POV’S THALIA

O salão permanecia vazio, toda a arquibancada correra pela saída de emergência, temendo o confronto. Miriã e Tyler permaneciam ali, boquiabertos com tal desafio que o clã fizera a seita. Eu, realmente, não sabia o que fazer, portanto só observava o camarote pensando a hora que aconteceria o grande confronto que, sem dúvidas, colocaria Greycity na história.

— Ora ora, penso que vocês não foram convidados. Mas espere aí! Logan? Você é... Um traídor? Céus, você só me dá desgosto, ao menos se seu irmão estivesse no seu lugar... Preferia que você tivesse morrido, resto de lixo. Por quinze anos, você não me servira para nada além de ficar alfinetando seus malditos bonecos de vodu! Tenho dúvidas de que realmente tenha meu sangue, mal se parece comigo com estes teus olhos negros e raivosos; confesso que seria uma grande honra se você fosse filho de outro homem... A morte será pouca para você, Logan, a seita jamais aceitou traidores e para mim, um garoto vazio como ti, não faria falta alguma. – brandou Joseph com tamanha veracidade.

— Nunca me dera algum carinho, e o ódio que defere á mim, é recíproco! Velho babão, dei-me a honra de lhe matar... Vá para o inferno antes de falar de minha mãe, afinal ela jamais trairia-lhe , tão boba ao amar alguém tão podre. - o moreno respondera a altura e soltara uma risada irônica como sempre fazia. Então eles pularam do camarote e tiraram suas espadas, adagas ou katanas da bainha, e finalmente eu entendi: Ambos lados não podiam usar poderes contra o outro pois ao decidir seu destino, o clã ou a seita, adquiriam proteção total contra poderes do outro lado. Não usariam armas de fogo pois seria injusto.

Tudo foi muito rápido. Os membros do clã atacaram, eram a maioria em cerca de quarenta magos, talvez. Olhei para o castanho que mantinha-se ao meu lado e bastou olhar para seu rosto para que ele entendesse: iriamos batalhar, não fugir. Peguei em minhas mãos a espada que Toby me dera e fui a luta. A primeira fora uma garota ruiva e gorda, mas muito rápida. O tinir das espadas já não era uma melodia e sim uma batalha medieval, quem sabe? Felizmente, o golpe fatal foi quando consegui retirar sua espada de suas mãos e toquei-lhe vendo a garota ter tremeliques e desmaiar por conta da eletricidade que continha ali. Me animou um pouco o fato de que não iria ter que enfiar a lâmina na barriga de alguém e tal, Toby havia sido inteligente. Olhei por cima dos ombros e vi o casal problema mexer-se, afinal eu havia cumprido a promessa. Eles eram tão ágeis que conseguiam facilmente cortar cabeças com suas espadas e faziam, de vez em quando, eu observava o sangue caindo e isso me agonizou, me fazendo virar para frente e encarar o albino de olhos claros e alto, que tentava me jogar esferas celestiais e não conseguia. Eu não sabia o por quê, eu não era da seita e nem do clã, os poderes poderiam estar me atingindo; não fiquei pensando e golpeei o garoto vendo cair no chão, eu não sabia se estava vivo ou morto, não sabia o quanto de energia Tyler colocara na espada afinal. Depois estes, foram mais uns três membros do clã até que eu parasse e observasse a carnificina que estávamos praticando. Isso era extremamente errado. Alguns jovens só estavam ali para proteger-se de serem queimados vivos ou entrar num ringue idiota. Corri até Toby.

— Não mate mais ninguém, são inocentes, jovens, mal sabem o que lhe esperam! Quanto de energia tem aqui? O possível para matar ou causar desmaios? – murmurei desesperada.

— Me obrigue! São imundos que queriam matar seu pai, seu namorado e todos os outros. Droga garota, você não entende! A espada tem volts o suficiente para torrar alguém, mas isso depende do seu consciente e do quanto de energia você quer utilizar. Pense em pouca energia e a espada soltará um choque quase nulo.

— Imundos? Cara, você queria ir pro clã também e ainda queria me levar! Por sorte eu te convenci a ficar, se não você estaria no lugar deles... – mal terminei de falar para quer Tyler me interrompesse.

—Você me convenceu a ficar? Ora garota, se enxergue. Só fiquei porque... Eu descobri uma coisa, sobre meus pais biológicos e tal. – disse fitando a seita e mais precisamente Joseph, fitei seus olhos azuis e serenos e sua boca formando um arco invertido, o olhar robusto e gélido... Joseph era o pai de Tyler e não sabia, achava que o filho tinha morrido e o acastanhado era tão poderoso justamente por ser filho do líder.

Mantive-me boquiaberta e pronta para falar algo, mas pendeu ao ar: mal sabia o que falar. Mudei a direção de meus olhos para a batalha, agora só restavam membros principais de ambos lados e eram incontáveis corpos jogados ao chão, o verde misturando-se ao vermelho e o vermelho tornando-se vinho amargo. Vi também um pontinho loiro que pensei que já havia ido embora, mas lembrei-me que ela queria vingança e que hora seria melhor do que esta? Thomas estava sozinho em um duelo com Elizabeth e suas lâminas tocavam-se em milésimos de segundos, era uma dança difícil de se acompanhar e que durara vários minutos que não importei-me de acompanhar, afinal já não haviam mais membros para duelo, Miriã e Tyler haviam acabado com a maioria. Voltei a minha consciência e observei Elizabeth de costas e Thomas a sua frente, era difícil de ver tão distante então comecei a andar e também oferecer-lhe ajuda, mas então tudo mudou: ela lhe acertara. Vibrei vendo a loira ainda de costas enfiar sua espada no peito do mais velho. Saltitante sentindo a vingança por Liza percorrer meu sangue, era tão doce; corri até Elizabeth e pousei minha palma em seu ombro para fazê-la virar para mim.

Olhei seu rosto contorcido em uma carranca. Mantive-me surpresa quando vi que embora ela acertara Thomas, ele fizera o mesmo. Observei a espada em seu estômago em um corte profundo e vi também a loira despencar, agachei ao seu lado mantendo sua cabeça em minhas pernas e segurando suas mãos, dizendo repetidas vezes para aguentar.

— Não. Eu estou bem, sério. Eu vou reencontrar minha filha e meu marido, terei minha família de volta, como eu sonho á semanas. Obrigada Thalia, obrigada por fazer minha filha feliz e quem sabe, daqui a uns séculos quando você morrer, nos reencontramos? – murmurou a loira com dificuldade enquanto ia perdendo a cor, fora seu último suspiro até seus olhos perderem o brilho e sua pulsação parar, acabando com o sofrimento. As lágrimas desceram e eu ordenei-as a parar, coloquei um sorriso no rosto e pensei que ela estaria melhor lá, já que havia perdido a vontade de viver.

Em seguida vi papai duelando com Joseph, e não entendi o por quê. Papai era muito ligado com o tal “equilíbrio natural” e o líder não parecia querer saber disto. Eu iria ajudá-lo, obviamente, então caminhei até sua direção até sentir uma brisa estranha que fez-me fitar o lado esquerdo. Vi Isaac caído no chão e com o rosto arranhado, mas vivo, senti-me desesperada, como se faltasse ar, mas felizmente estava Logan acima dele curvando-se de dor enquanto o acastanhado manipulava-o, ele sabia se cuidar. Questionei como os poderes de Isaac poderiam ser usados com alguém da seita/clã, mas compreendi que Logan interrompeu a balança. ISSO! A balança, ele se dividiu na balança. Ele perdera a proteção garantida pela seita mas também não ganhara a proteção dos magos negros, porque uma parte de seu coração ainda queria manter-se na seita. Tudo em nossa vida, principalmente nossos poderes são mistos de sentimos com magia, e são controlados pelos grandes sábios, eles são o equilíbrio natural, eles mandam e desmandam, finalmente eu entendi esse conceito. Meus pensamentos foram interrompidos pelos gritos de Logan “Eu estou cansado desse jogo”, ele tremia colocando a mão na bainha, gemendo de dor e ajoelhando-se ao lado do castanho que estava tão machucado e desgastado pela forte magia que não conseguia levantar, mas mesmo assim não parava de balbuciar as palavras em latim. Vi o moreno retirar uma arma e meu coração palpitou como se fosse sair do peito, seguido por uma dor destroçante: perder mais alguém.

Não, não mais. Corri e me posicionei atrás do moreno, fiz um redemoinho cobrir Logan por inteiro e dissolveu-o quando viu-lhe agonizar, dissolveu-o. Fez uma esfera celestial de fogo, pronta para queimá-lo vivo, mas então fui surpreendida por este que virou a arma para si mesmo, recarregou as balas e colocou-a na cabeça, com as mãos gélidas e trêmulas. Ouvi o apertar de gatilho mas ele mudou o percurso da arma para o peito de Isaac e ao ver o castanho cair, despenquei junto a ele. Ninguém sabia ou precisava saber, mas senti-me morrer por dentro, como se o coração permanecesse vazio, a mente cheia de pensamentos, mas a alma fria. Meu mundo estava destruído e me sentia como se fosse a última pessoa na terra, sozinha, onde não adiantava nem lutar, porque tudo que importava já parecia ter ido. Gritei e puxei meus cabelos enquanto as lágrimas caiam. Logan correra mas eu ainda estava ali, impedindo que ele caísse ao chão.

— Fica, por favor, não me deixa aqui tão sozinha. Não pode ser o fim, é um começo, é o nosso começo. Aguenta firme, lute, não desista... Todo esse tempo sem você foi insuportável, eu não quero te perder pra sempre. Eu te amo, era pra gostar, mas amei, fica aqui, casa comigo. – murmurou enquanto as lágrimas rolavam e o mundo jamais saberia o quão grave era a dor que ela sentia.

— Morena... Você é tão linda, desde seus olhos azuis até sua alma. Se desistir da vida significa te perder, eu nunca vou fazer isto, eu desisto de tudo, menos de você. Eu prometo ficar. – murmurou o castanho agonizando com a dor, mas mesmo assim retirou do bolso de sua camisa o medalhão que eu havia lhe dado, havia um buraco nele, mas isto podia tê-lo salvado de a bala não ter perfurado mais fundo, em meio a lágrimas, finalmente sorri.

— Não prometa, só fique. Eu estarei de volta em pouco tempo, mas antes eu preciso te beijar, e é pra agora, sem parar. Senti tanto sua falta e não vou te perder nunca mais! – murmurei selando nossos lábios rapidamente porém delicadamente, com o mesmo ritmo, o mesmo sabor viciante de hortelã, só não o mesmo amor... Este era um amor maior, um amor infinito, um grande infinito infinitamente gigante.

Virei-me para correr atrás de Logan e mesmo assim, jogava picos de gelo no rapaz, mas sempre errava, talvez por causa da alta velocidade. Em um desvio, o moreno jogara outra bomba e tive de pular para trás quando a mesma explodiu, milhares de cacos afiados voaram e alguns atingiram minha face. Olhei desesperada e Isaac ainda estava ali, mas não consegui enxergar papai e Joseph, corri até a grande cratera que tornou-se o meio do salão e vi ambos pendurados. Agachei e tentei puxar a mão de meu pai que penava para segurar a si e o líder que mantinha-se pendurado no pé de Edmund, mas então sua palma escorregou pela minha e vi-os cair, soltando um grito. Deixei-me cair ao chão. Que tipo de mago eu era? Mal conseguia proteger aqueles que amo. Eu não era uma heroína, uma protagonista como Tyler falara, eu era apenas aquela idiota que não serve pra nada e é uma das primeiras a morrer, talvez eu devesse morrer. Berrei e deixei-me soluçar, fiquei na ponta da cratera pensando se talvez, no fundo, este fosse meu destino: aceitar a morte. Eu só tinha Isaac e ele precisa de uma garota forte, não alguém que não consiga salvar ninguém; ao mesmo tempo, não queria ter de deixar tudo, queria me redimir, fazer algo para não ser só a idiota que não acrescenta em nada.

E então aconteceu. Lá estava papai... Levitando? Como isso poderia ser possível? Olhei para trás e vi Isaac balbuciando outro feitiço, e eu entendi o quão forte ele era, nenhum mago mesmo que manipulador conseguiria fazer aquilo, mas um híbrido de um mago negro e uma branca conseguiria; o acastanhado gastava todas suas energias com aquilo e mantinha a mão no lugar onde levara o tiro, tentando livrar-se da dor. Quando papai estava perto, puxei-o como um ímã faz e abracei-o forte, feliz por ele estar aqui. Joseph não estava ali o que significava que... O líder estava morto. A balança estava quebrada, o equilíbrio fora derrubado e os grandes sábios não ficariam felizes. Uma explosão de luz ecoou no local e depois só restara escuridão.

— O equilíbrio natural fora destruído. Ele tem de ser voltado a posição inicial em sete dias... Ou todos os magos existentes serão destruídos. Isaac tem de assumir a seita, já que foi o único membro que sobrou do conselho, eu não posso assumir, sou membro temporário! – murmurou Edmund tentando ver a filha.

— Se um lado for derrotado... O que aconteceria? Porque eu vou matar o último membro do clã dos magos negros, e espero que esteja ouvindo isso, Logan! Papai, leve Isaac ao hospital, por favor, o idiota atirou nele! – gritei, olhando ao redor e tentando ver se o moreno ainda permanecia no local.

— Ninguém sabe, porque ninguém conseguiu acabar com o clã em milhares de anos, é uma hierarquia, passa de pai para filho. Não se preocupe comigo, Ed fique com Thalia e protege-a daquele lunático.... E-e-eu não posso assumir a seita, eu nem sei como fazer isso. – murmurou o castanho contorcendo-se.

— Você tem de assumir a seita, se não todos morreremos, Thalia e centenas de jovens morrerão injustamente, os grandes sábios não brincam em serviço, eles protegeram minha filha, indiretamente, em troca de uma vida, mas protegeram! Não são maus, só... Sabem o certo e isto é o certo. Eu vou te levar, Thalia sabe se cuidar, minha little badass cresceu. – murmurou ajudando o outro a se levantar e correndo para fora do salão.

Agora eram só Logan e eu. Andava pelo vasto salão tentando achar o moreno e gritando por seu nome, já não havia mais medo, com a adrenalina no sangue e raiva no peito, queria achá-lo custe o que custar. Então viu a figura morena no camarote murmurando a canção de “The Phantom of the Ophera”. Um sorriso sarcástico surgiu em seu rosto enquanto cantava um trecho da música:

—“Em todas suas fantasias, você sempre soube, o homem e o mistério.” Ora, ora, Thalia, sempre me conhecera de verdade não foi? És inteligente o suficiente para saber que sou um cara mal, não é? Fiz uma burrada traindo papai, mas não pense que estou arrependido, é só que... saindo da seita, perdi a chance de ser o líder. Sinceramente, crueldade é algo que me atrai, e eu achava que meus sentimentos estavam mortos mas eu gostava dele, seu nome era Dweni, sua pele era pálida, gélida e seus cabelos louros quase prateados. Você o matou, aquele garoto albino, ele era Dweni, ele irradiava maldade, era alguém para se admirar e ele morreu por sua culpa, e continua tão pálido, gélido e platinado como antes, mas sem consciência. Me diga como ficar inteiro novamente e lembre-se que estou te matando mentalmente. Eu perdi a mim mesmo, minha essência, minha mente demoníaca e vou recuperá-la quando chegar ao trono da seita, posso confiar em você para me ajudar a tornar-me líder? Oh não, esqueci que não posso confiar em ninguém, pessoas são falsas e adoradoras apenas de si próprios. Eu sei que a criança que eu era, teria medo do monstro que tornei-me, porém tudo me parece tão certo. Você vai me ajudar, ou se não... – as luzes ligaram-se e desceu o telão onde começou a tocar o hino da seita, seguido por imagens de diversos jovens de doze á vinte anos presos num local esguio. Dentre eles, vi Chris, desesperando-me por completo. Sua risada ecoou pelo local.

— Sete dias até que a bomba estoure. Você nunca irá achar esse local, nem tente. Ou eu chego no poder, ou todos morrem. Convença seu namoradinho a rejeitar a liderança ou todos morrerão. Se quiser me matar, mate, mas lembre que só eu sei o código para ativar ou desativar tal bomba. Se um dia ache essa bombe, mesmo que tente destruí-la ela irá explodir do mesmo jeito, porém antes do dia previsto. Mas é baboseira, você jamais irá achá-la. Olhe só você treme, sente-se gelada e sem saber o que fazer, eu te deixei com medo, haha! "Aqueles que viram seu rosto, recuaram com medo, eu sou a máscara que você usa... " –murmurou cantando por fim, até a escuridão voltar e ele sumir no meio dela.

FIM POV'S THALIA