Renascer escrita por Ana C


Capítulo 5
Decisões


Notas iniciais do capítulo

Olá meninos e meninas!

Capítulo novo pra vocês! :) Ele é meio que uma ponte para os dois capítulos seguintes, mas não deixa de estar fofinho!

A Katniss é a dona desse capítulo e ela está confusa! Mas o padeiro é simplesmente irrresistível, né?

Meu agradecimento e minha dedicatória de hoje vão para:

AFilho, que fez uma recomendação absolutamente linda, não sei se posso te agradecer o suficiente!

Eribarb, Nathy Mellark e Ro_Matheus, que comentaram e/ou favoritaram! Muito obrigada!

Falei demais, vamos ao capítulo 5!



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POV Katniss

Abro os olhos assim que sinto os raios de sol tocarem meu rosto. Eu ainda estou na cama e isso é uma novidade para mim. Eu sempre me adianto ao sol, sempre me levanto antes que ele surja, colorindo o céu. Eu me viro na cama e me lembro que eu não estive só durante a noite. O cheiro de Peeta ainda está no travesseiro, mas ele já não está mais deitado. Uma pena, porque depois de ter dormido tanto, só penso em recompensá-lo com todos os beijos que eu puder dar. Luto contra a preguiça e levanto em um salto, indo direto para o banheiro. Faço o comum ritual de tomar banho, escovar os dentes e escolher alguma roupa para passar o dia, mas dessa vez todo esse processo é feito com mais cuidado porque eu tenho companhia e quero estar minimamente bonita quando ele me der seu alegre “bom dia”. Faço uma trança, visto o par de calças e casacos mais bonitos que eu tenho, coloco minhas botas e desço. Como eu previa, o bom dia chega assim que eu piso na cozinha. Mas ele parece confuso.



– Você pretende sair hoje? – Diz Peeta, me avaliando – Eu achei que hoje você não ia para a floresta, já passa das 10 da manhã...



Eu realmente não trato este garoto como deveria. Eu nem mesmo deveria pensar nele como garoto. Somos jovens, ainda temos18 anos, mas suas feições, o seu corpo e as suas atitudes mostram para todo mundo que ele teve que amadurecer muito cedo. Ele é um homem. Um homem lindo que é tão acostumado a não receber nada de mim, que nem sequer percebeu que eu me vesti deste jeito somente para ele.

– Não vou a lugar nenhum... - Respondo – Eu estava só com vontade de me arrumar... - Eu desvio o assunto antes fale demais – Já passou 10 horas? Nossa, acho que dormi demais!

– Eu acho que você dormiu o suficiente, levando em conta que você teve mais um pesadelo – Responde ele, tirando uma fornada de pães de queijo e colocando em um pequeno cesto na mesa – Eu mesmo acordei um pouco antes de você. Acho que meu corpo aceitou de bom grado essa oportunidade de descansar! Você prefere chocolate, café ou chá?

Chá me lembra Prim e minha mãe. Café me lembra Finnick. Vou aceitar o chocolate.

– Chocolate, por favor! - ele se vira para pegar o leite na geladeira - Sabe... A gente dormiu tão bem essa noite... Eu não me importaria que a gente voltasse a dormir juntos todas as noites.

Pronto, eu fiz! Eu pedi para ele ficar comigo, mas fiz da pior forma possível, como sempre. Se houvesse um prêmio para pessoas que não sabem se expressar corretamente, eu com certeza o ganharia. Peeta, que neste momento já está olhando para mim, arqueia suas sobrancelhas, o que significa que logo escutarei uma de suas tiradas irônicas.

– A Senhorita Everdeen não se importa em dividir a cama comigo, ou ela deseja isso? Porque o Senhor Mellark, seu eterno criado, adoraria fazer esse favor, mas não quer ser um estorvo em sua vida!

– Deixa de ser ridículo! – falo, revirando os olhos – Você pode ser muito sensível quando quer! Eu não deixei claro que quero que a gente durma junto? Eu agora terei que enviar um convite oficial para você começar a frequentar minha cama?

Eu me sinto aliviada em saber que ele está acostumado com o meu jeito, mas preciso tentar ser mais feminina. No entanto, minha frase deve ter surtido algum efeito, pois eu sinto uma certa malícia no olhar de Peeta.

– Não fale desse jeito... – ele diz rindo – A menos que você queira me inspirar a tentar coisas diferentes com você durante a noite, além de dormir...

É o suficiente para me deixar sem fala. Eu nem percebi o que estava dizendo, afinal. Coro até o último espaço de pele existente. Não porque não queira que isso aconteça, toda vez que estamos juntos eu me pego pensando nisso, mas a simples menção de qualquer coisa sexual ainda me mata de vergonha.



– Continue assim e cada um vai continuar dormindo em sua própria casa – Digo, irritada.

– Não vou continuar, apesar de adorar ver você corar – ele pisca, divertido – bom, mudemos o assunto: o que temos para fazer hoje?

– Nada. Pensei que nós fossemos fazer o de sempre. Você faz o almoço, nós ficamos no sofá, vemos televisão, você vai embora e eu só penso em quando você vai voltar de novo, até ter meu pesadelo habitual...

Mal termino de falar e me amaldiçoo para o resto da vida. Bom, se as roupas não adiantaram, nem todo tipo de atitude retardada que eu estou tendo desde que ele chegou, acho que fui bem clara agora quanto aos meus sentimentos. E agora ele vai ficar insuportavelmente feliz e eu vou morrer de medo de decepcioná-lo.

– Eu também penso em você todos os dias – Peeta comenta – Não que isso seja uma grande novidade, já que eu te amo desde os 5 anos. Escutar você dizer isso é a coisa surpreendente desta história.

– Mas eu realmente penso – Reafirmo. Agora que já falei, é melhor deixar que tudo venha à tona – E quando eu penso, me sinto viva. E aí eu paro de pensar em mortes, no vazio, na guerra. Então eu vou pra cama esperando que a noite passe rapidamente e você me diga novamente seu “bom dia” de sempre. Então eu vou poder te abraçar e vamos poder ficar juntos uma tarde inteira... Mas agora vou poder te ter mais perto mais tempo. E não sei por que a vida está me dando tanto...

– Você nunca vai parar de se martirizar, Kat? De que vai adiantar que você arraste correntes pelo resto da sua vida? Sabe o que penso? - Indaga Peeta– Você deve falar com o Dr. Aurelius o quanto antes. Acho que ele pode te ajudar. Eu vou para minha casa daqui a pouco e depois vou visitar o Haymitch, você pode ligar para Capital neste meio tempo.

Eu acabo cedendo e garantindo que a ligação será feita. Mas não tenho esperanças de que o doutor possa me curar. Essa ligação é uma obrigação que eu estou adiando durante muito tempo e se puder fazer Peeta ficar mais satisfeito com ela, um tanto melhor.

– Eu vou ligar, fique tranquilo. Você vai demorar muito para voltar? - Se eu queria parecer mais feminina, acho que estou conseguindo

– Eu vou para casa tomar banho e trocar de roupa e depois vou tentar arrumar a casa do Haymitch. Aquele lugar está muito nojento e o cheiro ruim vai começar a empestear a vila inteira se ninguém fizer uma boa faxina. A Greasy Sae já está tentando limpar aquela casa há algum tempo, ela mesmo me disse, mas quem aguenta aquele homem?

– Você deve levar luvas, máscaras e o que for necessário para se proteger então – digo, fazendo uma careta de nojo – A casa do Haymitch deve estar pior do que qualquer cenário que nós encontramos nas arenas.

– Você está me motivando muito, Katniss! Muito obrigada por toda a sua ajuda e compreensão! - Ele ri

Eu gosto da maneira irônica como todos nós nos tratamos. Peeta é doce na maioria das vezes, mas sua fala também é sarcástica como a minha e a de todos os vencedores que conheci. Acho que é uma característica dos antigos tributos. Você é colhido e automaticamente se transforma em uma pessoa irônica.

– Eu não entendo porque você tem que fazer isso tudo por ele. O fato de ter sido nosso mentor por dois jogos não dá o direito dele de te tornar um escravo – Na verdade eu entendo perfeitamente porque ele está fazendo isso. Eu também cogitei fazer essa faxina muitas vezes, mas nunca tive estômago nem paciência para passar um dia inteiro na casa de Haymitch, limpando.

– Vou fazer porque quero, Kat – ele responde, tranquilamente – Não se preocupe. Eu e Haymitch sempre conversamos muito e eu gosto de verdade da companhia que ele me faz, quando não está muito mal por causa da bebida... Mas não vamos mais discutir sobre isso, porque eu estou com fome e acho que esse pão não deve estar nada mau...



– Sim, vamos comer!

Nós conversamos, comemos, rimos e discutimos durante nosso café da manhã. Sempre me surpreendo com a naturalidade em que tudo ocorre. Mesmo sem as câmeras da Capital em nosso encalço um ou outro olhar intenso nos escapa, um beijo rápido é trocado, os sorrisos são multiplicados. E eu não consigo evitar comparar que os momentos que eu tinha com Gale eram tão densos, intensos, sua presença me confortava de uma maneira inquestionável, mas nunca me traziam tantos sentimentos. Não paro de pensar na vez em que ficamos escondidos naquela caverna, de como Peeta me fazia rir mesmo naquela situação terrível em que estávamos. São nesses momentos que eu me dou conta de quanto eu o amo.

– Acho melhor você ir logo para a casa do Haymitch – Sussurro

– Você está me expulsando? - Ele indaga querendo saber o porquê desta súbita expulsão

– Quanto mais rápido você for, mais rápido você volta. É simples. - Eu continuo sussurrando, talvez assim as palavras possam tomar o caminho de volta para a minha boca.

Acredito que as palavras tiveram um efeito negativo, porque imediatamente ele se levanta e se dirige para a porta da frente, sem sequer me dar um “até logo”, ou um “nos vemos mais tarde”. Eu tenho esse tipo de dom. Sempre falo as coisas indevidas, em horas impróprias. Mas essa sou eu, e acredito que eu tenho que me aceitar.

Levanto em direção a cozinha para pegar mais um pouco de chocolate e sou surpreendida com duas mãos enormes segurando meu quadril e me virando rapidamente. Não tenho tempo nem de ter medo, o cheiro de Peeta chega as minhas narinas na mesma hora que nossos lábios se colam. Nenhum dos beijos que demos ao longo de nossa jornada chega aos pés deste. Nem mesmo aquele de que eu me lembro com carinho, em nosso momento de maior felicidade durante o Massacre Quaternário. Esse beijo é quase agressivo. Ele é necessário, sofrido e é um prenúncio de tudo o que ainda temos o que viver. Peeta sobe lentamente suas mãos por cima da minha blusa e eu fico tão perdida na sensação maravilhosa que aquilo proporciona, que minhas mãos involuntariamente buscam o corpo dele, deixando a caneca virar e entornar o líquido que já estava dentro dela. O contato com os pingos quentes da bebida, faz com que nos separemos imediatamente.

– Desculpe-me , Kat. Não queria assustar você. Eu só não consegui me segurar dessa vez. Você resolveu falar todas as coisas que eu sempre quis te ouvir dizendo num espaço de tempo tão pequeno, que eu não soube como reagir...

– Bom, não há motivo para se desculpar. Esse é o tipo de reação que eu não me importo que você tenha - Digo, com um meio sorriso no rosto

Peeta sorri de uma maneira que mantém bem viva a sensação que tive durante nosso beijo

– Deixa que eu limpo essa sujeira. Afinal fui eu que a causei... - Ele fala, voltando sua atenção para o chão

– Não precisa, Peeta. É apenas chocolate, e eu não sou uma inválida. Vai fazer suas coisas e mais tarde nos encontramos. - Retruco

– É melhor que eu vá embora mesmo - ele pondera - se eu continuar aqui, não sei o que sou capaz de fazer...

Estou corada novamente, mas nem tento disfarçar. Tenho gostado cada vez mais deste tipo de intimidade, apesar de me envergonhar com a simples menção delas em qualquer uma das nossas conversas.

– Eu volto assim que puder - Peeta diz, rumando para a porta - E Katniss, eu te amo, sempre...

Eu nunca de verdade disse que o amava. Mas ele sabe que me expor deste jeito para ele é minha forma de demonstrar o quanto me importo com ele. E o fato de ele não me pressionar a ser uma romântica incurável e, mesmo assim, conseguir que eu aja como uma as vezes é sensacional...

Eu ajeito minha casa, dou comida para Buttercup e enfim faço a ligação que me é exigida desde que voltei para meu distrito. No segundo toque Dr. Aurelius me atende, sua voz formal e seu sotaque da capital me dão um certo receio, mas por ele estou de volta à minha casa. Serei eternamente grata por ele. Assim que me identifico, o tom de voz fica um pouco mais amigável e ele me saúda de forma enfática

– Antes tarde do que nunca, Senhorita Everdeen! Suponho que Peeta tenha lhe dado meu recado, apesar de você ter me retornado tanto tempo depois!

– Na verdade, ele me deu o recado no mesmo dia em que chegou. Eu que não tinha coragem de fazer essa ligação. - Respondo, envergonhada.

– Bom, fico satisfeito em saber sua coragem retornou o suficiente para que você pudesse me fazê-la. Como você tem se sentido? - O doutor faz a pergunta que me custa tanto responder

– Melhor do que já estive. Não sei se algum dia vou ficar bem. Eu tenho saído para caçar, as vezes, e também arrumo minha casa, agora que Greasy Sae vem menos vezes aqui e agora eu consigo sorrir e conversar e toda vez que Peeta vem aqui eu não quero que ele vá, mas as vezes eu me sinto tão vazia... Meus pesadelos ainda me corroem por dentro, a imagem dos que eu perdi me arrasa, minha doce Prim está morta, minha mãe me abandonou outra vez e Peeta ainda sofre com o telessequestro por causa daquele maldito! - Eu termino a frase ofegante e mais certa do que nunca vou me livrar do meu terapeuta.

– É normal se sentir assim! Você passou por muita coisa ruim em sua vida e não há como ser completamente imune a elas. Mas você tem que viver um dia de cada vez, no presente. Essas vozes daqueles que já se foram, e que você amava, precisam ser menos aterrorizantes. Afinal de contas, eles eram pessoas boas, que a ajudaram e tornaram a sua vida mais feliz. - Ele faz uma pequena pausa em seu monólogo, mas eu não tento responder nada - E quanto a Peeta, fico triste em saber que ele ainda tem esses episódios. Eu tentei tudo o que podia, mas nós dois sabíamos, quando Peeta estava perto de ter alta, que ele jamais se livraria totalmente da tortura que sofreu. Eu não devia falar isso para você, Katniss, uma vez que minha profissão exige distância. Mas eu não posso deixar de admirar a força que vocês dois tem para se reconstruírem das cinzas. Quando ele me disse que estava voltando para casa, comentei que talvez fosse ser a pior escolha pra ele, mas ele não se importou. Hoje sei que estava enganado. - Ele termina, calmamente.

– Eu fico feliz que ele tenha decidido voltar. Sem ele, não haveria chance de eu estar suportando tudo isso. - Afirmo, sem pensar

– Eu sei, Katniss. E sei que ele sente o mesmo em relação a você. E essa é uma das coisas boas que a vida te proporcionou. Por que você não começa a agir da mesma forma com relação às suas memórias? De que maneira você pode tornar essas lembranças mais felizes? - Questiona Dr. Aurelius

Eu fico muda durante um tempo, mas a resposta vem de súbito.

– Eu comecei a fazer um Livro de Plantas, com a ajuda de Peeta, antes de começar o Massacre Quaternário. Talvez eu possa fazer um livro de memórias, com todos aqueles que passaram pelas nossas vidas e nos ajudaram. Todos os que amamos e ficaram no meio do caminho...



– Ótima ideia, Senhorita Everdeen! Vejo que teremos grandes progressos nessas consultas! Esse livro certamente será de grande ajuda. Creio que podemos encerrar nossa sessão por hoje. Aguardarei uma nova ligação sua.

– Eu ligarei, Doutor... Uma boa tarde para o senhor. - Me despeço, mais aliviada e esperançosa

– Boa tarde, Katniss! Não esqueça de me ligar novamente, daqui a uma semana.

– Não esquecerei... - Digo e desligo o telefone

Sento-me no sofá surpreendente leve. Foi bom poder desabafar com alguém que não esteve no olho do furacão como aqueles com quem eu convivo. E falando neles, começo a pensar que Peeta e Haymitch possivelmente gostariam da minha companhia. Uma ajuda para a limpeza não faria mal. Ficar perto de quem me faz tão bem, menos ainda...


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Notas finais do capítulo

Já sabem: Gostaram? Não gostaram? Comentários! Beijos a todos e até o capítulo 6!



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