Imortais escrita por kathe Daratrazanoff


Capítulo 6
Capítulo 5 : Lana




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Lana não gostava de ficar em locais fechados, não quando era contra a sua vontade. Se lembrava das vezes em que era pequena e aprontava. Pegar um livro e ler, quando deveria estar dormindo, era uma das coisas mais frequentes que fazia, e como castigo, seus pais a trancavam em um pequeno cômodo escuro. Era ali que guardavam as tranqueiras da casa, tais como latas com restos de tinta, madeira, sacos plásticos.

Era de se esperar que se acostumasse com a escuridão e superasse o medo, pois tinha estado ali mais vezes do que se atrevia a contar. Foi só na adolescência que resolveu contar a sua mãe.

— Não me tranque naquela sala escura, por favor!

Sua mãe tinha pedido desculpas, porque não sabia que a lâmpada estava queimada. E a confrontou.

— Por que não avisou que ficava escuro quando trancávamos a porta do lado de fora? Como seu pai e eu saberíamos?

Em parte, Lana achava que aquilo fazia parte do castigo. Sem uma janela, nenhuma fresta para entrar luz, nada. Esperava se acostumar com aquilo, como seus heróis favoritos. Se sentia uma fracassada por não ter conseguido.

Naquele momento, Lana estava encolhida num canto do chão, com a cabeça apoiada nos joelhos. Com os olhos fechados, procurava se acalmar e não entrar em pânico. Um cômodo pequeno, sem janelas, a porta trancada. A garota que a levou até ali disse que era temporário, ela voltaria e a tiraria dali. Só precisava esperar.

O que a garota tinha ido ver mesmo? Ah, sim, uns documentos de Cecília, eles iriam analisar algumas coisas. Lana não sabia quem era eles, nem o que precisavam analisar. Tinha perguntado sobre isso, mas a garota disse que era secreto.

Lílian, esse era o nome da garota. Eram todos amigos da Cecília, ela dissera. "ela faz parte de uma organização secreta, por isso tudo aqui é sigiloso".

— Tipo a Nasa? Cia? Swat? Coisas assim? - Lana perguntou, empolgada.

— Tipo isso. - a garota respondeu, sorrindo.

E ali estava Lana, na sala de espera. Ja não estava tão curiosa, afinal de contas. Contava os segundos pra ser chamada e sair. Tentou pensar em alguma coisa, qualquer coisa que fosse distrair sua mente.

" Vejamos... Agora que terminei a faculdade, finalmente vou ter um pouco de sossego. Ou será que trabalhar para um chefe era pior do que fazer aquelas pesquisas intermináveis? Isso é, se eu conseguisse arranjar um emprego, não tenho experiência nenhuma.

Mas a mamãe quer voltar pra Escócia. Terei que ir com ela? Ou posso ficar? Afinal, sou maior de idade, posso tomar minhas próprias decisões.

Se bem que, eu gostaria de conhecer a Escócia. É o lugar em que nasci, e mal conheço ele.

Cecília ficaria uma fera se soubesse. Melhor, tentaria me lubridiar, pra que eu não fosse. Pior, iria querer ir comigo.

Aliás, cadê ela? Acho que estou com algum problema de memória..."

Enquanto reconsiderava se estava lúcida ou não, a porta finalmente se abriu, e Lana se levantou o mais rápido que pôde.

— Algumas pessoas querem te fazer algumas perguntas. Poderia me acompanhar, por favor? - ela pediu, dando uma caneca fumegante para Lana.

— Eu também tenho algumas perguntas. - avisou Lana, bebericando da caneca. - Posso tomar banho antes? Comer alguma coisa, tomar um analgésico. Sinto uma dor de cabeça. Eu poderia ir até o meu apartamento e.

— Não vai sair daqui. - Lilian disse, com uma voz grossa. Lana ficou travada, com medo dela da súbita mudança. - Me desculpe, mas recebo ordens. Vai poder sair, porém, só quando isso acabar.

Lana sentiu um arrepio pelo corpo, porém, decidiu ficar quieta. A garota sorria pra ela, mas dessa vez, aquele sorriso não a confortava.

Em todas as grandes histórias, se alguém que, aparentemente quer te ajudar, fica sério e desconfortável com alguma pergunta ou algo do tipo, é porque coisa ruim vem por aí. E geralmente, o "quando isso acabar" terminava e morte.

Lana engoliu em seco e sacudiu a cabeça. Continuou seguindo Lílian por mais corredores, tentando dispersar certos pensamentos.

Sua mãe dizia, com muita frequência, que ela não devia trazer para o mundo real essas coisas de ficção. Lana queria seguir o conselho da sua mãe, tinha que acordar. Nem todo mundo era um super herói, nem um super vilão.

Mas só por precaução, se tentasse fugir, pra que lado iria? Olhou pra trás, e Lílian a repreendeu.

— Olhos pra frente, querida.

Estava começando a se arrepender de ter achado a loirinha bonitinha. Lana olhou de esguelha pra ela, e a viu segurando um revólver. O que era aquilo? Da onde ela tirou uma arma?

— Por aqui. - Lílian pediu, apontando para um corredor pequeno.

Aquilo parecia um labirinto, todo intrincado. Finalmente tinha achado o labirinto de Dédalo? Sorriu com a piada, e se recriminou. Foco na realidade.

Pararam em frente a uma porta preta, e quando Lilian a abriu, Lana deixou cair a caneca no chão. Primeiro, pensou que talvez estivesse sendo envenenada. Depois, olhou pra frente e levou um susto. Nem o líquido quente no seu pé e a ameaça de uma queimadura conseguiu tirar sua atenção daquilo.

Era uma sala imensa, e dezenas de pessoas, quem sabe centenas, estavam de pé, e pareciam discutir. Parecia até uma daquelas sessões do senado, que Lana assistia na televisão.

E o mais surpreendente nem era o fato de estar na frente do que parecia ser um tribunal, com um monte de gente que parecia exautada. O pior é que a boca deles se mexia, como se estivessem gritando, mas Lana não ouvia som algum. Parecia até que alguém tinha um controle na mão, e tinham apertado na tecla MUDO.

— Entre. - Lílian pediu, e por trás daquela carinha feliz, Lana viu um rastro de impaciência.

— Você não vai entrar? - Lana perguntou, mais desconfiada que nunca. Por que Lílian dava passos pra trás?

— Não posso, não tenho permissão. - ela respondeu, contrariada. - Além do mais, vou ter que limpar essa sujeira.

Lana olhou para o chão, e se sentiu culpada.

— Sinto muito. - Lana disse. - Eu não queria quebrar sua caneca.

— Tudo bem, só... Entre. - pediu Lílian.

Lana deu uns passos pra frente, para entrar na sala. Quando passou pela porta, levou outro susto, o barulho era imenso.

Gritos vinham de todos os lados, e Lana colocou as mãos no ouvido, temendo que sua cabeça fosse explodir.

— Não sabemos a onde essa atitude irá nos levar...

— Uma facada nas costas, é o que isso é.

— Meu dever não é perdoar ninguém, devemos atacar...

— Estamos agindo de forma equivocada.

— Eu sei o que estou dizendo.

— .... deveria se preocupar menos com esses ataques, e mais com espiões dentro do seu...

As vozes se mesclavam umas com as outras, e Lana não conseguia dizer do que estavam falando. Tentou sair daquela confusão e ir embora, mas ao se virar pra trás, para o lugar de onde jurava que tinha entrado, não havia nada além de parede.

Lana tentou pensar com clareza naquela situação, porém, o som inaudível deles a atrapalhava. Andou pra frente, tropeçou em alguns degraus que não tinha visto e se concentrou em não cair no chão.

Olhou pra trás mais uma vez, procurando pela porta, e quando voltou a olhar pra frente, o barulho cessou, e um silêncio sem fim se instalou na enorme sala.

Lana tirou as mãos do ouvido, sem acreditar. Como, em míseros segundos, todos se calaram e se sentaram nas cadeiras? E aparentemente, todos ali olhavam pra ela.

Constrangida com todos aqueles olhares, Lana ficou toda vermelha, e se beslicou. Só podia estar sonhando.

— Mocinha? - disse alguém do seu lado, e Lana deu um pulo. - Quer se sentar, por favor?

O homenzinho, que apareceu do nada do lado dela, apontou para uma cadeira vazia na primeira fila. Duas pessoas se levantaram, e escoltaram Lana até o assento dela.

Queria falar alguma coisa, mas o que dizer numa situação dessas? Deu um passo atrás de passo, se sentou e viu um homem sentado numa enorme cadeira. Ele usava um manto preto nas costas, tinha os cabelos ralos e barba branca, e começou a bater um martelo na mesa.

— Agora que estamos todos aqui, essa sessão se dará início.

Lana sentiu um calafrio pelo corpo. Se fosse uma brincadeira, era uma de muito mal gosto.

— Agradecemos a presença de Lana Daratrazanoff Rey, humana da Sede Verde, e esperamos contar com o auxílio dela.

Lana pensou em contestar o homem, que devia ser o juíz. Se estava se referindo a ela, seu sobrenome estava errado. Era Franklin, não Darasjsjshsnoff. Antes que pudesse dizer algo, ele continuou.

— Estamos todos aqui para tratar de um assunto gravíssimo, que é o desaparecimento de um membro de nossa companhia. Amélia Cecília Ronald Ewan Cirsyvell, nossa...

Algumas pessoas começaram a protestar, e Lana quis reclamar sobre isso. Estavam se referindo a Cecília, a Cisi? Ou esse homem tinha errado mais uma vez um nome, ou Lana realmente estava delirando.

— Eu peço um pouco da sua atenção, senhores, por favor. - o homem falava, tentando se sobressair ao barulho. - sei que não concordam com a última instância, mas a senhorita Cecília era...

— Uma traidora! - alguém perto de Lana gritou. - Escória!

— Ela que escolheu mudar de lado. Não temos culpa se...

Os olhos de Lana foram ficando pesados, e seus ouvidos doíam. O juíz gritava ordem, e algumas pessoas se levantaram.

Tentava prestar atenção, mas a cada minuto que se passava, ficava mais difícil. Estava ficando com sono e queria dormir? Ou estava acordando?

Mais uma vez, do nada, todos se calaram, e o homen continuou.

— De acordo com o artigo 4, que rege esta casa, qualquer membro na nossa Sede aue estiver em perigo, deve ser salvo. Cecília era um membro, seja integral ou não, portanto, deve-se realizar uma averiguação do assunto.

Alguns reclamaram, outros concordaram. E a reunião prosseguiu.

O homem falou durante horas, e na maior parte do tempo, Lana não fazia ideia do que ele dizia. Jurava ter ouvido as palavras lobisomens e vampiros várias vezes, e sua cabeça latejava. Só queria que aquilo terminasse.

Todo o seu corpo doía, não aguentava mais ficar sentada naquela posição. Esticava as pernas, cruzada elas. Olhava para o lado, olhava para o outro. E a vontade de fechar os olhos e não abrir mais permanecia.

— ... Caius e Jane, que violaram...

Lana voltou a prestar atenção no discurso dele, se referia ao Caius e a Jane que ela conhecia?

— ... uma votação será feita para decidir o destino dos dois, mas esse conselho deixa claro a sua posição. Tom, queira nos representar, por favor.

O homem que tinha pedido para Lana se sentar se levantou, e ficou a frente de todos.

— Caius e Jane podem ser da grande realeza, e devemos muito a seus ancestrais. Porém, a quantidade de regras que quebraram nos mostram que os dois não se importam com a lei, em especial Caius. Pelas suas famílias, demos chance atrás de chance, só que não nos resta mais escolhas. Eles nos forçaram a isso.

Alguns pareciam aflitos, e até Lana esperava por uma conclusão. Não sabia da metade do que discutiam, mas percebia que o assunto era sério.

— Os dois devem ser banidos da Sede Branca e exilados para os confíns dos degenerados.

Aplausos foram ouvidos. Lana podia não entender, mas imaginava que fosse algo muito ruim.

— Lana Daratrazanoff Rey, queira se apresentar, sim? - pediu o homenzinho antes de voltar a seu lugar.

Os dois que trouxeram Lana até o seu lugar se levantaram, e a levaram até uma cadeira alta, do lado do juíz. Lana sentia seu coração bater descontroladamente.

— Peço desculpas pelo modo que a chamamos, senhorita. - o juíz disse, se dirigindo a mim. - Estamos em uma situação delicada. Vivemos tempos de insanidade, e precisamos tomar providências quanto aos últimos fatos imediatamente. A nossa sede se orgulha...

— A mocinha não sabe nem o seu nome, senhor. - uma mulher alta, com um cabelinho loiro digno dos anos 80 falou, se levantando do seu lugar. - Jâ que trouxeram uma humana e a convocaram pra cá, deveriam ao menos ter o bom-senso de explicar a ela o que está acontecendo.

A mulher voltou a se sentar, e piscou pra Lana. Lana nem sabia quem era ela, mas ficou grata pelo gesto. Finalmente alguém com juízo.

— Mil perdões, senhorita. - o juíz disse. - Sabe quem eu sou? - Lana fez que não com a cabeça. - Sou Edwardo Thomás de Aquino, segundo reitor da Sede Branca e Diretor da Comissão de Registros da Lei Branca. Estamos aqui para tratar da sua amiga. Conhece Cecília, certo?

Lana procurava um lugar específico pra olhar, pra tentar desviar a sensação de tantos olhos em cima dela. Estava nervosa, ansiosa, com medo. E não conseguia fazer a voz.

— Senhorita? - Edwardo insistiu, querendo uma resposta, e Lana fez que sim com a cabeça.

— Quando foi a última vez que a viu? - ele perguntou. - Pode nos descrever, com o máximo de detalhes possíveis, o que aconteceu?

Alguns segundos se passaram, e Lana finalmente começou a falar. Mas tão baixinho, que a platéia teve que se inclinar para frente para poder ouvir.

— Era uma festa, numa boate. - ela começou. - Cecília tinha subido em um palco, quando...

— Qual era o intuito da festa? Quem te levou até lá? - Edwardo perguntou, a interrompendo.

— Cecília queria fazer uma festa... Em comemoração. - Lana explicou. - Era meu... Eu tinha terminado a faculdade, então...

— Então você admite que Cecília que planejou toda a festa, e que te levou pra lá? - perguntou alguém nos fundos.

Lana não queria colocar ninguém em encrenca, ainda mais sua melhor amiga. Mas acabou concordando com a cabeça.

— Silêncio, silêncio! - o juíz Edwardo gritava, batendo o martelinho. - Lana, você viu o momento em que Cecília desapareceu?

— Sim. - Lana respondeu, mas rápido do que pensou. Iria mesmo admitir em voz alta, o que vinha atormentando sua mente? - ela desapareceu no ar.

Os gritos e ameaças começaram, e Lana sentiu como se um peso saísse de suas costas. Tinha admitido, tinha dito. Sentia vontade de rir e chorar ao mesmo tempo.

— SILÊNCIO, SILÊÊNCIOOO! - Edwardo gritava, em vão.

Cadeiras começaram a ser jogadas uns nos outros, o juíz se levantou, fazendo um gesto com a mão, e antes que pudesse dizer "an?", Lana começou a ver uma rebobinação de uma fita. As últimas cenas voltando, as cadeiras voando para seus lugares, as pessoas se sentando.

Lana começou a dar risada. Se não acreditasse... Aquilo tinha sido... Uma volta no tempo?

— A mocinha não sabe nem o seu nome, senhor. - a mesma mulher alta, com o cabelinho loiro disse, se levantando. - Já que trouxeram uma humana e a convocaram pra cá, deveriam ao menoa ter o bom senso de explicar a ela o que está acontecendo.

Mil perdões, senhorita. - o juíz disse pra mim, como se estivesse pedindo desculpas por voltar no tempo. Mas se ele tivesse voltado no tempo, como poderia...? - Sou Edwardo Thomás de Aquino, segundo reitor da Sede Branca e Diretor da Comissão de Registros da Lei Branca. - Lana olhou pra ele, alarmada. Aquilo foi uma resposta indireta? - Estamos aqui para tratar da sua amiga. Conhece Cecília?

Lana teria respondido que sim, como da última vez. Estava alarmada. Olhou no olho de Edwardo, como se pedindo por ajuda. Ele a encarava de volta, como se pedindo algo.

A resposta era simples, a conhecia. Não conhecia? Se bem que, estava descobrindo coisas dela que nunca imaginaria. Cecília nunca contou sobre esse lugar, sobre essas pessoas. Talvez fossem a família ou emprego dela, e Lana nunca saberia.

— Não. - respondeu, quase chorando. - Pensei que a conhecesse, mas... Eu não sei. Que lugar é esse? Por que estou aqui? E o que aconteceu com ela?

Lana começou a chorar, deixando que as palavras saíssem.

— Não... Entendo. - disse entre soluços. - e...e...ela... Esta...tava na minhaa... Frente... Sumiu... Do nada...

A mulher loira foi até Lana, e entregou um lencinho pra ela.

— Oh, coitadinha... Estão vendo? Ela não tem culpa de nada, está abalada. E a pobre Cecília, que lástima... As duas merecem ser absolvidas. Não percebem? - a loira se dirigiu a platéia. - Foi uma emboscada, armaram pra elas.


Algumas pessoas começaram a cochichar, outros olhavam de solaio para Lana. Ela tentou se controlar, queria impedir que as lágrimas caíssem, mas não conseguia.

— Pode levá-la para um quarto, Rita. - Edwardo pediu. - Chamaremos Lana caso necessário.

A mulher, chamada Rita, segurou na mão de Lana. Lana olhava para aquelas pessoas, desejando sair dali. Então, como num passe de mágica, ela se viu na frente de uma cama confortável, e estava tão cansada que nem quis explicações. Se deitou, e antes de fechar os olhos, viu uma tal de Rita desaparecendo na sua frente. Mas isso também podia esperar.


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