Submissão escrita por Gabriel Campos


Capítulo 18
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Notas iniciais do capítulo

Penúltimo Capítulo xD



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São Paulo, 15 de Abril de 2005.

Anne já havia tentado ligar para Luiz Gustavo, mas óbvio, ele não atendia. Sentada em uma calçada, com a cabeça baixa e entre as pernas, ela chorava.

— Como eu fui burra! Burra!

Seu celular então tocou de repente. Era René.

— Anne, papai e mamãe chegaram. Você já resolveu alguma coisa?

— To quase resolvendo. — mentiu.

— Quem é o ladrão? Você ta na polícia? Anne? Anne!

Desligou o celular e resolveu mandar uma mensagem para Luiz Gustavo, negociando pelo menos as joias.

Luiz Gustavo estava a caminho do hospital onde James estava internado, quando recebeu a mensagem. Riu alto ao ler.

— Devolver as joias? O dinheiro? O que essa menina pensa que está fazendo? Ai meu pâncreas! — gargalhou e jogou o celular dentro do bolso.

Vestido com uma roupa discreta, entrou no hospital. Viu Lana com a cabeça pousada no peito de Felipe, chorando muito. Correu procurando dentre os quartos qual era o de James.

— Enfim eu te encontrei!

James arregalou os olhos , quando abriu a boca para gritar, Luiz tapou sua boca.

— Calma, sua anta. Vim em missão de paz.

— Você? Paz? Te conheço o suficiente pra saber que você está mentindo.

— Trégua, James. Estou aqui para te propor uma trégua e uma parceria.

— Que tipo de parceria?

— Por vingança. Vamos acabar com a vida daquela baleia imbecil.

— O Felipe?

— Sim. Sabe onde ele está agora? Pegando sua mãe.

— Respeita minha mãe, Luiz, senão eu quebro a tua cara!

— Sua mãe não tem nada a ver, mas ele se faz de coitadinho pra que os outros tenham pena dele. O Zé Elefantinho é esperto, mas eu e você somos mais. E juntos então, nem se fala. James,cara, depois que o Felipe entrou nas nossas vidas, tudo deu errado.

— E o que a gente vai fazer com ele?

— Humilhá-lo até que peça arrego. Eu já comecei. E cara, eu enfiei a mão numa grana preta. A gente ta rico! E podemos ficar mais ricos ainda. Agora sai daí de cima por que enquanto você tava de boa aí dormindo aconteceu muita coisa!

Luiz e James conseguiram sair do hospital. James viu quando Felipe consolava Lana na sala de esperas.

— Ele ta dando em cima da minha mãe mesmo!

—É James, mas se esqueça do Dumbo só por um momento. A gente tem um sequestro pra fazer.

— Sequestro? De quem?

— Anne Torres Martinelli. A bailarina riquinha está em minhas mãos.

James perguntou:

— Já mandou o torpedo pra ela?

— Sim, mas ela ainda não respondeu.

Luiz parecia decidido. Os duzentos mil dólares e aquelas joias que valiam milhares de reais não pareciam o suficiente para ele. O celular tocou.

— Alô, Anne?

Luiz, você quer acabar com a minha vida, seu miserável?

Eu to arrependido do que fiz, me desculpa, mas estou passando por um momento de grande dificuldade. Olha, não me queira mal. Eu ainda não gastei nada e nem vendi nenhuma joia. Está tudo aqui comigo, intacto. — segurou-se para não rir.

Me diz onde você ta que eu estou indo buscar.

Fábio e Marta preocupavam-se com Anne. Perguntaram aos seguranças da enorme casa por ela, mas com isso conseguiram saber que na noite passada ela liberara todos os empregados.

— Eu não sei onde possa estar Anne. Eu não tenho contato com nenhuma das amigas dela. — disse Marta.

— Marta, meu amor!

— O que houve querido?

Fábio estava espantado. Apontou para o cofre. As palavras mal saíam pela boca:

— Fomos roubados.

Ceará, 15 de Abril de 2005.

Juarez da Silva Mendes, mas conhecido como “Coxinha” era o dono do boteco em que Glória trabalhava. Sua morte foi um choque para todos os moradores daquela pequena cidade no interior do Ceará. Juarez era quem fazia as leis daquela região, fosse por bem, fosse por mal. Mas agora estava morto.

Glória tentava fugir dos capangas de Juarez, mas aquela cidade que nem ela mesma sabia o nome não tinha bom esconderijo algum. Já era noite e ela estava no meio de uma mata sem fim. Decidiu parar um pouco perto de uma árvore. Amedrontada e cansada, suspirou:

— Por que eu fui matar aquela praga do Juarez!

Ouviu passos e logo surgiram dois capangas.

— Agora a senhora vai encontrar nossa chefia lá no inferno.

As espingardas atiravam de um modo sincronizado. Todas as balas acertaram Glória, que morreu sentada e encostada no tronco de uma árvore. Teve o seu corpo jogado no rio em seguida.

Glória foi para o inferno.

São Paulo, 16 de Abril de 2005.

Anne estava confiante de que tudo daria certo. Que Luiz realmente estava arrependido e que devolveria o dinheiro e as joias a ela. Chegou ao lugar marcado, e este era deserto por natureza. Olhou ao redor e não viu ninguém.

“Será que ele mentiu?”, perguntou-se Anne, ficando já desesperada. Passara a noite na rua, pois não queria de jeito nenhum chegar em casa e dar de cara com os pais, e como sempre culpando-a por tudo. No celular, inúmeras ligações perdidas do irmão. René já estava bastante preocupado.

— Anne, seu dinheiro. — Luiz pôs uma mochila no chão.

A bailarina aproximou-se aos poucos para pegar a mochila. Abriu-a, mas nela havia apenas pedras e vento.

— Seu miserável! Você mentiu!

Luiz agarrou Anne, de modo que ela ficou sem poder se mexer.

— Você vem comigo.

— Socorro! Socorro!

— Cala a boca, vaca.

Luiz acertou um soco com toda a sua força no rosto de Anne, que caiu inconsciente.

Nota do Diário

Ler Escutando: Janis Joplin - To Love Somebody

São Paulo, 16 de Abril de 2005.

Lana agora não ia mais trabalhar, apenas acabava com todas aquelas bebidas alcoólicas que haviam em sua casa. Eu não sabia o que fazer; sentia pena, e um pouco de ódio por James não estar ali, por James ter uma mãe que a ama tanto e não valorizar as coisas simples da vida.

Vergonha alheia. É isso o que eu sinto. Sinto vergonha por ele, já que ele não sente. Lana dedicou-se bastante o tempo que ele estava lá, deitado, em coma. Ficou feliz quando ele acordou e foi só ele criar forças que chama a mãe de fracassada e sai, acompanhado provavelmente daquele filhote do Satanás que tentou matá-lo.

Preciso fazer alguma coisa; me sinto na obrigação.Ver aquela mulher, chorando, precisando de alguém que lhe dê o mínimo de atenção é de partir o coração de qualquer ser humano.

Quer vinho? — Lana perguntou a Felipe, enquanto enchia mais uma taça.

— Eu vou aceitar.

— Não precisa se sentir obrigado a beber só por que eu estou. — disse, já um pouco bêbada.

— Mas eu adoro vinho!

Beberam mais algumas taças, até que Lana se levantou. Meio zonza, andava com dificuldades. Quando Felipe percebeu que ela estava prestes a cair, levantou-se da cadeira rapidamente e a aparou.

Seus olhares estavam direcionados um para o outro. Seus corpos, juntos um do outro, e os lábios, distantes, cada vez mais perto. Enfim, o beijo. Bêbados, sem quase nenhuma noção do que estavam fazendo.

— Acho melhor você tirar a roupa. — disse ela.

Esqueça a vergonha, pensou Felipe para si mesmo. É hora de aproveitar o que é bom dessa miserável vida. Fazer o que é bom com quem se gosta, não precisa amar, apenas ser prazeroso, gratificante.

— Eu não sei se eu posso te dizer isso, mas eu não quero te dar falsas esperanças. — disse ele, mesmo sabendo que não gostava dela.

Lana pôs uma das mãos de Felipe em seu seio esquerdo e olhou para ele como se pedisse por alguma coisa. Ele sabia do que se tratava, e estava sóbrio o bastante para recusar ou ao menos parar com aquela loucura. Aquela mulher era vinte anos mais velha do que ele! Ela era sua professora!

Roubou um beijo do rapaz e dali eles fizeram amor até adormecerem.

São Paulo, 17 de Abril de 2005.

Ao acordar, Anne deparou-se com James e Luiz sentados no chão, contando o dinheiro que provavelmente eram os duzentos mil dólares cujos pertenciam à sua família.

— Luiz Gustavo... me tira daqui. Por favor?

Luiz levantou-se do chão e chegou perto de Anne, que estava acorrentada no pé de uma mesa.

— Estava apenas esperando você acordar.

— Pra quê? — perguntou assustada.

Digitou um número no celular e ligou para a casa dos pais de Anne. Atenderam. Ele disse:

— Eu estou com sua filha. É melhor conseguirem um milhão de reais para mim até hoje à noite. Caso contrário, ela está morta.

Eu não acredito em você.

— Me ajudem! Mãe, pai! — gritou Anne, fazendo Fábio acreditar.

Ler Escutando: Los Hermanos – Todo Carnaval Tem Seu Fim.

Felipe acordou primeiro do que Lana. Retirou a mão dela de do seu corpo. A mulher dormia profundamente, ainda. Não acreditava na loucura que fizera, mas estava tarde demais para qualquer arrependimento.

Saiu da cama, vestiu-se, fez um café bem forte e depois foi embora.

Chegou ao seu medíocre quitinete e procurou suas guloseimas. Deitou-se na rede, fechou os olhos e devorou tudo, de Doritos, a Fandangos. A caixa de chocolates Lacta e as latinhas de Fanta que mantivera naquele frigobar vagabundo.

Fraquejei mais uma vez. Traí Joana mais uma vez. Ela me dizia em sonhos para que eu aproveitasse minha vida, mas eu não acredito mais em sonhos. Acredito em fatos, e o fato é que eu sou submisso, vulnerável. Abusei da professora bêbada. Caí de boca em porcarias vagabundas industrializadas e gostosas. Agora é só esperar a hora da minha morte, já que assim eu posso estar me matando. Matar-me assim eu tenho coragem, diário.

Dormiu com vendo a imagem do violão escorado no canto da parede.


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Notas finais do capítulo

E aí???
Mais tarde eu posto o último :)



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