Direito De Amar escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 1
Capítulo 01 – De Coração Partido


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoinhas, estou vindo com mais uma fic Emmelie. Espero que gostem :)



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Sentada na varanda da casa onde vive com os pais, em Cleveland, Rosalie chorava abraçada aos próprios joelhos. O sentimento de culpa e incerteza ocupava sua mente de forma avassaladora. Sua vida já não era mais a mesma há algum tempo. No entanto, nada do que acontecera a fazia se arrepender do fruto que carregava em seu ventre.

A brisa fria do outono soprava suave as folhas no jardim. Um farfalhar constante em meio às sombras. As folhas de laranjeiras empilhadas no chão deixavam seu perfume subir pela noite. O céu estava escuro, nenhuma estrela cedia sei brilho.

Era mais uma noite em que o jantar terminava em discussão. Há alguns meses isso vinha acontecendo com frequência. Rosalie ainda podia sentir as mãos tremer por conta de todo o nervosismo. Não tendo a menor ideia aonde tudo aquilo iria levar.

Richard não suportava o fato de sua filha caçula, com apenas dezessete anos, estar grávida do ex-namorado. O que era pior, grávida de Royce King, um aventureiro que saltou fora na primeira oportunidade.

Prestes a dar a luz, Rosalie adiara seus planos para entrar em uma boa universidade. Isso contribuiu para fortalecer a ira de Richard. Ele tinha planos para o futuro da filha e os viu, segundo ele, ser jogados fora. Rosalie o decepcionou e Richard não a perdoava por isso. O homem de cabelos claros e expressão rude tinha um gênio difícil.

Para Richard o primogênito, Jasper, era seu orgulho – era formado, tinha um bom emprego e estava noivo de uma jovem de boa família. Richard só tecia elogios a esse filho, quanto a sua caçula, bem, essa, segundo ele, só lhe dava desgosto.

– Ela é a desonra dessa família – Rosalie ouvia Richard esbravejar em meio a uma discussão enérgica com a esposa Esme.

– Não diga isso Richard. Ela é nossa filha. O nosso dever como pais é ampará-la – Esme praticamente implorava por um ato de generosidade vindo da parte do marido, mas Richard não facilitava.

Ele trincou o maxilar e logo em seguida as palavras ferinas saíram de sua boca.

– Uma filha que desrespeitou essa casa. Desrespeitou a si mesma deitando-se com um homem antes do casamento. Uma promiscua que vai dar a luz a um bastardo. Ela não se deu valor sequer se importou com os planos que fizemos para ela. Vai largar tudo para se tornar mãe solteira. Vai dedicar e destruir a vida por culpa de um filho bastardo.

– Cale-se! – gritou Esme, não suportando mais ouvi-lo dizer todas aquelas coisas sobre sua filha. – Já chega Richard, você já foi longe demais...

Esme não pode finalizar sua fala porque, naquele instante, Richard a fez calar com uma bofetada, que a derrubou sobre a mesinha do abajur que ficava ao lado do sofá. O barulho de coisas sendo estilhaçadas fez Rosalie ficar de pé num rompante e correr para dentro de casa. Não sabia o que lhe aguardava, mas tinha certeza de que a mãe não enfrentaria sozinha.

Sem ao menos pensar, ela abriu a porta e se deparou com a mãe caída no chão buscando equilíbrio para ficar de pé. Embaixo de seus pés os cacos de porcelana quebrada trincavam. O rosto vermelho, com as marcas dos dedos de Richard cravados nele, evidenciando a agressão.

– Não me diga o que fazer – Richard esbravejou, com seu tom de voz forte e imponente. – Na minha casa mando eu. Sou eu quem decide o que é certo ou errado aqui.

Rosalie, mesmo com as pernas tremendo, correu ao auxilio da mãe.

– Mamãe – murmurou ela, enquanto tentava ajudá-la ficar de pé. – A senhora está bem? – O que esse monstro lhe fez? – sussurrou, olhando de canto de olho para Richard, que parecia ameaçador.

Esme conseguiu manter o equilíbrio com ajuda da filha. As marcas da agressão faziam seu rosto queimar como brasa. Mesmo assim ela respirou fundo, buscando tranquilizar Rosalie.

– Eu estou bem, querida – devagar encostou ambas as mãos na barriga da filha. – Vai pro seu quarto – pediu, tentando afastá-la de Richard naquele momento. Esme olhou de canto de olho o marido se movimentar na sala. – Vá meu amor. Vá pro seu quarto – ela insistiu, um desespero oculto no tom de sua voz.

Nervosa, Rosalie não quis deixá-la.

– Vem comigo mamãe. Seus joelhos estão sangrando. Precisa fazer um curativo. Eu posso fazer isso pra senhora, mas precisa vir comigo...

Esme afagou a barriga dela com ternura maternal. – Eu vou ficar bem querida. Agora faça o que estou pedindo, Rose. Por favor...

Rosalie fungou no mesmo instante que sua mão encostou a de Esme, sobre a barriga avantajada.

Do outro lado da sala, Richard debochou batendo palmas. Um sorriso irônico surgindo no canto da boca. Ele buscou um cigarro no bolso da calça e, ao acendê-lo, soprou uma nuvem de fumaça no ar.

– Que comovente – debochou. – A mãe sempre dando apoio e acobertando os erros da filha promiscua. Você é a culpada dela estar grávida de um vagabundo que não honra nem as calças que veste. Não soube educá-la... – ele fez uma pausa enquanto dava uma tragada no cigarro. – Devíamos tê-la obrigado a se livrar dessa criança ainda enquanto era tempo. Devíamos tê-la obrigado a estudar fora do país quando tivemos a chance. – Richard pareceu refletir um pouco e então completou. – Ainda há algo que possa ser feito... – havia uma malvadeza oculta em seu olhar enquanto mirava a barriga de Rosalie.

– Cale-se Richard – Esme implorou. – Pelo amor de Deus homem, não faça essa besteira.

Os olhos de Rosalie se arregalaram em um medo súbito, mesmo não tendo certeza do que eles estavam falando.

– Do que ele está falando, mamãe?

– Não é nada, querida... – Esme sussurrou.

Não houve mais tempo para nada, Richard se aproximou e a puxou pelo braço.

– Nunca mais ouse me mandar calar a boca. Quem dita às regras nessa casa sou eu. Mulher nenhuma me diz o que fazer – ele a chacoalhava com brutalidade, fazendo Esme parecer uma boneca de pano em suas grandes mãos.

Rosalie respirou fundo, sem pensar nas consequências que sua atitude teria entrou na frente do pai para defender a mãe. Um grande erro. Richard a empurrou sem se importar com o fato dela estar grávida de quase nove meses.

Não houve tempo nem mesmo para tentar se equilibrar. Rosalie colidiu de costas contra a parede da sala, caindo sentada. Sua vista escureceu quando uma dor lancinante percorreu toda sua espinha dorsal, chegando em ondas pontiagudas ao útero. Seus olhos castanhos se encheram de lágrimas quase que instantaneamente. Uma contração, forte o bastante, a fez gritar no momento em que a barriga tomava um formato desigual.

Richard fixou os olhos na cena, embora sem demostrar nenhum tipo de emoção. Esme forçou o braço para se libertar do aperto do marido, para no minuto seguinte correr ao auxilio da filha. Richard continuou com seu cigarro, como se nada tivesse acontecendo.

De joelhos ao lado de Rosalie, com mãos trêmulas, Esme lhe tocou o rosto.

– Querida... – murmurou angustiada, sua mão livre afagou a barriga da filha que estava exageradamente torta.

– Mamãe – Rosalie suplicou, com dor e desespero estampado no rosto. Uma poça de sangue se misturava ao liquido amniótico no chão. Mais uma contração forte a fez gritar. – Mamãe... – ela lamentou em um fio de voz logo que percebeu o sangue.

Esme segurou a mão dela tentando lhe passar alguma segurança, mesmo sabendo que talvez não fosse o bastante.

– Vai ficar tudo bem, querida. Vai ficar tudo bem... – repetiu mais para si mesma.

Rosalie gritou novamente. A dor lhe rasgando por dentro.

– Mamãe... Eu estou com medo – ela confessou entre uma arfada e outra.

– O seu bebê já vai nascer, meu amor.

– Está sangrando... – mais um grito de dor a fez calar.

– Vai ficar tudo bem, filha – Esme repetiu antes de correr para perto do telefone.

Quando segurou o aparelho telefônico entre as mãos, ouviu Rosalie gritar mais uma vez. O desespero de Esme se tornou ainda maior no momento em que Richard lhe arrancou o telefone das mãos.

– O que está fazendo, Richard? Ela precisa ir para o hospital agora...

– Ninguém vai a lugar algum – avisou, com a voz autoritária. – Ninguém vai sair dessa casa até que eu permita.

– Por favor, Richard, pare com isso. Não vê que nossa filha está perdendo muito sangue e que o bebê vai nascer a qualquer momento?! Por Deus, me devolva esse telefone – Esme suplicou, com lágrimas nos olhos, ouvindo a filha gemer de dor do outro lado da sala, enquanto aquele homem lhe parecia indiferente a qualquer sentimento de compaixão.

A porta foi aberta e uma imagem masculina surgiu na sala. Era o filho mais velho, Jasper, que ao ver a cena correu para o lado da irmã caçula, caída ao chão em um estado lastimável.

– O que está acontecendo aqui...? – perguntou no auge do desespero, sem saber como agir. Suas mãos se movendo impacientes não sabendo como usá-las. As pernas de sua calça ficando manchada com o sangue que formava uma poça no chão.

– Jazz – Rosalie sussurrou. Lágrimas percorrendo seu rosto sem reservas –, estou com medo...

Seu lamento foi substituído por mais um grito de dor. Sem pensar duas vezes, Jasper a pegou no colo. Não se importou com nada a não se socorre-la.

Esme apressou-se à frente, abrindo a porta para ele passar com a irmã nos braços.

Lançando um olhar de incredulidade ao pai, Jasper o questionou, ao passar por ele.

– O que o senhor fez?

– Sua irmã é culpada de tudo – alegou Richard, com uma tranquilidade que chegava a ser quase psicótica.

– Ela não é culpada por sua intransigência – sibilou Esme antes de sair de casa, logo depois de Jasper. Ela se apressou descendo os degraus da varanda para poder abrir a porta traseira do carro do filho que estava parado na entrada de carros, no jardim da casa.

– Vai sujar todo o banco – Rosalie se lamentou assim que Jasper se inclinou para acomodá-la no assento.

– Isso é o que menos importa agora – ele retrucou, para logo depois fechar a porta.

Apressado, abriu a porta do lado do motorista, se acomodando ao volante. Esme já estava ao seu lado quando ele deu partida no motor e saiu da entrada de carros, manobrando de forma atrapalhada na rua.

Esme não conseguiu desviar os olhos de Richard, que, agora, estava na varanda. Ele tinha planos nada admiráveis, tampouco bondosos, ela suspeitava.

Com a irmã chorando e, por vezes, gritando, no banco de trás, Jasper correu o máximo que a lei lhe permitia. Depois de alguns minutos, que pareceram horas, parou em frente ao hospital e saltou correndo em direção à entrada, pedindo por ajuda a quem cruzasse seu caminho.

Pouco tempo depois, Rosalie estava na sala de cirurgia sendo submetida a uma cesariana de emergência.

Esme e Jasper esperaram, pelo o que pareceu horas, na sala de espera. Suas feições eram de cansaço e medo. Medo que o pior acontecesse. Esme fazia uma prece silenciosa, quando o médico responsável pela cirurgia entrou na sala de espera e os informou que tanto Rosalie quanto o bebê passavam bem.

Como o caso dela era grave, foi preciso usar anestesia geral. Rosalie não viu a filha nascer, tampouco quando a levaram para o berçário. Assim como, também, não pode receber visitas àquela noite.

Entretanto, o médico liberou a entrada da família no berçário para que vissem o bebê, tendo a parede de vidros como barreira. Mesmo não podendo tocá-lo era gratificante poder vê-lo.

A enfermeira se aproximou do vidro segurando o bebê, que tentava abrir os olhinhos, se acostumando, pouco a pouco, com a nova realidade, e luz, embora fraca, do ambiente.

A avó e o tio chegaram mais perto do vidro com intuito de vê-la melhor. Reconhecer na pequena garotinha traços físicos semelhantes aos da mãe. Ambos sorriram tão logo notaram os poucos cabelos, louros – um tom mais escuro que os de Rosalie. Aqueles olhinhos castanhos, beirando o tom de mel. Na bochecha direita se destacava uma pinta semelhante a que Rosalie tinha acima dos lábios.

– Ela é linda... – divagou Jasper.

– É sim – confirmou Esme. – É a coisinha mais linda da vovó. Quando sua irmã acordar vai adorar vê-la e segurá-la nos braços. Ela vai ficar arrasada por não ter ficado acordada durante o parto. Mas não havia outro jeito... – sussurrou entristecida.

Jasper tocou o ombro de Esme, fazendo um afago. – Ela vai entender mãe...

Esme ergueu a mão e tocou a dele. – Eu espero que sim, filho. Eu espero que sim...

A garotinha, nos braços da enfermeira, começou a chorar. Logo a enfermeira se afastou levando a criança para longe da família. Para cuidá-la e amamentá-la enquanto a mãe ainda não podia fazê-lo.

Horas mais tarde, durante a madrugada, Rosalie acordou do efeito da anestesia ainda no pós-parto. A primeira coisa que perguntou foi pela filha. Depois que lhe foi explicado todo o procedimento que antecedeu o parto ela pediu para ver a mãe. Mas somente depois que foi liberada para voltar ao quarto foi que Esme pode vê-la.

Jasper voltou para casa depois da visita ao bebê no berçário. Mas Esme permaneceu no hospital esperando a filha voltar ao quarto. Quando Rosalie já estava com a mãe, uma enfermeira levou o bebê para sua primeira mamada.

Como mãe ainda inexperiente, Rosalie recebeu instruções de como amentar seu bebê de forma correta e satisfatória.

Rosalie esteve o tempo inteiro com os olhos fixos no bebê. A sensação de amamentá-la, pela primeira vez, era mágica, preenchia todo o seu coração de forma que jamais pensou que fosse possível. Nada se comparava ao imenso amor que sentira por aquele ser tão pequenino e dependente de seus cuidados. A paixão sem limites tomou conta de seu coração tão logo a segurou em seus braços pela primeira vez.

A jovem mãe se encantou pela imagem do seu bebê, de boquinha vermelha, sugando com avidez o leite materno. Rosalie segurou a mãozinha, beijando cada um dos dedinhos. A mãozinha se agitou parando somente quando espalmou sobre o seio materno, se mantendo ali até o final da mamada.

Deslumbrada com a maternidade recente, Rosalie roçou o nariz suavemente na cabecinha de cabelos ralos e louros. O cheiro, sem dúvida, era o melhor que já sentira em toda sua vida. Tornou a beijar a mãozinha e se viu sorrindo quando o bebê abriu os olhinhos em uma fenda, esboçando o que lhe pareceu um sorriso.

Com cuidado afastou o bico do seio da boquinha da filha, mas logo um beicinho de choro se formou nos lábios rosados. Imediatamente ela cedeu ao desejo do bebê, que roubara seu coração, lhe devolvendo o bico do seio, o maior vínculo da maternidade.

Quando soube que Rosalie tinha sido transferida para um quarto, Jasper voltou em casa e trouxe a sacola do bebê e a mala da irmã, que, com a pressa em levá-la ao hospital, acabou esquecendo.

Rosalie, mesmo não querendo desviar o olhar de seu bebê, se limitou a olhar em volta buscando pela sacola.

– Mamãe – disse Rosalie –, pegue a pulseira dela, por favor. Eu a guardei dentro da sacola quando arrumei para trazer ao hospital. Se ninguém lá em casa tirou, teve estar aí.

Satisfeita, Esme ficou de pé, abriu o bolso na lateral da sacola do bebê e de lá retirou um saquinho de veludo lilás entregando-o para Rosalie.

– Aqui está querida.

– Obrigada, mamãe.

Com a filha ainda grudada ao peito, ela abriu o saquinho da melhor forma que pode deixando cair na palma de sua mão uma pulseirinha de ouro com o nome do bebê gravado nela.

Com ajuda de Esme, Rosalie conseguiu colocar a pulseirinha no braço da filha.

– Agora você oficialmente tem um nome, meu amor – sussurrou Rosalie, beijando o rostinho de bochechas coradas. – Minha Lexie. Minha vida.

Depois da amamentação Lexie permaneceu mais alguns minutos com Rosalie até que a enfermeira voltou para buscá-la. Mesmo contra a vontade da nova mamãe.

Para a felicidade de Rosalie, minutos depois a enfermeira voltou com Lexie, para mais uma mamada. A segunda desde o nascimento. Dessa vez, tanto a mãe de primeira viagem quanto o bebê se adaptaram facilmente a nova realidade.

Quando o dia amanheceu, Rosalie tomou banho com ajuda de uma enfermeira, e recebeu o café da manhã.

Ansiosa, esperou que a enfermeira do berçário trouxesse Lexie novamente, mas isso não aconteceu. Em vez disso ela voltou de braços vazios. Em seu rosto uma expressão cujo Rosalie não soube decifrar. Ao lado dela estava Esme. Em seus olhos restavam as evidencias do choro recente.

Foi apenas necessário um nanosegundo; uma batida de seu coração para que Rosalie endentece o que estava acontecendo.

Naquela manhã cinzenta de outono o maior desespero da vida de Rosalie Hale teve início...

A jovem mãe, desesperada, fez menção de sair da cama, mas Esme apressou-se correndo até ela impedindo-a de fazer isso.

– Mamãe – sibilou Rosalie, sentindo pânico em sua própria voz.

– Fique calma, filha, por favor – pediu Esme.

Os olhos de Rosalie estavam em pânico quando olhou da enfermeira para Esme.

– O que está acontecendo? Onde está o meu bebê? Porque não a trouxeram para ser amentada – sua voz ficando trêmula, cadenciada. – Ela está com fome. Eu sei, meus seios estão doendo e começando a gotejar. Porque não a trazem logo para mim? – implorou se negando a aceitar o que estava claro. – Tragam-na para mim – gritou agitada.

Segurando o choro, fazendo o impossível para parecer forte, Esme tentou mantê-la na cama.

– Acalme-se filha. Precisamos conversar... – Rosalie negou com um maneio de cabeça, recusando-se aceitar tal informação. – Lexie não está no hospital... – Esme sussurrou, engolindo em seco, sentindo as palavras darem um nó em sua garganta enquanto seu coração se comprimia dentro do peito.

Em estado de choque, Rosalie encarava a mãe. Seu coração batendo em um ritmo fora do comum espalhando ondas de adrenalina e medo em suas veias. Tornando a respiração pesada e ruidosa.

–... Alguém a levou – completou Esme, sendo destruída por dentro por ser a pessoa a ter que revelar isso para filha.

– Não! – gritou Rosalie, sentindo o ar lhe faltar aos pulmões. – Não! – repetiu enquanto se debatia para se livrar das mãos de Esme, que usava de sua força para mantê-la na cama. Lágrimas rolavam em seu rosto rapidamente, traçando um caminho sem volta, assim como, talvez, o retorno de Lexie aos seus braços. – Ela deve estar em algum lugar desse hospital... Um bebê não pode sumir assim – um soluço forte a fez engasgar com as palavras. – O meu bebê não pode ter desaparecido assim. Me solta, mamãe. Eu preciso sair daqui... Tenho que encontrá-la. Eu preciso fazer isso. Me solta. Me deixe sair daqui.... – a voz de Rosalie foi ficando arrastada enquanto lutava contra a dor que dilacerava seu coração, que a pouco descobrira a magia de ser mãe.

A bandeja com o café da manhã foi empurrada do suporte e toda a comida se espalhou pelo chão. Rosalie arrancou o acesso, usado para receber a medicação, sem se importar se lhe causaria dor.

– O meu bebê... – ela repetia para si mesma. – Preciso encontrá-la.

– Rose se acalme, filha – implorou Esme quando a enfermeira se aproximou para ajudá-la. – Você vai acabar estourando os pontos da cirurgia. Por favor, meu bem, fique calma. Meu Deus... – sussurrou para si mesma, não aguentando ver a filha naquele estado de dor e desespero.

– Eu quero minha filha aqui comigo... Por favor, façam alguma coisa.

As mãos de Rosalie alcançaram o pé da barriga, no local da cesariana. Uma dor diferente começando a crescer para se unir a maior dor de sua vida, a dor de perder um filho.

Outra enfermeira entrou no quarto, trazendo na mão uma seringa. No mesmo instante Rosalie soube o que ela pretendia fazer, e se recusou.

– Eu não quero dormir... – as palavras soaram desesperadas, se confundindo aos soluças causados pelo choro.

Esme já não conseguia segurar as lágrimas e se condenava por se mostrar fraca diante a filha, que sofria a dor de perder seu bebê poucas horas depois de dar a luz.

– Por favor, meu bem, você precisa se acalmar – dizia Esme.

– Porque vocês não entendem... – Rosalie se lamentou em meio ao pranto. – É o meu bebê... Minha Lexie. Ela tem apenas algumas horas de vida, e já a arrancaram de mim...

Rosalie sentiu, pouco a pouco, as forças se esvaírem. Um cansaço repentino obrigando seus músculos cederem. As pálpebras pesarem. Em seu rosto estava estampada à dor e o desespero. Lágrimas que rolavam como na nascente de um rio, traçando o caminho suave até despencar na fronha do travesseiro.

Antes de ceder aos efeitos do sedativo, de coração partido, abrindo e fechando os olhos em uma luta árdua, Rosalie encostou as mãos à barriga e sussurrou.

– Foi ele mamãe. Foi o Richard...

Vendo a filha ceder aos efeitos do sedativo, Esme não conseguiu mais se manter de pé. Buscou uma cadeira que havia perto da cama hospitalar onde sentou e se deixou desabar afetada pela dor que também se tornara sua.


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Notas finais do capítulo

Não se esqueçam de comentar :)
Digam o que acharam. Estarei esperando, combinado?
Beijo, beijo
Sill