Leah e Bella escrita por Cássia Andrade


Capítulo 33
Capítulo XXXII


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridas e queridos leitores de Leah e Bella! Como estão hoje? Espero que bem!
Como sempre só tenho a agradecer à vocês: obrigada pelo apoio, paciência e compreensão! Pelos comentários, mensagens e mimos diários! Sem vocês, jamais teríamos completo no dia 23 um ano de "Leah e Bella"! Obrigada!
Boa leitura!



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CAPÍTULO XXXII

― Devolva a minha Barbie! ― berrou uma garotinha cujos cabelos eram tão castanhos quanto à pele. Uma menina maior, metida a valentona, riu e mostrou a língua. ― Agora! ― gritou a menininha, pulando encima da valentona e tentando lhe puxar os cabelos. Tanto os puxou que a cabeça deslocou-se do pescoço e em seguida, voou pelo ginásio.

― Não aguento mais isso. ― Riley, que observava a distância, coçou a nuca e mexeu os ombros, tentando se livrar da energia negativa. ― Isso é todo dia, toda hora. Elas se matam por uma porcaria de boneca! ―Victoria, que terminava de sugar o sangue de um rapaz loiro, atirou o corpo ao chão e falou, com a boca pingando sangue:

― Mais um dia, Riley. ― ela olhou para as crianças e limpou a boca com a manga do casaco preto. ― Deixe os sarnentos respirarem um pouco. Enviaremos as crianças no próximo amanhecer.

― Ao entardecer de hoje. ― pediu Riley. Escondido no sorriso que tentava convencer Victoria, havia uma causa dupla: além da falta de paciência com crianças, Riley não queria lidar mais com as mortes. Se fossem morrer que morressem logo, pois assim o livraria do maldito carma. ― Os pegaremos de surpresa.

― Por que acha isso? ― Victoria lambeu os lábios, recolhendo as últimas partículas de sangue.

― Bem… ― Riley tentou pensar uma resposta coerente e precisa. ― Você disse que eles, possivelmente, levam uma vida humana.

― Claro. ― assentiu Victoria: tinha seus conhecimentos sobre as criaturas que habitava esse mundo e inclusive, um pouco de sabedoria sobre os lobos.

― Nesse horário, entardecer, os humanos estão saindo do trabalho. Indo ao mercado. Saindo com a família. Chatices do tipo. ― falou tão rapidamente que fez Victoria franzir o rosto todo. Que diabos Riley estava armando? Qual a pressa e por que ficava nervoso ao tocar no assunto?

― O que está acontecendo, Riley? ― interrompeu Victoria. ― Você… ― ela puxou o ar, dando um tempo dramático e encarnando a mulher fragilizada que encenava para Riley. ― Você está desistindo, certo?

― Não!

― Está sim. ― ela virou-se de costas para ele. ― Posso sentir no jeito que fala. Quer se livrar das crianças… E depois de mim. ― Victoria colocou a mão no coração e se fez de cabisbaixa.

― Jamais, meu amor. ― Riley abraçou Victoria por trás e lhe beijou o ombro. Era tão complicado lidar com aquela batalha interna: não suportava mais o peso daquelas crianças, porém, não aguentava o peso de decepcionar Victoria. ― Quero apurar o processo. Temos tantas crianças e ainda temos que providenciar outros recém-criados para o segundo ataque. ― resumiu ele. ― Teremos mais tempo se a enviarmos hoje.

Talvez fizesse sentido o pensamento de Riley, que concluiu:

― E como dizia ― Riley sorriu pequeno e beijou a orelha de Victoria, que comprimiu uma careta. ― É um horário movimentado: eles serão pegos de surpresa. Terão que proteger a eles, a humana e os outros. ― uma gargalhada quase inaudível vinda de Riley fez Victoria olhá-lo de esguelha. ― Isso se conseguirem se proteger.

Desvencilhando-se do toque de Riley, Victoria enrolou uma mecha do cabelo vermelho e, muito decididamente, balbuciou:

― Você tem toda a razão, Riley. Porém… ― Victoria olhou Riley por cima do ombro. ― Quero que os envie agora.

***

Semicerrando os olhos com muita leveza, Edward Cullen analisou a situação geral: estavam no meio do estacionamento da escola, na frente de muitos humanos e muitos professores insatisfeitos com os malditos salários, sem contar com o faxineiro que começava a espiar das escadarias o grupinho Alice, Edward, Bella e Leah. Sem dúvidas Leah não atacaria bruscamente: não poderia arrancar um braço dele na frente de tantas testemunhas. O máximo que a Clearwater faria seria dar um soco ou um chute; nada além de um golpe que Edward desviaria com muita facilidade. Ela também não poderia dar “chilique” ali na escola, pois não era estudante e daria confusão com o diretor. Parecia que tudo conspirava a favor de Edward. Sentiu-se tão debochado que deixou uma risadinha rouca escapar entre os lábios.

― Qual a graça, sanguessuga? ― disparou Leah, de imediato. Bella, que se encontrava atrás de Leah, pousou as mãos nas costas da companheira, tentando afagá-la e passar-lhe calma.

― Você é patética, Quileute. ― respondeu Edward, sarcasticamente.

― Seu… ― Leah travou um palavrão e foi na direção de Edward, disposta a quebrar-lhe os dentes (ou pelo menos, tentar). Bella, acompanhando o ritmo da garota Clearwater, tentou segurar Leah. Tentativa fracassada: Leah estava tão furiosa que não sentiu quando foi com o cotovelo para trás e acertou Bella, que cambaleou e bateu contra a picape. Assustada, ela soltou um berro. No mesmo instante, Leah voltou a realidade e voltou-se para Bella, agarrando-a pelos lados dos braços e pedindo desculpas:

― Me perdoe Bella! Eu… ― Leah parecia prestes a chorar de desespero. Não… Não podia ter machucado Bella! ― Eu sinto muito, vida.

― Não… ― Bella esfregou a barriga, onde o cotovelo de Leah tinha acertado. Não iria admitir, mas estava doendo. E muito. E tinha certeza de que ficaria um hematoma escuro… Que Leah não iria ver, pois se visse teria um acesso nervoso. Bella forçou um sorriso e tentou esquecer a dor. ― Tudo bem. Não… Machucou.

― Eu…

― Eu disse. ― sibilou Edward. ― Ela só irá te machucar, Bella!

― Cala a boca, Edward. ― resmungou Bella, dedicando toda a sua atenção a Leah, que continuava na volta preocupadíssima.

Felizmente, ou infelizmente, Leah estava distraída demais checando Isabella Swan para prestar a mínima atenção às picuinhas infantis de Edward Cullen.

― Não foi minha intenção, Bella. ― explicou-se Leah, pela milésima vez. ― Eu nunca teria…

― Tudo bem, Leah. ― falou Bella com tamanha doçura que fez Leah se calar. Ela tirou a mão da barriga e abraçou a cintura da loba. O corpo de Leah, inteiramente, relaxou. Ela respirou o mais profundo que pôde, sentindo o terapêutico cheirinho de morangos de Isabella. ― Não precisa se preocupar. ― afirmou, apesar do incômodo. Leah assentiu e retribuiu o abraço de Bella, passando os braços por cima dos ombros da garota.

Edward desviou o olhar, muito nauseado. Aquilo era errado e nunca seria certo. Edward Cullen era quem deveria estar abraçando Isabella Swan, não Leah Clearwater!

― Precisamos ir. ― anunciou Alice Cullen, muito cuidadosamente e evitando qualquer ataque raivoso vindo de Leah. Por mais que gostasse de Bella (e apoiasse as escolhas da amiga), não desejava ser desmembrada ou ver o irmão andando por aí com uma perna só. ― Falta um minuto e o sinal irá tocar.

Bella assentiu e inclinou a cabeça, beijando a bochecha de Leah. Devia admitir que beijasse as bochechas de Leah era uma sensação extraordinária: apesar da magreza, era fofa e bem quentinha. Fazia Bella querer repetir a dose e beijá-la nas bochechas outra vez. Divertido e inocente; fazia-a corar discretamente.

― Relaxe um pouco. ― suplicou Bella ao beijar a outra bochecha de Leah. ― Vou indo agora. ― Bella soltou Leah e mexeu a cabeça, concordando com o próprio pensamento.

― Vamos indo, Eddie. ― Alice enganchou o braço no de Edward e puxou-a para longe das duas, porém, antes que ficasse distante demais, ergueu a mão e disse para Bella: ― Nos vemos na aula de Inglês! ― e prosseguiu sua caminhada.

― Ignore Edward. ― aconselhou Bella. Leah revirou os olhos.

― Sabe que esse papinho não cola comigo, Bella.

― Sei, sei… Mas tente. ― ela piscou para Leah. ― Ele está agindo como um grande idiota…

― Não. ― interrompeu Leah, muito sabiamente. ― Ele sempre foi idiota. É diferente ser e agir.

― Ok. Você tem razão. ― concordou Isabella. ― Apenas… Não se deixe atingir. Você é melhor que isso.

― Obrigada pelo apoio. ― bufou Leah, preferindo olhar para o asfalto do que para Bella, que não apoiava os socos e membros arrancados.

― Não há de quê, Lee. ― Leah voltou a olhar Bella: aquilo não era comum. Corretamente dito: nunca tinha acontecido. Bella só tinha a chamado de Lee uma única vez e fora por deboche. Mas, agora, escutá-la pronunciando o apelido com tanto afeto… Chegava a ser comovente. ― Tenho que ir. ― Bella roubou um selinho de Leah quando o sinal bateu, antes de ir para a aula.

***

A floresta parecia perigosamente silenciosa. Tão quieta que Leah forçou os olhos para enxergar mais e melhor; à procura de uma possível ameaça. Encontrou nada. Nenhum grunhido de um animal ou estalar nas folhas.

Leah, que estava transformada e sozinha em sua caminhada, subiu na rocha mais segura que achou e uivou longamente. Àquela distância não conseguia escutar os pensamentos de Quil ou Jared, que deveriam estar na ronda. Poucos segundos passaram-se e o uivado de Jared ecoou pela floresta: o aviso de que tudo continuava bem e que estavam no turno. Ótimo! Escorou-se numa árvore e observou a calmaria.

Um passarinho circundou o céu juntamente de mais cinco irmãos e chamou a atenção de Leah, que aliviada pelo primeiro som, ergueu a cabeça e observou os pequenos sobrevoando com tanta despreocupação que era impossível acreditar em tal vida. Como conseguiam? E por que eram merecedores da sorte? Leah suspirou e fechou os olhos só um pouquinho, tentando organizar a confusão em sua mente.

“Claro que eles têm problemas! Predadores e mais predadores que esperam por eles como o jantar, mas…” ― suspirou novamente e abriu os olhos. Apesar dos perigos da natureza os pássaros, ainda sim, conseguiam desopilar um pouquinho quando voavam. Leah só relaxava quando estava rodeada pelos braços de Bella (e ainda sim, parte da mente dela pensava nos perigos e no que Victoria poderia fazer e agora, o que Edward poderia fazer). “Devia ter arrancado o pescoço daquele babaca.” ― resmungou Leah. “Não iria fazer falta pra ninguém e despoluiria um pouco do ar.”

“Você atingiu o ápice da loucura, Leah.” ― comentou Jacob Black, aproximando-se da loba. Leah se colocou de em pé num salto e soltou um rosnado baixo; por que Jacob estava ali? Ele sabia muito bem que não era querido por Leah. “Oi.”

“Saia daqui, Black.” ― ordenou Leah num tom desgostoso. “Volte para a alcateia do Sam.” ― depois de todas as indelicadezas, Jacob queria acompanhá-la ali ou puxar papo? Sinceramente, Leah não achava nenhum motivo para dar conversar a ele e muito menos para querê-lo como companhia.

“Temos que conversar algumas coisinhas, Leah.” ― murmurou Jacob com a voz tão hesitante que Leah entendeu aquilo como um pedido humilde. Sim; era um pedido cheio de humildade.

“Desembuche Black.” ― respondeu Leah, pouco à vontade e nada comovida com o tom meloso de Jacob. Mesmo transformada, a testa de Leah se enrugou e ela deu uma fungada.

“Já estar sabendo que tive um imprinting.” ― Leah anuiu com a cabeça e observou Jacob sentando-se ao lado dela, que continuava em pé. “E que foi por uma vampira.”

Por um segundo, Leah cogitou pensar em algo maldoso ou zombeteiro. Não conseguiu. Por mais que detestasse Jacob e todas as grosseiras feitas por ele, jamais conseguia achar mal no imprinting. Fosse por uma vampira ou por uma humana; o imprinting era uma bênção para o lobo.

“Obrigado pela compreensão.” ― agradeceu Jacob. Leah Clearwater deu de ombros e ele seguiu com suas palavras: “Bem… Acho que devo ir direto ao ponto: vim aqui para pedir desculpas”.

“Não sou Deus para perdoar.” ― Leah olhou de soslaio para Jacob Black.

“Não aja de forma indiferente.”

“Você não é meu pai; não manda em mim!” ― gritou Leah numa explosão de raiva.

“A educação paterna fez muita falta em você.” ― Leah encarou Jacob: totalmente descrente do tamanho das maldades nas palavras dele. Como ele… Como ele ousava falar aquilo? Dominada da cabeça as patas pelo ódio, Leah rugiu e saltou sobre Jacob Black.

“Isso é sua culpa, seu desgraçado!” ― berrou Leah, rosnando e quase espumando pela boca. Rugiu mais uma vez e abocanhou o pescoço de Jacob, sentindo o gosto do sangue se espalhando pela boca. Jacob gritou em dor e encolheu as patas embaixo de Leah e em seguida pôs força total nelas, impulsionando Leah para trás e livrando-se do peso e dentes da loba.

Leah cambaleou e resvalou, perdendo o equilíbrio das patas traseiras e caindo no chão. Não durou muito, pois em seguida ergueu-se furiosa e mostrou os dentes para Jacob, que rosnou de volta. Lembravam dois gatos arrepiados.

“Eu não me transformava naquela época! Era você e aqueles imbecis do Sam que cuidavam da floresta” ― na verdade, a culpa era uma junção de muitas pessoas. De Edward por ter atraído Victoria. De Jacob por não ter sido o suficiente para vigiar Harry e os outros. “Você também tem culpa na morte de Harry!”

“Eu…”

“Podia sim! Era sua obrigação!” ― completou, antes mesmo que Jacob pensasse o resto. “Você nem ao menos tentou, Jacob!” ― Jacob deu uns passos para trás, surpreso demais com a postura da Clearwater: Leah estava chorando. Sua mente tremia na confusão e invés de rosnados soltava ganidos sofridos.

“Leah, eu…” ― Jacob travou a língua e deu uma virada no pescoço, espiando com o canto olho. Sua audição apurada e instintos apontavam problemas; muitos problemas. Leah engoliu o ganido e inclinou-se para olhar também, sentindo a mesma preocupação. Nada viu. Jake só sentiu uma horrível ardência no focinho e um espirro inaudível escapando.

― Entendam ― pediu Riley, olhando para as trinta criancinhas ajeitadas em cinco fileiras. Uma baixinha (a mesma que matara outra criança por uma boneca) manteve-se desinteressada em Riley e alisou os cabelos loiros da Barbie. Mamãe tinha prometido dar outra daquelas. ― Aqueles cães ― Riley indicou com o dedo Leah e Jacob Black para as crianças. ― São os malvados. Precisamos tomar uma atitude e cuidar de tudo.

No fundo da terceira fileira, um menino moreno levantou a mão e muito gentilmente questionou:

― Podemos domesticá-los? ― Victoria, que não se pronunciara durante todo o caminho, abriu espaço e disse:

― São selvagens demais para algum tipo de educação. ― assegurou. ― Precisamos matá-los. ― concluiu com frieza. As crianças se entreolharam, meio tristonhas por não terem a chance de domesticar os belos cães e assentiram juntinhos.

Victoria sorriu: apesar do estresse, era tão fácil convencer aquela pirralhada! Escondendo-se atrás de uma árvore, Victoria esticou-se e deu uma espiadela. Leah, que ainda prestava atenção em tudo, viu no mesmo instante a cabeleira vermelha da sanguessuga que deveria estar, possivelmente, a quase 1 km.

Um arrepio ― forte e brutal como um choque elétrico ― escorregou por todo o corpo de Leah e ela rosnou altíssimo: Victoria não iria escapar daquela vez. A vampira gargalhou e disse:

― Agora.

E ressoou na floresta os rosnados e gritos das crianças.

Toda a calmaria tinha ido embora.


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Notas finais do capítulo

Para quem não ficou sabendo, temos um capítulo complementar de "Leah e Bella" >>fanfiction.com.br/historia/603740/Um_Conto_Leah_e_Bella/
Mas... e sobre o capítulo de hoje: o que acharam? Ansiosos para ver o desenlace do ataque?
Mil beijinhos da Cássia!