seu braço tem a circunferência da minha cintura. Pra que se preocupar tanto com a aparência? Enfim, não faço ideia.

Ela sorriu - Diga-me, o que faz? Fica encarando mulheres em aviões e roubando a virgindade de damas indefesas?

– Não acho que você seja tão indefesa assim. - Roman tomou mais um gole do suco. Gelado e doce. Perfeito. Ele estendeu o copo para ela, interrogando-a com os olhos.

– E nem virgem, se me permite acrescentar. Muito longe disso - ela aceitou o copo de bebeu sem tirar os olhos dele.

– Então suponho que não seja tão ingênua quanto os seus olhos transmitem. Experiente, bela e perigosa. O que é você, uma deusa? Grega ainda devo acrescentar. - Seu sorriso abriu-se largamente. Os olhos cinzentos cintilaram, à espera. As cartas foram lançadas. Ela sabia ou não sabia o que estava acontecendo?

Deusa. As palavras dançaram em sua mente, quase como se fosse uma verdade não revelada.

– Grega, sim. Nikoletta Benaki é de origem grega. Estou voltando para casa - graças ao meu marido idiota, pensou - Não faça elogios à toa, Roman. Eu não estou disponível para você. - infelizmente, quase acrescentou.

Ele percorreu as ondas sangrentas daquele mar calmo que a coroava.

"Uma coroa para uma rainha" pensou.

– Não está disponível, você diz. Hum... - Ele a encarou nos olhos outra vez. A sugestão de um sorriso brotou em seus lábios. - Não vejo uma aliança.

– Eu... - ela tinha se esquecido de que praticamente jogara a aliança dentro da gaveta. Nikki quis que ele soubesse o quanto ela estava brava, mas não deveria ter deixado à aliança em casa - Eu e meu marido estamos brigados. Estou voltando para casa para dar um tempo. Nós discutimos muito por que... Esqueça. - Olhou para a mão, a marca do anel dourado estava ali - Mas ainda sou casada.

Roman vacilou por meio segundo. Mas tornou a sustentar a confiança. Investiu outra vez.

– Diga... O que aconteceu? Ouvi dizer que é importante falar. Ajuda a espairecer. Casamentos são complicados. Não deveriam ser tratados com a banalidade de hoje em dia. Há uma solução para você e seu marido. - A palavra "marido" pesou em sua boca, amarga. - Sempre há. Vamos... Ponha tudo para fora, Nikki. - Ele repetiu seu apelido como que em desafio. Uma afronta à intimidade súbita.

– Erik é... amargo. Nós casamos há oito anos, eu era jovem e tola e ele era um homem de família rica e influente. Eu queria um bebê e ele disse que se eu aparecesse grávida, sumiria. O homem que me casei era uma farsa, até mesmo na cama. Faz mais de um ano que nem sequer mantemos uma conversa por mais de 30 minutos - Nikoletta suspirou pesadamente. Parte dela achava loucura contar essas coisas para um estranho, mas havia uma parte que não ligava. Era quase impossível negar algo para aquele homem - Saí de casa porque me sentia sufocada. Infeliz e insatisfeita.

Quanto mais ela falava, mas o Roman da vida real se esvaía. Sua mente vagava para outro lugar. Um mundo compartilhado só por eles dois.

– Ele não te merece. Ele não merece encarar esses olhos castanhos, como a hera que sobe pelos muros das casas, toda manhã. Ele não merece tocar nesses cabelos de fogo. Ele não merece essa sua complexidade misteriosa. E eu sei que você sabe disso. Diga-me... Você nunca sentiu que seu lugar não era ali, nem com ele nem fazendo o que você faz no trabalho? Você nunca se sentiu... Deslocada? Nunca sentiu uma expectativa? Uma sensação de que algo estava para acontecer e então, de repente, nada... Nunca?

Claro que ela se sentira assim, diversas vezes. Quando era pequena e olhava os pais e a irmã mais velha, tão diferentes dela, completamente distantes dessa sensação de estar longe de casa. Mesmo na escola, quando foi eleita a rainha do baile de formatura, quando se casou e fez sexo pela primeira vez. Ela sempre acreditou que esse vazio seria preenchido por alguma coisa, mas sempre que alcançava, a sensação apenas crescia. Nikki olhou para as próprias mãos. Como um estranh podia entender o que nem ela entendia? Não era mais uma adolescente, não deveria mais sentir-se assim, mas sentia. E cada dia que acordava, rodeada de uma vida infeliz e em uma casa que não era sua, em um mundo que não parecia ser dela, sentia tristeza. Sentia medo, dor.

– Como você sabe? - perguntou ela. Desta vez olhou fixamente para Roman, os olhos intensos dele, tão cheios de mistério, expectativas, promessas... Ela sentiu como se sempre o conhecesse, como se soubesse que somente ele entenderia. Olhou para o rosto, o contorno dos lábios, e um pensamento nada inocente passou pela cabeça dela - Como...?

Aqueles lábios... Ele não deu atenção pro que ela disse. Não deu atenção à aeromoça que oferecia algo que provavelmente ele recusaria educadamente. Não deu atenção ao mundo que acelerava através da janela. Apenas lábios. Macios? Não sabia. Só havia uma maneira de descobrir.

E quando avançou vagarosamente, saboreando aquele instante tanto quanto podia, percebeu que pela primeira vez estava fazendo algo que saciasse aquela expectativa indomável que fervia em seu coração.

Ainda conseguiu murmurar um "não sei" antes de seus lábios tocarem os dela como uma onda alcança a praia: suavemente, porém, não desprovida de fervor, quente, aconchegante. Sua mão viajou até a bochecha de Nikki e afagou-lhe o rosto, seus dedos vagaram pelo pescoço sedoso e convidativo e penetraram nas chamas que eram aqueles cabelos sangrentos. Sua mão a prendia pela nuca enquanto seus lábios faziam o resto do trabalho.

Sentia-se como... Como um deus.

O coração da mulher saltou em seu peito. Correntes elétricas percorrendo cada parte do corpo dela como se tivesse sido atingida por um raio. Não pensou, era incapaz de pensar estando tão próxima dele, tão tentadoramente próxima. A pele parecia derreter sobre o toque das mãos firmes, os dedos longos deslizando pelo rosto corado, depois pelo pescoço... Fechou os olhos, os lábios dele eram quentes, deliciosos e habilidosos. Ela, que sempre se orgulhou de manter o controle das situações, mal podia se lembrar de como respirava. Estava agindo como uma tola, uma completa idiota e inconsequente, mas ao mesmo tempo se importar com algo que não fosse aquela boca parecia impossível. Por um segundo lembrou-se do marido. Erik nunca a beijava assim, sempre era distante, sempre evitando tocá-la com as mãos. Ela sempre sentiu que parecia errado ser beijada, tinha fugido disso nos últimos anos... Fazia o quê? Dois anos? Três? Não se lembrava mais de quando um homem a tinha tocado com tanto cuidado e devoção. Estava extasiada. Nikki queria tocá-lo, que os deuses a perdoasse, mas não podia evitar. Passou as mãos pelos cabelos brancos e puxou o rosto de Roman o mais perto possível, mesmo enquanto o beijava parecia distante demais...

Céus, ela estava enlouquecendo. Afastou-se dele.

– Não - sentiu vontade de chorar - Isso não está certo - mas não era isso que seu corpo dizia.

Roman recuou na poltrona. A aeromoça havia partido, constrangida provavelmente.

– Desculpe... Eu... - Ele mais uma vez virou seus olhos para os dela. - Bem... Não vou dizer que não devia, pois acho que o que nos faz feliz nunca deverá ser tido como errado, mas... Desculpe. - Dito isso, se levantou e caminhou, confuso, até o banheiro.

Nikki sentiu vontade de chorar. Que diabos, ela estava fazendo o que era certo, não estava?

Fechou os olhos e acomodou-se na poltrona. Antes que ele voltasse, ela acabou dormindo. Perdida em sua mente, sonhou com um homem de cabelos brancos e olhos acinzentados, que segurava raios nas mãos e comandava o céu.

Roman apanhou um pouco da água da torneira com as mãos em concha e lavou o rosto. Os tênues fios brancos foram atingidos levemente, caindo sobre seus olhos.

"É ela... Ela é... Quais as chances disso acontecer?" pensou, enquanto saía do banheiro, decidido a confrontá-la.

– Acho que eu sei exat... - Não completou a frase. Nikki dormia como um anjo. Ele não ousou fazer nenhum barulho. Como ela era bela ali, dormindo, tão frágil... Tão... deslumbrante!

E assim foi durante toda a viagem: ela dormiu, ele a observou.

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Primeiro ela sonhou com um homem sentado em um trono de mármore branco. Este homem segurava um raio enorme, com fios dourados e energia pura correndo pela mão e o corpo, uma corrente de eletricidade que deixava o ambiente pesado.

Então ela sonhou com vacas.

As criaturas enormes pastavam ao redor dela, enquanto uma versão de Nikoletta vestia uma túnica branca e segurava uma fruta que ela reconheceu na hora. Uma romã. Não sabia dizer como reconhecia algo que nunca tinha visto. Mas sabia. Assim como sabia que estava sonhando.

Depois a cena mudou e ela estava gritando. Havia um homem na frente dela, deitado em uma enorme cama e com braços e pernas em volta de uma mulher de cabelos castanhos. Nikki sentiu raiva, dor. Gritava coisas que não entendia e chorava.

Foi com esse sonho que ela acordou, horas depois.

O avião estava pousando e ela, com a cara amarrotada do sono, tentava lembrar de onde estava. As cenas ainda preenchiam a mente mortal e Nikoletta sentiu algo estranho, uma dor que surgia enquanto as imagens se apagavam.

– Senhorita - sussurrou Roman ao pé do ouvido de Nikki. - Acorda, senhorita. chegamos.

Nikki acordou aos poucos, fitando os olhos de Roman, a cor cinzenta dos olhos dele trouxe uma sensação de reconhecimento.

– Uhn? - perguntou ela enquanto esfregava os olhos.

– Chegamos, Nikki - repetiu, enquanto se levantava.

Roman ajudou-a a se erguer e se pôr no corredor, acenando para que ela passasse.

Os dois saíram do avião e foram buscar as malas. Nikoletta trouxera somente uma mala média, com o básico, pois sabia que suas antigas coisas ainda estavam no quarto que seus pais separaram para ela. Pensou em pegar suas coisas e sumir antes que ele tivesse tempo de falar com ela, mas a mala de Nikki foi umas das últimas a aparecer na esteira.

–Droga - murmurou ao ver que Roman a esperava próximo a saída.

Ele não carregava nada. Não gostava de levar malas por aí, e como dinheiro era o que não lhe faltava, decidiu que compraria as roupas na Grécia mesmo. Entre outras coisas que precisasse.

– A luz do sol faz seus cabelos inflamarem-se mais ainda. - Ele respirou fundo, olhou em volta e tornou a direcionar sua visão para ela. - Um belo dia para uma caminhada por aí - disse, lançando uma indireta quase direta.

– Uhn, acho que não - disse enquanto pegava o celular e começava a ligar para casa.

O telefone tocou 6 vezes e caiu na caixa postal. Ela tornou a ligar mais algumas vezes, porém ninguém atendia.

– Droga. - ela teria que esperar até alguém atender, caso contrário não entraria em casa.

– Problemas? - Daniels perguntou, sem olhar para ela. Estava à procura de um táxi.

– Não posso ir pra casa. Ninguém atende. Vou ter que ficar esperando aqui no aeroporto.

– Hum... Aqui? Com o risco de algum traficante de mulheres bonitas te pegar? Nunca. - Roman acenou para um táxi, abriu a porta e estendeu os braços para ajudá-la a entrar no carro. - Vamos. Vou te levar pra um lugar que você nunca vai esquecer. Eu diria que é quase um... Paraíso - disse, enquanto esperava ela pegar sua mão e entrar no táxi. O sorriso estava ali, como sempre.

Ela olhou para o aeroporto e em seguida para Roman. Sabia que não deveria... - Não tente nenhuma gracinha - disse aceitando a mão dele. Entrou no taxi com uma sensação estranha no peito. Como se algo muito importante fosse acontecer. E mudar a vida dela para sempre.

– Não é como se eu fosse um traficante de mulheres bonitas - respondeu, sorrindo maliciosamente, enquanto entrava no carro e se sentava ao seu lado, quase encostando-se nela. - Fala inglês, meu caro? - Perguntou, chegando um pouco para frente para falar com o taxista. O motorista assentiu. - Ótimo! Vamos para Plaka, hotel Royal Olimpic, por gentileza. - Então se recostou no banco e ficou a observar através da janela, imerso num mundo só dele.

– Você não me disse que íamos para o seu hotel - Nikki não olhava para ele, apenas fitava a janela enquanto a cidade que ela nascera passava diante dos seus olhos. Fazia muitos anos desde que tinha saído dali. Sua terra, seu povo, a cultura que ela tinha guardado como um tesouro. Até mesmo o sotaque tinha sido mantido, uma eterna e constante lembrança do seu sangue Grego - Pensei que estávamos indo tomar um café.

– Eu disse que íamos ao paraíso, Nikoletta - disse, sorrindo e a encarando. - Você não parece muito desapontada - observou.

E estava? Sabia que deveria, mas ela simplesmente não se sentia assim - Não precisava perguntar se ele falava inglês. Eu sou grega, se ainda não notou o sotaque forte.

Roman olhou fundo nos olhos de Nikki.

– Com certeza você é... Uma deusa grega.

Seus dedos correram pelos sedosos cabelos brancos e então afastou uma mecha de fios rubros do rosto de Nikoletta.

– Seus olhos me prenderam mais do que o seu sotaque. E eu não sou bom com essas coisas.

– É bom em flertar com mulheres casadas? - disse ela enquanto um leve rubor cobria-lhe as faces - Que hotel está hospedado?

– Não sei... Me diz você - ele respondeu ignorando a segunda pergunta.

Nikki sorriu, mas não respondeu - Quero saber para onde está me levando. Como vou saber que você não é um maníaco assassino?

Ele riu; um curto e abafado som que fez sua mente espairecer ainda mais. Deuses!, que presença aquela mulher tinha!

– Já disse, você está indo na direção do paraíso.

– Essa palavra me remete muitas coisas, e não tenho a intenção de associar alguma delas a você. Não sou o tipo de mulher que você está acostumado. Eu não vou me jogar aos seus pés, Roman. Não sou seu brinquedo.

– Tenho certeza que você está errada. Até onde posso supor, tanto eu como você somos um brinquedo de algo grande, que eu não sei se estou preparado para enfrentar. Quanto ao paraíso... Bem... É algo mais literal que o que você está pensando. - Roman sorriu largamente. - Acho que quem está pensando em... - ele pigarreou. - Você sabe... É você.

– Sexo? - perguntou ela enquanto encara os olhos dele de forma nem um pouco retraída - Não é isso que vive sempre na cabeça dos homens? Poupe-me, já disse, não sou inocente.

– Acho que você está se contradizendo. Quem está pensando em... - Roman indicou o taxista, sinalizando para não falarem assim na frente de um estranho. - Isso aí, é você. De inocente eu sei que não há nada em ti. Consigo ver em seus olhos o quão feroz você pode ser...

Nikoletta murmurou uma frase em grego para o homem ao volante. Ele resmungou algo em troca, mas foi ignorado.

– Ele não ouviu nada, não se preocupe - sorriu - Claro que estou pensando nisso, porque não pensaria? Sou casada, lembra-se?

– Lembro-me a cada segundo que passa - devolveu, com pesar.

– Fico feliz com isso - o carro parou - acho que chegamos.

Roman saiu do taxi e foi logo seguido pela mulher ruiva. Ele pediu que ela o esperasse enquanto fazia o check in. Não demorou muito e logo Roman apareceu outra vez.

– É aqui? Cada quarto nesse hotel custa uma fortuna!

– Digamos que dinheiro não seja um problema, senhorita. Vamos. - Roman indicou o caminho até o quarto: elevador, corredor luxuoso, com cada centímetro parecendo caro demais, porta. Quarto 505.

Nikoletta seguiu Roman em silêncio. Sem pensar. Ficou encantada com a construção, o tapete, as pinturas na parede de mármore. Havia estátuas de deuses gregos espelhados por todos os cantos, desde os menores até os principais. Sentiu-se livre, em casa. Finalmente podia ser ela mesma.

Então Roman parou, de frente para uma porta com o número 505 no topo. Ele passou o cartão e houve um bip, então a porta abriu. Roman entrou sem rodeios, mas Nikoletta não se moveu. Ficou olhando para o quarto e para o homem a sua frente. Um homem estranho e ao mesmo tempo tão íntimo.

– A-acho melhor eu ir e-embora - gaguejou ela.

Roman abriu um meio sorriso e fixou seus olhos cinzentos nos dela.

– Com esse tempo? - Perguntou.

Ela olhou para fora, uma tempestade se aproximava rapidamente - Eu não deveria estar aqui - disse antes de se virar e correr o mais longe que podia. O mais longe possível daquele homem.

Roman correu atrás dela, mas não tão rápido. Deixou que ela alcançasse a porta do hotel. Aí chamou:

– Nikoletta!

Um estrondo ensurdecedor fez tremer o mundo por um breve segundo.

A voz dele obrigou o corpo dela a parar. Estava chegando à calçada quando o ouviu. Havia algo muito conhecido naquela voz, algo que tornava tudo aquilo ainda mais estranho e misterioso. Ela olhou ao redor, como se esperasse que algo, ou alguém, a salvasse.

– ME DEIXE- gritou ela - Por favor...

– Hey... - Chamou, abaixando a voz. - Não quero fazer mal a você, Nikki... - Um raio partiu o céu ferozmente. - Eu... Só quero te proteger, vem, vamos conversar melhor, mais calmos. Você me seguiu até lá em cima. Podia ter ido embora quando saltamos do táxi... Você tem dúvidas sobre isso. Quer tanto ir embora como quer ficar. Vejo em seus olhos... E sei que você também vê isso nos meus.

– Não - ela sacudiu a cabeça, muito confusa e assustada - Não faça isso... Não posso, é um erro. Você é um erro. Meu marido... - Um marido que a fazia infeliz. Ela sentiu vontade de chorar - Se eu ir com você, nunca mais aceitarei minha vida. Nunca mais tocarei meu marido sem lembrar...

Roman deu um passo incerto em sua direção, sempre a envolvendo com o olhar. Seus olhos eram o céu naquele momento, cinzentos, tempestuosos. Ele estendeu a mão para Nikki e afagou-lhe a bochecha levemente. Qualquer movimento brusco e perderia-a para sempre.

Seus dedos deslizaram pela sua pele macia, percorrendo o caminho entre o pescoço e a nuca. Se aproximou mais, colando seu corpo com o dela, quase sem conseguir se conter. Sentiu que ela lutava para aceitar o contato.

"Deuses, ela herdou todas as características dela..." pensou, embalando-a em um abraço quente em meio à forte ventania que rebelava seus alvos e ruivos cabelos.

Recuou levemente a cabeça e a fitou, severo, porém, deslumbrado.

– Porque se prende ao seu marido dessa forma? Precisamos ser felizes. Todos nós precisamos! É uma necessidade básica do ser humano. Ele não te faz feliz; é um tolo que não tem ideia do que tinha em mãos. Eu não sou tão estúpido assim. Sei o quanto você pode ser feroz, o quanto pode ser delicada e o quanto pode ser... Maravilhosa! Conheço você mais do que conheço a mim. Os olhos são a porta da alma. Não posso olhar diretamente dentro dos meus para ver o que há e nem sei se gostaria. Mas posso ver os seus. Confusos, sim, mas poderosamente sedutores! - Roman aproximou sua boca do ouvido de Nikolleta e sussurrou: - Deixe-me lhe mostrar o quanto eu posso te fazer feliz, o quanto eu posso te satisfazer, o quanto eu posso te amar! Deixe-me lhe mostrar coisas inimagináveis! Prometo lhe levar ao paraíso, minha deusa grega. - Seus lábios roçaram nos ouvidos da ruiva. - Deixe-me beijá-la com o ardor que ferve em mim. Deixe-me tocá-la como sei que seu marido nunca a tocou. - Daniels mordiscou sua orelha levemente, com os lábios, desceu pelo pescoço e recuou, encarando-a nos olhos. - Olhe. - Roman Daniels apontou para o céu, onde um raio descia à toda velocidade, quando, subitamente, partiu-se em milhões de tentáculos rebeldes, numa dança tão espetacular quanto uma aurora boreal. Roman pôs o dedo no queixo de Nikki e a puxou de volta, suavemente. - Deixe-me... - E ela deixou.

Roman fez questão de segurar a mão de Nikoletta. Não queria dar brechas para que ela fugisse outra vez. Não agora que estava tão perto e tão acessível...

Conduziu-a pelo corredor do hotel luxuoso. Ambos em silêncio até chegar ao quarto, ambos ansiosos. Nikki não conseguia encontrar as palavras, porque se conseguisse, teria dito a ele o quanto aquilo estava errado, hediondo, e todos os motivos que ela tinha para ir embora sem olhar para trás. Mas não conseguia, não abriu a boca sequer uma vez até que chegaram à porta 505 outra vez. O corpo travou e ela só soube ficar olhando para frente, em total e completo silêncio.

Roman não pensou uma segunda vez quando notou que ela estava travando exatamente como antes. Armando-se para ir embora, longe demais dos braços dele para que pudesse aceitar.

Aproveitou o olhar distraído e segurou-a pelos braços. Procurou a boca rosada e tratou de fazer com que ela não pudesse pensar, não pudesse mais fugir.

O trovejar de um monstro ecoou pelo mundo, invadindo o quarto pela sacada. Os raios constantes iluminavam o recinto, enquanto as lâmpadas, desligadas, tentavam, em vão, ocultar os dois corpos que, sôfregos, se entregavam ao prazer.

O desejo carnal acorrentara-os e os açoitava ferozmente. Sob a luz de um súbito raio, as mãos de Roman deslizaram graciosamente pela coluna de Nikki, alcançando seus ombros e apertando-os enquanto a mulher tentava se contorcer de prazer com o membro de seu amante a preenchendo inteiramente, duro como uma rocha, ao passo que os lábios de baixo da ruiva umedeciam mais a cada estocada, a cada sussurro, a cada beijo no pescoço, a cada puxão em sua emaranhada coroa de sangue; fios tão sedosos quanto uma pluma.

Seus gemidos competiam com o som de suas nádegas batendo contra a virilha de Roman, de forma feroz e harmoniosa.

Enquanto ele a penetrava com força e arfava de prazer, ela lançava seu corpo para trás, ansiando cada vez mais por aquele homem; se é que se possa classificá-lo como tal. Ele fazia arte com as suas mãos, deslizando aqui e ali, desferindo fortes tapas em seus glúteos, apertando seus cabelos entre os dedos, emoldurando seus seios fartos, coroados com mamilos rosados e salpicados de sardas.

Então Roman agarrou-a pelas ancas e suspirou, enquanto ela revirava seus olhos cor de mel. Os músculos do homem se retesavam, suas estocadas aceleraram, Nikki perdera todo o pudor e gemia, agarrava o lençol com força e gritava, pedindo por mais, batendo na cama, tão empinada quanto conseguia.

– Mais! Me dê mais! - Ela trovejou. - Acabe comigo! Faça-me sua, totalmente sua...

Roman a agarrou pelas costelas e a preencheu como nunca fizera com ninguém. Nikki jamais havia sido possuída daquela maneira. Aquele homem... Céus, estava enlouquecendo.

Ele se curvou sobre ela, sua respiração incerta ricocheteando na nuca da mulher, causando arrepios por todo seu corpo delicado.

De súbito, Nikoletta agarrou Roman, ainda de costas para ele, e gritou - deuses, como ela gritou!

Em sua boca, o gosto de sangue reinava enquanto seus dentes amassavam seus lábios com força. Ela girou o tronco o suficiente para beijá-lo, então o membro de Roman saiu de sua vulva.

Nikki aproveitou para agarrá-lo, lançá-lo à cama bruscamente e montá-lo como nunca fizera antes. Seus lábios tocavam os de Roman, ao passo que os lábios de baixo engoliam o sexo do homem.

Para cima e para baixo, célere como uma pantera, feroz como uma leoa, bela como uma deusa! Seus seios se apertavam contra o rosto de Roman enquanto ele sugava seus mamilos sofregamente.

Passaram uma eternidade naquela posição, até que Roman a envolveu em seus braços musculosos e girou na cama, obrigando-a a abrir as pernas tanto quanto pudesse. As mãos do homem subiram pela parte de trás daquelas coxas sedosas e agarrou-as nas divisas, forçando-as para baixo.

Então enlouqueceram.

Os fios alvejados dele se misturaram aos vermelhos dela, ao passo que eles se beijavam insanamente, se mordiam, se apertavam.

Roman não a perdoava um segundo sequer e Nikki adorava aquilo. Seus gritos agudos eram ouvidos pelos corredores do hotel. Gritos altos que ocultavam os sons dos relâmpagos e raios que pareciam formar uma tempestade dentro do quarto.

– Vai! Não para, porra! Me fode! Me... - Ela gemeu em uma estocada potente, mordendo o lábio inferior com tanta força que o gosto de sangue se misturou ao desejo. - Me.... - gritou outra vez, se contorcendo na cama, totalmente entregue. - Me...

– AHHH! Eu vou.... - Ele começou, entre mordidas no pescoço e urros de prazer. - Eu vou... - Roman não terminou a frase com palavras.

Suas mãos se apertaram contra as pernas de Nikki. Seus músculos pareciam que iriam explodir. Um urro gutural se misturou ao grito de Nikoletta e a um trovejar monstruoso.

Nikki sentiu o sêmen de Roman dentro de si, quente.

O casal desabou, sorrindo e arfando, suados e realizados.

Os dois permaneceram em silêncio por longos minutos. Os corações batendo de forma descontrolada no peito de ambos, o suor escorrendo, os fios de cabelo colados nas costas, nos braços, no pescoço.

Roman saiu de cima de Nikki, que cravou as unhas nas omoplatas em forma de protesto. Olhos acinzentados fitaram-na com um brilho muito travesso.

– Se continuarmos assim, não sairá desta cama até a próxima semana, linda.

– Não quero me mover sequer um centímetro.

– Nem eu – respondeu ele – mas eu sou pesado e daqui a pouco será desconfortável para você.

– Ahn – Os dói rolaram na cama, enquanto Roman mudava as posições e deixava Nikki deitar sobre ele. Os cabelos ruivos estavam tão desalinhados que pareciam um ninho. Rebeldes como os olhos dela.

Os lábios estavam inchados, muito vermelhos, e havia um corte no inferior, graças às mordida que deram. Os seios também estavam inchados, deliciosamente doloridos e rosados. Nikki se espreguiçou, esticando-se como uma gata. Ela ergueu o rosto, ergueu-se da cama em um salto. Os olhos arregalados e a boca entreaberta. Sentiu o grito preso na garganta, porém não soltou som algum.

No canto do cômodo havia uma enorme nuvem condensada. Pequenos raios cintilando dentro do formado arredondado, como uma tempestade em miniatura. Pensou nos trovões que tinha ouvido, estava tão concentrada que nem sequer percebeu que não havia mais tempestade lá fora, os sons vinham de dentro do quarto. Embaixo da nuvem, havia uma pequena árvore com um fruto vermelho, exatamente da cor dos cabelos de Nikoletta. Uma única fruta pendia de um dos galhos, uma pequena romã.

O reconhecimento assombrou-lhe a alma junto com o som de um trovão.

Que a deusa do matrimonio a proteja, querida. Ela abençoará sua casa e te fará fértil para construir sua própria família. Lembre-se de quem você é. De onde você veio. Os deuses nunca se esquecem dos seus filhos...

As palavras ecoaram na mente dela como se fossem ditas pela primeira vez. Uma cascata de imagens começou a se formar em sua mente e ela pensou que iria enlouquecer. Todos os sonhos que tivera em sua vida, todas as vezes que viu algo estranho, algo que não fazia sentido. Todos os sentimentos ruins que alimentara, tudo estava ligado.

“Como uma deusa” dissera Roman.

Não, corrigiu-se ela mentalmente, Zeus.

Aquele homem a tinha seduzido, levado para sua cama enquanto a culpa a corria. A culpa pela traição. Mas não estava traindo, não quando o homem que a tinha feito foder como uma puta era seu marido também. Unidos pela alma imortal que possuíam.

A romã era o símbolo da fertilidade, qualquer grego sabia disso. Símbolo de uma deusa orgulhosa, ciumenta e vingativa. A deusa que usava uma coroa de ouro e personificava a união.

Hera.


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Notas finais do capítulo

GOSTARAM DA MINHA HERA?
Eu odeeeeeio Hera, então tentei criar uma versão dela que me agradasse. Espero MEEESMO que tenham gostado. O Hugo me ajudou um bocado, e pOtaria ao extremo hoje, hihihihihihihihihih
Já disse que achei esses dois uns lindos?



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