Você, ele e eu escrita por AmlidArlequina


Capítulo 2
let's Go talk about the past




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Tony permaneceu por entre meus braços e chorando por algum tempo, assim como eu me mantive apertando-o contra meu peito. Era como se tudo estivesse invertido porque apesar de eu ser maior que ele e de ser o ativo, todos sabem que a minha inocência e a minha inexperiência na arte de ser de alguém ou ter alguém que se diz seu, fazia com que eu fosse o mais sensível de nós dois. A prova era a de que eu estava no meu antigo apartamento por termos brigado, mas ele estando grávido eu teria de me portar como um homem e não um menino. Já havia passado da hora de eu agir como um homem adulto fora dos campos de batalha e nas horas de tomar decisões importantes.

— Pare de chorar, Tony. Estou ficando preocupado com você ! - Falei deslizando minha mão em suas costas, para cima e para baixo na tentativa de acalmá-lo - Já está tudo bem. Está tudo explicado, meu amor !

— Eu só queria entender o porque disso estar acontecendo comigo ! - Disse ele com soluços intercalando as palavras. E eu entendia o quão desesperadora poderia ser aquela situação, em um dia você sabe que pode engravidar alguém e no outro você descobre que está gravido de alguém, é uma inversão deveras enlouquecedora.

— Eu sei, ou talvez sei ! - Falei me afastando o suficiente para apanhar seu rosto por entre as minhas mãos. A necessidade de transmitir paz para ele era simplesmente maior que tudo, maior que em todos os outros momentos - Mas só vou dizer quando você se acalmar !

— Você vai voltar pra casa, não vai ? - Questionou com os olhos sibilantes. Havia dentro daqueles orbitas escuras apenas desespero e um pedido velado de não me deixe, como se todos os que ele havia murmurado enquanto chorava não houvessem sido suficientes.

— Vou, é claro que vou. Mas já está tarde e ao que parece você não comeu nada desde ontem, estou certo ? - Questionei beijando a ponta de seu nariz, era algo o que o fazia rir e isso não falhou, mesmo que seus olhos ainda vertessem lágrimas - Sabe que meu apartamento é pequeno, mas vou preparar um banho bem gostoso e vou cuidar de você !

— Como você sabe que eu não como desde ontem ? - Questionou um pouco mais calmo .

— Como se eu não soubesse que você descuida de si mesmo o tempo todo ! - Falei ficando de pé e o puxando pela mão - E porque você está um pouco amarelo !

— Você sempre sabe tudo, não é ? - Questionou com um sorriso triste nos lábios vermelhos devido ao choro e ao fato de estar lhes mordendo.

— Não. Eu tenho menos de perfeito do que você imagina ! - Falei passando meu braço em torno de seu ombro.

— Pode até ter menos do que eu imagino, mas é o suficiente para me fazer o homem mais feliz do mundo ! - Disse ele me deixando sem palavras. Ainda levaria bastante tempo para que eu pudesse lidar bem com esse novo comportamento aberto de Tony.

Não verbalizamos muito durante o pequeno percurso que levava até meu quarto. O choro dele não perdurou por muito tempo, tanto que quando ele entrou na banheira, nem mesmo choramingava ou soluçava, apenas olhava para baixo como se sentisse vergonha e isso também era fora de padrão, mas eu devia isso aos hormônios descontrolados devido a gravidez porque só mesmo eles para acalmarem a fúria castanha.

— Não abaixa o rosto como se tivesse feito a pior coisa do mundo, Tony. Você está me dando um filho, o melhor presente do que eu poderia querer ou esperar ! - Falei lhe beijando o topo da cabeça - Quer que eu te deixe tomar banho sozinho ?

Ele não respondeu em palavras, apenas meneou a cabeça afirmativamente e eu o fiz, não antes de beijar sua testa em uma declaração muda de que cuidaria dele. E cuidaria dele enquanto meu corpo precisasse de ar, porque ele era o que me mantinha vivo, meu ar, meu tudo.

Eu sabia que ele estava daquele jeito muito mais por ter dito o que sentia, por ter assumido que precisava de alguém, entendia, mas queria mesmo era que ele tivesse coragem de falar mais sobre si, de me contar o que pensava, o que sentia e faria o possível para que dali em diante falar sobre si mesmo fosse mais fácil do que de costume até que ele falasse sem perceber.

Rumei na direção da cozinha onde fiz sanduíches para nós dois, aliás já passava da meia-noite e nenhum de nós havia se alimentado naquele dia. Comportamento auto-destrutivo é mais fácil de pegar do que se pensa e bastava um grito de Tony comigo que eu ficava horas sem comer nem beber nada.

Me demorei tempo suficiente para que ele se vestisse e surgisse na soleira da porta com as roupas que eu havia deixado por sobre a cama, uma cueca samba canção cinza que ficava um pouco folgada em mim e uma camisa larga de algodão, os pés descalços tocando o chão e o arrastando preguiçosamente até mim. Não pude deixar de sorrir com a cena porque me sentia bem quando ele vestia minhas roupas demasiadamente grandes para ele.

— Estou me sentindo um gnomo com sua cueca, está uma bermuda em mim ! - Disse ele me fazendo rir, seu tom de voz era o mesmo de uma criança mimada que ganhou roupas ao invés de brinquedos no aniversário - Você tinha que ser tão grande ?

— Isso é considerado um defeito no Senhor Perfeito ? - Questionei tentando imitar sua voz enquanto apontava com os olhos para a cadeira a meu lado e ele logo entendeu.

— Você faz a pior imitação de mim que eu já vi ! - Disse ele rindo um pouco ao se sentar - Até o Thor com aquela voz de troll me imita melhor !

— Thor anda te imitando ? Aquele Menino do Martelo não tem medo de levar uns belos socos naquela cara enorme dele não ? - Questionei sentindo minha testa se enrugar.

— Não precisa enrugar essa testa e fazer esse biquinho ! - Disse ele sorrindo pequeno e eu não consigo deixar de considerar isso bonito porque seus lábios finos emoldurados por aquele cavanhaque muito bem feito são o convite mais impuro para um beijo que pode existir - Para de me olhar desse jeito e não é um defeito. Mas me sinto menor do que já sou com as suas roupas ! - Disse ele apoiando o rosto na mão - Mas não pense que eu estou me esquecendo do que te leva a achar que sabe porque eu engravidei se a mulher de nós dois é você !

— Pelo que eu saiba a mulher da relação nunca chegou a ser a passiva dessa relação ! - Falei me sentando a seu lado. Realmente, meu modo de falar havia mudado muito desde o momento em que ele havia entrado na minha vida - Viu? Olha só o que você está fazendo comigo. Estou falando como você !

— Viu ? - Questionou voltando a baixar os olhos - Eu só faço as pessoas piorarem !

— Hey ! - Falei erguendo seu rosto pelo queixo e lhe roubando um selo - Eu amo como me sinto do seu lado, como seu calor me deixa seguro e como a gente se encaixa e não estou falando só na cama. Somos as peças de um quebra-cabeça e formamos um belo casal assim, como somos !

— Não mereço você ! - Disse ele e não era algo que estivesse soando como culpa e sim, uma constatação.

— Sou eu quem deve dizer se merece ou não e eu acho que você merece tanto quanto eu te mereço então para com toda essa crise existencial e me beija de verdade ! - Falei segurando seu rosto por entre ambas as mãos - Anda, Stark. Me beija !

Dito isso ele uniu seus lábios nos meus, primeiro com calma e aquele foi um beijo lento e calmo como somente o nosso primeiro beijo havia sido. Não havia a necessidade de provar que queríamos ir para a cama com o outro, mas a de mostrar que o sentimento era mais que carnal. Sua língua massageando a minha dentro da minha boca com calma e de uma forma tão boa que eu sentia todo o meu corpo se arrepiar e pensei em puxar seu cabelo, mas apenas findei o beijo com diversos selos enquanto encarava seus olhos que já estavam abertos quando ousei abrir os meus. Algumas risadas involuntárias ecoaram pelo ambiente, mas nada constrangedor.

— Tony como era a sua relação com seu pai ? - Questionei mesmo ciente da resposta. Não deveria perguntar, mas uma hora ou outra eu teria de chegar aquela conversa e se era para pisar em ovos, eu pisaria com força.

— Só seria pior se ele me batesse, mas nada de afeto, conversas longas que não envolvessem o seu nome e o quão perfeito você era e é ! - Disse ele e eu me arrependi de ter começado aquele assunto já que seu rosto por hora calmo se transformou em pura tristeza, mas era necessário - Ah, pra resumir, não era bom !

— E com a sua mãe ? - Questionei.

— Minha mãe era muito gentil, carinhosa e zelosa, mas morreu quando eu tinha 8 anos e depois disso eu não soube mais o que ter alguém que se preocupa com você ! - Disse ele pegando o sanduíche que coloquei a sua frente e dando uma mordida no mesmo - Hummm, como isso é bom ! - Disse de boca cheia. Eu sabia que o sanduíche estava uma porcaria, e que aquilo era só uma manobra para escapar do assunto.

— Como eu posso dizer isso ? - Questionei atacando meu lábio inferior, era complicado falar sobre algo que você prometeu nunca falar - Eu jurei para Howard que nunca diria isso a ninguém, mas ...

— Vamos, Steve. Se tem que pisar em ovos, pise com força ! - Disse ele e isso quase me fez rir, aliás era uma frase comum dele e eu havia pensado na mesma, mas não era hora de rir - Acho que nada que me diga sobre meu pai vai me assustar. Aliás se você me disser que eu sou adotado e que ele comprou algumas pessoas para me registrar vai ser bem fácil de entender o porque de ele me tratar como se eu fosse um resto de aborto !

— Vocênasceudabarrigadeleenãodadela ! - Falei não separando as palavras porque nem mesmo me lembrava como é que se respira. Era o maior segredo que eu já havia guardado e jogar a verdade assim na cara dele não era nem de longe agradável.

— O que ? - Questionou se assustando tanto que cuspiu a parte do lanche que estava em sua boca - De onde você arrancou isso ? Está bebendo e começou a fazer efeito ?

— Eu tinha um amigo na época em que eu ainda era o Steve do Brooklyn, era o melhor amigo que alguém como eu poderia ter e na época em que eu finalmente pude entrar no exército. Todo mundo achava que tínhamos alguma coisa, mas sempre fomos amigos. Ele nunca se importou com o fato de eu ser um cara magrelo e pequeno e sempre me defendeu quando eu precisei, aliás as pessoas gostavam de socar um cara magrelo em becos escuros e ele sempre me defendia como se soubesse sempre que eu precisava de ajuda ...

— Tá me contando sobre seu primeiro namorado ? - Questionou ele com o tom irritadiço de sempre - Não gosto de pensar nisso de outras pessoas encostando em você, de você beijando outras pessoas, mas que seja sobre isso, o que uma coisa tem há ver com a outra ?

— Não ! - Falei passando meu dedo indicador em sua bochecha, fazendo carinhos que eu sabia que ele gostava - Quando me tornei o Steve que você vê hoje, o que gritou por longos minutos até que todo o soro utilizado em mim me deixasse quase indestructível, eu ganhei outros amigos, de farda e de ações e no meio deles um em especial, seu pai. Todos achavam que eu era namorado do Bucky ou qualquer coisa assim, mas quem gostava dele era o Howard e era um sentimento recíproco. Não sei quando começou, só sei que ambos estavam felizes e era só um ver o outro que ficavam vermelhos, sorriam e pareciam conversar com a gente faz hoje, olho no olho e os lábios fechados. Tudo estava bem até que seu pai me procurou desesperado porque estava grávido !

— Ele engravidou desse tal Bucky ? - Questionou Tony mesmo sendo o que eu havia acabado de falar - E esse cara ? Qual o nome completo desse cara ? Onde ele está ? Eu não me lembro de nenhum amigo ou sócio do meu pai ter esse nome porque eu tinha o hábito de anotar o nome de todos para não fazer feio em nenhuma festa ou convenção que era obrigado a ir !

— Ele me disse que tinha contado para o Bucky, mas o Bucky o chamou de aberração como você teve medo que eu te chamasse e terminou tudo com ele. Eu tentei fazer Bucky voltar atrás nessa decisão, mas ele estava assustado demais com a ideia, aliás ninguém está acostumado com a ideia de um homem grávido ! - Falei segurando suas mãos nas minhas - Sei que eles fizeram as pazes e resolveram tentar se acertar quando Howard se afastou alegando estar doente, mas os caras da Hydra estavam nos atacando e em uma das investidas deles contra nós, Bucky morreu. Eu me sinto culpado por isso porque ele caiu naquele desfiladeiro na minha frente ! - Falei baixando meu rosto porque me lembrava muito bem dele se deixando cair naquele maldito desfiladeiro para que eu pudesse me salvar, mesmo sendo eu um Super-Soldado - Howard entrou em depressão quando soube e foi então que Maria entrou na vida dele !

— O que ela era pra ele ? - Questionou Tony e seus olhos estavam frios, como se eu lhe contasse alguma coisa idiota que estava lendo no jornal - Uma amante ? Uma peguete ? Alguém que ele contratou para fingir ser minha mãe ?

— A mulher de quem eu gostava antes de congelar, uma militar, também sabia sobre a gravidez porque eramos um grupo muito unido e Maria era uma amiga dela recém-formada em enfermagem e se ofereceu para ajudar seu pai, aliás ele precisaria passar por todo o pós-parto que seria uma Cesariana obviamente, e acabou ao que parece que foi ela quem fez o parto ! - Falei - Não sei o que houve depois, porque eu caí no mar pouco depois de você nascer. Porém eu não tive a chance de ver você quando criança porque seu pai não quis receber ninguém e a única pessoa que o via era Maria !

— Sempre disseram que meu pai estava em trabalho quando você caiu na água ! - Disse ele e aquela máscara que estava em seu rosto era o que eu já estava acostumado a chamar de Tony Stark - Mentiram sobre isso também? O que na minha vida não foi uma mentira ?

— Sim, ele havia voltado a trabalhar naquele dia. Não cheguei a vê-lo porque não tive tempo. Pensei que teria tempo para nos falarmos depois que eu voltasse da missão, mas eu acordei atrasado ! - Falei sentindo um nó em minha garganta. Aquelas eram as piores lembranças que eu tive e tenho, a sensação de ter falhado com meus amigos, de ter tido como fazer mais por eles e não ter feito. Ter deixado Bucky cair naquele lugar sem fazer nada, não ter conseguido fazer Howard se sentir melhor com relação ao filho que eu sabia que ele sequer havia pegado nos braços quando nasceu. A sensação que me encheu por trinta e cinco anos - Eu não sei o que mais na sua vida foi escondido de você porque eu não estava na sua vida, mas agora eu estou e nunca vou te deixar, Tony !

— Eu não tinha culpa por ele ter sido deixado, Steve ! - Disse ele e a forma com que sua voz soou falha entregou tudo o que ele estava tentando esconder e foi naquele mesmo momento em que ele começou a apertar os lábios um contra o outro e fechou os olhos, mas as lágrimas começaram a verter mesmo assim - Eu não .... Não tinha culpa... não tinha !

— Eu sei, meu amor ! - Falei abandonando suas mãos e o puxando para meus braços - Sei que você não tinha culpa !

— Eu passei... aquele desgraçado ! - Rosnou socando minhas costas. Não me machucava de forma alguma porque era mais seguro que ele me socasse do que tentasse se machucar e foi por isso que eu o apertei por entre os braços porque se soutasse ele socaria tudo a sua frente, as janelas de preferência - Eu odeio ele !

— Não, não o odeie ! - Falei mesmo sabendo que não tinha o direito de pedir aquilo a ele.

— Eu só queria ser amado, Steve ! - Disse ele me socando ainda mais - Eu só queria ouvir um bom dia de manhã, um eu te amo mesmo que sem sentimento e que ele falasse olhando nos meus olhos ! - Um soco a cada palavra - Ele nunca me amou, nunca esteve verdadeiramente disposto a me amar e as únicas vezes em que eu precisei da ajuda dele ele o fez, mas quase que sentindo nojo de mim por estar pedindo ajuda !

— Mas eu te amo ! - Falei o abraçando com mais força - E amo nosso filho ! - Dita essa frase os socos cessaram - Eu juro que nós vamos dizer a ele todos os dias que nós o amamos, vamos levá-lo para a escola, vamos segurar as mãos dele para atravessar a rua, vamos colocá-lo na cama depois de ter mandado ele escovar os dentes e vamos contar histórias para ele dormir. Juntos !

— Jura ? - Questionou forçando as mãos em meus ombros até que eu desfiz o abraço e encarei seus olhos.

— Eu juro ! - Respondi encarando seus olhos e ali na minha frente não havia nada além de uma criança assustada.

— Não quero que ele passe pelo que eu passei ! - Disse ele - Não quero que ele seja o único garoto da escola que jogava seus trabalhos de Dia dos Pais na lata de lixo da escola para não ver o pai fazer isso ao chegar em casa !

— Não vai, amor. Não vamos deixar ! - Falei beijando sua testa - Estamos juntos nessa !


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Notas finais do capítulo

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