Nas três semanas seguintes Stiles não teve muito tempo para checar a caixa de mensagens. Ele sabia exatamente onde Derek Hale estava, com quem ele estava e o que ele estava fazendo.

Derek estava preso na delegacia, na companhia de um advogado com referências duvidosas, mas de confiança, que tio Peter havia contratado. O Xerife Stilinski não conseguiu aliviar sua barra, e por isso Derek iria aguardar o julgamento preso. O caso se tornou prioridade do FBI, visto que o assassinato de David Logan, dono de uma joalheria local, tomou proporções absurdas. Derek se declarou inocente das acusações, até porque não foi ele que matou David.

— Eu não o matei. — Derek estava em sua cela, andando de um lado para o outro.

— Eu não quero saber se você o matou. — falou o advogado. — Independentemente da verdade, vou provar sua inocência. — ele fechou a pasta, despedindo-se de Peter.

Assim que saiu, Peter aproximou-se da cela e perguntou se Derek queria alguma coisa, afinal, toda aquela situação era estressante, principalmente porque aquela, era a primeira noite de lua cheia do mês.

É, ele queria.

— Preciso falar com uma pessoa.

***

As aulas de inglês nunca mais foram a mesma desde que a professora Jennifer Blake “desapareceu”. Stiles não sentia falta dela, definitivamente ele não sentia. Mas quando a nova professora começava a falar, ele desejava que um Darach entrasse na sala e a levasse embora.

O mal humor já começava afetar sua imaginação. E afetou tanto que Stiles achou que estava vendo coisas que não existiam. Como uma mensagem anônima em seu celular, dizendo que Derek queria vê-lo.

— Há há há essa foi boa. — Ele olhou para o lado e Scott balançou os ombros, falando que não sabia do que ele falava. — Derek quer que eu vá até a delegacia.

— Então vá.

— Agora?

— Não sei, é algo importante?

— Vejamos. — Stiles passou a mão no queixo, seu olhar vagou pela sala e ele olhou novamente para Scott. — Está preso pelo assassinato de um homem e a lua cheia é hoje. Será que é importante?

Scott não se ofendeu com o tom arrogante usado por Stiles. Apenas concordou de que ele devia ir logo. Era exatamente isso que ele queria ouvir, tanto é que se levantou rapidamente e inventou alguma doença para ser liberado.

Stiles dirigiu seu jipe como se um T-rex estivesse perseguindo-o a toda velocidade. Quando entrou na delegacia, ele sabia exatamente onde encontrar Derek, mas seu pai o recordou de que as coisas não eram assim tão facilitadas só porque ele era filho do Xerife.

— Você devia estar na escola.

— E você devia estar atrás do verdadeiro assassino. — Stiles encarou o pai, puxando-o para o canto. — Pai, hoje é noite de lua cheia.

— Acha que eu não sei? Estou pensando em alguma coisa, mas o FBI está no meu pé.

Eles cochichavam para que ninguém ouvisse, obviamente. Stiles informou que recebeu uma mensagem anônima, de que Derek queria falar com ele. O Xerife permitiu a visita, por dois motivos: ele não estava a fim de ver um lobisomem arrancar as grades aquela noite, e também sabia que Stiles não aceitaria um não como resposta.

Derek estava de costas, olhando a única janela minúscula que passava luz. Ele se virou quando Stiles apareceu. Seu olhar era sério, mas ele não parecia tão preocupado em se transformar em um lobisomem em alguma horas na frente do FBI.

— Então, qual é o plano? — Stiles perguntou com suas mãos enfiadas nos bolsos da calça.

— Não tem um plano.

— Como assim, não tem um plano? — Stiles esticou as mãos e segurou as barras de ferro. — Hoje a noite você pode pirar dentro dessa cela, as pessoas vão ouvir, vir aqui e encontrar um...

— Shiu. — Derek mandou que ele não falasse em voz alta. — Eu tenho o controle disso, já passei por situações muito piores. — ele se aproximou da grade. — Mas caso hoje não dê certo, eu precisava falar com você.

— É? E o que é tão importante para me fazer sair da aula de inglês? Vou te falar, aquela aula é um teste para qualquer um. Depois que a sua amiguinha se foi as coisas ficaram paradas e...

— Stiles, chega. — Derek segurou as mãos de Sitles nas barras de ferro, ao menos o toque aquecido o calou. — Se acontecer alguma coisa essa noite, ou até mesmo no tribunal, preciso que saiba de uma coisa.

Ok! Era agora. Stiles sentiu um arrepio percorrer sua espinha e o coração sobressaltar. As mãos suava e sua boca estava seca. Seu corpo foi tomado por uma euforia. Derek o olhava seriamente, bem pertinho da grade.

— Preciso que mantenha os olhos em Isaac e Scott.

— O que? — De repente a euforia foi substituída por uma onda de cólera. — Ficar de olho naqueles dois?

— Sim. Eles precisam de alguém como você para mantê-los longe de confusão. Ou na pior das hipóteses, ter alguém a quem se apoiar. Eu não vou estar aqui para sempre e...

Stiles tirou as mãos da grade, afastando-se.

— Você me fez vir aqui para pedir para eu ser a babá do Scott e do Isaac?

— Não foi o que eu disse.

— Mas é exatamente o que eu ouvi. — Stiles descarregou de uma vez tudo o que já estava entalado em sua garganta.

Foi um pouco além do que queria, e acabou atraindo a atenção das outras pessoas. Derek não abriu a boca para falar, pelo menos até Stiles ter terminado seu discurso.

— E por último, eu não vou mais responder suas mensagens. Quer saber? Vou até deletar você dos meus contatos. — ele pegou o celular de dentro do bolso da calça. Derek girou os olhos, entediado com aquela conversa, e infelizmente havia aquelas barras de ferro impedindo dele de fazer Stiles calar a boca da maneira mais conveniente para ambos. — Pronto, deletei. Não quero mais saber de você.

Ele decidiu ir embora. Derek passou a mão na cabeça.

— Eu só pedi isso porque confio em você. — falou por fim, sentando-se na cama com colchão duro.

Stiles estava parado no corredor, ele deu um passo para trás, dois, três. Certo, ele voltou. Esticou o pescoço e olhou a figura patética de Derek sentado na cama. Olha só.

— Confia mesmo? — perguntou, fazendo-se de difícil. Como se isso fosse possível.

— Sim. Você já provou sua lealdade e importância.

— Hmmm é mesmo? Fale mais sobre isso.

Infelizmente Derek não pode falar mais nada. Stiles foi embora, mesmo a contra gosto. Mas não foi embora de mãos vazias, hipoteticamente falando. Ele estava satisfeito em saber que, dentre todas as pessoas, Derek confiava nele.

Mas confiar era o bastante?