Renascer escrita por Ana C


Capítulo 17
Agulhas de pinheiro


Notas iniciais do capítulo

Olá meninos e meninas!

Nem demorei pra postar esse capítulo! Oba!

Temos muita gente nova pra dar boas-vindas e agradecer pelo carinho:

Mikael, Sophie, Manuz, Stephanie e Marina, mil beijos de obrigada pra vocês!

A todos vocês que favoritam, acompanham, mas ainda estão escondidinhos, mil beijos também!

O capítulo de hoje é dedicado à Liah. Que recomendação linda! Muito obrigada mesmo! Que você possa aproveitar essa parte da história!

Pelo título deu pra perceber quem chegou à nossa fic? Se não conseguiram descobrir, a Katniss vai contar agora!

Boa leitura!



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Nunca imaginei, mas as semanas que estão sucedendo o dia em que eu e Peeta nos pedimos em casamento estão simplesmente insanas. Há tanta coisa a se resolver, que questiono se tudo isso vai valer a pena. Nós dois já estamos casados. Nos casamos quando, silenciosamente, oferecemos nossa própria vida pelo outro. Nos casamos quando já não conseguíamos pensar na possibilidade de um mundo em que nós dois estivéssemos separados. Nos casamos quando ele parou no meu quintal, plantando Prímulas Noturnas, depois de ter retornado pra mim mais uma vez. Eu não sei, de fato, o que me motivou a querer casar de maneira efetiva, mas acho que nós dois merecemos esse momento.

Vejo a alegria com que Peeta está preparando tudo e sei que esse é um sonho que ele acalentou durante muito tempo. Todos na padaria estão engajados em ajudá-lo, o jardim de lá foi o lugar escolhido por nós dois para a cerimônia e a festa. O lugar não é tão grande que possa caber tanta gente, mas chamamos muito poucas pessoas, então tudo se encaixará bem. Sei que ele está preocupado em fazer o melhor bolo de todos, afinal é o do nosso casamento, mas gostaria que ele fosse mais simples do que os que são preparados normalmente por ele. E não quero que ele fique tão ansioso com tudo isso, mas sei que é impossível. Eu mesma me pego várias noites imaginando como vai ser o dia...

A saudade de Prim tem beirado o insuportável. Sei que todas as pessoas que virão para o casamento estarão felizes por nós, mas só ela entenderia exatamente o que eu estou sentindo, o tamanho do amor que eu tenho por Peeta. Além disso, ela merecia esse momento também. Sempre desejei vê-la encontrando o amor, desabrochando, casando e tendo os filhos que ela queria, ao contrário de mim. Não fui capaz de salvá-la e estou aqui, prestes a passar pelo dia mais feliz da minha vida. Nos dias em que esse fato se torna mais vivo em minha mente, tenho pesadelos de toda classe com ela. Ensanguentada, chorando, indo pelos ares. São cenas de terror absolutamente reais, que me tiram o sono, o ar e, momentaneamente, a vontade de viver. Mas algo no rosto de Peeta me convence a voltar do abismo, todas as vezes.

Minha mãe foi a primeira convidada a chegar, com duas semanas de antecedência. Peeta a recebeu com festa, mas eu não consegui demonstrar tanta simpatia. Os dias em que ela compartilhou da nossa rotina foram bastante desconfortáveis. Estou acostumada a intimidade que tenho com Peeta e sinto que nós estamos engessados pela presença dela aqui em casa. Mas não posso negar que ela tem sido de grande ajuda para nós dois e que, graças aos seus esforços, Peeta e eu podemos voltar a trabalhar com certa normalidade. Suponho que eu terei coragem de conversar mais profundamente com ela, aproveitar que ela está tão perto de mim e expor que apesar de ter alguém ao meu lado, preciso do carinho insubstituível de mãe, do afago, que ela se lembre da outra filha que teve sem me julgar indiretamente pela morte dela, ainda que ela esteja certa sobre isso. Não quero apressar esse momento, no entanto. Tenho aprendido que tudo o que é feito no tempo correto é feito de forma melhor.

Faltam 2 dias para as nossas bodas e estamos esperando a chegada dos nossos convidados ao 12. Além de todos da padaria e Haymitch (a única presença obrigatória), chamamos Hazelle e seus filhos, Greasy e sua neta, Johanna, Annie e seu filho, Effie, que chegará com a minha antiga equipe de preparação amanhã pela tarde, e finalmente Cressida e Pollux, que gravarão o casamento. Concordamos que algumas cenas poderiam ser exibidas na tv. O pedido de Paylor foi bastante educado, e a presidenta facilitou bastante todos os trâmites burocráticos. Também a convidamos para que participasse da festa, mas ela declinou dizendo que deveríamos ter paz no momento mais importante de nossas vidas. Eu concordei, grata pela atenção que ela teve.

Como os meus pãezinhos de queijo vendo um apressado Peeta passear pelos cômodos da casa. Já deveríamos estar no trabalho, entretanto ele se esqueceu onde colocou sua carteira e chaves. Ofereci ajuda, mas ele parece ficar abobalhado quando essas coisas acontecem, então sento e espero até que tudo se resolva. Assim que escuto seu grito de alegria por ter achado suas coisas, escuto a campainha tocar. Tenho certeza de que é Haymitch, ele deve ter seguido o cheiro do café da manhã, como faz com frequência. Já abro a porta avisando que hoje não poderemos lhe fazer companhia e que minha mãe ainda está dormindo, mas que ele pode comer o que tiver na mesa ou na geladeira. Me surpreendo porém quando vejo que a pessoa que está a minha frente é uma mulher. De estatura baixa, cabelos na altura do queixo e sorriso misterioso. Percebendo minha confusão, ela comenta:

– Eu sou convidada para uma festa e olha como sou mal recebida...

Imediatamente saio do meu transe. Johanna está muito melhor do que da última vez que nos vimos. Seu cabelo cresceu bastante, as marcas de tortura são pouco perceptíveis, assim como as olheiras, que antes eram imensas. Suas unhas estão pintadas de uma cor forte e ela no geral parece estar muito limpa. O terno feminino que ela está vestindo completa a transformação.

– Me desculpe - respondo, sorrindo - estava esperando que fosse Haymitch e aquele velho não precisa de convite para entrar. - Abro mais a porta para que ela entre com a pequena mala que carrega.

Assim que passamos pelo corredor, a sinto congelar atrás de mim. Sei que ela acabou de ver Peeta, quando sua boca começa a se delinear um dos sorrisos mais genuínos que eu já vi em seu rosto. Ele, por sua vez, tem a mesma reação. Os dois se olham e se admiram de uma forma que me faz espumar de ciúmes. Essa reação, no entanto, não chega perto da que eu tenho quando vejo os dois se abraçarem com toda a vontade do mundo. Há cumplicidade entre os dois, mas só eu posso ter isso com Peeta.

– Você conseguiu, padeiro! - ela comenta sarcástica - vai casar com a desmiolada! Mal pude acreditar quando eu recebi aquele convite ridiculamente detalhado que vocês mandaram...

– Bom, eu mal posso acreditar que estou vendo Johanna Mason usando roupas, e das boas - Peeta replica, logo em seguida. Os dois seguem rindo e eu estou a ponto de atacá-la.

– Isso? - ela aponta para o traje preto - Isso faz parte do meu novo emprego... Por isso cheguei tão cedo... Estava no Distrito 11, trabalhando. Estraguei a felicidade dos pombinhos?

Sim, você estragou. E eu vou estragá-la se acaso você continuar olhando desta forma para Peeta... Isto é o que penso, entretanto respondo com um simples não. Meu futuro marido se interessa em saber qual é seu emprego e porque ela não contou a ele em uma das conversas telefônicas que os dois mantêm com frequência. Eu também fico curiosa em saber a resposta.

– Bom, vocês estão olhando agora para a mais nova assessora da presidente de Panem.

Eu solto uma interjeição de espanto e ela ri em resposta.

– Sim, desmiolada, você escutou bem... Eu fiquei com Annie até que Finn estivesse um pouco mais crescido e exigisse menos dela. Mas eu não estava feliz lá, o Distrito 4 ainda tem mais água do que eu sou capaz de suportar... Com a anuência dela fui embora. Tentei voltar para o meu distrito, mas não há mais nada lá que seja bom para mim... Em uma das minhas visitas à Capital, para cuidar do meu estado mentalmente desequilibrado, Paylor me ofereceu o cargo...

– E ela achou que você era a melhor opção que ela tinha? - Peeta pergunta, rindo - Agora estou realmente preocupado com o futuro de Panem

Johanna lhe dá um soco no braço, mas está rindo tanto quanto ele.

– Falou o cara que tem veneno de teleguiada nas veias! - eu me assusto quando ela diz isso, mas Peeta parece não se importar nem um pouco - Na verdade, sim, eu sou a pessoa mais adequada para o cargo. Ela confia em mim, tenho uma imagem relativamente conhecida e posso matar pessoas com relativa facilidade... E não te contei antes porque, até que Beetee desenvolva um mecanismo que não permita que as ligações sejam grampeadas, não posso falar nada sobre isso pelo telefone. Motivos de segurança...

Peeta a abraça novamente, orgulhoso em saber das novidades. Eu já não posso suportar...

– Eu vou esperar lá fora. Peeta, leva a Johanna pra sua casa, mas vá rápido. Você devia dar o exemplo e não chegar atrasado ao trabalho... Ele me olha se entender absolutamente nada, mas vejo em Johanna o mesmo olhar sarcástico de sempre.

Logo após o rompante vou correndo em direção ao quintal e me sento em um dos bancos velhos, tentando me acalmar. Estou me sentindo ameaçada, dessa vez tenho reais chances de perdê-lo. Sinto o peso de alguém do meu lado e já estou preparada para pedir desculpas a Peeta, mas novamente é Johanna quem está ao meu lado

– Sabe, apesar desse seu showzinho de agora ter sido bastante ridículo, estou muito feliz de tê-lo presenciado - ela começa

– Você está maluca? - questiono - Do que você está falando?

– Você sabe exatamente do que eu estou falando. Desse seu ataque repentino de ciúmes, que deixou você vermelha de raiva. Fico feliz de você o ter tido. É sinal de que você realmente o ama. Ele não merece menos do que isso e você também não.

– Você parece saber muito da vida do Peeta - digo, irracionalmente. Meu ciúme ainda está me fazendo ser grosseira, ainda que não seja mais minha intenção.

– Isso é porque entre uma sessão de tortura e outra, não tínhamos muito o que fazer... - Johanna responde raivosa. Depois se cala e o silêncio se instala por um longo tempo, até que ela continue - Desculpe, não deveria ter falado desta maneira. Nós realmente conversamos muito naquela época. Era o que me mantinha sã. O jeito dele me acalmava, a forma como ele me falava dos sonhos, das coisas bonitas que via no mundo, mesmo sendo tudo tão podre, ou quando ele me dizia os sabores que era capaz de fazer, isso me dava esperança... Mas o assunto principal do Peeta sempre foi você... Gostaria que você pudesse ver sua própria vida pelos olhos dele. Tenho certeza de que iria se emocionar...

Mesmo não sabendo exatamente o que ele contou a Johanna, meus olhos estão cheios de lágrimas. Os dois passaram por momentos tão terríveis e ele se lembrou de mim... E ela está tendo a generosidade de me contar isso agora...

– Vocês sofreram tanto assim? - pergunto, querendo que ela amenize minha angústia

– Mais do que você possa imaginar. Ele mais do que eu. Tiraram dele toda a força que ele tinha, que era você e o amor que ele sentia. O vi definhar na minha frente. E de repente não tinha ninguém pra me dar a mão e amenizar minha dor depois de voltar de todos aqueles choques, ou para contar algo que fizesse Annie sair do transe. Quando ele batalhava para voltar ao normal, o víamos tentar te trazer de volta. E mesmo no estado em que ficou, sempre o vi oferecer todo o carinho que tinha. Sempre serei grata a Peeta. Quando fomos resgatados, me convenci que, se você não retribuísse o amor que ele sentia, eu faria com que ele te esquecesse. Eu casaria com ele e teria quantos filhos ele quisesse e tentaria fazê-lo feliz.

Eu volto a me desesperar e olho para ela, suplicando para que ela nunca venha a tentar isso. Ela entende e me continua:

– Mas eu estava muito mal naquela época. Minha cabeça não pensava direito e a esperança de ser feliz um dia era o que me mantinha viva, choque após choque. No 13 eu me dei conta do quanto estava iludida. Ele jamais ficaria comigo e, afinal, acho que não daríamos certo mesmo. O amo como um irmão, talvez. Creio que ele sente o mesmo. Também, acho que ele não conseguiria me satisfazer. Eu preciso de um homem que entenda o que faz, que seja experiente. Não preciso de um menino.

Eu lembro de todas as coisas que já fiz com Peeta e coro violentamente. Não pretendo falar nenhuma delas a Johanna. Minha vergonha não permite. Além disso, ela já gosta dele o suficiente sem mesmo saber o prazer que ele é capaz de dar a uma mulher.

– Ora, ora, ora - ela gargalha - parece que eu o julguei errado, não é mesmo? Ponto para o padeiro! Quantas habilidades tem esse menino? - eu abaixo a cabeça - Você não precisa me dizer, guarde o trunfo para você! O que importa é saber que vocês dois estão felizes e que viverão assim por muito tempo, tenho certeza disso. Eu fico muito feliz por vocês também.

Eu dou um pequeno sorriso e lembro da época em que partilhamos o mesmo quarto. Uma fala minha me vem a memória e desta vez a reproduzo em voz alta.

– Eu te devo desculpas pela cena que acabei de fazer. Muito obrigada por ter contado isso tudo a mim... Acho que você é realmente como uma irmã mais velha minha... Uma irmã que me odeia, mas uma irmã...

A gargalhada alta de Johanna ecoa novamente. Ela se levanta e vai andando em direção à porta de casa depois de escutar o chamado de Peeta e eu a vejo tirando, de dentro do bolso, o saco com agulhas de pinheiro que eu fiz para ela. E antes que eu não possa mais escutá-la ela me responde:

– É... Parece que sim...


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Notas finais do capítulo

Johanna chegou causando! E ainda tem mais convidado polêmico nessa festa! Comentem! É sempre um prazer lê-los!

Uma pergunta: cadê vocês, leitoras cativas? Me abandonaram? Não me amam mais? ;)

Mil beijos e até o próximo!