Você, ele e eu escrita por AmlidArlequina


Capítulo 3
Good morning after dark




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O choro de Tony persistiu por um bom tempo enquanto eu o abraçava, beijava nos lábios e no rosto, esfregava e apertava meus dedos contra suas costas na tentativa quase nula de acalmá-lo. Tony precisava de carinho.

A convivência que tínhamos até então me permitiu entender que o choro descontrolado não era apenas pela sensibilidade, mas porque tudo que ele havia segurado por anos inteiros estava vindo a tona e eu não o impediria de chorar, pelo contrário. Tinha de aguentar todo o choro que eu havia feito sair. Minha abordagem fora afobada e eu tinha consciência de que não havia feito a melhor das abordagens, mas realmente havia uma forma correta de se dizer tudo aquilo ?

Os soluços sacudiram nossos corpos unidos tantas vezes que eu nem mesmo ousei contar, não depois de ter percebido que eu também estava chorando. Por que eu também chorava ? Porque eu havia feito o homem que amava chorar, desacreditar nele mesmo e perceber que realmente tinha motivos para odiar o pai. Ter a certeza disso era pior do que os trinta e cinco anos de confinamento congelado. De um dormir do qual você não consegue despertar, mas mesmo assim, sente tudo o que seu corpo sente e se lembra de tudo o que queria esquecer.

Quando enfim os soluços pararam eu apanhei seu rosto por entre minhas mãos, limpei cada uma das lágrimas que ainda manchavam suas bochechas e o puxei para um beijo intenso que fora perfeitamente correspondido. Não por luxúria, mas para atender a minha alma que pedia por aquilo.

— Eu te amo, Tony ! - Sussurrei colando nossas testas, sua respiração se fundindo na minha - Eu te amo e me odeio por te fazer sofrer desse jeito !

— E eu te amo tanto, Steve que chega a doer ! - Disse ele - Eu poderia arrancar o reator com essa faca em cima da mesa agora mesmo e continuaria vivendo sabe porque ?

— Não ouse falar isso de novo ! - Falei mais alto do que o necessário, mas não gostava de pensar em perdê-lo nem mesmo por um milésimo de segundo e sabia que sem aquele objeto fluorescente no meio do peito ele morreria já que os estilhaços de bomba iriam encontrar seu coração. - Não gosto de pensar nisso ! - Nunca havia dito a ele que sentia medo de perdê-lo e aquele era o momento certo para extravasar aquilo - Não posso ter dormido tanto tempo para te encontrar e agora que te encontrei eu vou te perder. Tony, eu te amo. Você é tudo que eu tenho então não me diz que vai tirar esse reator porque eu arrumo um jeito de me matar caso você morra !

— Eu não preciso de reator porque desde que você entrou na minha vida é você que tem me mantido vivo ! - Disse ele, as órbitas castanhas fitando as minhas com uma intensidade incrível - Agora vamos parar com essa coisa de ficar expondo meus sentimentos porque estou começando a achar que estou bêbado mesmo sem ter ingerido uma gota de álcool hoje ! - Disse ele reassumindo aquela postura Tony Stark que o mundo conhecia. Era a sua armadura fora dos campos de batalha e eu já estava acostumado a lidar com ela.

— Sendo assim ... - Falei passando um braço por suas costas e o outro por trás de suas panturrilhas, ficando de pé e o trazendo comigo de uma só vez.

— Hey, me coloca no chão agora, Patriota ! - Disse ele balançando as pernas como uma criança pirracenta - Steve, me põe no chão ! - Rosnou semicerrando os olhos.

— Não, eu não vou te colocar no chão ! - Falei sorrindo com seu comportamento. Quando ele agia daquele jeito era impossível não somar a diferença de tamanho entre nós e eu me sentia ainda mais velho do que já era com relação a ele.

Consequente ao tamanho do apartamento eu logo estava ao lado de minha cama onde o depositei com um cuidado exagerado, mas do qual naquele momento eu sabia que se ele viesse a recusar ou reclamar era só pra não mostrar que precisava daquilo. Apanhei meus cobertores dentro do pequeno guarda-roupas á esquerda do cômodo e os despus sobre a cama, totalizando três porque assim como eu, ele era friento durante a noite. Feito isso, o cobri até o peito, apaguei a luz deixando apenas a do abajur acessa, dei a volta na cama e me deitei a seu lado, o trazendo para meu peito. Era uma sensação que acalmava mais a mim do que ele, mas que eu sabia que ele precisava. Tony precisava de toda forma de carinho e amor naquela noite, e precisaria em muitas outras e sempre que ele precisasse, eu estaria ali para e por ele.

— Boa noite, amor ! - Falei arriscando. Não usava muito o termo com ele devido a sua aversão Àquela palavra, mas como resposta invés de resmungos comuns eu tive um suspiro profundo.

— Boa noite, amor ! - Respondeu escondendo o rosto em meu peito como se sentisse vergonha por dizer aquilo - Steve...

— Sim, Tony ? - Questionei afagando seus cabelos.

— Você ainda vai me amar quando eu acordar amanhã ? - Questionou apertando o braço em torno de minha cintura.

— Eu vou te amar de cada amanhecer a cada madrugada, sem espaço para deixar de te amar ! - Respondi o puxando um pouco mais para cima, para depositar um beijo em seus cabelos e abraçá-lo melhor.

Não foram necessários nem mesmo cinco minutos para que um ressonar baixinho pudesse ser ouvido e lá estava ele com aquela testa enrugada e o biquinho de bravo que se formassem em seu rosto. O dia havia sido mais pesado que seu corpo podia suportar sem seus exageros e foram as últimas coisas que me lembro de ter visto antes de me entregar ao sono também.
...

A claridade do quarto somada a um cheiro de queimado me despertaram e eu acordei sobressaltado ao perceber que Tony não estava sobre meu peito, tateei a cama ainda de olhos fechados e não o senti na cama. Havia brigado tanto com ele que havia sonhado com tudo aquilo, foi o que pensei ao me sentar na cama.

— Droga ! - Um resmungo conhecido veio da direção da cozinha e só então eu me toquei de que o cheiro de fumaça vinha de dentro do apartamento. Não me importei com chinelos, fui na direção de Tony para ver se ele corria algum risco, me deparando com ele brigando com o fogão. Eu não sabia discernir se a imagem era cômica, se era assustadora ou se era simplesmente fofa. Acho que podia ser tudo isso e muito mais, ao mesmo tempo.

— Sei que você não gosta daqui, mas não sabia que chegava ao ponto de colocar fogo na minha casa ! - Brinquei sorrindo ao vê-lo esfregar a frigideira contra a trempe do fogão como se aquilo que eu achava ser panqueca estava diferente de incomível.

— Eu não entendo. Pela explicação de J.A.R.V.I.S era algo tão simples ! - Disse ele bufando - Não pode ser tão difícil cozinhar para alguém que monta máquinas e armaduras como as minhas !

— Deixa que eu faço isso, ok ? - Questionei me aproximando e lhe dando um beijo na bochecha - Podia ter me acordado e eu faria o café da manhã sem reclamar, Tony. Eu sempre faço !

— Eu queria...

— Queria ? - O instiguei a responder enquanto jogava aquilo que ele tentava fazer no lixo, estava completamente queimado. Nem o meu lado mais bonzinho podia tentar comer aquilo.

— Queria levar café na cama pra você ! - Disse ele e estava da mesma cor de suas armaduras.

— Ownnn, que amor ! - Não pude deixar de me comover com a confissão e por isso o tomei em meus braços pouco me importando se ainda não havia escovado meus dentes e lhe puxando para um beijo ousado, atendido prontamente por sua língua que praticamente estuprou minha boca - Podemos ter outro tipo de café da manhã. Te jogo na mesa, que tal ? - Questionei mordiscando seu lábio inferior.

— Não sei ! - Respondeu apertando minha bunda com ambas as mãos - Estou literalmente te levando para o mal caminho, não é ?

— Você é o mal caminho ! - Respondi voltando a beijá-lo.

Apesar da ousadia, logo nos separamos e eu fiz nosso café o ensinando a como realmente se faziam panquecas, feito isso arrumei e coloquei em minha mala o que levaria comigo e após organizar as poucas coisas fora do lugar e emprestar uma muda de roupa minha que não deixasse suas pernas a mostra, seguimos para a garagem do prédio que exibia a gritante diferença entre todos os carros simples e minha moto ao carro dele que gritava e cheirava a centenas de dólares.

Poderia ter discutido com ele sobre o fato de ele ter dirigido no estado em que se encontrava quando chegou a meu apartamento, mas ignorei essa vontade e simplesmente entrei no carro que logo foi ligado e passou a deslizar pelo asfalto. Não precisávamos mais discutir por motivos irrelevantes e nem mesmo deveríamos fazer isso. Happy recebeu uma mensagem para recolher minha moto  mais tarde.

Não pude deixar de reparar na diferença gritante daquele Tony a meu lado ao com quem eu havia discutido. Apesar das informações da noite anterior, tudo indicava que o choro desenfreado havia feito bem a ele, ou o fato de eu não ter desistido dele e querer lutar por nós.

— Quando vamos falar pro Nick ? - Questionei quando ele parou no sinal vermelho.

— Nick ? Nada disso, o nome dele é Fury ! - Disse ele enrugando a testa - Não quero você de conversinha com ele, ok ?

— Não precisa ficar com ciúmes e nem mesmo tentar mudar de assunto ! - Falei me curvando em direção a seu rosto e mesmo que estivéssemos em um carro sem capota eu o faria.

— Não acho que seja necessário contar para eles, não por agora ! - Disse ele englobando todos os vingadores na frase.

— Tony, você está com cerca de um mês de gravidez. Os três primeiros meses da gestação são os mais delicados, qualquer coisa pode causar a perda da criança e eu não quero que você perca nosso filho ! - Falei e isso o fez sorrir mesmo tendo a testa ainda enrugada - E sei que sua gravidez não vai ser fácil ou sem riscos, então eu não posso deixar que você se arrisque !

— Meu marido é tão protetor, gente ! - Disse ele em tom de zombaria - Viu neném ? Papai já está nos colocando um mundo de regras !

— Sou mesmo e vou colocar mais um mundo de regras se isso fizer com que vocês dois fiquem bem e seguros ! - Rebati.

— Você não faz ideia do quanto faz falta naquela casa ! - Disse ele.

— Eu sei porque eu morro de saudades quando você não está por perto ! - Disse eu - Sinto falta do seu cheiro, da sua presença, do seu mal-humor e de como você fica lindo concentrado !

— Eu te amo !

— Eu também te amo !


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