CAPÍTULO XVIII

― O que você quer, idiota? ― Leah não fez questão alguma de usufruir da boa educação que havia recebido de Sue e Harry. Descendo as escadas rapidamente, os cabelos de Leah se movimentavam com sutileza.Ultimamente, seus cabelos estavam crescendo surpreendentemente rápidos, deixando de um Chanel desproporcional (por ser curto demais) para um Chanel normal. Leah franziu o rosto com asco quando sentiu o cheiro desagradável que Sam exalava: uma mistura nojenta de lama, uísque e um terceiro cheiro que Leah não conseguia identificar, apenas sabia que era tão repugnante quanto os outros. Sam, que vestia uma bermuda que estava basicamente aos farrapos, ergueu o olhar.

― Seu perdão ― levou cerca de um segundo até que Sam caísse de joelhos no chão. Leah deu um pulo para trás, tão assustada quanto surpreendida com o ato. O estômago de Sam embrulhou e ele encostou a cabeça no chão, tentando não vomitar no carpete da casa de Sue.

― O que você está fazendo? ― acusou Leah, irritada. Sam gemeu, enjoado e Bella desceu discretamente as escadas, parando ao pé da mesma.

― Emily me largou ― Sam ainda estava enjoado quando respondeu.

― Não é problema meu ― secretamente, Leah teve o prazer de desfrutar daquela cena: Sam estava acabado com aquilo e ela nem precisou de uma explicação para entender o porque de Emily ter largado Sam. Ela não conversava com a prima a tempos, mas ainda sim conhecia Emily o suficiente para saber a resposta.

― Quem é ele? ― de esguelha, Leah viu Sia se inclinar no ouvido de Seth, sussurrando. Seth, que estava tão tenso quanto os outros lobos da matilha, movimentou a cabeça.

― Sam. ― Sia deixou de ficar na ponta dos pés e Bella ficou ao lado de Leah, fitando atentamente a loba. Por um único segundo, Leah crispou os lábios e observou Sam gemendo enjoado. O desejo de dar um chute em Sam era tão maldoso quanto justo!

Ele estava encolhido no chão e Leah já podia imaginar seu pé em um chute certeiro espremendo as costelas de Sam contra os órgãos; não mataria mas o deixaria dolorido pelas próximas três horas. Leah suspirou.

― O que você quer que eu diga? ― Leah arqueou as sobrancelhas. ― Já passou? Tudo bem? Bem-vindo à família, primo?

― Eu sinto muito ― Sam ergueu o rosto, olhando Leah. ― Eu fui injusto com você ― mesmo estando sobre o efeito do álcool as palavras de Sam eram sinceras. ― Eu estava errado...

― Sério? Nunca desconfiei de algo do tipo ― debochou Leah. Sam apoiou as mãos no chão e levantou-se cambaleante, firmando-se em pé após dois tropeços.

― Me perdoe logo ― Sam semicerrou os olhos. ― E podemos acabar com isso. ― Leah ficou parada por alguns segundos, pensando no que faria. Podia prolongar o sofrimento de Sam ou poderia acabar logo com aquilo. Leah não conseguiu formular sua resposta, pois quando estava quase terminando de por os pensamentos em ordem Sam puxou Bella pelo braço. Bella grunhiu quando sentiu a força da mão de Sam e Leah rosnou. ― Faça essa cabeça dura entender... ― Sam balançou Bella com brutalidade e Leah, de uma forma incrivelmente rápida e brusca, empurrou Sam forte o suficiente para fazê-lo cambalear, mas não foi como esperado. Ele não soltou Bella e ambos cambalearam juntos, Sam se mantendo firme logo depois e Bella impactando contra o corpo dele. Sam apertou um pouco mais braço de Bella e ela gemeu de dor; aquilo com certeza ficaria roxo. Leah rosnou outra vez, enfurecida e deu um passo ameaçador na direção de Sam que estava totalmente focado em Bella. ― Que será melhor para nós dois sermos amigos. ― Sam soltou Bella e Leah a puxou para trás de si.

― O que você quer? ― berrou Leah, ainda sentindo tremores de raiva.

― A amiguinha ruiva dela estava no território a alguns minutos ― Sam indicou com a cabeça para Bella que estava atrás de Leah; uma das mãos estava enlaçada na da loba. Leah franziu o cenho e abriu os lábios para retrucar. Sam a interrompeu antes mesmo de começar. ― Todos já sabem que a ruiva quer o pescoço dela, Leah ― Leah fechou os lábios, respirando profundamente. Sua raiva agora era por Victoria, seu organismo remoendo as últimas informações e o ódio apenas aumentando. Leah não gostou da forma como Sam falou aquilo, Leah sentiu-se como se Victoria fosse realmente pegar o pescoço de Bella, como se ela não fosse capaz de cuidar do próprio alvo do imprinting. Mentalmente, Leah se acusou por ter abaixado a guarda e por não ter se movimentado com mais rapidez com Sam, por tê-lo deixado encostar um dedo em Bella. Leah ao máximo tentou afastar o pensamento de que não seria capaz de proteger Bella.

― Onde você quer chegar com isso, Sam? ― falou Leah, entredentes.

― Seria melhor sermos amigos, Leah ― Sam concordou consigo mesmo. ― A ruiva quer Bella e não será muito prudente da sua parte proteger ela com tão poucos... ― Sam correu o olhar pela sala e parou em Sianoah. ― Outra loba?

― Eu não vou voltar para a matilha ― disse Leah, não respondendo a pergunta de Sam.

― Não precisa voltar ― Sam voltou a olhar Leah, agora, com profundeza e com um certo tipo de ordem que fez Leah ter outros temores de raiva. Delicadamente, Leah soltou a mão de Bella e deu um passo na direção de Sam. ― Apenas... Vamos passar uma borracha nisso, Leah.

― Esquecer? ― questionou Leah.

― Eu entendo que você precisa dela, Leah ― Sam engoliu o pouco do orgulho que lhe restava e prosseguiu: ― Mas eu preciso da Emily ― Leah deu outro passo para frente. ― E você e eles serão fracos demais para a parasita... ― Leah mexeu nervosamente as mãos em um movimento discreto. ― Uma aliança entre nós seria bem útil. ― Leah sorriu e Bella desviou o olhar, mas o som foi inevitável: o punho de Leah tinha uma força assustadoramente bela e isso ninguém jamais poderia negar.

O impacto doloroso ecoou nos ouvidos de Bella e Sam cambaleou para trás; do canto esquerdo dos lábios vazava sangue. Leah sacudiu a mão direita, com nojo do sangue de Sam.

― Agora, seu idiota... ― disse Leah quase em um grito. ― Saia da minha casa. ― Sam entreabriu os lábios, mas Leah não tolerou uma única palavra. ― Agora! ― mandou ela, agora, gritando. ― Se queria desculpas? Está desculpado! ― o maxilar de Sam estava tenso, quase em um desafio. ― Mas nunca mais ouse encostar um desses seus dedos imundos na minha namorada. ― namorada? Bella sorriu pequeno quando escutou a palavra saindo naturalmente dos lábios de Leah.

― Temos um acordo, então? ― insistiu Sam. Leah bufou.

― Suma daqui, Sam.

― Acho que isso é um sim. ― ele sorriu, exibindo os dentes ensaguentados.

***

― Eu estou bem, Leah ― repetiu Bella, pela milésima vez. Leah olhou a porta da casa de Bella por um curto tempo; podia escutar Charlie lá dentro, mexendo na cozinha, tentando preparar algo para comer. Leah encarou Bella e puxou com sutileza o braço da garota, puxando a manga da blusa um pouco para cima e observando o roxo que Sam havia deixado. Leah castigou-se mentalmente outra vez. ― Isso é nada.

― Eu deveria ter agido antes.

Leah soltou o braço de Bella que puxou a manga da blusa para baixo. Bella sorriu pequeno, planejando sua fala. Aquele olhar dolorido de Leah era a pior sensação do mundo; Bella não queria ver a Leah daquele jeito, queria ver ela feliz, sorrindo assim como sorria quando elas trocavam um abraço, uma carícia ou apenas um olhar carinhoso.

― Então, somos namoradas? ― Bella colocou uma mexa de seu cabelo castanho para trás da orelha antes de cruzar os braços. Naquele segundo toda a estrutura durona e teimosa de Leah se desfez e ela rendeu-se num sorriso apaixonado.

― Deveria ter pedido ao seu pai antes? ― perguntou e Bella riu, negando. ― Deveria ter perguntado a você... ― Leah ergueu uma sobrancelha. ― Antes?

― Não ― agora, Bella sentia-se tão orgulhosa quanto Seth quando apresentou Sia a Leah. Ele transbordava alegria e Bella não estava nem um pouco atrás. ― Está bom assim, namorada.

E para ambas foi impossível conter o movimento: os braços de Leah foram envolta do pescoço de Bella e os de Bella em volta da cintura de Leah, deixando-as tão juntas que os corpos delas estavam colados, não sofrendo nenhum afastamento.

― Não é incrível? ― Bella segurou o gemido de prazer quando sentiu o formigamento que a pele de Leah causava na sua.

― O que é incrível? ― indagou Bella, balançando delicadamente o corpo de Leah.

― O que é incrível? ― Leah sentiu um prazer genuinamente seu por todo o seu organismo. ― As estrelas são incríveis ― Bella sorriu. ― Você é incrível ― Leah deixou-se levar na essência castanha dos olhos de Isabella. ― O jeito que resolvemos esses pequenos conflitos é incrível.

― E como resolvemos? ― Bella já sabia a resposta, mas queria escutá-la saindo dos lábios carnudos de Leah Clearwater.

― Com um beijo.

Bella mordeu o lábio inferior.

― Quem disse que eu vou te beijar?

Leah soltou uma risada divertida.

― Eu sei que vai ― respondeu antes de ter os lábios tomados pelos os de Isabella Swan.

A cada vez que os lábios de Leah e Bella se encostavam, a loba chegava a conclusão de que o beijo nunca se tornaria clichê. Sempre havia uma surpresa entre os lábios delas, uma sensação que a cada vez se tornava mais incrível. Talvez a prática levasse a perfeição, de qualquer forma, quando Leah se dava por conta, estava perdida entre a maciez da boca de Bella, totalmente perdida e viciada. Era tão saboroso... Mas deveria ser parado: as duas ainda precisavam de oxigênio.

― Eu vou ficar aqui esta noite ― Leah selou os lábios nos de Bella outra vez.

― Na rua? ― preocupou-se Bella, apertando a cintura de Leah.

― Eu vou estar transformada ― explicou Leah. ― Vou estar bem.

― Tem certeza? ― Leah assentiu. ― Não me parece confortável...

― Não se preocupe, e qualquer coisa muito desconfortável... Eu pulo na sua janela e me aconchego em você ― Leah piscou e Bella ruborizou. Leah sorriu mais longo e com as pontas dos dedos inclinou o queixo de Bella em sua direção, beijando com doçura uma última vez os lábios de Isabella naquela noite. Bella ainda estava de olhos fechados quando Leah deu outro beijinho. ― Acho que você precisa entrar. ― murmurou Leah quando escutou Charlie resmungando na cozinha sobre a sua falta de prática com o micro-ondas.

Apesar do beijo ter acabado, Bella sentiu-se plena quando entrou dentro de casa. Havia conseguido afastar de Leah o olhar tristonho, havia a feito sorrir do que jeito que amava, porém, Bella não havia conseguido afastar aquilo de Leah, não totalmente: apesar de ainda sentir o quente da boca de Bella, Leah não conseguia saboreá-lo. Pensava em Victoria e se teria capacidade de proteger Bella sozinha, e se realmente precisava de uma aliança com Sam Uley.

Escondendo-se entre as árvores próximas a casa de Bella, Leah deitou-se na sua forma lupina e em seguida, levantou-se. Se Victoria estivesse perto...

“Não fique paranoica, Leah” ― repreendeu Jared, deitando-se ao lado de Leah. Leah segurou o rosnado e fulminou Jared com o olhar: sempre que ela desejava se afundar num devaneio, alguém aparecia para atrapalhar o andamento de seus pensamentos.

“O que você está fazendo aqui?” ― Jared afundou as patas na lama.

“Matando o tédio” ― ele afundou mais as patas da frente na lama e Leah revirou os olhos. “Quil está na ronda com Seth e Leah 2...”

“Leah 2?” ― Jared concordou.

“Aquela garota é tão chata quanto você, Leah” ― Leah suspirou.

“Talvez você seja insuportável demais para merecer a doçura feminina das lobas...”

“Ah, qual é?” ― ele soltou um bufar rouco. “Por que vocês garotas sempre se protegem?”

“E por que as garotas não gostam de você, Jared?” ― retrucou Leah.

“Você é ruim com o Seth!” ― Jared imitou a voz de Sia de um modo tão barato que fez Leah rir.

A risada dela chegou ao fim e silêncio estendeu-se sobre eles. Leah sentou-se, ignorando a presença de Jared e permitindo-se o devaneio. As lembranças recentes de Sam apertando o braço de Bella pipocaram em sua cabeça e ela quase rugiu de raiva, a lembrança da cabeleira ruiva de Victoria fez Leah ter arrepios, a lembrança do olhar carinhoso de Harry Clearwater fez Leah ter mais sede pela vingança e o medo de não ser capaz tomou conta de Leah outra vez.

“Hey, 'Lee' ” ― Leah nada falou, apenas olhou para Jared. “Você vai conseguir.”