Submundo escrita por Letícia Francesconi


Capítulo 3
O Príncipe


Notas iniciais do capítulo

Demorei, mas cheguei! Espero que gostem!



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Anne fitou os pés acobertados pelas botas negras. A carruagem sombria da corte percorria um longo caminho em busca do refúgio do príncipe. Os pegasus negros urravam e sibilavam. Anne estremeceu quando atingiram o ponto mais penumbro da floresta negra.

– Já chegamos? - indagou a menina. A garganta fechava a cada palavra.

Charles não a encarou. Apenas acendeu outro cigarro.

Anne foi envolvida por uma nuvem de tabaco. Recostou-se no assento, pensativa. Alex nunca havia deixado a irmã abandonada em uma batalha. Ambos sempre batalhavam juntos, afrontando o perigo de uma forma audaz. Sua mãe, Elena, os deixara quando Anna e Alex ainda eram crianças. Alex odiava ter ganhado o mesmo título de seu pai, por isto, nomeavam-no apenas de Alex, seu primeiro nome. Não tinha muito afeto com tal, muito menos Anne. Seu pai, depois da morte de Elena, ficara para os mesmos, conhecido como o líder da corte, e não como um chefe de família.

Quando Anne se deu conta, percebeu a quietude dos pegasus. Haviam chegado. A floresta negra era impetuosamente assustadora. Galhos de árvores secas interviam a visão.

Adentraram no local, estranhamente fantasmagórico. Um barco de madeira, claramente caído aos pedaços, erguia-se no que aparentava ser uma clareira. Anne retirou alguns galhos secos que bloqueavam sua passagem. Ela não percebeu, mas Charles estava ao seu lado, quieto, como um fantasma fumante. Ela estremeceu.

– Charles – murmurou. O mesmo a encarou, pela primeira vez. – O que será que um príncipe faria em um mausoléu, como este?

Charles atirou o cigarro no chão de areia.

– Anne, Ravi possuí uma certa rixa com seu pai, o rei – explicou. Sua voz soava aguda, como a de Rob. – Por isto, a fuga.

– Pensei que seu pai estivesse morto – Anne chutou uma pedra na pequenina na trilha.

– E está. Mas, Ravi, ficou praticamente louco com sua morte. A divisão entre os povos do norte e do sul, deixaram-no confuso, por isto fugiu.

– Ele é um príncipe – retrucou a menina. – Possui riquezas inestimáveis, por que iria escapar de seu palácio e morar em um barco abandonado?

Charles riu, embora Anne tenha duvidado disto.

– Anne, um príncipe não precisa usar uma coroa de ouro para ser um príncipe – disse. – Ele precisa de caráter.

***

A multidão gritava, enquanto o rapaz de vestes alvas desafiava o gigante barulhento. Provocava-o com uma espada de ouro, persistentemente. O gigante robusto, demonstrava de minuto a minuto seus dentes ferozes.

O jovem parecia disposto a vencer a batalha. Girava, desferindo socos violentos em seu adversário. Desviava habilmente dos golpes do gigante, sem o mínimo esforço. Manejava a espada em movimentos velozes e audazes.

A plateia gritava e vaiava a cada movimento falho. Alguns cuspiam e atiravam objetos diversos, outros, tentavam invadir a arena precária, mas esta era protegida por uma enorme grade. Tentavam escalá-la, porém as tentativas eram em vão.

O rapaz, habilidosamente, saltou na corcunda do gigante, agitado. A criatura o derrubou, fazendo a multidão vaiar.

– Parece que estão a meu favor – murmurou o garoto, ao levantar do chão de areia.

Empunhou a espada fortemente, aproveitando a distração do gigante. Decepou sua cabeça com apenas um golpe de sua espada afiada.

A plateia elevou os gritos, desesperadamente. O vencedor da luta ergueu a cabeça da criatura, como um troféu. Sua testa sangrava, mas o príncipe parecia não se importar. Deixou a espada de lado para poder admirar seu prêmio.

– Gritem! Gritem para mim, mortais!

Sua euforia decepou-se ao notar a espada em seu pescoço. Virou-se para encará-la.

– Você é o príncipe? – indagou Anne. Seu rosto suava. Ela rezava para sair do local imundo. Tudo fedia, e as criaturas que a cercavam eram as mais estranhas do submundo. Não eram lobisomens, fadas e muito menos vampiros. Eram tudo o que restava da população excluída do norte e do sul.

O jovem riu, jogando a cabeça esvaída de lado. Ergueu as mãos, cedendo. A ironia era evidente em seus olhos negros.

Sundara laṛaki – disse ele, docilmente. – Está vendo alguma coroa? Alguma joia?

Anne se enfureceu. Charles a observava em um canto escuro. Anne distraiu-se brevemente, oferecendo chances à Ravi. Escapou, apanhando sua espada. Iniciou-se uma luta equilibrada, porém tensa. Ravi tentava a provocar, como fizera com o gigante, agora morto. Anne o golpeou, mas seus cálculos falharam. Ravi desviou da espada, que passara acima de sua cabeça. Charles analisava a briga, sério. Talvez Anne esquecera de que precisavam do príncipe vivo.

Ravi rodopiou, agarrando Anne pela cintura. A mesma se debateu, mas o rapaz era forte demais. Ele sorriu maliciosamente.

– Me solte, seu idiota! – esperneou-se em seus braços.

Mere Priya – seu sorriso malicioso permanecia em seu rosto moreno. – Não seja mal educada.

– Me solte – disse Anne entredentes.

– Irei lhe soltar – sua voz era como uma melodia. Anne ficou encantada com seu olhar encantador. Mas não iria ceder. - se não tentar me matar.

Ela assentiu, soltando-se de seus braços fortes. Charles saiu das sombras e encarou o príncipe.

– Ravi.

– Charles Jones – sibilou o rapaz. – O que faz aqui? – mirou Anne e sorriu. – E a nervosinha?

– Minha sobrinha – ajeitou o chapéu. – Precisamos de você.

Ravi dobrou as mangas compridas de suas vestes, logo limpando o suor.

– Rob o mandou, não foi? – remexeu a cabeça do gigante com seu pé direito.

– Sim.

Ele riu, passando os dedos por seus cabelos negros.

– Já imaginava.

– Irá vir conosco? – indagou Anne, os braços cruzados.

Ravi limpou sua espada brilhante na roupa.

– Claro – encarou Anne, o sorriso radiante. – Se ela colaborar.


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Notas finais do capítulo

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