Eles estavam navegando a apenas alguns metros do grande Iate Silversmith, Magnus observava na retaguarda enquanto Clary e Isabelle esperavam o sinal de Alec pra subir no barco.

Pareceram minutos intermináveis, até que a oportunidade apareceu, e os quatro subiram e deram de cara com... Uma garota? É, ao que parecia, uma caçadora de sombras, e ela não parecia machucada ou infeliz, pelo contrário, estava arrumando a parte de trás do barco. Então Sebastian de fato estava recrutando um novo exército? Quando ela os viu, imediatamente reconheceu Clary e gritou, e em segundos o Morgenstern estava ao ledo dela, com feições preocupadas. Magnus achou aquilo estranho, nunca tinha visto nele ou no pai uma expressão que não fosse sarcástica, superior ou de ódio.

– O que – Começou ele – Meus queridos amiguinhos Lightwoods e minha irmãzinha estão fazendo aqui? Saudades? – E lá estava a expressão sarcástica de volta...

– Claro – Rosnou Isabelle - Você não imagina a falta que faz

De fato, o único que parecia ao menos tentar controlar as emoções ali era Alec, estava completamente parado, com o arco em mãos já apontado e a expressão mortalmente calma.

– Ah, com certeza imagino. Vocês também deixaram saudades. Não nos vemos desde a batalha no sítio sagrado, como está sua família Izzy?

Ai. Pensou Magnus. Ele está falando de Max.

As narinas de Isabelle se dilataram e seus olhos se arregalaram. Tamanho era seu ódio. Ela brandiu o chicote na direção de Sebastian com tamanha rapidez que, se não fosse tão mais rápido que um caçador de sombra normal, ele provavelmente teria sido partido ao meio.

– VOLTE AQUI, INFELIZ. VOCÊ VAI SE ARREPENDER, VAI SE ARREPENDER DE TER NASCIDO!

O Morgenstern começou a gargalhar e a se mover, deixando Isabelle mais furiosa cada vez que o errava. Ele se movia tão rápido que Magnus não conseguia distinguir seus movimentos, nem suas direções. Com o canto do olho viu Clary terminando alguma marca com a estela e pegando uma lâmina de serafim e de súbito, entendeu que também deveria começar a lutar, ele ergueu as mãos, conjurando as tradicionais chamas azuis, um pouco mais poderosas do que o habitual, se preparou para atirá-las e...

***

Clary ouviu o grito de Magnus enquanto ainda tentava localizar o irmão no meio de todas as gargalhadas do mesmo e da gritaria de Isabelle, olhou pra trás e viu Alec ajoelhado, se dividindo entre amparar o feiticeiro, e se defender das investidas da garota que eles tinham visto primeiro quando chegaram ao barco. Ela estava com uma adaga ensanguentada nas mãos, mas não parecia nada maligna, na verdade mesmo agora, enquanto ela lutava em defesa de Sebastian não parecia gostar do que estava fazendo. Será que estava sendo controlada? Ou chantageada de alguma forma? De qualquer modo, Magnus deveria ter chegado bem perto de atingir Sebastian pra que ela agisse.

Ela estava quase se virando pra ir até lá ajudar Alec, quando sentiu algo passar zunindo ao seu lado.

– Oi irmãzinha – O sorriso despreocupado dele a causava arrepios – Vai a algum lugar? Ajudar seu amiguinho feiticeiro?

– É, é exatamente pra onde eu vou.

Isabelle apareceu ao lado dela, com a postura rígida e o chicote em mãos.

– Pare de jogar conversa fora. Mate-o!

– Tsc tsc. O que é isso Izzy, que modos são esses? Era esse o exemplo que você dava a Max?

– NÃO OUSE FALAR O NOME DELE!

Clary pôde detectar a voz embargada da amiga, e também as lágrimas que ela estava segurando. E pôde ver que isso divertia Sebastian.

Isabelle brandiu o chicote novamente na direção de Sebastian e logo os dois estavam imersos novamente na luta.

Ela foi novamente pra onde tinha visto Alec e Magnus, encontrou Alec, sem um arranhão lutando com uma lâmina e a garota ainda estava apenas com a adaga. Ela tinha alguns cortes feios e não estava exatamente atacando, mas er rápida o bastante pra desviar de cada ataque e se reposicionar antes que o próximo viesse.

Clary correu até Magnus. O feiticeiro estava em cima de uma poça do próprio sangue, e parecia inconsciente. Ela tirou o casaco de Magnus, e o usou pra estancar o sangue. Não poderia fazer mais nada, ele não podia receber marcas. Pensou em tomar o lugar de Alec na luta, mas ele também não poderia curar Magnus.

Ficou por minutos ali, sem saber o que fazer, enquanto observava o casaco de Magnus se tingindo com o sangue e, em segundo planos, os sons da pequena batalha que acontecia atrás dela.

Não pôde deixar de constatar que era tudo culpa dela, Magnus fora contra desde o inicio, e agora era ele quem estava sangrando até a morte. Depois de vários minutos de pânico profundo, Clary estranhou o silencio súbito e se virou pra ver o que havia acontecido.

Uma parede de luz dourada havia surgido no convés, Clary reconheceu sua luz e forma, era um portal.

Dezenas de criaturas do submundo e caçadores de sombras começaram a sair dele e em pouco tempo, o iate estava pequeno demais. Ela reconheceu a forma toda dourada no meio do aglomerado. Jace.

Encaminhou-se até ele, esquecendo-se de todo o resto a sua volta, ele parecia irritado.

– Mas o que...?

– Você realmente achou que poderia fazer qualquer loucura sem que eu ficasse sabendo? Acha que só porque estou machucado e passando a maior parte do meu tempo na enfermaria eu não fico de olho em tudo o que vocês fazem?

– Achei.

A expressão dele se suavizou.

– Bem, eu avisei sua mãe e ela chamou uma parte de seus amigos pra nos ajudar sem que a clave fique sabendo.

– Então vamos, temos que achar Sebastian.

***

Assim que percebeu o portal, Sebastian parou de provocar Isabelle foi direto pra cabine de comando, e alterou a rota, agora eles iriam pra Inglaterra. Ele teria de dar um jeito de conseguir algum meio de transporte lá, não podia arriscar a segurança de Mariana.

Antes que alguém o seguisse, ele já estava de volta ao convés, olhou em volta. Clary, Jace, Magnus, Alec e Isabelle estavam perdidos na multidão, e provavelmente não lutariam. Jocelyn estava mais próxima dele, tinham uns cinco lobisomens e até alguns vampiros. E também reconheceu Aline Penhallow e Helen Blackthorn.

Ele começou a lutar com vários dele, mas eram poucos os que participavam efetivamente da luta. Mesmo tendo coragem pra reunir um mini-exército contra ele, Jocelyn não era influente. Não conseguiu seres do submundo que não tivessem medo dele.

***

A batalha não durou muito, Sebastian matou todos os vampiros que ali estavam, a maioria dos lobisomens e naquele momento ele estava em uma luta acirrada com Jocelyn, que não deixava mais ninguém se aproximar.

Então ele viu. Ali, no canto do convés. Uma enorme mancha de combustível que deveria ter caído de uma das caixas Durante a luta. Ele foi avançando pra lá, induzindo a mãe a acompanhá-lo e conseguiu. Jocelyn não havia visto a enorme poça, e escorregou, isso deu tempo a Sebastian pra que enfiasse a lâmina no peito dela sem nenhuma dificuldade. E, com a líder caída ali, sangrando e parcialmente morta, os lobisomens e caçadores de sombras que haviam restado bateram em retirada.