Lana ficou estática, observando a garota a sua frente.

—E então, o que está olhando? - Ela perguntou, irritada.

Lana tentou fazer sua boca se mover, mas não conseguia.

—Deixa eu facilitar pra você. Não me olhe, não me vigie, fique longe. Entendeu? - A garota falou, voltando sua atenção para o livro.

Com medo de levar uma repreensão dela, Lana desviou o olhar dela e passou a observar a sala. Continuava do mesmo jeito, com almofadas espalhadas pelo chão. Da sala podia olhar para a floresta a sua frente, pois uma das paredes era de vidro. Lana observava a chuva que tinha começado a cair, pensando em alguma coisa pra fazer.

Ficou olhando para suas mãos, se segurando para não olhar para a garota. O silêncio estava ficando constrangedor, e ela não sabia como reagir a isso. Se levantou do sofá e decidiu andar pelo lugar, pra se distrair. Onde estavam Jane e Caius? Precisava contar a eles o que tinha acontecido.

Quando estava prestes a andar pelo lugar, ouviu passos e a voz de Jane.

—E eu só queria saber onde ela se meteu.

Lana correu em direção a voz e viu Jane e Caius andando. Sem pensar duas vezes, correu pra abraçar a garota, que ficou imóvel.

—Ei, o que está fazendo?

Soltando Jane, Lana a olhou, envergonhada. A sensação de ouvir uma voz conhecida era gratificante.

—Sinto muito. Eu...

—E o meu abraço? Agora é o meu. - Brincou Caius, abrindo os braços.

—Pare com isso- Disse Jane dando um tapinha nos braços dele. - Onde você estava? Foi uma ideia idiota a de te mandar para o lugar que você quisesse. Francamente, aquela garota tem alguns parafusos faltando.

—Não fale assim dela. - Pediu Caius, abaixando os braços. - E obrigado pelo vácuo, Lana. Você sabe, existe aquela lenda que diz que quando você deixa alguém no vaco...

—Caius, cala a boca. Lana, você está bem? Eu sei que é pedir demais, mas você não pode sair daqui. Eu sei que parece loucura, mas eu e Caius achamos que você corre perigo. Justus...

—Eles me trancaram dentro do quarto da Cecília. - Lana a interrompeu.

—O que? Me conte agora o que aconteceu! - Mandou Caius, segurando no braço dela. - Você está bem?

—Estou, estou bem. - Disse Lana, se afastando dele. - Não precisa pegar no meu braço.

Caius e Jane a olhavam, em estado de choque.

—O que foi? Por que estão me olhando desse jeito?

—Lana, quem te trancou? Foi o Justus?

—Não. Foi a Liliane. E eu nem sei por que, ela parecia tão legal. Ela disse pra eu ficar no quarto e quando vi já tinha me trancado ali.

—E como você saiu? - Perguntou Jane.

—Por sua causa. Os chutes que você deu na porta.

Jane sorriu, triunfante.

—Você é esperta, menina.

—Mas eu não entendo... Por que ela fez isso?

Jane e Caius se entreolharam, de uma forma que Lana estava começando a ficar acostumada.

—Lana... Achamos que Justus quer alguma coisa com você. Ele está aprontando alguma. Ele que atacar a Sede Preta... -Caius começou, mas Lana o interrompeu.

—Eles estão com Cecília. Não estão?

—Mocinha, é mal educado interr...

—Caius, quieto. Não, Lana, os Pretos não estão com ela. Por mais que eu deteste eles, não acho que eles sequestrariam ela. É ilógico, todo mundo aqui sabe disso.

—Então, você quer dizer que ele mentiu? - Perguntou Lana, triste.

—Sim. E o que queremos dizer é, ele está aprontando alguma. - Jane disse, parou e olhou para Caius. - E tem outro motivo também pra eles estarem mentindo.
Jane ficou em silêncio, e Caius continuou.

—A verdade é que ninguém da Sede Branca se importa com Cecília. Eles, mesmo se soubessem onde ela está, jamais iriam atrás dela.
Lana recuou, triste.

—Por que? Por que ninguém ajudaria ela? Caius, ela é sua irmã. Por que você não faz algo? Por que não pede pra eles ajudarem?
Caius recuou, a expressão indecifrável, e Jane ficou na frente dele.

—Desculpa. Eu só... Eu quero entender.

—Lana, você deve entender que existem Sedes. Cada Sede é de uma espécie, de um grupo. E as Sedes não se misturam. Isso é considerado crime em algumas delas. Para nós, Brancos, o que não toleramos são a Sede Preta. Nos temos uma rixa a mais de 300 anos, e Cecília fez algo que sujou nossa Sede. Ela se envolveu com companhias erradas, com outras Sedes.

—Que horror! Mas vocês se misturam com outras sedes. Gwylin...

—Sim, nós gostamos dela. Você acha que nosso nome não está sujo na Sede Branca por causa disso? Quando eles descobriram que somos amigos de uma fada, quase nos expulsaram. Estamos na risca, a um fio. -Disse Caius, de modo frio.

—Mas o caso de Cecília é grave. Os Pretos são... -Começou Jane, mas Caius a interrompeu.

—Repugnantes, repulsivos, escória da Terra.

—O que eles fizeram de tão grave?

—Eles pegaram o que era nosso. Nós, os Brancos, deveríamos ser os líderes. Deveríamos ser a Sede Principal, mas eles tomaram esse lugar. E o que eles fazem? Nada. - Resmungou Caius, furioso.

—A questão não é essa. Nós precisamos saber o que está acontecendo. Deve ter algum motivo pra eles atacarem os Pretos hoje, e com certeza não é pra buscar alguém. Lana, Cecília não está aqui. Eu consigo sentir vibrações das pessoas. Eu conheço Cecília a anos, mesmo se ela estivesse longe eu sentiria. Mas eu não sinto quase nada. Seja onde ela estiver, está muito longe. Você tem que entender, temos que esperar ela voltar. Isso que eu sinto. Quando for o momento certo, ela virá.

Lana olhou pra ela, com mil perguntas na cabeça.

—Eu sei que tem perguntas, mas agora precisamos ir. você vem?

Lana fez que sim. As coisas estavam tão estranhas, que não importava o que acontecia, nada mais a surpreendia.