Submissão escrita por Gabriel Campos


Capítulo 9
Cuspir


Notas iniciais do capítulo

Nesse capítulo o Felipe descobre algumas cartas que seus pais trocaram antes de ele nascer. Prestem atenção nas datas. Vocês vão descobrir como é que ele foi parar nas garras da filhote de lúcifer que é a avó dele.
Boa leitura!



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Nota do Diário

Ler escutando: Coldplay – Speed of Sound.

Fortaleza, 20 de Setembro de 2004.

“Hoje Renato e eu fomos até a minha antiga casa. Difícil pôr os pés naquele lugar depois de todos os acontecimentos. Ele me deu a ideia de vasculhar as coisas da vó Gloria, a fim de achar algo sobre o meu pai, já que ele me abandonara logo quando eu nasci e minha mãe morreu. Pelo que eu sei, eu até o entendo: aguentar Glória na sua cola não era tarefa para um ser humano. Com certeza ela deveria ter enchido o seu saco até não aguentar mais. Pena que ele me abandonou.

Lembrei que ela guardava tudo o que recordava o passado em caixas de sapato mais velhas que as nossas lembranças. Sim, as caixas estavam todas na parte de cima do guarda-roupa e como eu sou alto, não precisei de cadeira pra alcançá-las[...]”

— O que tem dentro da caixa, Felipe? — perguntou Renato.

Felipe olhou para a caixa e de lá tirou várias, várias cartas. Também havia um diário.

— São cartas. “De Guilherme Torres para Adriana Duarte”. —leu. — São do meu pai para a minha mãe. E tem esse diário aqui. É da minha mãe.

— Lê.

Nota do Diário (Continuação)

Fortaleza, 20 de Setembro de 2004.

“[...]Eu achei várias cartas do meu pai, que chegavam para a minha mãe e com certeza a velha escondia todas. Eu vou deixar alguns trechos aqui, peguei o que havia de mais importante, juntando as peças e solucionando esse verdadeiro quebra-cabeças.”

De: Guilherme Torres.

Para: Adriana Duarte.

Fortaleza, 12 de Setembro de 1985.

“Sinto muito, meu amor. Acho que você não quer me procurar mais, talvez tenha outro. Mas quero que saiba que eu te amo. Que eu te amo muito e eu quero que você seja muito feliz. Talvez esta carta vire mais uma dentre tantas outras que eu lhe mandei e você não se deu nem ao menos o trabalho de me responder. Não vou mais tomar o seu tempo lhe aborrecendo, e eu lhe digo que está será a última carta. Nosso amor é impossível, eu sei, mas quando se ama se enfrenta todos os obstáculos. Sua mãe, Dona Glória, era apenas mais um. Você é jovem, tem uma vida toda pela frente e não deve virar a escrava daquela mulher para toda a eternidade. Digo a você que logo depois da minha formatura eu estarei indo para São Paulo onde morarei com o meu irmão Fábio (aquele que é médico) e sua esposa Marta. Abriremos uma clínica e conto pelo menos com sua torcida para que dê certo. Seja Feliz.”

“Lendo essa carta do meu pai, deu pra perceber que a minha avó tratava minha mãe como uma verdadeira escrava, assim como eu. Pelo menos eu sei de algum lugar que ele possa estar: São Paulo. Vou juntar uma graninha para procurá-lo. Mas preciso de uma localização certa. Já sei que ele tem um irmão que se chama Fábio e uma cunhada que se chama Marta. Meu tio é médico, pode me ajudar quanto a minha doença. Agora uns trechinhos do diário da minha mãe, Adriana:”

Fortaleza, 15 de Dezembro de 1985.

Querido diário.

Eu cansei de esperar o Guilherme. Estava cada vez mais difícil para nos encontrarmos, e ele me prometera que me mandaria cartas para dizer se estava indo tudo bem nos últimos meses da faculdade de medicina. Eu fui idiota de acreditar nele. De certa estaria arranjado com uma futura médica, e eu, a pobre pé rapada aqui, escrava da Dona Glória. Hoje ela descobriu que eu estava grávida e me lançou um ultimato: Ou eu vou embora com o pai da criança, ou eu deixo que ela o tire. Tirar o menino jamais! Sim, eu tenho certeza de que é um menino. Já pensei até em um nome: Felipe. Meu próximo passo será procurar o Guilherme. Estou saindo de casa.

Fortaleza, 7 de Maio de 1986.

Querido diário.

Descobri que minha gravidez é de risco. Também que Guilherme havia ido pra São Paulo, porém disse que voltaria quando soube da minha gravidez. Pelo menos meu filho terá o sobrenome do pai no registro de nascimento. Como já havia pressuposto, Guilherme acabou se arranjando com outra mulher. Talvez aquela com quem ele deva ter me deixado para ficar com. Feliz por ele. Felipe provavelmente nascerá no mês que vem. Já deixei avisado a Guilherme por telefone que caso aconteça alguma coisa, que me deixem morrer, mas salvem o meu filho. E que não, NÃO deixem por nada nesse mundo que minha mãe chegue perto dele.

“As coisas se encaixaram. Acho que o último pedido da minha mãe não chegou aos ouvidos do meu pai, pois eu fui parar nas mãos da vó Glória. Bom, agora eu preciso estudar um pouco. A prova do vestibular está chegando e eu quero passar. Por Joana, por Márcio e por minha mãe, que devem estar querendo o meu bem, onde quer que eles estejam.”

São Paulo, 20 de Setembro de 2004.

Henri acabou saindo de dentro da casa de Lana com o corpo em sua maioria queimado devido a chama que James provocara, além de estar bastante assustado.

— Lana, eu gosto de você, eu amo você! Mas nunca, nunca mais eu chego perto nem mesmo dessa casa. Estou abandonando até o emprego na faculdade! — bradou, enquanto era levado para a ambulância.

Nota do Diário

Ler escutando: Smash Mouth - Waste

Fortaleza, 17 de Novembro de 2004.

“Eu nunca fiz uma prova com tanto gosto, com tanta certeza. Se eu conseguir uma boa nota no ENEM, eu vou tentar cursar gastronomia numa universidade em São Paulo. Falando nisso, eu já tenho uma graninha boa pra ir pra terra da garoa procurar meu pai e pelo menos me manter. Consegui trabalhando (voltei para o meu antigo emprego no açougue) com muito suor e com um pouco de nojo ainda em ter de pegar em carne crua. Pra mim carne só se for no prato. Acho que vou virar vegetariano, assim eu posso perder um pouco de peso e abaixar meu nível de açúcar no sangue, talvez. Aquele açougue me deu uma boa motivação. Enfim, agora eu só quero esperar minha nota no exame. Esses dois dias foram puxados, mas valeram a pena. Estou aqui de dedos cruzados e rezando para que tudo possa ter dado certo. Pelo menos dessa vez, por favor?”

São Paulo, 17 de Novembro de 2004.

“É ele!”, exclamou Lana em seu pensamento no mesmo instante em que viu Henri na reitoria da universidade na qual trabalhava. Fazia muito tempo que não o via, desde o último episódio em seu apartamento, onde ele saiu numa ambulância. Tentou uma aproximação, timidamente:

— Henri?

— Lana...

Ele sentia um pouco de raiva, mas não resistiu em abraçá-la, em ter o toque do corpo daquela linda mulher no seu novamente.

— Eu... Eu não posso, Lana. Eu não posso!

— Henri, o que foi? — perguntou, soltando-se dos braços dele. Percebeu que havia uma aliança em seu dedo.

— Eu encontrei uma moça... Quer dizer, eu reencontrei uma moça. Uma ex namorada. Eu vou casar. Voltei aqui na faculdade para pegar algumas coisas e dar uns conselhos para o novo professor.

— Acho que o novo professor de português já se adaptou.— disse Lana, raivosa.— Passar bem. Boa sorte. — Deu um sorriso falso e saiu.

“E você, boa sorte com o pestinha do seu filho”, pensou Henri.

— Felipe, vem cá. Vem cá! — Renato parecia alegre, onde estava mexendo no computador.

— O que houve Renato?

— Como era o nome do seu pai?

— Meu pai se chamava Guilherme Torres Martinelli.

— Olha o que eu achei aqui. — Renato apontou para o monitor.

— “Clínica Cardiológica Torres Martinelli”. — leu Felipe.

— Seu pai e seu tio abriram uma clínica especializada em cardiologia.

— Eu... Cara eu te amo! — brincou — me passa já o número do telefone de lá. Já!

São Paulo, 18 de Novembro de 2004.

James estava na escola refletindo sobre os acontecimentos passados. A separação dos pais, a morte do pai e Henri, o último namorado da mãe, que se casaria com ela se ele não houvesse feito aquilo. “Foi preciso”, pensava. Era intervalo e ele costumava ficar afastado de tudo e de todos, mas estava conquistando uma amizade. Luiz Gustavo era aluno novo daquela escola, e caiu na turma do 1º ano D da tarde, a mesma que James. As más línguas diziam que ele viera de uma escola onde fora expulso por mau comportamento. Não se sabe o porquê.

— Porque você é tão pensativo, tão largado pros cantos? Se solta, cara. Eu que cheguei nessa escola esses dias já conheço uma porrada de gente! Conheço mais gente na nossa sala do que você que tá desde o começo do ano.

— Não gosto de falsidade.

— Pois eu adoro. — confessou Luiz Gustavo — Principalmente por que existe muita gente falsa naquela sala.

— Que bom.

James evitava Luiz e percebendo isso, ele se irritou:

— Sabe por que eu fui expulso da outra escola? — puxou James pela gola da camisa.

— Me erra, mano!

— Não quer saber? Eu vou te contar: Joguei a professora de sociologia escada abaixo. E ela puft, se esborrachou no chão. Pena que ela só quebrou o braço. Chata...

Depois de dizer aquilo, Luiz saiu.

Ler escutando: Barão Vermelho: Down em mim.

Felipe discou os números da clínica que provavelmente seria do seu pai e do seu tio, como dizia na carta que Guilherme enviara para a mãe de Felipe.

— Juro que vai ser rápido. Ligação de Fortaleza pra São Paulo deve custar caro.

— De boa, Felipe.

Chamou algumas vezes até que uma moça do outro lado da linha atendeu. Provavelmente era a secretária.

Clínica Torres Martinelli, boa noite. Com quem eu falo?

Meu nome é Felipe. Eu gostaria de uma informação. Quer dizer, de falar com uma pessoa... O Guilherme Torres se encontra?

— Sinto muito senhor, mas o senhor Guilherme morreu há alguns meses.


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Notas finais do capítulo

Calma, gente, calma que a vida do Felipe vai mudar.



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