Corpo de Humana... Coração de Yokai escrita por Caramelkitty


Capítulo 8
Takara na era atual




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Shippo suspirou pela décima vez enquanto mordiscava a ponta de uma espiga de trigo.

– Puxa, eles estão a demorar demais, não achas, Takara?

A rapariga estava sentada numa pedra ao lado do Yokai raposa e observava o horizonte com um brilho de antecipação no olhar.

– Sim, Shippo! Eu vou atrás deles!

Takara levantou-se decidida. Shippo largou a espiga e precipitou-se atrás dela.

– Mas Takara, a Kagome não vai gostar. Além disso, como podes atravessar o poço come ossos? Só Inuyasha e Kagome conseguem.

– Eles conseguem porque têm fragmentos da joia, ora, eu também tenho, sou tão capaz como eles. E tenho curiosidade para saber como é a outra era, vens comigo Shippo?

Ele estacou.

– Hã... eu acho melhor não me meter nisso, não, tá?

A menina soltou uma gargalhada.

– Estás com medo, Shippo-kun?

Só isso serviu para acirrar o pequeno Yokai raposa que se apressou a seguir Takara até ao poço.

Dois dias atrás, Kagome disse ao Inuyasha que ela tinha exame na sua era e que tinha de voltar. O hanyou lá a deixou voltar para casa ainda que contrafeito. No dia seguinte, Inuyasha achou que ela já tinha demorado de mais e foi buscá-la. Até agora, nenhum dos dois tinha voltado. Miroku e Sango estavam calmos, mas Shippo estava impaciente queria voltar a ver a Kagome. Mais impaciente que o Shippo, só mesmo Inuyasha que não conseguira suportar nem 24 horas sem saltar para o poço.

Takara desviou a folhagem e apresentou o poço num gesto teatral.

Antes de saltarem, Shippo hesitou de novo.

– Ei, Takara... eu acho melhor não irmos, lá na outra era deve ser perigoso!

– Perigoso? Um bando de humanos? Quê é isso, Shippo, deixa de ser medroso. Oh, tudo bem, se quiseres podes ficar aqui, eu prometo que não vou nem troçar de ti! Volto cedo, guarda um pedaço de peixe bem grande para mim ao jantar.

Takara saltou para o poço, viu-se uma luz branca que iluminou toda a penumbra do poço e quando Shippo saltou para a sua berma, já não havia vestígios da rapariga.

«Então ela foi mesmo para a era da Kagome... mas e se não deu certo? E se ela estiver numa outra dimensão? Nunca vi o poço iluminar-se com uma cor branca, é sempre roxo. Será que também dá para ir à outra era, com um fragmento de cor branca?» Pensava Shippo preocupado, debruçando-se sobre a madeira carregada de heras trepadeiras.

Shippo caminhou de um lado para o outro, de um lado para o outro, balançando a cauda nervoso. Será que devia contar a alguém? Tipo à Sango e ao Miroku?

Entretanto, Takara atravessava o vórtice de energia vendo tudo e nada em volta dela. Acabou por aterrar de pé numa extensão de terra escura. Olhou em volta e viu que ainda estava dentro do poço.

– Que droga, não resultou! – Lamentou em voz alta.

– Quem está aí?

Takara susteve a respiração ao ouvir uma voz desconhecida.

– Mamãe, eu acho que há algum Yokai no poço! – Choramingou a voz de um rapazinho. – Temos que chamar a Kagome e o Inuyasha...

– Ei! – Gritou Takara de dentro do poço, fazendo todos darem um pulo. – Vocês são da família da Kagome? Eu estou na era atual, mesmo?

– Sim, Yokai maligno, volta para a tua era... eu tenho aqui pergaminhos muito poderosos que poderão acabar contigo. – Ameaçou uma voz de idoso.

– Vovô, isso não funciona! – Sussurrou outra vez o rapazinho. Mas Takara conseguiu ouví-lo.

«Estou mesmo na era atual! Suggoii» Pensou Takara com os olhinhos castanhos a brilharem de contentamento.

Apressou-se a subir o poço e apresentou-se à família de Kagome.

– Sou Takara, Yokai que acompanha a Kagome e o Inuyasha na busca pelos fragmentos da joia. Sou nova no grupo, não sei se a Kagome já falou de mim. Muito prazer em conhecer-vos.

Eles disseram o respectivo nome e a relação familiar com Kagome. Souta, o irmão mais novo de Kagome encarava-a fixamente.

– És mesmo Yokai? Não parece...

Takara lançou-lhe um olhar mortífero. Souta correu para se esconder atrás da mãe.

– Bem, se és amiga da Kagome, sê bem vinda! Entra, vou preparar-te um chá!

Takara conversou um pouco com a mãe da Kagome e logo se deram bem. Tanto que no final ela recebeu uma importante missão.

– Importarias-te de levar a lancheira para a Kagome? Eu tentei pedir ao Inuyasha mas ele estava muito apressado. Eu dou-te as indicações da localização da escola, é perto daqui, deves chegar sem problemas.

Takara não teve como recusar ante o gentil sorriso da mulher. Não que ela pensasse em recusar, estava curiosa para saber como eram as ruas da tal... ci-da-de!

– Sem problema, chego lá num salto!

A senhora Higurashi sorriu e serviu mais um pouco de chá.

Depois de umas boas chávenas de chá quente, Takara saiu da casa e seguindo as indicações que lhe tinham sido dadas, virou para a direita e avançou pela rua. A primeira coisa que viu foi uma senhora com um quimono florido acompanhada por uma menininha de vestido branco, caracóis loiros e olhos azuis. Takara ficou sem saber como reagir... deveria cumprimentá-las ou passar indiferente?

A mulher olhou horrorizada e enojada para as garras de Takara e depois passou os olhos de esguelha pelo vestido.

– Vês, querida? – Dirigiu-se ela para a menina que levava pela mão. – Este é o perfil de um sem abrigo, gente com quem não deves conviver. Repara no vestido sujo e enlameado e nas unhas que não devem ser cortadas à meses... que nojo, parece que têm até sangue seco. Afasta-te, minha querida sobrinha, provavelmente ela tem piolhos e talvez até outras doenças.

Takara decididamente odiava humanos.

– Pois repara também, linda menina, em como a sua tia é gorda. É o que acontece a quem come muito e depois fica o dia todo sem exercício físico. E olha bem para aquele quimono, é um atrai abelhas. Não queres ficar como ela, certo? De tanto dizer mal já tem até uma voz de dar nos nervos. Assim ó, de cana rachada... não queiras ser uma florzinha de estufa!

A mulher olhou para Takara indignada e puxou pela mão da sobrinha. Atravessou o resto da rua, quase arrastando a menina pelo chão. Caiu do salto duas vezes antes de virar a esquina.

Takara fez uma careta, com a língua de fora, mas ao virar-se de novo um choque apoderou-se dela. Era um monstro barulhento que vinha em direção a ela e a grande velocidade. Kagome não tinha dito que ali não haviam Yokais?

Então o que era aquela coisa cinzenta com olhos luminosos que rugia para ela?

Takara saltou e escondeu-se atrás de um arbusto metálico.

Ou ela achava que era um arbusto metálico, porque na verdade era uma lata de lixo. E o Yokai monstruoso que passara por ela era apenas um dos muitos biliões de carros que povoavam aquela era.

Takara permaneceu acocorada atrás da lata de lixo, com o coração aos saltos durante um longo tempo. Ainda mais, porque havia um grupo de Yokais, e eles não paravam de passar. Takara esperou, mas sempre aparecia mais um, vermelho, preto, cinzento, branco, maior, mais pequeno, cada um mais barulhento que o outro. E ainda por cima soltavam veneno... Takara tossiu quando a fumaça lhe invadiu as narinas.

– Ei, puto! Eu disse 5.657 ienes (quantia mais ou menos equivalente a 40 euros). Onde está a massa, hein? Parece-me que queres levar porrada!

Dois humanos com braços de gorila e caras redondas estavam no fundo do beco e um deles segurava um terceiro indivíduo. Este estava elegantemente vestido de preto, claramente um uniforme escolar, tinha cabelo castanho claro mas a cara estava encoberta pelas mãos, acreditando na teoria do: se não se vê, dói menos.

«Bandidos!» Pensou Takara. Era comum eles atacarem as aldeias com os seus cavalos e armas para saquearem as casas e violarem as mulheres.

Comparados com esses tipos, estes pareciam apenas duas crianças a brincarem aos assaltos, mas Takara não ia deixar barato.

– Larguem imediatamente o rapaz, seus bandidos!

Eles olharam para Takara, analisaram o seu corpinho magro e aparentemente frágil e soltaram uma gargalhada.

– E quem nos vai obrigar? Tu? Se fosses mais inteligente terias chamado a polícia, agora é tarde...

– Posso ficar com a rapariga, da última vez, tu não deixaste nada para mim!

Takara olhava de um dos gorilas para outro e pensou em quem atacaria primeiro. Óbvio, o que segurava a vítima, assim não teria como fazê-la refém. Não ia falhar, não contra humanos desprezíveis.

Saltou e deu um golpe no escolhido. O bandido mal chegou a notar que fora atingido por um pé, no momento a seguir já voava pelo beco, indo estatelar-se num monte de latas de lixo vazias.

O outro correu para Takara em fúria, estalando os punhos grossos.

Mas Takara foi mais rápida, desviou-se e saltou-lhe para as costas, derrubando-o no chão.

O primeiro voltou a levantar-se, ainda atordoado, avançou para Takara cuspindo um monte de nomes feios.

– Porque não calas... – Começou Takara, segurando o punho do brutamontes milímetros antes de este acertar a sua cara. - ... a boca?

Arranhou-o com as garras e o ordinário gemeu de dor.

Depois deu um salto, apoiando-se nos seus ombros e saiu do caminho, fazendo o segundo embater no primeiro. Os dois caídos no chão olharam para Takara como se esta fosse um demónio, o que não estava absolutamente errado, e no momento a seguir bateram em retirada, gritando como loucos.

Apenas o rapaz que quase tinha sido assaltado permaneceu no beco. Ele caminhou de joelhos até Takara e prostrou-se aos seus pés.

– Domo arigato... o meu nome é Houjo!

Takara ajudou-o a levantar-se.

– Se precisares de alguma coisa, qualquer que seja, podes pedir-me, eu estou aqui para te servir.

– Não preciso de nada... ah, não, no meio desta confusão toda perdi a lancheira da Kagome!

– Conheces a Kagome-chan?

– Ela é minha amiga! Eu ia entregar-lhe o almoço, mas parece que ela vai ter que comer no refeitório.

Houjo pareceu animado.

– Eu levo-te até ao colégio! Mas não podes aparecer lá assim, vamos dar uma passada no Shopping e eu vou comprar-te algumas roupas.

Takara tentou dispensar Houjo, mas este era muito persistente. Segundo ele, era o mínimo que podia fazer pela sua salvadora.

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Kagome olhava mal humurada para o hanyou à sua frente.

Inuyasha, sem notar, comia apressadamente o seu ramen de uma maneira pouco educada, fazendo muitos dos presentes olharem para ele com desaprovação, incluindo Kagome que oscilava entre a raiva e a vergonha.

– Inuyasha, porque vieste até aqui? – Perguntou Kagome, com uma falsa calma. – Disse-te que o exame ia demorar... que ia ficar cá três dias!

Kagome desviou o olhar para uma mesa a seu lado, onde várias raparigas soltavam risadinhas. Corou e afundou-se na cadeira, pressionando a cara contra o tampo da mesa.

– Arigato, Inuyasha! – Comentou cinicamente Kagome, ainda na mesma posição de desânimo. – Além de teres feito o professor expulsar-me da aula ainda tenho que pagar este mico.

Relembrou o que tinha acontecido na aula.

Kagome estava a escrever, aplicada no exercício, quando um pressentimento interior a faz olhar para o lado. Teve um choque. Inuyasha estava sentado na berma do prédio, do lado de fora da janela, sentado como um cachorro. O que ele estava a fazer ali?

O colega de mesa olhou para Kagome, vendo que ela olhava para a janela e intrigado, voltou também a cabeça na direção de Inuyasha. Mas antes que pudesse vê-lo, Kagome levantou-se e gritou bem alto:

– Oswari!

Tudo o que o rapaz viu foi um boné vermelho que caía lentamente.

O professor entretanto chegou perto da mesa de Kagome e calmamente disse:

– Senhorita Higurashi, queira fazer o favor de ser retirar desta aula.

Kagome corou, levantou-se e saiu pela porta, sentindo os olhares dos colegas a queimarem-lhe a nuca.

Umas raparigas que rodearam a mesa deles, tiraram Kagome da sua abstração.

– Olá, sou a Hinne! Sabes que tens um cabelo prateado muito fixe?

– Prazer, Jéssica! Fui transferida de uma escola na Jamaica! O teu jeitinho de comer é engraçado.

– Sou a Amaya! Os teus olhos são tão kawaii!

Kagome levantou a cabeça e mirou as assanhadas com desagrado. Elas estavam claramente a atirarem-se ao Inuyasha como se este fosse o último pedaço de carne de um banquete. Inuyasha olhava para elas sem saber o que responder.

– Que fofo, ele é tímido! – Comentou Amaya para Hinne.

Começaram então a fazer um monte de perguntas enquanto Kagome sentia o sangue a ferver.

– Inuyasha, come o resto do ramen, senão vai ficar frio!

As três raparigas olharam para Kagome como se pela primeira vez tivessem reparado nela.

– E quem és tu? És a namorada dele? – Perguntou Jessica com desenvoltura.

Kagome corou.

– N-Não! Sou só amiga!

Elas voltaram a dar as costas a Kagome e continuaram a questionar Inuyasha. Hinne até se sentou em cima da mesa, deixando à vista de Kagome apenas o boné de Inuyasha.

«Grrrr...»

– Então vens sempre aqui? Vais ser transferido para este colégio? Onde estudas?

– Eu venho muitas vezes aqui! A Kagome não quer que eu venha, mas eu tenho que vir buscá-la!

– Então és tipo... como o irmãozinho mais velho dela?

– Não, ela não é minha irmã! Eu só tenho um irmão que é um baka.

– Oh, sério mesmo? E como é o teu onni-tan?

– Ele é um idiota como já mencionei. É arrogante, egoísta e anda sempre com aquele ar de quem comeu e não gostou.

– Não é isso que nós queremos saber, darling! Fisicamente!

Por fim, as «piranhas» foram embora e todas se despediram do Inuyasha com um beijo no rosto como se fossem velhos conhecidos.

Kagome continuava a olhar furiosamente para Inuyasha.

– O que foi Kagome! Estás zangada?

– Não, estou alegre! – Respondeu cinicamente.

– Porquê é que estás zangada? Ainda é por eu ter vindo até aqui? Bolas, Kagome, és ruim para esquecer, hein?

– Não é por isso! É... TAKARA!

– O que a Takara fez? – Perguntou Inuyasha, coçando a cabeça sem entender.

– Não é isso, seu tonto! Takara está ali com o Houjo e... com calções, T-shirt e tênis da Nike!

Inuyasha voltou-se também.

Realmente ali estava a menina, conversando animadamente. Tinha calçados uns tênis brancos, vestia uns calções justos de ganga com alguns brilhantes na perna direita a fazerem uma estrela e uma T-shirt amarela com um sol radioso desenhado ao centro e logo abaixo a inscrição: Sunny days with you!

– Será que é a Takara da era atual? – Conjeturou Inuyasha.

– E ela por acaso teria garras? Nã, é mesmo a Takara e eu vou agora mesmo ter uma conversinha com ela!


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Notas finais do capítulo

Comentem, onegai!



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