Renascer escrita por Ana C


Capítulo 4
Visões


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores!

Mais um capítulo curtinho, porque meus alunos estão em semana de testes e eu tenho toneladas de coisas para corrigir!

Os agradecimentos da vez vão para a Kath, que favoritou, para a Everdeen, que comentou, e para você, meu leitor fantasma, que me fez chegar a 150 acessos com só 3 capítulos! São muito mais leitores do que eu pensei que fosse ter! Se você quiser aparecer, e me dar um oi, ficarei imensamente feliz! Todo mundo gosta de feedback, né? Quem sabe eu não poste outro ainda esse fim de semana?

Capítulo escrito pelo ponto de vista do Peeta. Gostei muito de escrevê-lo!



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Eu estou correndo o mais rápido que posso, tentando chegar na minha casa antes que possa fazer algum mal a Katniss. Eu a amo tanto, mas, as vezes os fantasmas que me atormentam parecem ter mais força, minha sanidade vai sendo substituída pelo terror, pela angústia, pela vontade de matar e morrer. Assim que entro dentro de casa, busco na cozinha a caixa que contém os remédios receitados pelo Dr. Aurelius, para que eu pudesse retornar para o meu lar. Sinto que não vou ter tempo, minhas mãos estão trêmulas demais e eu já não enxergo com clareza o que está ao meu redor. Agora é percorrer o caminho das minhas alucinações e rezar pra me manter vivo.

A minha mente começa a me mostrar uma sucessão de imagens. Eu e Katniss estamos felizes, correndo na campina de nosso distrito, quando de repente o cenário muda e eu consigo perceber que estamos na arena do nosso primeiro jogo. Nós corremos como se quiséssemos nos livrar de alguém, Cato talvez, mas quando chegamos à Cornucópia eu sinto que eu sou o alvo. Uma flecha é lançada no meu coração, eu fico tonto e sinto que estou caindo no chão. As cenas agora se passam numa rapidez incrível: ela está rindo de mim, gargalhando, sua risada é completamente assustadora. Gale aparece. O que ele está fazendo na arena, afinal? Eles se beijam enquanto eu estou morrendo. Eu era só uma peça nos jogos cruéis deles. Snow aparece e ri, como se tivesse me avisado do que aconteceria e agora ele estivesse regojizando a minha morte.

A dor é insuportável, eu fui traído, estou morrendo. Eu sei que não é real, mas tudo se desenvolve de forma tão clara, tudo é tão vívido... Eu não posso sucumbir, não posso... Eu me apoio nas costas de uma cadeira, espero não quebrar nada, nem me machucar, mas eu não sei quanto tempo vai durar esse inferno. Agora as visões são as lembranças dos gritos guturais de Darius e Lavinia, o lamento de Annie, Johanna implorando para viver, ela era tão forte e eles a maltrataram tanto. E então eu me lembro dos meus gritos. Lembro-me de quando eles me contaram que eu já não tinha família. Que estavam todos mortos. Eu me lembro dos risos jocosos. Eu me lembro. Porque a minha mente não me ajuda? Eu preciso voltar ao mundo real... Eu quero tanto ser feliz, não aguento mais todo esse sofrimento...

Quando eu já não consigo achar nenhum mecanismo de saída da crise, e me preparo para desistir, sinto que estou sendo abraçado por trás, da forma mais forte possível. O pânico toma conta de mim: os pacificadores me acharam aqui? Eles vão me matar? Há alguém falando comigo, e no momento em que escuto aquela voz, tudo começa a ficar mais claro. A menina de tranças que fazia com que os pássaros parassem para escutá-la. O pão que eu queimei para dar a ela. O nosso banquete na caverna e nosso piquenique na capital. A promessa de sempre estarmos juntos. É isso que ela está me implorando para lembrar. Consigo escutar seu apelo, embaralhado no meio das diversas memórias que insistem em saltar da minha mente.

– Fica comigo, Peeta. Por favor, fica comigo...

Ela tem que sair de perto de mim. Eu já consigo pensar, mas se os pesadelos voltarem, vou matá-la.

– Sai daqui agora, Katniss. AGORA.

Escuto um soluço de choro. Não quero magoá-la, mas machucá-la não é uma opção viável pra mim. Talvez se ela estiver muito chateada saia logo de perto de mim. Mas ela permanece. E o som da sua voz repetindo a mesma frase de alguma forma conseguem me trazer de volta ao real.

– Fica comigo, Peeta. Por favor, fica comigo... - Ela continua dizendo, como se entoasse um mantra

Essa é uma daquelas perguntas que sempre serão respondidas da mesma forma:

– Sempre.

Lentamente meus olhos vão voltando ao normal, assim como a minha mente. Já posso enxergar a cozinha em todos os seus detalhes, quebrei somente o copo de água que estava na minha mão quando achei que ainda tinha tempo de tomar a minha medicação. Toco o meu rosto e ele está molhado pelas minhas lágrimas. Não há como não chorar nessas horas. O abraço foi desfeito e estou tentando achá-la. Já estou com medo de ter feito algum mal a Katniss, quando ela toca levemente meu ombro. Ela está sorrindo, mas seus olhos lacrimejantes me mostram todo o pânico que ela está sentindo. Medo de morrer, talvez. Não a culpo. Ela me força a sentar na cadeira, o que faço sem oferecer muita resistência. Depois, vai buscar um copo de água. Quando está próxima da geladeira me pergunta:

– Tem algum remédio aqui que você possa tomar?

– O Dr. Aurelius me receitou um remédio para atenuar minhas crises, mas agora que eu já passei por isso, não faz mais sentido tomar nada. - digo, calmamente.

– Foi por esse motivo que você saiu da minha casa correndo? - Katniss me pergunta, mas já sabe que a resposta será afirmativa – E é por isso que você sai da minha casa todos os dias assim que a noite chega?

– Nem sempre eu saio da sua casa porque estou prestes a ter um ataque. Na maioria das vezes, eu passo na casa do Haymitch para ver se ele comeu algo, ou levar alguma coisa para ele jantar. - No momento em que falo isso me lembro que eu não tive tempo de fazer isso hoje.

– Não se preocupe com aquele velho bêbado – Diz, Katniss – Ele já viveu anos e anos sem ter você como babá. Ele não vai morrer porque você não passou na casa dele para dar o jantar... De qualquer maneira, você não vai a lugar nenhum agora...

Eu aprecio a preocupação que ela está tendo por mim. Qualquer outra pessoa que estivesse no lugar dela sairia correndo ao me ver maluco desse jeito, mas ela é uma guerreira. E ela se importa comigo. E eu acho que não consigo amá-la mais que agora.

– Sabe, Kat... Eles me torturavam sempre pela noite. É por isso que saio sempre da sua casa quando o sol se põe... Eles me deixavam ver todos serem torturados, todos voltarem destroçados às suas celas e depois que eu já estava bastante mal eles começavam... – Não sei porque contei isso a ela. Acho que ela precisava de uma explicação, afinal – É o momento mais difícil para mim. Aquele em que eu tenho que me afastar de você. Hoje foi especialmente ruim, mas é necessário que eu saia. Você viu meu estado.

– Você conseguiu se controlar muito bem sem mim, Peeta – Diz ela, encorajadora. - Aliás, acredito que você tenha conseguido fazer isso por muito tempo. Desde que você voltou, nunca vi um berro seu. Um grito de pavor, nada. Somente hoje eu percebi que você poderia estar sofrendo tanto ou mais que eu. Mas ao contrário de você, eu deixo que os meus gritos sejam escutados por quem quiser, todas as noites.

– Você não pode se culpar pelos seus pesadelos – Falo, indignado – Se escutar seus berros de noite é o preço que as pessoas tem que pagar pela liberdade, acho que eles estão no lucro, você não?

– Eu acho que você sempre sabe o que dizer e sempre diz na hora certa – Ela comenta rindo – É incrível!

– É um dom que eu tenho... Um dos muitos! - A risada dela aumenta e sei que consegui atingir meu objetivo de tornar a conversa um pouco mais amena – Bom, já que estamos os dois aqui nessa cozinha, acho que vou preparar alguma coisa para a gente comer...

– É claro que não! Você está exausto, qualquer um percebe isso de ver seu rosto! E, além do mais, ainda tem um monte de comida que você fez para o almoço de hoje! Por que você não toma um banho enquanto eu vou em casa e esquento o jantar?

Katniss Everdeen está me convidando para jantar. Eu vou aceitar imediatamente, antes que ela desista – o que não acho muito difícil de acontecer -

– Bom, se é assim, vou para sua casa daqui a uns 30 minutos. Tudo bem assim?

Eu tomo um banho e tento arrumar a bagunça que o copo quebrado fez na cozinha. Abro a geladeira e vejo que há uma torta de chocolate que eu fiz na noite anterior, quando eu estava desejando curar minha insônia. Aproveito para levá-la porque sei que ela gosta de doces e eu prefiro comer acompanhado de alguém. Quando chego na casa de Katniss, vejo que ela também tomou banho e que a mesa foi posta. Ela repara no que eu trouxe e sei que ela já está salivando, mesmo que ainda não tenha experimentado a sobremesa. Nós jantamos em silêncio e terminamos rapidamente. Quando vou cortar a torta, ela volta a sorrir e de alguma maneira nós retomamos a conversa. Eu conto que fiz a torta de madrugada pois tive insônia e ela comenta que também não consegue dormir, pois há muitos fantasmas rodeando seus sonhos. Eu sei exatamente o que ela quer dizer, assim como sei a maneira de fazer com que eles sejam menos dolorosos, porém não sei se já é tempo para isso. Prefiro aproveitar o tempo que tenho com ela. No entanto, não me surpreendo quando eu escuto um pedido tímido saindo de seus lábios:

– Você pode dormir comigo esta noite?

Respondo com um aceno de cabeça e explico que vou para casa pegar uma roupa. Quando volto, percebo que a mesa já foi retirada. Sem sinal de Katniss no primeiro andar, subo as escadas e a encontro, já deitada e coberta. Junto-me a ela, que automaticamente apoia a cabeça no meu peito. Dormimos.

Não tarda muito e começo a escutar os gritos que sinalizam que ela está sendo atormentada por pesadelos novamente. A acordo delicadamente, como fiz durante todo o tempo em que estávamos juntos na Turnê dos Vitoriosos, ou na preparação para o Massacre Quaternário. Ela me olha e, depois que se dá conta de onde está, acaricia meu rosto e me beija suavemente. Há mais nesse gesto e nesse beijo do que um simples agradecimento por tê-la acordado. O beijo é terno, mas caloroso, prolongado, como se nós precisássemos dele para nos mantermos sãos. O toque dos seus lábios nos meus foram sempre a minha melhor recordação e são eles que me fazem reunir a coragem necessária para viver um dia mais.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Não gostaram? Comentem! ;) Mil beijos e até o próximo capítulo!



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