Direito De Amar escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 2
Capítulo 02 – O Destino Prega Peças


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal. Tudo bem com vocês?
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Bem eu quero fazer uma dedicatória a uma pessoa muito querida que fez aniversário dia 28 sexta-feira, que é a Joice. Feliz aniversário, lindona. Espero que goste do capítulo.
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A todos boa leitura :)



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Horas mais tarde, naquele mesmo dia, Esme voltou em casa para tentar conversar com o marido, mas toda sua coragem foi em vão. Richard não quis ouvi-la, tampouco entrou no assunto sobre o desaparecimento do bebê. Ele acabara agindo de forma bastante agressiva.

No fim do dia, quando Jasper chegou do trabalho, encontrou a mãe trancada no quartinho dos fundos. Teve grandes problemas para abrir a porta, e ao fazer isso encontrou Esme cheia de hematomas e inchaço no rosto. Não pensou duas vezes ao chamar a polícia e denunciar o próprio pai por agressão.

Richard foi levado de sua casa em uma viatura da polícia. Não se mostrou nenhum pouco arrependido, muito pelo contrario, se achava no direito de espancá-la. E ditar as próprias regras em casa.

Fora somente na delegacia que confessara, com raiva da esposa e dos filhos, que tinha sido o responsável pelo desaparecimento do bebê de Rosalie. Jurou em alto e bom som que levaria para o túmulo o paradeiro da criança, não importava o que lhe fizessem, ele não revelaria. Ele tinha um sorriso irônico no canto dos lábios ao mencionar que, no que dependesse dele, Rosalie jamais voltaria a encontrar Lexie novamente. Esse seria seu castigo por não ter sido a filha que ele esperava que fosse.

Por alguma razão o destino, ou seja lá qual for à forma como queira chamá-lo, jogou do lado de Richard. Pouco mais de dois meses, depois de ser preso, ele sofreu um acidente vascular cerebral vindo a falecer ainda na prisão. Levando para o túmulo, como havia jurado, o paradeiro de Lexie.

[...]

Exatos seis anos se passaram.

Nos primeiros meses, após o sumiço de Lexie, Rosalie afundou na depressão. Chorava dia e noite agarrada a um macãozinho cor de rosa que comprara para a filha sair da maternidade. Lexie nunca chegou a usá-lo.

A jovem mãe, que tivera sua filhinha arrancada dos braços poucas horas depois do nascimento, não soube como reagir à tamanha dor sem afundar nela. Foi devastadora a dor da ausência de Lexie em seus braços.

Rosalie perdeu muito peso. Abaixo de seus olhos havia sempre bolsas escuras. Seus cabelos, uma vez brilhantes e sedosos, se tornaram opacos, sem vida. A expressão de seu rosto se tornara cadavérica. Muitos não a reconheciam.

Esme e Jasper fizeram tudo o que estavam ao seu alcance para fazê-la reagir. Mas a dor emocional a agrediu com dimensões de uma metástase. Rosalie estava desistindo de lutar...

Entretanto, o que parecia ser o fim, se tornou uma nova força para seguir em frente. No dia em que Lexie estaria completando um aninho de vida, Rosalie decidiu sair da cama e focar toda sua vida naquilo que lhe restava, a busca exaustiva. Encontraria Lexie nem que fosse a última coisa que faria em vida.

Durante os meses que se seguiram, Rosalie foi melhorando sua aparência aos poucos. Nada igual ao que fora antes, mas uma mudança significativa. A busca obsessiva pela filha, não lhe dava tempo para mais nada.

Seu irmão, Jasper, a ajudou contratando um investigador particular. A cada dia que passava Rosalie ficava mais perto de encontrar a filha. A garotinha que fora alvo de seu amor mais singelo, o amor de mãe.

[...]

Do outro lado da cidade, Emmett McCarty, viúvo a pouco mais de três anos, estava sentado embaixo de um carvalho, sorrindo, vendo a filha colher algumas flores no jardim da pequena casa onde vivem.

A garotinha, de seis anos, estava usando um macacão jeans, com botões cor de rosa. Uma camiseta listrada e um par de tênis all star, em xadrez. Os longos cabelos louros estavam presos em um rabo de cavalo frouxo. Seus olhinhos castanhos, beirando o tom de mel, brilhavam por trás das lentes dos óculos de grau – uma armação moderna, de um tom suave, que combinava com seu rostinho e idade. Uma pequena pinta, marca de nascença, se destaca em sua bochecha clarinha.

Ela olhou na direção de onde Emmett estava, e lhe sorriu. O pai lhe sorriu de volta, expondo suas covinhas adoráveis.

A garotinha saltitou feliz, levando um punhado de flores entre ambas as mãozinhas, parando ao lado de Emmett.

– Olha que lindas – ela estendeu as mãozinhas na direção dele. – Elas se chamam amor-perfeito, não é papai?

– Isso mesmo. E são realmente lindas, Lexie – ele elogiou, erguendo uma das mãos para tocar levemente as pétalas das flores. – O que você pretende fazer com elas, filha? Vai colocá-las em um vasinho e deixar na nossa sala? Humm... Já sei, vai pôr em seu quarto – brincou, cutucando na barriguinha dela.

Lexie sorriu gostosamente e logo depois sentou no colo dele, encostando a cabeça no peito largo.

– Papai... – murmurou ela, analisando as flores em suas mãozinhas.

– Sim, princesa – ele murmurou em resposta, encostando os lábios nos cabelos dela para lhe dar um beijo no alto da cabeça.

– Eu quero levar essas flores para a mamãe... – ela avisou, deixando que as palavras se perdessem no vento.

E, de repente, Emmett se perdeu nas lembranças de um grande amor que fora interrompido. Pensando na esposa que se fora ainda jovem demais, ele suspirou. Um câncer de mama os separou para sempre.

Lexie estava com três anos quando Brooke morreu. Agora tudo o que lhe restava eram as poucas memorias e fotografias. Lexie, embora ainda muito pequena, fazia visitas regularmente ao cemitério para deixar flores na lápide da mulher que, por intervenção do destino, chamou de mãe.

Quando Emmett e Brooke adotaram Lexie, ela trazia no pulso uma pulseirinha com o nome gravado nela. As freiras do orfanato onde ela foi abandonada disseram que aquele era seu nome, dessa forma, eles decidiram mantê-lo. Lexie já não usava mais a pulseirinha, não cabia mais em seu pulso, mas ainda a mantinha guardada junto ao álbum de bebê.

O casal que não podia gerar seus próprios filhos a amaram desde o primeiro momento em que puseram os olhos nela. Lexie foi amada, e desejada, tanto quanto a um filho de sangue, por aquele casal. Ela foi à criança que encheu aquela pequena família de amor e alegria.

Sem saber que a verdadeira mãe a procurava, eles seguiram com suas vidas, sem medo e sem culpa. Sendo felizes, até o fatídico dia em que Brooke recebeu os resultados de seus exames, que a diagnosticaram com câncer. Um câncer que rapidamente se tornou metástase.

Sem família por perto, Lexie foi tudo o que lhe restou. Emmett amava aquela garotinha, com certeza exagerada, mais que sua própria vida.

A voz de Lexie soou baixinho, trazendo-o de volta a realidade, no jardim da pequena casa.

– Eu sonhei com a mamãe outra vez... – revelou Lexie. – Dessa vez ela parecia triste. Acho que sente nossa falta papai.

Emmett beijou o topo da cabeça de Lexie, sentindo um nó se formar na garganta. – Se é isso que você quer, então é isso que faremos. Vamos levar as flores para a mamãe.

– Papai... – tornou Lexie a falar após um longo suspiro.

– O que, princesa?

– Eu te amo, sabia?! Muito, muito, muito. Com todo o meu coração.

Emmett a apertou contra seu peito forte, lhe beijando o rostinho.

– O papai também te ama muito. Lembre-se sempre disso. Aconteça o que acontecer...

Lexie suspirou. – Promete que nunca vai me deixar?

– O papai nunca vai te deixar. Você é minha vida, Lexie. Não irei a lugar algum sem você. Nenhum lugar no mundo será bom o bastante para o papai se você não estiver por perto.

Lexie passou os bracinhos em volta do corpo largo, suspirando satisfeita. Eles permaneceram assim, em meio ao abraço, sendo tomados por uma paz interior, até que Emmett ficou de pé, com ela no colo, e foi buscar as chaves do carro.

Eles entraram em casa e poucos minutos depois retornaram. Lexie trazendo um vaso com as flores dentro, e Emmett as chaves do carro, que estava estacionado na entrada de veículos.

Ele abriu a porta traseira da caminhonete preta, ajudou Lexie a entrar e pôr o cinto de segurança. Depois abriu a porta do lado do motorista e se acomodou ao volante.

Antes de girar a chave na ignição ele olhou brevemente para Lexie, que lhe sorriu. Seus olhinhos brilhando por trás das lentes dos óculos de grau. Emmett maneou a cabeça, satisfeito. No minuto seguinte, ele saía com o carro rumo a um lugar, ironicamente, conhecido.

[...]

Enquanto isso, sem saber o que o destino lhe reservava, Rosalie tomava uma decisão. Uma decisão que a deixaria mais perto da filha do que ela mesma poderia imaginar.

Desde o dia do funeral de Richard, cujo foi apenas para apoiar a mãe, que queria evitar rumores, Rosalie não retornou mais ao cemitério. Com o coração cheio de magoa jamais o perdoou por todo sofrimento que lhe causou.

Hoje, no entanto, ela foi tomada por uma vontade repentina, e desconhecida, de ir até lá.

Era meados de primavera. A temperatura estava agradável, flores floresciam por todas as partes, espalhando seu aroma com frescor inconfundível.

Rosalie ainda morava com a mãe na mesma casa de outrora, ao passo que seu irmão Jasper se casara e fora morar com a esposa em um bairro próximo dali. A esposa, Alice, estava grávida de seu primeiro filho, que se chamaria Jonah.

Esme estava começando a redescobrir o amor. Há pouco mais de um ano, um novo médico chegara à cidade, se mostrando cheio de galanteios para o lado dela. Esme não queria se envolver com ninguém, ainda se lembrava dos horrores que vivera com o marido Richard. Por insistência dos filhos, aceitou um convite para jantar, e acabou descobrindo em Carlisle um homem generoso, carinhoso e capaz de amá-la como nenhum outro a amou. Eles já falavam até mesmo de morarem juntos. Tanto Jasper quanto Rosalie lhe apoiavam em suas escolhas, independente de qualquer coisa.

– Aonde você vai, filha? – Esme não resistiu em perguntar, ao vê-la pegar as chaves do carro no aparador.

– Eu preciso ir a um lugar... – limitou-se ela em responder. Apressada, a todo o momento parecendo querer evitar o olhar da mãe, como se tal gesto fosse revelar o que estava pensando em fazer.

Esme a acompanhou até a varanda, ali parou e ficou observando Rosalie entrar no carro e partir. Ela não soube para onde a filha estava indo, tampouco o que estava pensando. Apenas rogava aos céus que não fosse nenhuma bobagem. Houve um tempo em que Esme temeu que a filha desistisse de viver pondo um fim na própria vida.

Rosalie dirigiu por cerca de trinta minutos, os pensamentos fervilhando, o rancor e a magoa voltando a atormentá-la. A angústia e a dor se apossando de seus instintos, de suas entranhas, mais uma vez, de forma destrutiva.

Estacionou em frente ao cemitério, no outro lado da rua, onde Richard havia sido sepultado. Suspirou longa e pesadamente quando seus olhos alcançaram os portões de ferro, preto.

Mesmo não desejando ir até lá, uma força estranha a puxava, algo forte demais para ser ignorado. Rosalie desceu do carro, e fez o caminho quase que automaticamente. Entrou no cemitério tendo a sensação de que seu coração se cumpria dentro do peito, mas, ela sabia, não tinha nada a ver com Richard. Porque ela o desprezava. Desprezava tudo e qualquer coisa relacionada aquele homem que um dia chamou de pai.

Quis o destino que, naquele mesmo cemitério, fosse sepultada a esposa de Emmett McCarty. O destino, embora, às vezes, assustador também era surpreendente.

Emmett acabava de estacionar em frente ao cemitério, dois carros após o de Rosalie. Ele saiu da caminhonete e depois ajudou Lexie a descer. De mãos dadas pai e filha atravessaram a rua. Na mão livre, Lexie carregava o vasinho com as flores que colhera mais cedo no jardim.

Embora ainda com apenas seis anos, Lexie não tinha medo de andar pelo cemitério. Se seu papai a chamasse, nem mesmo a noite, se recusaria. Desde a morte de Brooke, eles faziam aquele mesmo trajeto por entre as lápides para lhe levar flores. Fosse aniversário de nascimento ou de morte. Dias das mães ou apenas um fim de semana comum, exatamente como hoje.

A duas fileiras para chegar à lápide de Brooke, Lexie soltou a mão de Emmett e foi andando na frente sozinha. Faltando apenas duas lápides para chegar a que procuravam, Emmett viu Lexie correr e parar em frente à da “mãe”.

Ela lhe lançou um olhar por cima do ombro, talvez para ter certeza de que ele estava por perto. Emmett acenou para ela, e então Lexie se agachou ajoelhando-se em frente à lápide, sobre a grama verde. Suas mãozinhas trabalharam gentilmente substituindo as flores secas pelas novas.

Emmett se aproximou, parando logo atrás dela. Lexie lhe fez uma perguntar tão logo sentiu sua presença.

– Acha que a mamãe vai gostar dessas flores?

– Claro que sim, princesa – murmurou Emmett, afagando os cabelos de Lexie –, sua mamãe adorava amor-perfeito. Essas que você colheu estão lindas. Em varias cores, era exatamente como ela gostava de usá-las em um vaso e deixar enfeitando a nossa sala – ele continuou acariciando os cabelos da filha, a nostalgia o atingia sendo perceptível até mesmo no som de sua voz. – Mesmo sem as flores, ela estaria feliz com sua presença. Sua mamãe te amava muito Lexie.

– Eu também a amava muito... – sussurrou a garotinha. – Acha que a mamãe está olhando pra gente de lá do céu agora?

– Com toda certeza... – sussurrou ele, se curvando para pegá-la no colo.

Lexie enlaçava os bracinhos em volta do pescoço do pai, quando seus olhos alcançaram a imagem de Rosalie andando por entre as lápides, um pouco afastado dali. A garotinha não conseguiu desviar os olhos da imagem da mulher que lhe fazia lembrar os anjos pintados no teto de uma catedral.

Rosalie usava um vestido casual e delicado, na cor bege. Nos pés, uma sandália rasteirinha. Os cabelos presos em um coque frouxo lhe davam um charme peculiar.

Alheia a peça que o destino lhe pregava, ela continuou andando sem saber que estava tão perto, e ao mesmo tempo tão longe da filha. Parou somente quando alcançou a lápide de Richard. As flores postas ali estavam mortas havia muito tempo. Esme e Jasper não costumavam ir com frequência, ao passo que Rosalie estivera ali apenas no dia do funeral.

Um sorriso irônico, carregado de desprezo, surgiu em seus lábios. Por um fugaz momento o sol de escondeu por entre as nuvens, causando inquietude. Uma atmosfera lânguida e angustiante.

– Não se sinta feliz com a minha visita – sibilou Rosalie. – Não te perdoei, nem sei se algum dia eu chegarei a perdoá-lo por tudo o que fez a mim e a minha filha, nos separando sem jamais sentir remorso. Senhor Richard, o homem austero que se achava o dono da verdade. “O senhor do destino” – ironizou Rosalie. – Seis anos se passaram desde que me tirou minha filha. Há seis anos vivo uma busca incessante. Há seis anos não sei o que é viver, apenas existo. E com um único proposito, encontrar minha filha. Espero que esteja pagando por tudo de ruim que nos fez, e não me refiro somente a mim e a minha filha, mas a minha mãe também. Espero que esteja pagando por toda dor que me causou tirando meu bebê dos meus braços – um soluço escapou de sua garganta. – Você não tinha o direito de fazer isso, Richard. Não tinha o direito de tirá-la de mim. Isso somente a Deus cabia – ela tornou a soluçar, não levou muito tempo lágrimas escorriam em seu rosto. – Eu tinha o direito de amá-la – sua voz soou quase como um grito, se misturando ao desespero. – Eu tinha o direito de ser mãe da minha Lexie. Eu tinha o direito de vê-la crescer, de amá-la a cada dia um pouco mais – já não conseguindo conter a torrente de emoções, permitiu que as lágrimas rolassem sem reservas. – Sofro todos os dias por não tê-la comigo – ela passou a mão no rosto tentando afastar a enxurrada de lágrimas que surgiram. Respirou fundo, deixando o ar sair dos pulmões devagar. Uma brisa agitada soprou seus seu rosto. Perto dali, os galhos de um salgueiro chorão se agitara. – Minha filha... – ela reafirmou com a voz cadenciada. – Como pode ser tão cruel a ponto de tirá-la de mim? Ela tinha acabado de nascer. Era só um bebezinho. Precisava de mim... Precisava ser amamentada no peito. Você não merece nem mesmo o perdão de Deus – o peito de Rosalie subia e descia com a respiração arrastada e soluços contínuos. – Me tirou o direito de ver minha filha crescer. De amamentá-la. De vê-la ensaiar os primeiros passinhos. De ouvi-la balbuciar as primeiras palavras. De levá-la em seu primeiro dia de aula. De segurar sua mão quando sentisse medo ou dor. De cuidá-la. De velar seu sono tranquilo. Me arrancou o direito de ser mãe dela – Rosalie fechou os olhos com força e ao abri-los, gritou. – Me tirou o direito de amá-la – soluços se seguiram, tornando difícil até mesmo respirar. O choro se tornou desesperado. Com a voz falhando ela prosseguiu em seu desabafo. – Era eu a quem ela deveria chamar de mamãe. Era para os meus braços que ela deveria correr ao sentir medo, ou alegria. Ou apenas buscando carinho – ela passou as mãos rapidamente no rosto, depois no nariz. – Eu te odeio Richard. Se existe um Deus, ele trará minha filha até a mim. Ele fará Lexie cruzar meu caminho. Eu irei encontrá-la nem que seja a última coisa que faça em vida – seus joelhos cederam fazendo-a se ajoelhar sobre a grama. Rosalie chorou como no dia em que Richard a separou de Lexie. Seu coração estava dilacerado outra vez e, ela sabia, não voltaria ser quem um dia fora se não encontrasse a filha.

A brisa agitada soprou novamente os galhos do salgueiro chorão. Rosalie ficou de pé, passou a mão no rosto, e, mesmo chorando, refez o caminho de volta por entre as lápides. Com a visão turva por causa das lágrimas mal conseguia enxergar o que estava a sua frente.

Do outro lado do cemitério, Emmett e Lexie também refaziam o caminho de volta. Eles conversavam, à medida que seguiam em frente, sem pressa alguma.

Embora não pudesse ouvi-los, Rosalie não conseguiu deixar de olhar fixamente para as costas de ambos. De repente se viu imaginando a quem eles visitavam. Por alguma razão, por ela desconhecida, seu coração deu um solavanco dentro do peito passando a bater freneticamente. Rosalie respirou fundo, buscando apoio em uma lápide. Fechou os olhos com força e quando tornou abri-los nem Emmett, nem Lexie estavam ao alcance de sua visão.

Chegou a acreditar que a imagem que tivera não passou de uma armadilha de sua mente desejosa e aflita. Chegando a temer que tivesse tendo alucinações.

Já fora do cemitério, ela entrou no carro, apoiou a cabeça ao volante, buscando um pouco de alivio em sua tormenta. Depois de respirar fundo, ligou o motor e saiu com o carro, poucos segundos depois de Emmett virar à esquina com a caminhonete.

No banco traseiro, presa ao cinto de segurança, Lexie estava com o olhar distante. Perdido no nada, além da janela. Se perguntando se tinha tido algum tipo de miragem.

– O que houve filha? – perguntou Emmett.

Lexie uniu os lábios em uma linha reta. Respirou fundo e, com a mãozinha apertando o tecido da blusa, no lado esquerdo do peito, disse.

– Não sei papai... – ela olhou para Emmett, em seu rostinho havia tristeza, uma tristeza desconhecida. – Nesse momento eu só tenho vontade de chorar... – o lábio inferior tremeu, e a voz soou falha.

Preocupado, Emmett parou o carro no acostamento. Girou o corpo no banco, ficando em uma posição que pudesse olhar para Lexie. Ele estendeu a mão direita e tocou o rostinho dela.

– Está tudo bem, filha. Você só ficou emocionada porque sente falta da mamãe. O papai também sente muita falta dela. Mas nós ainda temos um ao outro.

– Papai – murmurou Lexie ao fechar os olhinhos com força. Tornou abri-los, olhando diretamente para Emmett –, anjos existem?

A pergunta pegou Emmett de surpresa.

– Eles existem para aqueles que acreditam em sua presença.

– Acho que vi um anjo hoje... – confidenciou Lexie.

Mais uma vez Emmett ficou surpreso com o que ela disse.

– Você pode ter apenas sonhado filha. É normal crianças terem sonhos assim...

– Eu não estava dormido papai. Foi quando a gente estava no cemitério, perto da lápide da mamãe. Eu estava olhando para longe e então... Tenho quase certeza de ter visto um.

Dessa vez Emmett levou alguns segundo para responder, talvez buscando as palavras certas, com medo de magoa-la.

– Em qualquer lugar onde você estiver Lexie – ele acariciou o rostinho dela –, haverá sempre um anjo a te proteger.

– Acha que foi a mamãe que pediu?

– Não posso afirmar filha, mas, acredite, ela estará sempre olhando por nós. E fará tudo para nos ver felizes.

Nesse instante o carro de Rosalie passou por eles, mas nenhum dos dois percebeu quem estava ao volante, se homem ou mulher. Estavam envolvidos em seu próprio mundo.

Um sorriso inocente surgiu nos lábios de Lexie. Emmett segurou sua mãozinha beijando a palma, depois cada um dos dedinhos.

– Te amo princesa – disse ele.

– Também te amo papai. Tanto que nem cabe tudo em meu coração. O meu amor por você transborda – um sorriso ameaçou surgir nos lábios dela novamente.

Emmett esboçou um sorriso fraco e tornou beijar a mãozinha dela mais uma vez.

– Se sente melhor agora?

– Aham... – murmurou ela, reforçando com um maneio de cabeça.

Antes de ajeitar a postura novamente ao volante, ele beijou mais uma vez a mãozinha de Lexie.

Enquanto dirigia, ele se perguntou se Lexie seria feliz sem a presença materna para orientá-la. Talvez seu amor incondicional não fosse o bastante, e ela nunca conseguisse ser feliz por completo.

Mais de uma vez, ele se viu olhando para Lexie através do espelho retrovisor. Preocupado com o futuro e a felicidade dela. A única família que lhe restava. Seu bem mais precioso. Sua única, até então, razão para viver.

Em uma rua qualquer da cidade, Rosalie dirigia, chorando a todo tempo. Tão logo chegou em casa se trancou no quarto. Não quis comer, tampouco falar com ninguém. Deixando Esme preocupada mais uma vez. Perguntando, mentalmente, a Deus se todo aquele sofrimento algum dia teria fim.

Rosalie sentia-se psicologicamente exaurida. A dor de ter sido privada do direito de amar a filha e vê-la crescer havia, mais uma vez, se alastrado como pólvora em chamas.

Não havia nada que ninguém pudesse fazer para diminuir sua dor, a menos que lhe devolvessem Lexie.


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Notas finais do capítulo

Ai meu coração. Apesar de triste, tenho paixão por esse capítulo.
Não se esqueçam de comentar, adoraria falar com vocês. Saber o que cada um (a) achou, ou sentiu ao ler.
Beijo, beijo
Sill