Isabelle estava sentada na cama, pensando sobre sua conversa com Simon. Ela desabafara tudo, até chorou um pouco. Simon a confortou com uma doçura e paciência que ela não sabia explicar de onde tinha vindo. Talvez todos os seus temores estivessem certos, talvez ela estivesse mesmo apaixonada. Ela pedira pra ele passar a noite com ela, é claro. E é claro que ele aceitou, agora estava adormecido, mas ela não. Seu irmão não tinha voltado, Sebastian estava desaparecido tramando qualquer coisa que ela não queria saber, simplesmente o queria morto. Seus pais estavam tendo brigas bastante feias ultimamente e estavam dormindo em quartos separados. A clave ainda estava em cima deles, suspeitando da batalha que acontecera a poucos dias. E ela estava praticamente enlouquecendo.

Parou de dramatizar quando escutou o ruído da enorme porta do instituto, nem foi pra janela checar, pulou da cama e saiu correndo pra encontrar Alec. Em parte porque estava feliz por ele ter voltado, em parte porque não queria que ele entrasse no seu quarto e visse Simon.

Quando o elevador se abriu já no andar de baixo, ele já o estava esperando. Isabelle se jogou em cima dele e o abraçou, com toda a preocupação de uma irmã caçula.

– Pelo anjo Alec! Onde esteve? O que aconteceu?

– Calma. Calma iz. Me solte, está me machucando.

Ela soltou e se afastou apenas pra ver que ele ainda estava coberto se sangue, seu uniforme completamente rasgado e a pele por baixo dos rasgos ainda estava se curando.

– Desculpe. Mas o que aconteceu? A atividade demoníaca estava baixa hoje á noite.

– Não foram os demônios izzy, quando estava vindo pra cá, encontrei alguns dos seguidores de Sebastian. Aparentemente haviam conseguido escapar com vida. Eles não ficaram felizes por seu mestre ter sido derrotado.

– Mas você os matou não foi?

– Não, eu os entreguei pra clave. E se você estivesse nessa situação teria de fazer o mesmo. Foi por isso que eu demorei.

– Certo. Você nunca mais vai caçar demônios sozinho. Sempre que algum de nós vai caçar sozinho tudo de ruim acontece.

Ela viu Alec esboçar um sorriso, mas antes que pudesse perguntar, ele falou:

– Se é assim que você quer... Agora vá dormir, não devia ter me esperado acordada.

– Tudo bem, boa noite.

– Boa noite.

Ela ainda demorou um pouco pra pegar no sono, mas conseguiu, finalmente, dormir.

***

Sebastian e Mariana estavam subindo em direção ao corredor dos quartos, empolgados com a conversa sobre o filme.

– É quando a irmãzinha dela explode!

– Claro que não, é no primeiro filme quando o Gale vê ela beijando o Peeta na arena!

– Tsc tsc tsc. Mariana, minha queria colega, você não sabe nada sobre ação e drama não é?

– Falou a criatura sem infância que nunca tinha visto um filme na vida!

– Falou a garotinha mimada que nunca esteve em uma batalha de verdade.

Ela mostrou a língua pra ele.

– Estamos empatados

– Correto

– Mas, de verdade, a melhor cena é no primeiro filme quando o Gale vê ela beijando o Peeta se beijando na arena.

– Não, é quando a irmãzinha dela explode. Isso está fora de negociação.

Eles pararam, já estavam na porta do quarto dela.

Mariana balançou a cabeça.

– Você é muito teimoso e cabeça-dura.

– Você não é diferente – Disse Sebastian com o sorriso sarcástico que nunca deixava seu rosto de fato.

– Talvez. Nós realmente temos muito em comum.

Ele assentiu

– Isso é certo.

Ela sorriu.

– Boa noite Sebastian.

Mariana se virou e fechou a porta do quarto, sem esperar pela resposta.

Ele se encaminhou para o próprio. E foi só quando se deitou que começou a refletir o peso da conversa dos dois.

“É quando a irmãzinha dela explode” Max. Imediatamente se lembrou de empunhar o martelo pra baixo, do grito estridente de Isabelle.

Ele realmente tinha algum problema relacionado a morte de crianças.

“Falou a criatura sem infância que nunca tinha visto um filme na vida!” Ele se lembrou de todos aqueles anos com Velentim. Ele nunca fora um pai de verdade, só o treinava, sem parar.

Nunca demonstrou afeto ou compaixão, nem mesmo pelo fato de ele ser apenas uma criança.

“Você é só mais uma vítima de Valentim” Será que era mesmo verdade? Será que ele tivesse sido criado com uma família, convivido com outras pessoas, o sangue de demônio que corria em suas veias não importaria? Mariana parecia realmente achar que sim. Ela foi a única pessoa que o tratou como um igual, não como um monstro. Ele se perguntou por que com ela a conversa nunca era pesada demais, eles podiam falar tranquilamente sobre qualquer assunto. Nunca parecia forçado. Isso, de certo modo, o assustava.

“Nós realmente temos muito em comum”

– Talvez nem tanto. Pelo menos não o bastante. – Sussurrou pra si mesmo enquanto caía no sono.

***

Clary estava praticamente dormindo sentada. Não sabia qual era o sentido da reunião urgente que Maryse havia convocado, mas supôs que deveria ser importante pra que ela tivesse acordado todos ali presentes ás 6:30 da manhã. Olhou em volta, ainda faltava muita gente, só havia na mesa ela, a mãe, Maia, representando Luke que ainda estava hospitalizado, Simon*, representando Raphael que não tinha permissão pra entrar no instituto, o irmão Zacariah, Alec e Robert LightWood.

Ainda faltavam Maryse, que fora acordar e ajudar Jace a se aprontar, Isabelle, que nunca ficaria pronta em tão pouco tempo, Magnus, que representaria os feiticeiros e qualquer representante das fadas, não importava quem fosse, pra Clary seriam sempre seres malignos, mas por causa dos acordos, eles eram obrigados a ajudar.

Um silêncio mortal estava pairando na sala, parecia que ninguém mesmo queria discutir sobre a maneira menos rápida de morrer, já que era certo que Sebastian não desistira ainda, ou pelo menos, não seus seguidores. Eles ainda eram mais poderosos, e ainda estavam negociando com demônios.

A porta da biblioteca se abriu e Maryse e Jace entraram. Jace ainda mancava um pouco e não podia tocar em nada, mas estava bem o bastante para participar da reunião. Ela queria tanto ir até ele, abraçá-lo, poder tocá-lo... Com um suspiro, lembrou-se que mesmo que não existisse a questão do fogo celestial, eles ainda estavam em público.

Alguns minutos ainda se passaram até que todos chegassem. Isabelle, naturalmente foi a última. Quando estavam todos em completo silêncio, Maryse começou a falar:

– Bem estamos aqui para discutir sobre o que Jonathan Morgenstern pode estar tramando para o futuro. Nós recebemos as asas de anjo aqui mesmo na biblioteca, o próprio irmão Zacariah foi um dos primeiros a saber. Nós já conferimos, está certo que não veio diretamente de Jonathan, e sim de seus seguidores. Eles também foram responsáveis por libertarem diversos demônios maiores pela cidade, como meu filho, Alexander confirmou. E a clave esta fazendo investigações e tem quase certeza de que eles também não têm notícia dele. Estão querendo pôr medo em nós todos, nos fazendo acreditar que Jonathan está se recuperando e preparando um novo ataque...

Clary parou de ouvir aí. Não conseguia prestar atenção. Ou fingir que estava prestando atenção. Ela não queria ouvir problemas, ou discutir estratégias. Ela só queria poder tocar Jace novamente, queria Luke em casa de novo, queria Sebastian morto. Mas acima de tudo, queria sua paz de volta. E estava determinada a consegui-la. Ela começou a pensar, e a formar um plano. Seria perigoso, quase suicida. Mas tinha chance de dar certo. Precisaria de ajuda, mas Jace não ficaria sabendo, ele nunca deixaria que ela se arriscasse daquele modo. Ela ficou o resto da reunião aperfeiçoando a ideia. Iria funcionar, ou a mataria, mas ela estava disposta a descobrir a resposta.