Submissão escrita por Gabriel Campos


Capítulo 5
Deglutir


Notas iniciais do capítulo

Gente, coloquei um sub na fic pra não confundir com outras fics com o mesmo nome. Espero que entendam!

** Vai aparecer uma personagem nova, um núcleo novo e tals. :)



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Nota do Diário

Ler escutando: Engenheiros do Hawaii – Pra ser Sincero.

Fortaleza, 14 de fevereiro de 2004.

“Ontem eu só escapei de levar uma surra porque fui rápido e corri para o quarto, onde eu estou trancado até agora. A porca grunhiu até ficar sem voz, pedindo para que eu abrisse a porta. Quer dizer, ordenou. Meu sábado vai ser aqui. Que ela coma lavagem, não vou fazer almoço. Estou de luto. Quanto à Joana Lee, eu não deveria ter confiado naquela puta. Desculpe, mas ela me enganou. Ela disse que gostava de mim!”

Felipe dedilhou seu violão e tocou algumas notas de Wonderwall, música que ele adorava e o fazia lembrar-se de Joana, porém logo ele teve que sair do quarto e pagar sua penitência por ter saído de casa na noite passada. Com as costas doídas pela nova surra, ele fez o almoço e a velha pôs defeito como sempre. No final do dia, Felipe abriu seu estoque de guloseimas e devorou tudo o que havia lá.

Os dias foram se passando sem muitas novidades. Fevereiro deu lugar a Março e Felipe levantou as mãos para os céus pelo carnaval ter acabado. Depois Março foi se despedindo e Abril chegou à vida dos nossos personagens.

Algo o incomodava: as dores fortes no coração estavam se tornando constantes além de uma sede enorme que o fazia ter vontades de ir ao banheiro constantemente.

Era aula de Educação Física e o gordinho sempre ficava de fora do time de futsal. Ele não achava ruim, pelo contrário. O que era mais frustrante era ter de sentar com as meninas e assistir o jogo dos rapazes.

— Professor, ta faltando um no time! — gritou um aluno.

— O jeito vai ser chamar o gordinho ali.

— Ele tem nome. Você vai, Felipe? — perguntou o professor.

— Pode deixar que eu vou sim.

Correu para o meio da quadra. Não tinha nenhum costume de jogar bola, mas se ficasse de fora, seria chamado de fresco, veadinho e outros nomes que não vinham ao caso. A bola passava por ele como um cometa e Felipe não conseguia acompanhar o jogo. Resultado: o time levou um gol.

— Ta vendo, sua bola de barro? Por sua culpa a gente levou um gol! — disse um rapaz, referindo-se a Felipe.

Nosso gordinho abandonou a quadra no mesmo instante. Sentiu uma tontura e foi direto a cantina pedir uma garrafa d’água. Só poderia ser sede. Antes mesmo de conseguir abrir a garrafa, ele desmaiou.

São Paulo, Abril de 2004.

Lana Ferreira fez questão de jogar o primeiro punhado de terra no túmulo do ex-marido. De uma forma ou de outra, se culpava pela morte dele. James, seu filho, não conseguia perdoa-la.

— Meu pai só morreu de overdose por que a senhora se separou dele. Você tá feliz, mãe? Agora que acabou com o meu pai e com a minha vida? — comentou James quando chegou em casa com a mãe depois do sepultamento do pai.

— A culpa não foi minha, James. Seu pai não virou alcoólatra por minha culpa.

— Como você pode ser tão fria? É por isso que eu te odeio!

James fez questão de bater a porta forte quando entrou no seu quarto. Lana ficou pensativa por alguns minutos e depois desabou a chorar. Não aguentava mais as peripécias do filho, que tinha apenas catorze anos e era um rebelde sem causa. Agora só restava esperar pela próxima que James iria aprontar, e claro, sempre jogando a culpa da morte do pai em suas costas.

Por que Felipe desmaiou? Da enfermaria da escola, acharam melhor chamar a ambulância e levarem-no para o pronto socorro mais próximo. Dessa vez o rapaz pediu para que não comunicasse a sua avó sobre o incidente na aula de educação física. Acreditava que tudo estava indo bem com a sua saúde, e que tudo ficaria bem. Até vir o diagnóstico: Diabetes.

Nota do Diário

Ler escutando: Smash Mouth – Waste.

Fortaleza, 13 de Abril de 2004.

“Sabe quando você acha que está no fundo do poço e que não dá mais para ir a lugar nenhum, mas mesmo assim tem aquela brecha que te faz ir mais fundo? Minha vida. Descobri que tenho uma das doenças que mais atacam pessoas no mundo: a diabete. Eu não sei por que estou espantado, porque na minha condição é uma coisa absolutamente normal. Agora, como eu vou fazer a porcaria do tratamento? Minha avó além de ser uma porca tem uma mão de vaca e nunca a abriria para pagar o tratamento do neto. Preciso de ajuda, mas quem pode me ajudar?

Ah, diário. Coincidentemente hoje faz exatamente dois meses que Joana Lee me deixou; ela partiu e o encanto acabou. Só pra lembrar mesmo que o dia 13 de todo mês parece um dia amaldiçoado, a começar pela data do meu nascimento: 13 de Junho.”

Felipe desejava que aquele fosse como todos os dias normais de sua simplória vida. Era feriado (aniversário de Fortaleza) e teria de aguentar sua avó trabalhando extraindo os fetos das mulheres desesperadas. Normalmente em feriados como aqueles ele ficava trancado dentro do quarto imaginando sua avó friamente removendo aquela coisa que seria uma criança de dentro do ventre de uma mulher. Sempre foi assim. A comida que ele comia era comprada com o dinheiro dos tais abortos – serviço sujo; porém ele sentiu que naquele dia não deveria ficar em seu quarto pensando bobagem ou tocando violão. Resolveu ligar a TV e ficar na sala – nunca na poltrona de sua avó, pois a achava suja.

― Levanta daí, gordo idiota. Já não basta ficar o dia inteiro comendo agora vai roubar o lugar das minhas clientes?

― Não chegou ninguém ainda, vó. ―respondeu. ― Quando chegarem eu saio.

― Faz o seguinte: eu vou preparar tudo lá na sala de remoção de encostos e quando a paciente chegar você abre a porta. Faz um esforço e sorri. Vai que ela se assusta com a sua feiura? Pelo menos mostra simpatia.

A velha saiu e a campainha tocou: duas da tarde. Só poderia ser a tal paciente. Sempre marcam as coisas em horas exatas.

― Você? ― Felipe se espantou e quase caiu para trás quando abriu a porta.

A reação de Joana Lee não foi diferente. Não esperava ver o cara que ela achava que seria o pai do seu filho logo no local onde ela abortaria o bebê.

― Quer dizer que você... Você é a paciente da minha avó?

Joana Lee virou de costas e tentou ir embora, mas Felipe a segurou pelo braço fortemente.

― Me solta, cara!

― Esse filho é meu, não é?

― Por favor! Eu não quero dar explicação. Se eu soubesse que você morava aqui eu não teria nem posto os pés nessa joça.

— Você não vai me fazer de idiota. Vem cá. — Felipe puxou Joana de encontro ao seu corpo e ela sentiu na mesma hora que aquele sim era um homem de verdade, que aquele sim queria tê-la por perto e ela simplesmente o esnobara.

— E não quero te magoar.

— Você já me magoou. Mais uma vez não faz mal. — Encostou sua mão na barriga da garota. — Você espera um filho meu não é?

— Foi um erro meu. Você não tem nada a ver com isso.

— Não! Nós nascemos pra ficarmos juntos, você não entende? Eu posso ser aquele que vai te salvar. Eu posso ser aquele que pode te tirar de dentro daquele prostíbulo, Joana!

— Vou procurar outra clínica.

Joana Lee se desprendeu dos braços de Felipe, que deu mais alguns passos até alcançá-la e agarrá-la novamente. Desta vez ele dizia que ela não poderia abortar a criança, pois ele também era o pai.

— Eu tenho plenos direitos sobre essa criança. Eu sou o pai! Eu sou o pai!

— Se você não me soltar eu vou gritar e todo mundo vai achar que você é um tarado!

— Eu to pouco me lixando pro que os outros pensam de mim.

— Ah é? Me diz uma coisa: como você vai sustentar a mim e a criança? É bem difícil se ver uma mãe de família puta.

— Eu cato latinha, toco violão no terminal de ônibus, o que for. Só não te deixo matar a criança.

Dona Glória, depois de assistir a confusão de Felipe e Joana, resolveu se pronunciar:

— Então Felipe, quer dizer que você engravidou uma rapariga?

Naquele momento, nosso protagonista soltou Joana, que ainda estava em seus braços. Faltou-lhe ar. O que diria à sua avó?

— Não vai me explicar gordo filho de uma cadela?

— Filho e neto de uma cadela. Eu não te devo satisfações.

— Enquanto você viver sob o mesmo teto do que eu, me deve sim. — disse Glória, puxando a orelha do garoto. — Pra dentro de casa, já!

Enquanto Glória carregava o neto apenas com um puxão de orelha, Felipe suplicava para que Joana não abortasse.


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Notas finais do capítulo

E agora?



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