Submissão escrita por Gabriel Campos


Capítulo 19
Excretar


Notas iniciais do capítulo

Gente, espero que gostem, que entendam os fatos e o porquê dos fatos. enfim, nas notas os agradecimentos pras minhas leitoras d1v4s que comentaram até agora *-*
Boa leitura!



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São Paulo, 17 de Abril de 2005.

Fim de tarde. Fábio Martinelli trazia consigo uma mala cheia de dinheiro – falso– , mas aquele monte de papel seria um passe de liberdade para sua filha. Ele só conseguia pensar no quanto sua amada filha estava sofrendo e no quanto ela estaria desejando sua presença.

Chegou ao local marcado e lá estava Luiz Gustavo segurando Anne, apontando um revólver para a sua cabeça e lhe fazendo de refém.

— Pai, socorro!

— Cala a boca, sua vaca! — ordenou Luiz.

— Por favor, não faça mais nada contra a Anne. O dinheiro que você pediu está aqui na mala. — Fábio pôs a mala com o dinheiro falso deitada no chão.

Luiz soltou Anne, mas continuou apontando a arma para ela enquanto se dirigia até a mala. Ao pegar a mala, correu, deixando pai e filha enfim a sós.

Anne abraçou Fábio e este lhe deu um beijo em sua testa.

—Olha quanta grana! — bradou Luiz, jogando todo o conteúdo da mala para o ar. Estou rico!

James se aproximou para então comemorar com o colega o sucesso do sequestro, mas algo chamou sua atenção: a estranheza do dinheiro.

— Luiz, cara... tem algo errado com esse dinheiro. Olha estas notas!

— O que foi, James? Vai querer botar zica em tudo agora?

— Olha só,você foi enganado, sua anta!

Luiz então ficou sem palavras; realmente fora enganado por Fábio. Em seguida, depois de algum tempo disse:

— Não. A anta aqui é você.

— Hã?

EU ainda tenho aqueles duzentos mil dólares. — foi até a mochila e pegou um bolo de dinheiro. Em seguida, retirou a liga de borracha que as unia. — Fica pra você. Se vira, James. Eu to indo embora.

James deu dois passos para atacar Luiz, mas logo retornou quando o rapaz sacou sua arma, ameaçando atirar.

— Tchau, anta. Fica aí e se fode sozinho!

E foi embora, deixando James na mão.

São Paulo, 8 de Junho de 2005.

Ler Escutando: CPM22 – Não Sei Viver Sem ter Você.

O tempo foi passando. Ao descobrir que o filho fazia uso de esteroides anabolizantes, Fábio convenceu René a ser internado em uma clínica de reabilitação antes que ele caísse em drogas piores.

Zazá então percebeu a falta que René fazia quando estava longe dela. Por muitas vezes pensou em ir até a clínica fazer-lhe uma visita, mas o orgulho falava mais alto.

Até que enfim chegou o dia de sua saída da clínica. René assustou-se ao ver que, além dos seus pais e de Anne. Zazá lá estava a sua espera e que logo quando o viu correu para abraçá-lo.

— Senti sua falta. — disse ela, ainda que rispidamente.

— Você... minha falta?

— Sim.

— Se eu não te conhecesse, diria que você está estranha.

A gótica ficou encabulada por alguns momentos e com vergonha abaixou a cabeça.

— Isabel, olha pra mim?

Ela então levantou a cabeça. Alguns fios daqueles negros cabelos caíam-lhe sobre o seu rosto. René então disse:

— Namora comigo? O pedido ainda está de pé.

Ela então, como de costume, fez uso de poucas palavras, abraçou René e deu-lhe um beijo.

Lana estava cada vez mais sem chão. Felipe passou rápido em sua vida e depois sumiu, simplesmente sumiu. Sempre que podia, procurava por ele. Realmente ela estava mais preocupada com ele do que com o próprio filho, James.

Estava ela voltando de mais uma dessas buscas, exausta. Deitou-se no sofá e ficou de pernas pro ar, pensando em tudo o que estava acontecendo na sua vida. Se foi injusta com James, se realmente teve culpa pela morte do ex marido ou se fizera algo para que Felipe sumisse de sua vida de uma hora pra outra.

A campainha tocou. Da primeira vez ela, de tão cansada, nem percebeu. Seus olhos estavam fechando, pesados de sono. O barulho insistente da campainha estava começando a atrapalhar sua concentração e ela se deu conta de que aquilo não fazia parte do seu sonho. Então se levantou do sofá e foi atender a porta.

— James?

Ele não sabia ao certo o que fazer. James havia refletido muito e passado por maus bocados desde que Luiz Gustavo lhe traira. Não obstante, o rapaz não tinha palavras que pudessem demonstrar seu sentimento de arrependimento por todo o mal que dissera e fizera à mãe. Apelou para o gesto e ajoelhou-se aos seus pés.

— Mãe... me perdoa pelo amor de Deus?

Estados Unidos, subúrbio, 8 de Junho de 2005.

Ler Escutando: Gorillaz – Clint Eastwood.

Já fazia algum tempo que ele havia entrado ilegalmente nos Estados Unidos, e com a fortuna que havia ganhado com o sequestro de Anne, Luiz se mantinha.

Caiu numa depressão profunda, na qual apenas comer lhe fazia bem. Isso mesmo, comer. Passava a maior parte do dia sentado em uma velha poltrona, em um apartamento alugado no subúrbio. A televisão era a sua única companhia, mas a odiava. Odiava tanto quanto odiava se olhar no espelho.

— Isso só pode ser castigo. — tinha dificuldade de se levantar do sofá e quando enfim conseguiu se levantar, o controle remoto caiu no chão.

— Porra! — bradou Luiz.

Encarou por alguns momentos o controle caído no carpete e quando enfim resolveu se abaixar para pegá-lo, sua calça rasgou nos fundos. Fechou os olhos, e de uma forma silábica e raivosa continuou a bradar:

— Eu - não- acredito... DE NOVO!

Foi rapidamente até o quarto. Não se sentia bem em ficar vestido numa calça rasgada. Lembrou-se de que aquela era a última que lhe cabia. Sim, ele tinha várias, mas que lhe cabia, aquela era a única.

— Não tem problema... Mais tarde eu saio e compro mais. Eu sou rico! Rico! Eu posso ter o que eu quiser... — sentou-se novamente e pegou a bacia de pipocas. — Mas agora eu vou ver a Oprah.

Encheu a mão de pipocas e enfiou todas na boca; muitas delas caíram ao chão.

Luiz Gustavo morreu anos depois, pesando cerca de 180 quilos, foi vítima de um infarto fulminante.

São Paulo, 13 de Junho de 2005.

Anne abraçou René, Zazá, Fábio e quando enfim foi se despedir da mãe, ela além do abraço lhe disse:

— Eu amo a senhora, mãe.

Ela estava pronta. Brilharia como bailarina na Rússia. Sim, claro, se lembraria de todos no Brasil e sempre que desse, entraria em contato.

— Boa sorte na Europa, Anne. Que Deus lhe abençoe, minha filha. — disse Marta.

— Obrigada.

Despediu-se mais uma vez dos familiares e saiu. No avião, quando lhe foi solicitada de que deveria desligar o celular, algo no visor do aparelho chamou sua atenção: a data.

— Treze de junho... Aniversário do Felipe!

O avião começou a subir e Anne observou São Paulo que começava a se distanciar dela.

— Onde será que o Felipe está hein? — perguntou-se.

Ler Escutando: Oasis - Wonderwall

Para todos, aquele homem gordo, barbudo, fedido e desarrumado no pé da calçada, sentado em cima de uma caixa de papelão desmontada, era um reles mendigo, invisível, insignificante.

Felipe tinha consigo suas duas únicas riquezas: seu violão e o seu diário. O diário vinha no bolso do casaco, já desgastado com sua atual situação; o violão ia agora dentro da caixa própria para o instrumento e amarrado nas suas costas.

Nunca esteve tão faminto em toda sua vida, e com razão. Seu coração lhe doía, e lhe doía muito. Não era uma dor de sentimento, e sim uma dor que lhe afetava a saúde do seu corpo.

Já estava cansado de caminhar para lá e para cá quando travou suas pernas bem perto da faculdade onde cursou gastronomia durante alguns meses. Ótimos meses, aliás. Tinha saudade da professora Lana, do René, da Zazá e até de Anne.

Tarde demais para nostalgia ou uma boa hora? Ele estava sem teto e logo sem chão, sem forças, sem ar. Tentou ainda se apoiar com a mão direita na parede do bar onde tomou um porre e uma surra há mais de um mês atrás, mas não foi o suficiente para manter-se de pé. A dor era tamanha. Seu coração estava lhe atacando mais uma vez e a sua situação estava cada vez mais caótica. Felipe foi ao chão e logo uma multidão de curiosos lhe rodeou; ninguém lhe estendeu a mão.

Vista embaçada, burburinhos vindos de todas as direções. Uma luz, um anjo em forma de ser humano. Era ela, Lana, que desesperada tomou sua mão e disse:

— Felipe! Por onde você andou? O que está acontecendo com você? Eu preciso te contar uma coisa...

Antes que Lana pudesse continuar, ele balbuciou suas últimas palavras:

— Muito... obrigado...

Seus olhos pesaram e consequentemente fecharam. Enfim ele deu o seu último suspiro.

Estava ela ali de novo, como no começo de tudo, tendo de enfrentar mais uma perda. Mas aquele homem ela amava. Lana amou Felipe durante aquela única vez em que seus corpos se encontraram e para ela foi como se houvesse encontrado o paraíso na Terra.

Não havia ninguém no cemitério além de ela, James e os coveiros, até que chegaram Marta, René e Zazá. A namorada de René abraçou a professora e demonstrou sua emoção. Foram ótimos os momentos em que eles trabalharam juntos nas aulas da faculdade.

René não tinha palavras para lamentar tamanha perda. Fábio e Marta se culpavam. James chorava muito, principalmente por arrependimento. Aliás, arrependimento agora era seu nome do meio.

— A culpa foi minha... — disse Fábio. — Foi toda minha! — bradou entre dentes e cerrando os punhos.

— É tarde demais para lamentações, Fábio. — disse Marta.

O caixão de Felipe ainda estava sem a tampa, mas já estava perto do túmulo onde seria sepultado. Marta se aproximou e pousou sua cabeça nas mãos de Felipe, que estavam uma em cima da outra e em dispostas em sua barriga.

— Meu filhinho...

O caixão foi posto dentro do túmulo. Os amigos e familiares começaram a jogar punhados de terra e rosas brancas.

— Vá com Deus... Meu amor. Que o nosso filho, sangue do seu sangue, seja tão maravilhoso como você foi pelos seus dezenove anos de vida. Que ele viva mais, que ele viva feliz, e ele viverá, Felipe, pode ter certeza. — disse Lana, em um tom de discurso. Pousou a mão no ventre e fechou os olhos. Lágrimas inundavam seu rosto. Que você encontre a felicidade, o que você teve poucas vezes aqui na Terra.

Lana teve o seu filho alguns meses depois. O garoto foi batizado com o nome de Felipe. Hoje ele tem sete anos de idade e conhece toda a história do pai, que para ele é um herói. O pequeno Felipe também é amado pelo irmão James, que tomou rédeas em sua vida e está no último ano de medicina.

Anne é uma famosa bailarina, conhecida mundialmente por seus movimentos leves, singelos e encantadores.

Fábio, com a ajuda de Marta criaram uma ONG que ajuda pessoas com obesidade, além de abrirem mais vagas gratuitas em tratamentos para doenças cardíacas e outras relacionadas ao sobrepeso.

René e Isabel (que resolveu abolir o apelido de Zazá) casaram-se e tiveram trigêmeos. O dia-a-dia é difícil para os dois, pois as crianças dão muito trabalho, mas eles levam tudo com muito amor, carinho e felicidade.

São Paulo, 16 de Dezembro de 2012.

O pequeno Felipe caminhava com a mãe pelo cemitério. O dia ensolarado de domingo combinava com a grama verde daquele lugar que sempre foi de amargura. Lana resolveu levar o filho para visitar o túmulo do pai, pois se sentia feliz por estar, de certa forma, achando que os dois estivessem perto um do outro. Na lápide estava escrito: Felipe Duarte Torres, ☼ 13/06/1986, † 13/06/2005. Também havia escrito: “Aqui jaz um verdadeiro herói. Um guerreiro da vida”.

— Meu pai foi mesmo um herói? — perguntou o menino Felipe.

Lana respondeu:

— Sim, meu filho. Ele foi um grande homem.

FIM


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Notas finais do capítulo

Por favor, não me batam.
Eu sei que talvez vocês estejam um pouco chateadas comigo por causa disso, mas eu queria explicar que o Fê talvez não pudesse ter outro destino a não ser esse. A morte, nesse caso, pode ser uma libertação. E quem disse que nessa fic não teve final feliz? Felipe deixou uma lição pra todas as pessoas com quem ele conviveu, inclusive para o Luiz Gustavo. Vou deixar que vocês reflitam ;)

~AGRADECIMENTOS~

Bom, eu gostaria de agradecer especialmente a três leitoras queridas que, se não fossem elas, eu não teria postado até o final: Alexia, Amanda e Jessie. Vocês são as melhores leitoras que um escritor poderia ter, sério. Eu tenho o maior prazer em responder vocês :)
Vou esperar mais gente aparecer pra poder colocar seus nomes aqui nas notas finais, não se preocupem :)
Eu lhes agradeço imensamente pela confiança, por sempre comentarem e por estarem comigo durante esses dias. Eu nunca vou me esquecer. Aguardo os comentários de vocês, recomendações, se puderem (pedindo demais ;_;) e sempre ver vocês em outras fanfics! OBRIGADOOO!!!
Ps: Eu escrevi um final alternativo, se vocês quiserem que eu poste ou envie por MP (acho melhor), me avisem :)