Khaos - Terra escrita por Gato Cinza


Capítulo 3
Curioso e teimoso




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Ficou até fecharem a lanchonete, casualmente pedia um refrigerante e voltava a cochilar. Por que diabos não o matava logo?

Saiu revigorado após as horas de sonecas alternadas, embora um pouco enjoado de tanto refrigerante, andou em passos lentos até uma esquina onde se sentou na calçada e recostou-se á um poste de iluminação. Era sem duvida um alvo fácil, esperou por um tempo e dormiu.

Teve o mesmo sonho repetido e cansativo de sempre, corria pela chuva e quando caia delicadas mãos o erguia, mas no ultimo instante quando ia olhar sua protetora, acordava. Era dia claro, foi acordado por um cachorro vira-lata que o lambia. Por que não o mataram? Se levantou e saiu, estava cansado de andar sem destino.

Do prédio em frente ela olhava o nascer do sol, por que aquele moleque atrevido e idiota tinha que bancar o bêbado e se deitar em uma rua qualquer? Era alvo fácil mesmo para um mal atirador. Alem do fato que ela teria que passar a noite acordada para protegê-lo. Cochilava vez ou outra e despertava assustada. Ouviu um resmungo baixo e olhou do outro lado, ele estava se levantando. Saltou para o chão e começou a segui-lo, sentia fome.

Caminhou por cerca de uma hora, ziguezagueando pelas ruas entrou de repente em uma loja, uma vendedora veio atendê-lo, só então notou que era uma loja de artigos de couro, olhou algumas peças, fingindo interesse por chapéus e botas, saiu após alguns longos minutos prometendo voltar no dia seguinte para ver se poderiam arrumar para ele uma encomenda de botas de cobra. Riu da situação quando passou pela porta, nunca mais entraria ali novamente.

Deu alguns passos, olhou para o reflexo em uma cafeteria mais adiante, viu uma capa tremeluzindo ao vento, olhou para trás, não via ninguém. Ergueu a gola de seu paletó, estava ficando mais frio e pra variar estava vendo capas onde não tinha, sorriu e correu, virando repentinamente em uma esquina.

Para onde ele ia? Acelerou os passos e virou na esquina, parou abruptamente. Encostado na parede do prédio da esquina a encarando curioso, assustado e surpreso estava Gael.

Gael esperava que a pessoa que o seguia não mudasse o caminho, esperou ansioso para que ele virasse logo a esquina e torcia para que não fugisse antes que ele pudesse o pegar. Quando virou na esquina ela freou o olhando surpresa, Gael sentiu coração acelerar, ela deu um passo para trás ele a segurou pelo pulso.

_não esta morta – sussurrou após um desconfortável silencio em qual se analisavam como dois desconhecidos.

_e por estaria? – Grace estava impassível como sempre, mas um pouco cansada.

_ninguém teve noticias suas, passei cinco dias te procurando até ser atacado e ter que fugir.

_vamos caminhar – disse se soltando das mãos dele e andando em passos rápidos – quando desliguei o celular tentei atrair a atenção dos Gert’ns para longe das pessoas, tentando evitar um massacre...

_Gertinis?

_... Ai quando um deles me seguiu resolvi acabar com ele, mas os outros ficaram e o resultado foi o caos total. A pronuncia é gÉr-tÍns, são caçadores assassinos, aqueles que atacaram a escola eram três, um eu derrotei na escola, o outro eu segui naquela noite em que você fugiu da cidade derrotei ele também o outro esta por ai solto, te procurando provavelmente te achara se continuar fazendo paradas inúteis como os de ontem.

_derrotou? Quer dizer matou?

_isso mesmo, vamos achar algo para comer, sinto fome.

_eu também, mas não tenho muito dinheiro, ia deixar para comprar algo quando realmente não conseguisse mais suportar a fome.

_pois bem, saiba que estou há quase 24 horas sem comer, te seguindo por ai e impedindo que alguém te enfie uma lança no peito.

_por que não apareceu antes? Depois da escola se estava na cidade devia ter aparecido, fiquei apavorado e sem saber o que fazer.

_eu sei, estava te protegendo, fui para casa, peguei dinheiro, minhas armas e algumas coisas importantes e a incendiei.

_FOI VOCÊ? – ele não evitou o grito de fúria e raiva.

_fui, precisava ter certeza que você não voltaria para casa e se deixaria matar pelos Gert’ns.

_você é louca? Por que maldição aqueles caras iriam atrás de mim?

_pelos mesmos motivos por qual nos mudamos de cidade em cidade quando éramos crianças, pelos mesmos motivos por quais mamãe passou a vida nos treinando, pelos mesmos motivos que devo te manter vivo. Esqueceu-se por acaso de quem é? – Gabriel a olhou confuso – você pela ultima vez e espero que depois desta semana enfie isso de vez na cabeça e não se esqueça: é um Mïr, um dos sete filhos da natureza, um escolhido dentre milhões para guardar por Vytrel.

_Mir... Vitrél! Historietas que mamãe inventava para nos distrair quando perguntávamos o por coisas que ela não queria nos dizer.

_é Míir e Vai-trêl – ela suspirou e sentou em uma cadeira em uma padaria, sussurrou como se alguém os ouvisse – eu também acreditava que era apenas isso, mas mamãe em seu leito de morte confidenciou-me um diário, disse que tudo era a mais absoluta verdade e fez prometer que te protegeria e continuaria o nosso treinamento.

Levantou e comprou pão e leite com café para eles. Comeram em silencio, Gabriel não tirava os olhos da irmã. Depois ela recostou na cadeira e suspirou o olhando fixamente.

_para onde vamos? – perguntou

_sei lá

_como sei lá? Estava indo para algum lugar não estava?

_não, estava apenas me afastando do cara da lança e de você, só que eu não sabia que era você.

Ficaram em silencio novamente, saíram e caminharam por um longo tempo, foi Gabriel quem quebrou o silencio.

_supondo que seja verdade sobre Vytrel e Mïr, quero ler o diário de mamãe, quero saber mais sobre tudo antes de pensar o que fazer.

_mais antes de ler o diário, saiba que tem coisas que estão em escrita Fläller, são encantos de poções que ela transcreveu. E tem coisas que irão te surpreender em certo nível e vai te causar espanto e medo em outro – ela entregou a ele um livro de couro marrom claro, as folhas eram amareladas e a letra reconheceu como de sua mãe, uma caligrafia fina e deitada ao contrario, como de escrevesse de cabeça para baixo.

Andaram até um prédio alto, entraram como se fossem donos do lugar, foram para o teto, o vento frio incomodava, Grace se enrolou na sua capa e puxou o capuz enquanto Gael se acomodava para ler. Parte dos relatos no diário ele já conhecia de historias que sua mãe lhe contava, pulava páginas inteiras. Corria os olhos nas linhas buscando por algo que ainda não soubesse, encontrou duas folhas com rabiscos que o fez lembrar de runas, perguntou a Grace o significado, ela deu de ombros – vai saber – foi a resposta curta e fria. Encontrou um trecho que lhe interessou, leu sem entender, voltou a pagina, e mais outra até achar o ponto em que se começava o relato. Quando terminou releu novamente, virou outras páginas buscando por uma continuação que explicasse o que ele havia lido. Depois desistiu.

Grace estava sentada encolhida olhando para o horizonte, passava o dedo na corda do arco que tinha parecia distante, limpou a garganta chamando a atenção dela e leu:

“para proteger a mim e a nossa filha, meu amado Zac se colocou a frente dos Gert’ns, tentaria detê-los o máximo de tempo possível enquanto nós duas fugíamos [...], nos aliamos ao grupo de Maric novamente quando perdi por completo a esperança de que Zac retornasse, agora cabia á mim a missão de guardar pela vida do pequeno Mïr...”.

_se eu entendi – ele suspirou ao levantar e esticar as pernas – mamãe não era minha mãe, é isso?

_sim – Grace esticou a mão para ele, Gael a puxou, ajudando-a se levantar.

_aqui não explica direito, quem são meus pais, você sabia que não éramos irmãos?

_sim

_desde quando? Por que mamãe não me contou? Por que vocês me esconderam isso?

Grace suspirou – mamãe me contou quando descobriu a doença, quando soube que estava próxima da morte, me falou sobre você, papai, minha vida e a missão dela, intensificou meu treinamento, me fez jurar proteção eterna a você e por fim quando não tinha mais forças me deu esse diário.

_me conte o que não tem nele, tenho direito de saber, vocês não deviam ter me negado a verdade.

_não negamos você apenas nunca esteve preparado para isso, sempre foi impulsivo, felizmente aprendeu a se controlar. Bom, vou começar pelo começo, não me interrompa, não importa se você esteja ou não acompanhando, então preste atenção por que não vou repetir nenhuma de minhas palavras e esta será a ultima vez que te contarei sobre isso, ok?

_ok – disse Gael se sentando.

_mamãe morava em uma aldeia, onde tanto homens quanto mulheres eram igualmente treinados em caça e defesa, uma vez enquanto ultrapassara os limites da aldeia atrás de uma caça fora feita prisioneira de um... Um homem importante que a fez escrava dele. Mamãe tentava fugir sempre que tinha oportunidade, conseguiu algumas vezes, da ultima fora para quase tão longe que foi necessários dias para a encontrarem, dos dois homens que mandaram atrás dela um ela matou, outro quase a matou, mas ela se defendeu e fugiu, era noite e a visão dela na floresta que não conhecia a prejudicava, ela caiu em uma armadilha, morreria se ele não se arriscasse para salvá-la.

“salvar mamãe custou caro a ele, foi arranhado por uma das estacas envenenadas que cercavam a armadilha em que ela caiu, mamãe resolveu retribuir o ajudando a se curar, ela conhecia ervas e plantas capazes de criar antídotos para muitos venenos, passaram alguns dias para que ele se recuperasse totalmente e nesse meio tempo, se conheceram. Zac tinha grande admiração pela força que ela impunha em não servir ao seu superior, quando ele melhorou a levou novamente para o seu senhor, prometendo a ela liberdade. Ele passou a ensina-la com a escrita, a ensinou se defender com outras armas e com o tempo se apaixonaram.

“eu nasci então, e Zac resolveu que estava na hora de dar a liberdade prometida a minha mãe, ele lhe confidenciou uma rota de fuga na qual ela encontraria uma ajuda primordial, é claro minha mãe se tornaria considerada inimiga do império se, se juntasse aos chamados rebeldes, um grupo forte e poderoso que tentava destruir o imperador e seu exercito de monstros, mamãe concordou com a condição dele se juntar á nós, ele os mantinham informados sobre o que acontecia do outro lado, até que um dia souberam sobre vocês, os Mïr, então foi uma guerra para protegê-los, enquanto o imperador os tentava matá-los. O resto esta ai, atacaram o império enquanto grupos separados tentavam proteger as crianças.

_aqui relata a fuga em Vytrel, mas e aqui? Que ouve quando chegamos?

_para segurança de todos, quando Maric abriu o portal hiperdimensional nos mandando para cá, caímos todos no mesmo lugar, éramos seis crianças e cinco adultos, Zac era seu guardião, mas quando ele não retornou mamãe o protegeu. Ela se recusou a deixa-lo, então comigo e você ela se separou do grupo e cada um foi para um caminho, separaram-se para que os encontrar tornasse um trabalho árduo.

_mas nos encontraram.

_bom, ficamos os últimos cinco anos na mesma casa, na mesma cidade, na mesma escola, pedíamos para sermos encontrados.

_ainda assim acho que deviam me contar antes, não tinham o direito de me esconder uma coisa dessas – a voz de Gael se tornou um rugido feroz quando começou a andar em círculos.

_foi o melhor para você

_MELHOR PARA MIM?

_não grite comigo garoto arrogante – estavam a uma mão um do outro, uma veia pulsava no pescoço de Gael, enquanto Grace se mantinha calma – agradeça por ainda estar vivo, te protegemos e cale sua boca antes que fale algo que se arrependa depois.

_eu não precisava de sua proteção – sibilou zangado pelos dentes

Grace empurrou para ele seu arco e a aljava com algumas flechas.

_já que não precisa de minha proteção, guarde pelo meu sono – deitou-se ajeitando a mochila debaixo da cabeça – me acorde caso não aguentar mais o sono – o viu sentar reabrindo o diário antes de adormecer.


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Notas finais do capítulo

Eu coloquei como aviso da historia TORTURA, bem não eram os personagens que seriam torturados :D, continuem lendo!