Khaos - Terra escrita por Gato Cinza


Capítulo 2
Fugitiva




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Ela ergueu o prisma contra a luz fraca do sol que nascia. Sorriu quando a pedra transparente e incolor reluziu verde e azul. Faltavam 2 e finalmente ela teria o poder que era seu por direito.

Colocou a corrente que segurava a pedra no pescoço e correu em direção ao precipício, caiu com um sorriso perverso no rosto enquanto ouvia o crepitar das chamas no farol que fora violentamente destruído.

...

Uma flor vermelha surgiu em sua frente, ergueu os olhos era David novamente, pegou a flor e sorriu em agradecimento voltando sua atenção para seu desenho.

David caminhou até o pátio e virou a observando, encostou-se a um pilar, ela se mantinha imóvel debaixo da arvore, sentada perfeitamente ereta em posição de flor de lótus olhando para seu caderno de desenho sem ao menos se mover. Era impressionante e inaceitável sua presença naquele lugar. Embora soubesse o perigo que ela representava ás outras pessoas quando provocada, mas á olhando dali parecia tão inofensiva quando o dia em que chegou.

Dois anos antes ele estava começando a se adaptar ao regime do sanatório publico do estado, era enfermeiro e achou que não teria problema algum em trabalhar em um lugar daqueles, dar remédios aos pacientes, ajuda-los a se acalmarem quando fosse necessário, mais depois de quatro semanas não sabia se seria capaz de aguentar aquilo. Foi então que ela chegou levada pelo pai que morava em uma cidade do interior.

A avaliação dos psiquiatras a relatavam como extremamente perigosa. Havia sido internada após ter uma crise de esquizofrenia e matar a mãe e os irmãos, o pai fora salvo por estar no trabalho quanto ela teve o surto, quando ele chegou em casa a encontrou ensanguentada entre os corpos dormindo, quando perguntaram o que aconteceu ela confirmou que os matou por não a deixarem em silencio.

Nos oito primeiro meses se mostrou tranquila e doce, diria até que assustada. Um dia quando uma enfermeira foi levar remédio á ela durante a manhã antes do café, encontrou um guarda morto em seu quarto, ela estava sentada em um canto o olhando com indiferença, dissera que ele mereceu morrer, o dever dele era proteger as pessoas dentro dos muros e não as machucar enquanto dormiam. Passou um dia todo trancada na camisa de força em um quarto especial, quando a soltaram no dia seguinte prometeu que não ia mais ferir ninguém, desde que não tentassem feri-la.

_não fui abandonada – disse uma vez quando ele olhava para ela, era hora de visitas e tinham alguns familiares olhando pelos seus, ela estava ali já 17 meses e ninguém a visitava, foi a primeira vez que ela falou com ele, sua voz era gentil e calma. Naquela época se recusava a falar, raramente o fazia na presença dos psicólogos, era mais comum a ouvir cantando durante as noites, uma melodia triste e suave, era quase hipnotizante, toda a ala 18B onde ficavam os jovens, se silenciava e adormecia sob sua voz.

_não disse que foi – respondeu envergonhado, pois era exatamente o que pensava.

_então não me olhe com tanta piedade, não sinta pena de mim, Martin me deixou aqui para minha segurança, quando for seguro lá fora ele vira me buscar.

_e se não vier? – se arrependeu no mesmo instante em que perguntou, piorou sua culpa ao vê-la baixar os olhos das outras pessoas e responder com a voz triste.

_então ele já estará morto – saiu de cabeça baixa e ombros caídos.

Depois disso fazia o possível para conversar com ela, quase sempre recebia um sorriso ou um longo olhar inexpressível. Nessas horas não sabia se ela o compreendia ou se era por causa dos medicamentos que a deixavam distantes.

Ainda a olhava quando notou que ela amassou a flor em sua mão, se levantou rapidamente, passou por ele abraçada ao caderno, cabeça baixa e passos largos, chorava. David foi atrás dela, bateu na porta antes de entrar, ela estava sentada rabiscando sem parar o caderno os olhos seguiam os movimentos do pulso incontroláveis.

_Bela – á chamou, á balançou pelos ombros depois de chama-la repetidas vezes, ela soltou o lápis e desabou em seus braços. Á deitou na cama o caderno mostrava uma estação de trem, havia algumas pessoas e alguns números rabiscados pelo desenho como se fizessem conexões uns com os outros, não entendeu nada. Fechou o caderno e saiu do quarto.

Abriu os olhos assim que os passos de David se distanciaram, abriu o caderno, sabia para onde ir, precisaria de dinheiro e transporte seguro, David tinha carro, não podia coloca-lo em perigo e nem sabia dirigir. Seria um erro, mas não tinha outra opção. Saiu do quarto e foi até a enfermaria do outro lado do sanatório, estava trancada sorriu da fragilidade da fechadura e abriu a porta, pegou algumas seringas e uma maleta de primeiro socorros, foi para o vestiário dos funcionários, pegou uma bolsa e colocou a maleta e as seringas dentro, pegou algumas roupas e um jaleco, ficariam enormes nela, mas seria útil.

Após o jantar ás cinco da tarde sentou com os outros na sala de TV, era entediante assistir desenhos com pessoas de olhares desfocados e mentes alucinadas, começou a cantarolar, sua voz foi se erguendo suavemente, estava quase na hora dos remédios, seria um desastre acorda-los para lhes dar pílulas que os fariam dormir, fechou os olhos e começou a contar o tic-tac de um relógio inexistente, contou os nove minutos restantes para as seis da tarde.

Contou os passos dos enfermeiros, e imaginou as expressões irritadas deles quando notaram os 10 pacientes mais tranquilos dormindo os acordaram, se um começasse confusão todos os acompanhariam, foi a primeira a se levantar para tomar suas pílulas, passou por Roger um esquizofrênico e sussurrou: dão remédio na água para dormimos e nos envenenam com pílulas. Foi o suficiente para ele entrar em pânico e começar a gritar que estavam tentando mata-los com venenos o lugar de remédios, o pânico dele se espalhou pelos outros, ela correu e se agachou no canto com os olhos arregalados e mãos nos ouvidos, embora sentisse uma enorme vontade de rir, enquanto via os enfermeiros correndo atrás dos pacientes apavorados.

David saia as sete do sanatório, enquanto os últimos eram tranquilizados e levados aos seus quartos ela foi cambaleante para seu quarto, esbarrou em uma enfermeira apressada que corria com uma seringa para outra ala, os gritos da 18B chegaram às outras alas, se espalhando de ala em ala até que todos os enfermeiros estivessem ocupados demais para notar sua presença. Pegou o caderno de desenho e os restos das coisas que poderia usar, no fim do corredor baixou e pegou a bolsa, enfiou tudo dentro dela, vestiu um jaleco, prendeu o cabelo em um coque que prendeu com o lápis, ergueu a cabeça e saiu andando como se fosse uma enfermeira, mão no bolso outra na bolsa, passos curtos, mas não lentos e olhar distraído, como via David olhando sempre que terminava o trabalho, uma mistura de alegria e cansaço.

Aguardou até que ele saísse dos portões do centro de tratamento psicológico publico de estado, sorria sempre que pensava nesse nome, chamar o lugar de hospício era uma ofensa mais honrosa que dar ao lugar tão nome longo e depressivo, fora que alguns dos internos eram bem mais inteligentes que maioria das pessoas que ela já conhecera em sua vida e não eram poucas. Talvez fosse por isso que estivessem confinadas ali, por não serem compreendidas de forma correta, serem temidos e ignorados onde mais precisavam de atenção. Não importava mais, estava se afastando cada vez mais do único lugar em que se sentiu segura em sua vida, agora teria que enfrentar os perigos das quais Martin, seu amigo e guardião não podia mais priva-la.

Levantou-se de trás do banco do motorista onde estava contorcida tentando se esconder e colocou uma seringa no pescoço de David.


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Notas finais do capítulo

espero que tenham gostado...