Antes de ausentar o local horripilante, Anne chutou o crânio do gigante. Charles os conduziram a carruagem negra, os pegasus permaneciam sibilando. Anne tentou ficar possivelmente distante de Ravi. Ele não era algo para se temer, porém, a mente de Anne estava confusa demais para assimilar e distinguir o bem e o mal. Na mente de Anne, Ravi era como Charles. Ela não sabia o paradeiro do possível tio misterioso. Haviam horas em que Anne temia seu olhar denso. Ravi era atraente, isto ela não poderia negar, mas, ao mesmo tempo, algo lhe dizia que o príncipe não estava do seu lado.

Antes que Anne pudesse adentrar a carruagem, seus sentidos falharam, e a desatenção provocou uma futura queda. Quando abriu os olhos, Ravi a segurava intensamente, mas com tamanha delicadeza. Um esboço leve abrangeu seus lábios. Seus olhos negros eram penetrantes.

Anne permaneceu sem reação. Ravi aumentou o sorriso, liberando docilmente a garota. A menina tentou encarar o chão para ocultar o rubor em sua face. Engoliu seco, endireitou sua jaqueta e fitou o príncipe. As palavras ficaram presas em sua garganta.

– O-obrigado - balbuciou. Charles fumava quietamente.

Ravi assentiu, seguindo-a adentro do veículo sombrio.

...

– Perdemos três membros do Submundo - os olhos vagantes de Rob distraíam Anne. - em menos de uma semana.

O cheiro do tabaco intenso vinha de Charles. O estômago de Anne pareceu revirar. Rob continuou.

– Parece que o príncipe está ciente disto.

Ravi estava disperso, parecia viajar em um universo alternativo. Anne cutucou-o no braço, fazendo-o ecoar um sorriso torto. Os olhos de Ravi incentivavam Anne a o fitar intensamente. Estava perdida em seu olhar negro e sombrio, sedutor. Anne tentou recuperar o fôlego, enquanto Rob pigarreava. Alex perguntou a si mesmo se era por causa da fumaça de Charles.

Ravi oscilou, desviando o olhar, relutante, para encarar Rob. Desfez o sorriso arrebatador.

– Sim? - arqueou uma das sobrancelhas. Anne se encantou com seu ato.

– Estava ciente? - refez a pergunta.

– Ah - Ravi riu sombriamente, mesmo não havendo vestígio de graça. - Robinson - apoiou os cotovelos na gigantesca mesa, aparentando estar confortável. - Está se referindo ao ataque na corte das fadas? - Rob assentiu, friamente. - Isso foi um deslize, compreende? Quando soube, já era tarde.

Rob não se contentou com a explicação do príncipe.

– Por que estava refugiado, em um clã de rejeitados?

Ravi o encarou com expressão de pedra.

– Por que está me interrogando? - ignorou a indagação de Rob. Recostou-se no assento de couro e massageou as têmporas. - Se soubesse que seria assim, teria matado outro ciclope - murmurou, resignado.

– Era um gigante albino - corrigiu Anne, os braços cruzados.

Ravi não a olhou, mas resmungou algo em sua língua asiática. Anne revirou os olhos.

– Não estamos aqui para discutir sobre ciclopes - gritou Alex.

– Gigante albino - corrigiram Anne e Ravi, em um único som. Os dois se encararam, perplexos. Ravi disparou seu sorriso encantador. Anne teve dificuldades para recuperar o ar.

Alex os fitou com certa irritação no olhar. Ravi voltou-se a Rob.

– Desculpe-me, o que estava dizendo?

Rob permaneceu com a mesma expressão de antes.

– O Submundo está entrando em guerra.

Ravi passou os dedos por seus cabelos negros.

– Onde está Raphael? - Ravi não gostava de pronunciar este nome, observou Anne.

– Está do lado negro. Está regendo uma guerra antiga.

– Quem está envolvido? - interrogou Ravi, demonstrando interesse, mas Anne não acreditou.

– Provavelmente todo lado negro - respondeu Alex. Ravi o encarou como se não devesse responder sua pergunta. Rob notou a tensão e prosseguiu.

– O lado negro dos vampiros, dos lobisomens e...

– Os relegados? - objetou Anne.

– Os relegados não entrariam nessa - disse Ravi. Anne notou que estava sorrindo. Tratou de abaixar a cabeça. - São meus amigos.

– Um príncipe amigo de relegados – resmungou Anne. Ele a ignorou.

– E as fadas? - indagou Ravi, desta vez, despreocupado. - Aqueles olhinhos traiçoeiros não me agradam.

– Não - refletiu Rob. - Apesar da aparência temível, estão do nosso lado.

– Querendo ou não - começou Charles, pela primeira vez. - Entraremos em uma guerra.