Imortais escrita por kathe Daratrazanoff


Capítulo 5
Capítulo 4 : Lana




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Lana não sabia o que estava acontecendo. De um segundo para o outro tinha recobrado a consciência, mas não sabia se estava dormindo ou sonhando acordada. Tão estranho, tão confuso. Tudo estava escuro. Tentou abrir os olhos, mas tal tarefa precisava de mais esforço do que ela conseguia fazer. O que estava acontecendo?

Forçou sua mente a trabalhar. Não se lembrava de ter ido dormir, não se... Uma festa. Cecília a convenceu a ir em uma festa de formatura em sua homenagem, e o principal motivo pra ter ido foi que a amiga prometeu lhe contar um segredo que jamais tinha dito. E então veio a escuridão, a gritaria, o sangue e o desespero.

Lana tentou se levantar, mas não conseguiu. O que era aquilo? O pavor percorria por todo o seu corpo, e ela não conseguia se mexer. Por que não podia abrir os olhos? Por que não podia mexer o corpo? Sentia todo o seu corpo pesado. Sua respiração aumentou e ela tentou gritar, tentou pedir por socorro e a voz não saia. E então uma sensação de asfixia começou a tomar conta de si, como se estivesse com falta de ar e alguém estivesse sufocando sua garganta.

Ficou assim por alguns minutos, imóvel por fora, mas vulcão em erupção por dentro. Era um daqueles pesadelos onde não controlava nada? Eram os minutos mais longos e dolorosos da sua vida, e quando enfim conseguiu se mexer e abrir os olhos caiu da cama e começou a chorar descontroladamente.

Ela chorou até que boa parte do medo se fosse, chorou até não aguentar mais. Depois se deitou ali mesmo, no chão, e enquanto olhava para o teto tentava colocar tudo em ordem. Como sua mãe dizia :

— No desespero, faça seus pensamentos se acalmarem, relaxe e peça a ajuda de Deus. Se for merecedora, ele virá.

Mas por que ele não tinha vindo? Aqueles minutos presa dentro do próprio corpo foi um verdadeiro terror.

Lana acabou cochilando e acordando num piscar de olhos. Estava tão tonta que pensou que fosse o efeito da quantidade se bebidas que havia ingerido.

Tinha tido um sonho tão louco e estranho, tão anormal. Pensou em ligar pra Cecília, pra ver se ela estava bem, mas não conseguia se levantar. Girou as mãos só pra testar uma coisa. Sim, podia se mexer.

Quantos sonhos esquisitos.

*--*

Lana se sentia perdida. Deitada naquele chão frio, ficou pensando e repensando tudo o que vinha na sua cabeça. Ela tinha bebido mais do que já bebeu em toda a sua vida, o que provavelmente foi um erro. A cabeça doia tanto, parecia que tinha levado uma pancada. O braço ardia, as costas latejavam. Focou no braço. Em um desses sonhos, algo tinha acertado seu braço. Contou até trinta e olhou pra ele. A única luz que adentrava o quarto vinha de fora da janela. Olhou dos arranhões e do sangue seco para a lua. Ela estava tão grande e luminosa, tão bonita. Do seu quarto não tinha uma vista assim.

Com o braço bom se forçou a sentar e olhar em volta. Era um quarto modesto, mas bem organizadinho. A cama de solteiro tinha rendinhas azuis, e as paredes eram cobertas por guarda-roupas. Havia três ali. Achou um exageiro, mas sorriu. Sua amiga com certeza tinha vários deles pra guardar tantas roupas.

E foi só pensar nela que desanimou. Parecia loucura admitir isso, porém, tinha uma vaga impressão de que aquilo no braço foi causado por unhas bem afiadas, que Cecília tinha sumido como num passe de mágica e que a boate pegou fogo e as pessoas entraram em pânico. E tinha também um homem loiro que parecia saber quem ela era, e agora estava ali, em algum lugar desconhecido. Ah, e não podia se esquecer das dores no corpo, incluindo um par de olhos lacrimejantes.

Sentia que devia averiguar toda essa loucura, saber que lugar era aquele e quem a trouxa pra lá. Contudo, que mal haveria em fechar os olhos só um pouquinho? E deitar a cabeça e tirar um cochilo? Uma soneca nunca fez mal a ninguém. Ela tentou dormir, porém, uma espécie de sirene apitou em alguma parte do seu cérebro. As coisas não estavam bem. Como poderia dormir num local desconhecido e sem saber se a amiga estava bem?

Era isso que as grandes heroínas de seus livros gavoritos faziam. Elas não ficavam sentada esperando alguém aparecer e resolver seus problemas, isso era coisa de mocinhas ingênuas. E Lana Rey não seria uma delas, ela seria uma mulher forte.

Se levantou com um certo custo, viu um banheiro perto de uma cômoda e entrou nele. Simples, mas bonitinho. Abriu a caixinha do espelho, pegou algodão e merthiolat, limpou os machucados e tirou boa parte do sangue de si. Tinha nojo daquilo. Seu vestido estava todo sujo e rasgado, mas isso não tinha solução. Rasgou as tiras soltas e usou elas pra enfaixar seu braço. Sentiu um cheiro estranho e se cheirou. Vômito. Quando tinha vomitado? Queria tanto um banho. Talvez depois.

Saiu do banheiro e abriu a porta do quarto. Se viu no meio de um corredor que parecia extenso dos dois lados. Optou pelo lado esquerdo e foi andando.

Percebeu que em todas as portas havia uma inscrição. Algumas letras pareciam borradas, mas ela conseguiu reconhecer algumas palavras. Havia plaquinhas com "Não perturbe", "De férias, favor não incomodar", "Laboratório de Ciências Aplicadas", "Sala da Reflexão", "Closet 3", "Quarto 32: Aléxis". Nesse último ela parou e cogitou a ideia de voltar para ver o que estava escrito na sua porta. Se ali tinha mais de trinta quartos, ela ficou no de quem? E mais uma vez se perguntou que raio de lugar era aquele.

Finalmente chegou a uma curva e estava pra virar o corredor, quando esbarrou em alguém e caiu no chão.

—Mas que merda. Não olha por onde anda não?

Lana levantou os olhos e se deparou com uma garota a fuzilando com o olhar. Sentiu medo dela. Seus cabelos eram vermelhos e iam até seu pescoço, usava roupas escuras e tinha um piercing no nariz. Vendo a expressão dela de raiva e percebendo que ela não ia ajudar a levantá-la, Lana se levantou sozinha.

Apesar da carranca no rosto, notou que a garota era bonita, quase como se tivesse saído da capa de uma revista.

—Sinto muito, eu não estava prestando atenção.

Thai Greypara mim
Há 19 minutosDetalhesA garota a mediu de cima a baixo, e parou no seu cabelo. Lana passou a mão nele. Todo bagunçado.

— Espera um minuto. Você é Lana? - A garota perguntou, se aproximando.

Lana recuou. Mais uma pessoa desconhecida sabia o seu nome. Mas que diabos?

— Calma, eu não vou te fazer mal. É só que... É estranho.

Lana não discordou, achava tudo isso muito estranho também.

— Quem é você? E o que quer? - ela perguntou, tentando soar corajosa. A nota de medo em sua voz a entregou.

— Meu nome é Jane, ok? Moro aqui. E você não deveria sair andando por aí. Como conseguiu sair do quarto? Confie em mim, isso foi uma titude arriscada.

— Eu quero ir embora. Agora. - Lana forçou a voz a sair mais decidida e sorriu por dentro ao perceber que deu certo. Olhou com determinação para a garota que se identificava como Jane. Ela retribuiu seu olhar. - Como posso confiar em você se mal te conheço?

Caius apareceu naquele momento e parou, encarando Lana de cima a baixo.

— O que ela está fazendo fora do quarto? - perguntou, incrédulo. - ela não devia acordar só de manhã?

Lana cogitou a ideia de ter sido sequestrada. Começou a pensar seriamente em imobilizar os dois e sair correndo.

— Eu quero a saída, entenderam? Quero ir embora!

— Isso é para o seu próprio bem, acredite. Precisa ficar aqui. - insistiu Jane, como se estivesse falando com uma criança teimosa.
Lana não gostou disso.

— Se não vão me mostrar a saída, eu mesma encontro ! - disse, dando as costas, mas parou ao ouvir as palavras de C aius.

— Cecília mora aqui.

Lana se virou e os encarou, surpresa. Imaginava que a amiga morasse em uma mansão, mas nem sonhava que o lugar era tão grande. Relaxou um pouco e se sentiu mais segura.

— Onde ela está? Quero vê-la. - Foi quando Jane e Caius se entreolharam de uma forma suspeita que Lana percebeu que algo estava errado. - O que foi? Onde ela está?

Lana sentiu a pressão corporal abaixar, e se apoiou na parede. Tudo começou a girar, e ela sentiu as pernas fraquejarem. Flashs da boate começaram a disparar em sua mente. Cecília no palco, sorrindo. Cecília dizendo que a amava. Cecília desaparecendo. E então ela estava presa no quarto, sem conseguir se mexer, sentindo algo a prendendo. A asfixia. Começou a gritar.

— Socorro. Socorro!

Lana se aliviou por ouvir a própria voz, não estava presa. Mas estava tão fraca. Se sentou no chão e olhou pra dupla em sua frente. Teve que forçar os olhos pra conseguir enxergar por cima da neblina. O que estava havendo?

— Lana? Lana! - ela ouvia os dois a chamando e a sacudindo, mas como se estivessem a metros de distância.

Tentou controlar a respiração, tentou parar de soluçar e de ver aqueles flashs. Parecia um replay interminável. Foi com grande alívio que recebeu a inconsciência.

*---*--*--*

Lana despertou aos poucos. Sentia espasmos pelo corpo todo, principalmente na cabeça. Abriu os olhos e se forçou a levantar, surpresa por mais uma vez aparecer naquele quarto e naquela cama.

Se espriguiçando, foi até a janela e a abriu. O vento gelado batia em seu rosto, mas era uma sensação maravilhosa. Sua cabeça não doía tanto, e ela se sentia muito bem. Até suas roupas tinham sido trocadas, usava um pijaminha azul confortável e os cabelos estavam trançados. Nem se sentia imunda, parecia como se tivesse tomado um banho.

Olhou pra baixo e viu que devia estar no 3º andar daquela enorme casa. Nas paredes do lado de fora haviam muitas trepadeiras, e a vista era maravilhosa. Abaixo, no chão, se via um gramado extenso, e mais distante tinha o que parecia ser uma floresta.

Lana tentou ver até onde ia a floresta, mas não conseguia ver o fim dela. A lua brilhava branca e intensamente no céu estrelado, um céu com mais estrelas do que ela jamais tinha visto. Tudo era tão lindo, parecido com o cenário de algum filme de hollywood. E como se um ímã a tivesse puxado, seu olhar desceu da lua para baixo.

Um homem estava andando distraidamente sobre o gramado, parecendo sem saber ao certo em que direção ir. Pelo que Lana podia ver, usava uma camiseta branza e calças sociais preta.

Lana ficou observando o homem ziguezaguear pelo local por minutos, que mais pareceram horas. Finalmente o homem se decidiu e foi em direção a entrada da floresta, e Lana podia jurar que a lua estava refletindo sua luz diretamente nos cabelos dele.

Quando perdeu o homem de vista, Lana piscou algumas vezes e fechou a janela. Entre sair do quarto procurando respostas e deitar na enorme e aconchegante cama, o sono venceu e ela se pôs a dormir.

*--*-+*--*

Lana sonhava com a cena que tinha visto ao anoitecer. Um lindo gramado, tantas árvores ao redor, a lua brilhando. A diferença era que ela não via tudo por uma janela, ela estava lá embaixo de mãos dadas com aquele homem. Tanto a Lana que sonhava quanto a que estava no sonho sorriam, isso até alguém de fora começar a chamar seu nome e a sacudir.

—Acorda logo! O que é preciso fazer pra você levantar?

Lana rolou na cama e colocou a almofada por cima da cabeça, querendo afastar aquela voz. Uma voz diferente da sua amiga Cecília.

Se sentou as pressas enquanto a memória voltava. Droga.

—Você não pode... -Ela ouviu outra voz, falando baixinho.

—Eu não vou pedir de novo. - Jane gritou, interrompendo a frase de Caius.

Lana olhou para a garota quase em cima dela e viu Caius parado na porta. Hora de enfrentar a situação.

— Tudo bem, eu estou acordada. Agora vão me explicar o que está acontecendo?

— Não dá tempo, você está atrasada. - disse Jane, jogando nela algumas roupas. - Vista-se. Rápido.

— Atrasada pra que? - Lana perguntou, olhando para a causa e blusa cinza escura que recebera.

— Para o conselho. - Caius reapondeu, saindo do quarto.

—Conselho? - Perguntou Lana, se levantando da cama.

— Voltamos em cinco minutos, esteja pronta - Jane pediu, saindo do quarto e batendo a porta.


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