Saint Seiya - Star Army escrita por Greed the Ambitious


Capítulo 3
O primeiro “encontro” – Batalha contra as Deusas Veneradas


Notas iniciais do capítulo

Acabei demorando um bocado (a queda do Nyah! não ajudou muito), mas finalmente está aqui o terceiro capítulo de Star Army. Boa leitura!



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2204. Oito meses antes da luta entre Simas, Bayard e Benjamin.

Garanhuns, Pernambuco, Brasil.

Uma cidade bem conhecida em seu estado, mas relativamente desconhecida no resto do país, e ainda mais a nível mundial. Apesar da falta de reconhecimento global, a cidade, que graças ao clima frio e ameno, em pleno nordeste brasileiro, é conhecida como “Suíça Pernambucana”, é um centro turístico respeitável, especialmente nos meses de inverno, onde já há mais de duzentos anos é celebrado um evento de festa, música e dança, que atrai uma multidão de pessoas sedentas por diversão, farra e alegria. O Festival de Inverno de Garanhuns é sempre um dos eventos mais aguardados do agreste meridional de Pernambuco.

No entanto, não estamos nos meses de inverno, e a cidade encontra-se no seu estado usual de “pacata movimentação intensa”, típica dos centros urbanos que nem são tão pequenos, nem tão metropolitanos. Apesar de a vida seguir normalmente, os ânimos dos habitantes estão agitados. Uma série de assassinatos vem ocorrendo nas cidades vizinhas, em condições misteriosas, e com pessoas extremamente aleatórias e não relacionadas. Três vítimas são encontradas por cidade a cada noite que passa, e em Garanhuns, esses assassinatos ocorreram há três dias. E tudo aponta para a participação de três assassinos, devido ao padrão que rege o modo de matar. A polícia não tem uma pista sequer dos supostos serial killers, e as notícias sobre o caso nos jornais nunca são agradáveis.

Mas essa situação está pra ser resolvida muito em breve.

Num dos prédios da cidade, onde funcionava o necrotério da polícia, um casal de jovens caminhava pelos corredores acompanhados de um funcionário do local, que os guiava de sobrancelhas franzidas. Eles se dirigiam para a sala onde estavam os corpos das vítimas de assassinato dos últimos dias.

—É aqui – diz o funcionário, parando ao lado de uma das portas do corredor. Após digitar uma senha num painel e de passar pela identificação de um scanner de retina, a porta se abre, e os três entram no necrotério.

—Oh, boa tarde – cumprimenta um androide que se encontrava dentro da sala. — Dr. Siqueira, chegaram três pessoas.

—Quem é depresssa vez? Só espero que não estejam trazendo mais um corpo. Já estou com trabalho demais nesses dias – ouviu-se dizer uma voz de uma sala mais adentro do necrotério.

—Dr. Siqueira, essas crianças dizem que são agentes enviados para investigar o caso dos assassinatos em série... – anuncia o guia dos jovens.

—Como é? Crianças? – responde o tal doutor, atravessando algumas cortinas que levavam à outra sala. Tinha uma barba rala por fazer, e olheiras indicavam que não dormiu muito nos últimos dias.

—Será que podiam parar de nos chamar de crianças? Pelo menos adolescentes, caramba... – reclama um dos jovens, uma garota de cabelos castanhos. Seu português tinha um sotaque de Portugal.

—Menos exaltação, por favor... – sugere seu parceiro num cochicho, falando com um sotaque levemente italiano. Ele se volta então para falar com o médico legista. — Nós somos os agentes especiais enviados pelo Santuário da Grécia. Eu sou Lynx, e essa é a minha parceira, Eridanus.

—O Santuário?

O garoto ergue uma espécie de distintivo, marcado com um desenho circular que lembrava um pássaro, o símbolo de Nice, a Deusa da Vitória. Esse era o símbolo pelo qual o Santuário era reconhecido no mundo das pessoas comuns. Embora os detalhes sobre a Confraria dos Cavaleiros do Zodíaco não fossem conhecidos pelas pessoas, as organizações governamentais, policiais e militares conheciam o Santuário como uma organização investigativa secreta, que agia pelo mundo resolvendo casos misteriosos que, não fosse essa intervenção, ficariam sem solução. E geralmente, a baixa idade dos “agentes especiais”, os Santos, que geralmente eram jovens adultos, adolescentes e até crianças, não era um fato muito conhecido, o que sempre gerava espanto.

Lynx era um jovem rapaz de 19 anos. Tinha cabelos pretos cheios, que caíam numa franja à frente dos olhos, de modo que geralmente só se podia ver um de seus olhos, num tom chamativo de vinho. Mechas de seus cabelos também eram coloridos da mesma cor de seus olhos. O rosto belo aparentava calma, dever e tranquilidade. Ele carregava um anel com uma joia desbotada, sem brilho, no dedo indicador da mão direita.

Sua parceira, Eridanus, era uma garota mais jovem que ele. Tinha 17 anos, olhos castanhos e cabelos da mesma cor amarrados em dois rabos-de-cavalo. Mascava violentamente um chiclete, e olhava para os lados com uma expressão aborrecida, como se estivesse entediada. Tinha pulseiras com espinhos nos dois braços, e sua joia, de cor verde, estava incrustada num dos prendedores de cabelo que usava nos rabos-de-cavalo.

—Muito bem... O caso dos assassinatos em série, não é? – pergunta retoricamente o Dr. Siqueira, enquanto o homem que havia levado os Santos até o necrotério se retirava. — Eu não sei como pessoas tão jovens como vocês estão trabalhando num caso como esse, mas se são mesmo agentes do Santuário... Sherlock, mostre os corpos a eles.

—Entendido, Dr. Siqueira – responde o androide.

—“Sherlock”? – pergunta Lynx, com um sorriso. Não tinha a intenção de debochar, apenas achou curioso.

—O que, é tão estranho assim eu gostar de velhas histórias de detetive? – responde Siqueira, com o mesmo sorriso.

Sherlock, o robô, vai até um painel numa das paredes. Após apertar algumas teclas, uma das paredes do local se abre, e passam através dela três enormes cápsulas criogênicas, trazendo os corpos dos indivíduos assassinados misteriosamente naquela cidade três dias atrás. As cápsulas se colocam horizontalmente à frente de Lynx e Eridanus, e Siqueira se une a eles, apertando alguns botões em cada uma para abri-las.

Os Santos são apresentados ao primeiro dos cadáveres. Era um sujeito bastante gordo, obeso. Possuía horríveis marcas de queimaduras pelo corpo todo, que haviam provavelmente sido a causa da morte.

—Este é Fabiano Gouveia de Sá – apresenta Sherlock. — Causa da morte: profundas queimaduras de terceiro grau pelo corpo inteiro, que destruíram vários dos órgãos internos. Foi encontrado morto em seu quarto, logo após terminar de jantar. No quarto, nenhum tipo de objeto incendiário foi encontrado, nada que pudesse ter causado esses ferimentos. Além disso, as outras pessoas da casa não ouviram nada de estranho, e só perceberam a morte quando ele já estava nesse estado. E isso é algo que se repete em todos os assassinatos.

—Parece que era um sujeito bastante guloso – comenta Eridanus, num tom depreciativo.

—Ah, não tenha dúvidas – confirma Siqueira. — Gouveia estava sempre dando banquetes, fazendo festas e churrascos, e convidava toda gente. E nessas festas, todos sempre viam o quanto o infeliz era comilão. Não era um sujeito agradável, a maioria das pessoas não gostava dele, exceto pelas festas que dava.

Lynx e Eridanus trocaram um olhar, como se tomassem nota daquilo. Alguns passos e eles eram apresentados ao segundo cadáver.

—Este é Salvador Lucas de Andrade – continua o robô. — Não sabemos exatamente o que causou sua morte, mas foi encontrado morto em um beco escuro próximo dos cabarés... A genitália foi completamente destroçada, como podem ver... – realmente, havia uma grande ferida na região das partes íntimas do cadáver, e os órgãos genitais haviam sido decepados. — Além disso, os tímpanos também estavam severamente danificados.

—Assim como os encontrados nas outras três cidades – comenta Lynx, em voz alta. — Ele era casado, não é? Mas ainda assim estava na área dos prostíbulos. Suponho que o terceiro morto também tenha marcas de chicotadas por todo o corpo, estou certo?

Nesse momento, Siqueira e Sherlock se encaram por um instante, e qualquer dúvida que tinham sobre a identidade dos jovens desapareceu. A imprensa não havia divulgado nada sobre as causas de morte ou o estado dos corpos das vítimas, e tudo que se sabia era o que se comentava boca a boca. Se esses jovens sabiam que nas outras cidades onde os assassinatos ocorreram também havia esse padrão – um corpo queimado, um corpo com a genitália e os ouvidos destruídos e um corpo morto a chicotadas – é porque haviam visitado os necrotérios em todas elas.

—Sim, exatamente... – responde o médico. — Luciano Rodrigues da Silva. Era um marginalzinho delinquente, traficante e usuário de drogas, desses que nem a família aguenta. As pessoas diziam que ele já tinha apagado muita gente que devia dinheiro a ele, mas nunca arranjaram provas de nada. Volta e meia ele era preso, mas os advogados sempre conseguiam tirá-lo da cadeia.

—Onde ele foi encontrado morto? – pergunta Eridanus, mostrando um mínimo de interesse na voz.

—Esse foi o caso mais fora do comum – responde Sherlock. — Estava jogado no meio da rua, já no estado em que se encontra. E quando os moradores foram interrogados, todos alegaram não terem ouvido nada. Em todos os casos, os assassinatos ocorrem em lugares onde há pessoas em volta, mas todos dizem não ouvir nada, e só se dão conta da morte quando acham o corpo.

—Muito bem... – comenta Lynx. — Acho que não precisamos de mais nenhuma informação. Despedimos-nos aqui, Dr. Siqueira, Sherlock... E posso garantir, esses assassinatos não ocorrerão novamente esta noite.

—Mas como vão identificar os criminosos dessa forma? Ninguém tem a menor pista sobre isso!

—Confie em minha palavra, doutor. Obrigado pela ajuda.

Os dois jovens se dirigem à porta, que se abre sozinha para a passagem deles, sob os olhares confusos de Siqueira e Sherlock. Depois de deixarem o prédio sem dizerem uma única palavra, Eridanus cospe o chiclete no chão e finalmente se dirige ao parceiro, falando em grego.

—Caramba, Lynx, a gente precisava mesmo ter vindo pra cá? Poxa, depois de Venturosa, Correntes e Caetés, já dava pra prever que o resultado em Garanhuns seria o mesmo...

—Sim, Eridanus, eu sei... Mas eu preferia confirmar tudo novamente.

—Não me diga que a gente vai continuar seguindo a estrada até São João e Angelim, não é? Os corpos devem estar nas mesmas condições...

—Não, creio que não vai ser necessário. Em todas as cidades, há um sujeito morto a queimaduras, um com a genitália e os ouvidos destruídos, e um morto a chicotadas. O primeiro é sempre alguém de moral duvidosa, ou ligado a alguma grave falta moral, como a gula, no caso de Gouveia... O segundo é sempre um sujeito casado, mas infiel, encontrado perto de algum prostíbulo ou na casa da amante... E o terceiro é sempre um assassino, ou alguém suspeito de assassinato. E todos eles morrem enquanto estão sozinhos em algum lugar, mas sempre há pessoas por perto, que não escutam nada até verem o corpo do morto.

—E também há rastros quase imperceptíveis de Cosmo em todos os corpos. Provavelmente, os assassinatos que aconteceram em São João e Angelim, que são as próximas cidades, também possuem essas mesmas características. Então, hoje à noite, elas vão atacar a próxima cidade, Canhotinho?

—Sim, se continuarem mudando de cidade com essa mesma linearidade.

—Muito bem. Com essas informações, já podemos deduzir quem são... Mas como a gente vai pegar as malditas, Lynx? Não podemos sentir o Cosmo de ninguém na região, elas provavelmente não estão aqui. Como vamos localizar as três?

—He he... Eu já tenho um plano, deixe comigo. A gente tem algo mais importante pra resolver agora...

—Hã? O que é mais importante que a missão?

—Os assassinatos só acontecem à noite, sempre às 19 horas. Siqueira não nos informou nada sobre isso, mas podemos deduzir pelos outros assassinatos. Então não precisamos nos preocupar com a missão até esse momento.

—Sim... E daí...?

—He he... E daí que temos a tarde livre, Eridanus – responde Lynx, com um sorriso. — Não... Seu nome é Serena, a Sacerdotisa, não é?

A garota estranhou aquilo. Onde necessariamente ele queria chegar?

—Sim. Serena de Erídano. E você é Raphael de Lince, um dos quatro Santos Especiais. Já conheço a sua fama.

—A gente não se apresentou devidamente até o momento. Prazer em conhecê-la, Serena — Raphael estendeu a mão para a garota, que continuava sem mostrar reação.

Não era uma cena incomum. O Santuário enviava Santos em missões para várias partes do mundo. Não era difícil haver Santos que não se conhecem sendo enviados juntos em missão. Mas no geral, esses Santos não se aproximam de Serena. A garota é bastante irritadiça, sombria, e poucos gostavam de sua companhia. Seus únicos amigos são os membros do “grupo especial” formado por alguns Santos no Santuário, a Armada Estelar, do qual ela também faz parte, e algumas poucas pessoas no Salão do Patriarca, onde passava boa parte do tempo como Sacerdotisa. Portanto, a amabilidade do parceiro a surpreendeu.

—Prazer em conhecê-lo... – responde ela, no mesmo tom mórbido de sempre. — Então, o que exatamente você quer dizer com “temos a tarde livre”?

—A missão pode esperar, nesse momento. Você mesma disse que a gente não tem necessidade de verificar as outras duas cidades, e eu concordo com isso. Então, por que não aproveitamos essa cidade pelo resto do dia, como turistas comuns? – Raphael não tirava o amigável sorriso do rosto.

—Nós somos Santos... Não somos humanos comuns, Lynx.

—Raphael, por favor. E oras, qual é o problema? O que você vai ficar fazendo até a hora chegar? Vamos lá, Serena, não seja tão dura consigo mesma.

“Qual é a desse cara? Ele é aquele mesmo Raphael de Lince que dizem cumprir todas as suas missões com absoluta perfeição?”

Serena continuou em seu lugar, impassível. Mas enquanto encarava o sorriso do parceiro, percebeu que realmente não havia outra saída. Eles estavam completamente desocupados, e não poderiam agir até as 19h. Ainda incomodada com o jeito amigável de Raphael, Serena aceitou o convite.

—Parece que não tem jeito mesmo... Vamos lá, Ly... – ele desmanchou o sorriso, fazendo um rosto decepcionado. — Raphael... – o sorriso retornou ao rosto do garoto. Por algum motivo, que Serena não conseguiu identificar, ela gostou daquilo.

Não fizeram muitas coisas, na verdade. Caminharam pelas ruas, cumprimentaram pessoas que passavam por eles, admiraram o famoso Relógio das Flores que ficava na entrada da cidade, visitaram alguns dos parques, como o Euclides Dourado, e por fim, assistiram a um filme juntos no cinema da cidade. Longe de se incomodar com o programa, Serena estava apreciando aquilo. Apesar de não estar falando muito, aquele tempo longe das batalhas parecia estar fazendo bem à garota, que não conhecia uma vida humana normal. Mas ainda a incomodava o fato de Raphael estar sendo tão amigável com ela.

A hora se aproximava. Raphael decide parar numa sorveteria antes de voltarem à missão.

—... Por quê? – murmura Serena, vagamente, num tom de voz quase inaudível, enquanto terminavam seus sorvetes.

—Como...? – pergunta Raphael de volta, sem entender.

—Por que você aprecia tanto essa “vida comum”? Faz isso sempre, em todas as missões? – Serena queria perguntar por que ele estava sendo tão amável com uma desconhecida, e ainda mais uma de má fama, mas preferiu sanar outra dúvida ao invés.

—Quem me dera – responde o jovem. — Acho que é a primeira vez em uns quatro ou cinco meses que tenho tempo pra fazer isso.

—Mas por que você gosta tanto disso? Nós somos Santos de Atena, não podemos ter uma vida normal... Você não devia se conformar com isso, ao invés de ficar nessa ilusão temporária de que é uma pessoa comum? – pergunta Serena. Apesar do tom acusatório, ela não tinha a intenção de ser rude desta vez. No geral, ela não fazia questão de ser uma pessoa agradável, mas esse garoto despertou seu interesse por algum motivo.

—É, você tem razão. Não é a primeira a me dizer isso, na verdade – confessou ele com um sorriso amarelo. — Mas sabe o que é... Eu vivia feliz na Itália, como uma pessoa comum, até os 13 anos, mas resolvi me tornar um Santo porque eu queria proteger o direito das pessoas de terem essa “vida normal”... Sem a intervenção dos deuses ou de qualquer outro ser desse tipo... Essa é justamente a filosofia de Atena, então eu me identifico bastante com minha missão como Santo, e tenho orgulho dela. Mas... Eu acho injusto não poder também usufruir dessa vida que eu ajudo a manter...

Serena continuou observando o garoto. Até o momento, achava que podia entender o que ele queria dizer, apesar de não ser por experiência própria.

—Não é estranho? Tenho plena convicção de que desejo continuar em minha missão, e sei que pra isso, tenho que abandonar uma vida normal. Mas ao mesmo tempo, eu quero viver essa vida, que sei que nunca poderei ter... É por isso que, quando surge qualquer oportunidade como essa, eu resolvo me entregar à normalidade... Esquecer que sou um Santo, mesmo que apenas por algumas horas...

—Eu... – começa Serena. — Eu nunca tive uma “vida normal” como a que você teve... Fui encontrada ainda pequena pelo mestre Virgílio, que me adotou, e fui treinada para me tornar um Santo desde que consigo me lembrar. Então, eu não sei exatamente o que é viver como uma humana normal. Sempre que me “fingia de gente”, era como parte de uma missão. Mas hoje... Depois de passar essa tarde com você, de sentir a tranquilidade que é estar longe das batalhas... Eu acho que posso entender esse seu desejo. Deve ser difícil viver sabendo que não pode alcançar o que deseja...

—Sim, às vezes pode ser bastante difícil. Mas eu acho que a minha missão compensa o sacrifício. Ainda mais porque eu posso me dar ao luxo de apreciar essas pequenas ilusões de vez em quando... – Raphael risca o ar com uma caneta imaginária, pedindo a conta à garçonete do lugar. Os jovens pagam os sorvetes, e então, deixam o prédio. Assim que colocam o pé na calçada, Lince se vira para a garota, com o sorriso que já parecia ser uma expressão permanente em seu rosto. — Obrigado, Serena. Por ter vivido essa ilusão comigo hoje.

Serena continuava sem saber o porquê daquilo. Que gratidão toda era aquela? Ela quase não fez nada a não ser acompanhá-lo, e apesar de ter realmente se sentido bem durante esse tempo que passaram juntos, não era como se tivesse feito tanto assim.

—Por que você... é tão gentil assim comigo? – pergunta Serena, finalmente. — Eu não tenho boa fama no Santuário... Não acha que pode prejudicar a sua reputação? Ou quando voltarmos pra Grécia, vai simplesmente me ignorar?

—Ha ha! Ora, o que é isso! Claro que não! – responde Raphael. — Não podemos ser amigos, Serena? E qual é essa de “ferir a reputação”? Que eu saiba, você faz parte daquela “Armada Estelar”, e até o Simas de Cinzel faz parte dela também. Vocês dois não são muito queridos pelos outros, e mesmo assim, a Armada é respeitada e tem boa fama. Que mal andar com você poderia fazer?

Serena não respondeu. Continuava a encarar o rosto do parceiro.

—Além disso... Eu sei que toda essa aparência rude que você usa é só uma máscara. Eu pude ver seu verdadeiro eu durante essa missão.

Aquilo sim, incomodou profundamente Serena. Ora, ele a estava acusando de falsa agora?

—Oh sim? Muito bem então. Depois não reclame quando passarem a te olhar torto, Lince – diz a garota, voltando à personalidade agressiva original. — Bom, tá quase na hora. Não devia me contar seu plano agora?

Raphael ainda sorriu por mais alguns instantes, mas logo voltou a mostrar o olhar sério que tinha antes de saírem do necrotério.

—Sim. Vamos lá – Raphael se virou e começou a caminhar na direção de lugar nenhum. Serena o seguiu. — Seu mestre era Virgílio de Câncer, não é? Você é um Santo... Não, uma Sacerdotisa que consegue controlar a força do Aglomerado do Presépio de Câncer, o poder do controle sobre as almas. Certo?

—Isso mesmo – responde ela, ainda o seguindo.

—Hoje em dia, não há qualquer passagem que leve diretamente do mundo dos vivos ao mundo dos mortos. Portanto, as únicas maneiras de atravessar de um mundo para o outro são morrendo ou cruzando as dimensões a partir da Colina da Fonte Amarela, Yomotsu Hirasaka. Certo?

—Certo. Aonde quer chegar? – pergunta Erídano, ainda sem entender muito bem.

—Como você mesma disse, não podemos sentir o Cosmo daquelas três. Portanto, eu imagino que elas estejam neste momento no Submundo, e só venham para o mundo dos vivos na hora de cometerem seus assassinatos.

—Então, você quer interceptá-las quando elas aparecem no Yomotsu Hirasaka?

—Exatamente. Mas preciso de algumas explicações antes. Você só pode enviar nossas almas para o Yomotsu. Certo?

—Sim, não consigo enviar o corpo junto. Meu mestre pode abrir portais dimensionais e enviar o corpo também, mas eu só posso separar a alma.

—Muito bem... – Raphael estava desconfortável com a ideia de separar sua alma de seu corpo, mas já esperava aquela resposta. — Ainda podemos queimar nossos Cosmos se estivermos lá apenas em forma de espírito, não é?

—Sim. As técnicas do Presépio separam corpo e alma, mas não matam o alvo permanentemente. Então, a nossa alma continua fracamente ligada ao corpo. Ainda podemos acessar os sentidos de nosso corpo, e isso inclui o Cosmo.

—Muito bom. Nossas Vestimentas Sagradas também são enviadas ao Yomotsu?

—As Vestimentas dos Santos também têm vida própria, então eles também são enviados em forma de espírito para a Colina.

—Ótimo, tudo dentro do que eu imaginei – Raphael checa o relógio em seu pulso. 18h50min. — Tá quase na hora. Acho que está no tempo de agirmos.

—Muito bem. Mas já lhe digo que a sensação não é nem um pouco agradável.

Raphael hesitou um pouco, e então engoliu em seco. Já tinha ouvido falar daquilo.

—É uma pena, mas tem que ser feito.

Os dois se aproximam de um banco de praça. Depois de se sentarem, Serena estende sua mão esquerda para Raphael, sem olhar nos olhos dele – na verdade, forçosamente olhando para o lado oposto. Raphael sorri, e segura sua mão. A garota então ergue o dedo indicador direito, elevando seu Cosmo. Uma luz fosforescente é emanada de seu dedo, e envolve os corpos dos dois jovens, enquanto Erídano anunciava sua técnica.

Presépio: Ondas do Submundo.


Yomotsu Hirasaka. O mundo que separa a vida e a morte.

Nessa dimensão, o céu é uma negrura sem nuvens, sem luzes, sem fim. Tudo o que você pode enxergar à sua volta é um terreno rochoso que se estende além do que o olho humano alcança, interrompido apenas por numerosos abismos, cujo fundo é preenchido com lava fervente. Este é o mundo onde vão parar as almas dos humanos assim que eles morrem.

E é aqui que elas estão. Filas infinitas de almas caminham todas juntas, rumando numa única direção: o topo da colina, onde se encontra uma enorme cratera sem fundo. Esse poço leva diretamente ao Submundo, o destino definitivo das almas. Lá elas serão julgadas, e receberão o tratamento justo. No meio dessas almas perambulando, existem também pessoas que não morreram, mas se encontram no limiar da vida e da morte, em coma, ou feridos mortalmente... Enquanto seguem em sua marcha, essas pessoas podem voltar à vida, mas se caírem no poço das almas, apenas a força de um deus poderia ressuscitá-los.

No entanto, um evento incomum acontecia neste momento.

Contrariando a ordem natural daquele mundo, três figuras aladas surgiram, voando para fora do poço das almas. Sua velocidade não permitia que se visse quem eram, e de qualquer modo, as almas apáticas do Yomotsu não lhes dariam nenhuma atenção, continuando em sua marcha para o País dos Mortos. Prosseguiam em seu voo, se dirigindo com afinco ao limiar daquela dimensão, procurando a fenda que permitiria que passassem para o mundo dos vivos. Essa fenda se encontra localizada no Aglomerado do Presépio da Constelação de Câncer, que era ligado diretamente com esta dimensão.

Mas as feras aladas não atingiriam seu objetivo novamente esta noite.

Flechas do Lince!

Vindas não se sabe exatamente de onde, flechas de vento foram atiradas contra as figuras aladas. Para não serem atingidos, os vultos detiveram seu avanço.

—Quem ousa se colocar em nosso caminho?! – exclama uma das três assassinas. Ao ouvir essa pergunta, outras duas figuras se fazem mostrar, encarando-as à distância.

—Já que perguntaram, temos o dever de nos apresentarmos – responde uma jovem voz masculina. — Nós somos os protetores da paz, do amor e da justiça na Terra.

—Rasgamos o céu com nossos punhos e abrimos a terra com nossos chutes, fazendo explodir o Cosmo dos nossos corações... – continua um voz feminina. E então, as duas vozes, em uníssono, completam:

—Somos os Sagrados Cavaleiros do Zodíaco!

Trajando sua Vestimenta, o jovem rapaz tinha o peitoral, a cintura, seus braços, joelhos e tornozelos protegidos por peças de uma cor azul bastante escura. Braceletes adornavam a dobra dos cotovelos, e outras peças se encontravam em suas coxas. A tiara que usava na cabeça lembrava orelhas felinas, e suas ombreiras tinham a forma de patas de fera.

A Vestimenta da garota protegia-a quase da mesma maneira, exceto pelas peças nas coxas e cotovelos. A Armadura era de um tom azul claro com alguns detalhes em branco, e o que certamente mais chamava a atenção era a tiara, que possuía chifres semelhantes aos de um carneiro descendo pelos lados do rosto. As roupas não se estendiam para além da área que a Armadura protegia, exceto por meias altas que iam até a metade das coxas, e um pouco de tecido que descia da região do peitoral. Isso deixava a pele de seu abdome e a metade superior das coxas à mostra.

—Eu sou Raphael de Lince, Santo Especial da constelação do Gato Selvagem – apresenta-se o rapaz.

—E eu sou Serena de Erídano, Sacerdotisa de Bronze da constelação do Rio dos Mortos – introduz-se a garota.

—Os Cavaleiros do Zodíaco... Ha! Os humanos que desde os tempos mitológicos enfrentam os deuses em nome da Deusa Atena? – pergunta uma segunda assassina.

—E vocês são as Erínias... As Três Deusas da Vingança – responde Serena. — Assim como suspeitávamos.

As três mulheres aladas olhavam para os dois Santos com um olhar de profundo desprezo. Essas entidades já não eram queridas pelos deuses, e também pouco faziam questão de seu respeito. O ódio pelos humanos, comum a boa parte dos deuses, era ainda mais forte nessas criaturas, que desde tempos imemoriais castigam as almas humanas no Submundo.

As três Erínias possuíam a aparência de mulheres humanas. Estavam vestindo trajes metálicos, como os dos Santos. Porém, ao contrário das sagradas armaduras dos guerreiros de Atena, que eram construídas com oricalco, gamânio e pó de estrelas, as vestes das deusas pareciam ser feitas com as joias do Submundo, apresentando um brilho tenebroso, sombrio.

“Sobrepelizes... As armaduras dos soldados de Hades”— identifica Raphael.

As três estavam nuas por debaixo das Sobrepelizes, que na verdade, cobriam muito pouco de seus corpos. Botas que cobriam até seus joelhos, deixando suas coxas à mostra, e uma proteção pélvica. Proteções nos braços que iam até a dobra do cotovelo, e uma cobertura nos seios. Dessa peça do tórax, saiam pelas costas grandes asas de morcego, que batiam constantemente, mantendo as Erínias no ar. Completando a armadura, uma tiara com desenhos estilizados de serpentes. Essa baixa proteção se dava provavelmente porque essas entidades, apesar de sua natureza divina, não costumavam se envolver em combate com seres poderosos, não tendo necessidade de uma maior defesa.

—O que vocês fazem agindo no mundo dos vivos? Vocês não eram entidades que puniam os mortos no Submundo? – pergunta Raphael.

—Como ousa questionar-nos, humano? – pergunta a terceira das mulheres. — Vamos, irmãs, vamos matar esses Santos e seguir em frente!

—Tenha calma, Alecto... Não precisamos ser assim tão rudes – responde a segunda que havia falado anteriormente. — Não estou certa, Tisífone?

—Sim, Megaira... Não há pressa. Não estávamos mesmo querendo chamar alguma atenção com esses assassinatos? Aqui temos dois Santos de Atena. Por que não aproveitar isso?

—Grr... – Alecto parecia extremamente desconfortável com essa situação. Mal podia esperar para matar novamente.

Alecto tinha cabelos curtos, chegando ao seu pescoço, numa cor ruiva extremamente chamativa. Seu rosto demonstrava irritação, e ela olhava furiosamente para os dois Santos que estavam à sua frente, com dois olhos que pareciam brilhar como as próprias chamas do inferno. Megaira possuía longos cabelos verdes cacheados, que lhe caiam até as costas. Seus olhos também eram verdes, de um tom encantadoramente brilhante, mas ameaçador. Carregava um sorriso fatal no rosto, assim como sua irmã, Tisífone. Esta tinha cabelos lisos e compridos que desciam até seus ombros, no mesmo tom preto de seus olhos.

—Em breve encontraremos vocês novamente no Mundo dos Mortos, crianças... Mas vamos conversar um pouco antes de mandá-los para lá – começa Megaira.

—Sim, é verdade que nós três éramos encarregadas de punir almas no Submundo governado pelo Imperador Hades, desde os tempos mitológicos – continua Tisífone. — No entanto, dois séculos atrás, o Imperador foi morto, justamente por Santos de Atena como vocês.

—Depois disso, aconteceu um caos no Submundo... – prossegue Alecto, ainda encolerizada. — E quando Kali assumiu o lugar, após o acordo feito com Atena, ela o reescreveu completamente!

—O Mundo dos Mortos deixou de ser um local dedicado ao sofrimento eterno... – retoma Tisífone. — As pessoas não eram mais simplesmente julgadas por seus maus atos. Os bons atos passaram a pesar também, e aqueles que eram considerados bons, recebiam bom tratamento no Submundo...

—E mesmo o sistema de punições foi reescrito. E adivinhe só? Não sobrou lugar para nós! – grita Alecto. — Por mais de duzentos anos, estamos vivendo sem propósito, esquecidas naquele mundo de escuridão!

—Então, ficaram entediadas e resolveram voltar a fazer o seu trabalho, dessa vez, no mundo dos vivos... – conclui Raphael. — Se me lembro bem, na mitologia, Alecto, a Implacável, era encarregada de punir os delitos morais; Megaira, a Rancorosa, punia a infidelidade e os delitos contra o matrimônio; e Tisífone, a Castigadora, era a vingadora dos assassinatos. Isso bate perfeitamente com as vítimas.

—Então, agora que seus pecados podem ser perdoados depois da morte, vocês se julgam no direito de punirem os humanos antes dela? – indaga Serena. — Acho que não precisamos dizer que vocês vão pagar por isso, não?

—Quem são vocês, crianças, para julgarem a nós, que somos deusas? – pergunta Megaira, em tom autoritário. — Nós somos as Vingadoras, as Deusas Veneradas. Nascemos para punir os pecadores, e se nossa função nos foi negada no Submundo, nós a exerceremos no mundo dos vivos.

—Nem mesmo os 12 Olimpianos ousam se colocar em nosso caminho. Vocês acreditam mesmo que crianças poderão fazer algo contra nós? – continua Tisífone.

—Já chega de conversa, Megaira, Tisífone! Vamos acabar com eles de uma vez!! – brada Alecto.

—Sim, sim, já conseguimos a informação que queríamos... E o tempo que precisávamos também – comenta Raphael.

—Tempo? Do que está falando? – indaga Megaira. Um sorriso debochado vindo de Serena faz com que as atenções das Erínias se voltem para ela.

—“Deusas Veneradas”? Faça-me um favor... “Grandes retardadas”, isso sim. Ainda não olharam à sua volta?

Só então as três Erínias se dão conta. Havendo abandonado a enorme fila dos mortos, vários zumbis se encontravam circundando as três deusas.

—Mas o que é isso? – pergunta Tisífone, espantada.

—Eu os chamei aqui com o meu Cosmo... – explica Serena. — Esses são aqueles sobre os quais vocês aplicaram sua “justiça divina” – continua ela, fazendo aspas com os dedos e falando em tom de ironia.

—As pessoas que nós assassinamos nos últimos dias?

—A luta começa agora! – Serena ergue o braço e estala os dedos. Todos os mortos se transformam em seguida em cópias exatas de Raphael e Serena. Vários Linces e Erídanos circundavam as três Deusas da Vingança.

—É uma ilusão!

—Saber que é uma ilusão não vai ajudar em nada! – disse Raphael.

Imediatamente, os zumbis transformados passaram a correr aleatoriamente ao redor das três deusas, sendo controlados pelo Cosmo de Serena. Os dois Santos verdadeiros também saltaram para dentro daquela ciranda macabra, correndo desordenadamente, confundindo as belas e mortíferas mulheres. Sem dar tempo pra pensar, Raphael atinge Alecto em cheio. O corpo do Santo de Lince estava envolto numa energia branca, semelhante à presa de um animal, e envolto nessa energia, ele havia golpeado a Implacável com um forte soco nas costas, lançando-a longe.

Colmilho de Prata!

—Alecto! – gritam as outras duas Erínias, espantadas, enquanto sua irmã caía longe no chão, aparentemente desacordada.

—Quem será a próxima? – pergunta Raphael em tom de ironia, voltando a se juntar à dança fúnebre.

—Está brincando conosco? Coloque-se no seu lugar, humano! – brada Megaira, erguendo o braço. Um choque de energia, semelhante a ondas sonoras, espalhou-se a partir da mão levantada, e as ilusões se desfizeram. Os mortos voltaram à sua aparência de zumbis, e Raphael havia sido descoberto. — Aí está você...

—É claro... Vocês também são mestras em ilusões. Afinal de contas, precisam delas para mascararem seus assassinatos, encobrindo o som dos gritos das vítimas...

—A brincadeira acabou, moleque. Prepare-se para a punição – ameaça Tisífone, fazendo surgir um chicote em suas mãos.

—Espere, onde está a outra? – pergunta Megaira, dando pela falta de Serena.

—Aqui atrás – responde a Sacerdotisa. As Erínias se viram para encará-la. Erídano está envolta em uma energia brilhante, de cor branca fosforescente. Ela ergue os braços, e os zumbis parecem também envoltos em Cosmo, mas é uma energia sombria, escura.

—Isso é... miasma?

—Exatamente, Erínia. Miasma, a energia sombria e pútrida que emana dos cadáveres. Eu posso controlar essa energia, e utilizar os mortos como eu bem quiser.

Raphael havia ganhado uma chance de atacar as Erínias, que estavam no momento concentradas em Serena, mas ele mesmo estava paralisado diante daquele show do terror. O Cosmo de Serena controlava os espíritos dos mortos como marionetes, como uma titeriteira do submundo. Lince agradecia mentalmente por ter essa guerreira ao seu lado, ao invés de contra ele.

—Sua... Uma humana metida a senhora da morte? Como ousa!

—Experimentem o poder da morte! Declínio da Sepultura! – com um comando de mãos de Serena, a aura negra envolvendo os mortos é disparada violentamente como uma rajada na direção das Erínias, a quem rodeavam. O Cosmo negro do miasma então as joga bruscamente para o alto.

—Argh! Que técnica é essa?!

A energia que impulsionava as deusas para cima desaparece. Nesse momento, enquanto caem, seus corpos são envolvidos na sensação da morte. Centenas de espíritos lamuriantes as envolvem enquanto seus corpos despencam a uma grande altura.

—Tsc! Mais uma ilusão! Acham que truques como esses funcionarão para sempre?!

Em pleno ar, Megaira emana novamente uma onda de choque, acabando com a ilusão da morte. Ela e Tisífone então manobram no ar, batendo suas asas, e não chegam a tocar o chão, ficando a alguns centímetros da superfície.

—Droga, não funcionou...

—Insolentes Cavaleiros do Zodíaco, pensaram mesmo que as carcereiras do inferno se impressionariam com uma ilusão de morte?!

—Então, eu vou dar a você a verdadeira morte! – Serena eleva seu Cosmo, assim como os zumbis, e todos eles carregam uma esfera de energia negra em suas mãos. — Réquiem da Sepultura! – Erídano e os mortos todos disparam as esferas de energia negra contra Megaira e Tisífone, e uma grande explosão acontece – Eu consegui?

—Serena, cuidado!

A advertência de Raphael chamou a atenção de Serena, que percebeu suas oponentes sobre sua cabeça: elas haviam saltado e desviado do ataque anterior. Tisífone ataca Serena com o que parecia ser um chicote, e a Sacerdotisa salta para trás para não ser atingida. Megaira se dirige a Raphael, com suas mãos transformadas em garras afiadas, e o Santo também consegue se esquivar.

—Você vai pagar por esses ataques, garota insolente... Chicote Flagelador! – Tisífone movimenta seu chicote velozmente, e este se multiplica em várias tiras. Serena estava com dificuldades para se desviar daqueles ataques, e tinha que usar os mortos como escudo.

Megaira continuava a tentar atingir Raphael com suas garras, mas o garoto se mantinha saltando para longe, procurando abrir distância entre ele e sua oponente.

Flechas do Lince! – Raphael move seus braços, e uma infinidade de flechas de vento são disparadas na direção de Megaira, que facilmente as dispersa com o Cosmo de suas garras. — O quê?

—Pelo que percebi, você é um lutador de média distância, que ataca com técnicas de vento... Então! – Megaira bruscamente aumenta sua velocidade, aparecendo instantaneamente à frente de Raphael. — Garra da Penitência! – a Erínia desfere um poderoso ataque direto contra o Lince. No entanto, para sua surpresa, o Santo consegue bloquear o ataque facilmente, com seus punhos envoltos em chamas. — Mas o que é isso?

—Eu não sou só um expert em batalhas de média distância... Eu sou um bom lutador a curta distância também! Presas de Fogo! – Raphael inverte a situação anterior, passando a tentar socar Megaira com seus punhos em chamas. A Erínia começa também a revidar, e os adversários trocam socos e chutes, tendo todos os seus ataques bloqueados numa disputa equilibrada.

—Maldição... – pragueja Megaira.

—Vocês não parecem tão ameaçadoras... Parece que não costumam entrar em combate, não é?! – Raphael tenta um golpe mais forte, e apesar de Megaira conseguir defendê-lo, é arrastada alguns metros para trás.

Tisífone continuava a tentar golpear Serena, mas a garota conseguia se defender muito bem utilizando as almas como escudo.

—Não consegue nem mesmo atravessar uma parede de mortos? Que espécie de deusas são vocês? – debocha a Amazona.

—Ora, sua... Megaira! – grita a Erínia, chamando pela irmã, que se aproxima após sua luta de socos contra Raphael. — Ensine a esses Santos uma lição!

—Muito bem, Tisífone... A brincadeira acabou! Receberão seu castigo! Ópera Infernal!

Megaira encheu os pulmões de ar, e então, lançou um grito ensurdecedor. Não havia como se defender daquela técnica, e os dois Santos caíram no chão de joelhos, gritando de dor, tentando em vão tapar os ouvidos para se livrar daquele barulho.

“Então, é por isso que aqueles assassinados por ela tinham os ouvidos destruídos?!”

—Muito bem, Megaira... Vou castigá-los agora – anuncia Tisífone, imune ao golpe da irmã. — Chicote Flagelador!

A Erínia move o chicote contra Raphael, que no último segundo, conseguiu se esquivar, saltando para trás. No entanto, o barulho ensurdecedor continuava, e ele logo perde a postura de batalha.

—É inútil. Não poderá continuar se movendo dentro da técnica de Megaira. Não é mesmo, garota? – Tisífone ataca novamente, com sua arma multiplicada em várias tiras. Inúmeros chicotes atingem Serena, que é derrubada ao chão.

—Serena! – grita Raphael, quase sem escutar o som da própria voz. Megaira então para de gritar, e os dois Santos se sentem aliviados... Até descobrirem que não conseguiam se mover nem um único centímetro.

—Vejam só o estado de vocês... Paralisados como presas diante de um caçador... Dignos de pena, Santos de Atena...

—Não adianta falar com eles, Tisífone. Não podem ouvir uma palavra do que estamos dizendo.

De fato, a audição de Raphael e Serena estava completamente abafada. As vozes das deusas eram apenas ruídos secos, sem sentido.

—Minha Ópera Infernal ataca diretamente o seu sistema nervoso, impedindo você de realizar qualquer movimento. Uma técnica muito conveniente para uma assassina, não concordam, Santos? – terminando a sua explicação, Megaira ergueu as duas mãos, com as garras afiadas em seus dedos. — Garra da Penitência. Está na hora de vocês sentirem o que aqueles infelizes sentiram quando tiveram seus órgãos arrancados.

—Acha que vai ser tão fácil assim? – pergunta Serena. Apesar de não escutar, podia ler os lábios da deusa.

—Você sequer pode se mover, querida. O que pode fazer?! – enquanto dizia a última frase, Megaira golpeia Serena com suas garras, abrindo fendas no peitoral da Vestimenta e ferindo a Sacerdotisa.

—Vocês humanos deviam entender que não passam de brinquedos nas mãos dos deuses. Aprendam qual é o seu lugar! – Tisífone passa a golpear o corpo de Raphael com seu chicote, multiplicado em diversas tiras, causando danos na Armadura e no corpo do Santo indefeso.

—Tisífone... Megaira... Me deixem brincar um pouco também. – fala Alecto, aproximando-se.

—Oh, irmã... Ainda está viva?

—Que insolência, Megaira! Achou mesmo que eu poderia morrer daquela forma, com o golpe de um simples Santo de Atena? – a Erínia se vira para os dois Santos, que estavam inertes no chão. Tisífone e Megaira se afastaram, sorrindo. — Atacando por trás e me atingindo... Vou fazer vocês pagarem por essa humilhação! – as mãos de Alecto foram mergulhadas em chamas. — Tocha Implacável!

A Erínia Implacável golpeia velozmente o Santo de Lince caído, danificando bastante seu Traje, e também provocando queimaduras em seu corpo. Não eram ferimentos profundos, no entanto: Alecto parecia querer ver o jovem sofrendo bastante antes de matá-lo.

Serena observava aquela atrocidade com temor. Não porque temia ser a próxima, mas porque aquele que foi o primeiro a lhe tratar gentilmente à primeira vista, estava agora sendo torturado cruelmente. Com os olhos cheios de lágrimas e o coração cheio de fúria, a Sacerdotisa gritou ferozmente.

—Já chega! Pare com isso agora!

A Erínia parou de golpear enquanto virava o rosto lentamente na direção de Erídano, com um sorriso maléfico no rosto.

—E o que você pretende fazer? Sequer pode se mover, não é?

—Não preciso me mover pra lutar – responde ela, com o sorriso debochado de volta ao seu rosto.

Alecto estranhou, mas logo entendeu quando ouviu o grito de suas irmãs às suas costas. As duas, que estavam apenas observando a tortura que sua irmã aplicava ao Lince, haviam sido agarradas por dois zumbis cada uma, e outros dois rapidamente avançaram contra a Implacável, imobilizando-a e puxando-a para longe de Raphael.

—Maldita, ainda consegue controlar os mortos? – pergunta Tisífone, enquanto tentava se libertar.

—Eu posso controlar as almas com meu Cosmo... E também posso utilizar técnicas com elas. Não é como se eu precisasse lutar diretamente. Inclusive... Há uma técnica dos Santos das Almas que permite usar os espíritos dos mortos como pólvora, para provocar grandes explosões.

—O que disse?! – exclama Megaira, espantada.

Presépio: Funeral das Almas! – ao comando de Serena, aqueles espíritos que se encontravam agarrados às Erínias consumiram a energia de sua alma para causar uma explosão. As três deusas são arremessadas longe, com suas Sobrepelizes trincadas.

—Incrível, Serena... – parabeniza Raphael, com um sorriso. No entanto, ele arfava pesadamente, ainda sentindo dores terríveis. Serena sentiu pena do parceiro, mas logo refreou esse sentimento. Não devia sentir pena de um companheiro de batalha, devia ajudá-lo a se erguer, para que pudessem continuar combatendo em nome da justiça.

—De pé, Raphael – ordena a garota. Ela própria tentava mover seus membros, e se erguia lentamente, envolvida pela luz branca fosforescente de seu Cosmo.

—Mas como? Meu corpo tá completamente paralisado...

—Não, Raphael. Você não tem corpo. Somos apenas espíritos nesse mundo, lembra? – um estalo veio à mente de Lince. Ele havia se esquecido completamente daquilo. A dor, os golpes que estava recebendo, não estavam atingindo seu corpo. — Toda essa dor, esse efeito de paralisia, a surdez... Tudo isso está te afetando porque sua alma não está completamente desligada de seu corpo ainda. É isso que te mantém vivo e consciente, mas também pode ser inconveniente desse jeito...

—Mas então...

—Esqueça seu corpo. Esqueça que tem um corpo físico – Serena já se levantava. Sentia o “corpo” dormente, mas já havia recuperado seus movimentos. — Queime seu Cosmo. Não é explodindo a nossa energia interior que nós conseguimos superar os limites do corpo humano?

—He he... Tem razão... – o Cosmo prateado de Raphael o envolveu, e enquanto ele se elevava, o rapaz ia adquirindo seus movimentos novamente.

—Malditos humanos... – pragueja Megaira, levantando-se, machucada. — Continuam a se rebelar contra os deuses, mesmo sendo seres inferiores?!

—Deuses o caramba! – responde Serena. — Vocês são três criaturas ridículas, que nunca lutaram contra ninguém desde os tempos mitológicos, apenas torturando almas indefesas! Nós. humanos, estamos lutando desde o início da nossa existência! Lutando pra sobreviver! Lutando por nossos objetivos! Lutando pra ajudar os outros!

—Não tem essa... de diferença entre “deus” e “humano” no campo de batalha... – completa Raphael. — No final das contas, o que define o vencedor é quem tem o Cosmo mais forte!

—E, permitam-se dizer, se vocês ficaram tão abaladas com o Funeral das Almas feito com a explosão de apenas dois espíritos, seus Cosmos estão muito enferrujados – provoca a Sacerdotisa.

—Que insolência!

—Raphael, eu vou atacar para te dar uma abertura. Finalize com o seu golpe de fogo mais poderoso.

—Entendido.

—Nada do que planejarem irá funcionar! Morram, humanos!

As três deusas avançam contra os jovens, e Serena novamente invoca o muro de zumbis com as almas que ainda restavam, elevando seu Cosmo negro de miasma ao máximo.

—Sintam o ódio de todos aqueles que vocês mataram! Réquiem da Sepultura! – elevando seu Cosmo ao máximo, Serena e os zumbis disparam as esferas de miasma na direção das deusas. Ela controla a trajetória dos golpes, de modo que, para se desviarem, as três precisassem voar muito próximas umas das outras, transformando-as num alvo só. — Agora, Raphael!

—Deixe comigo! – Raphael eleva seu Cosmo, que passa do tom prateado para o carmesim, gerando poderosas chamas. As Erínias, que continuavam a tentar se desviar do Réquiem da Sepultura, não poderiam evitar aquele ataque. Então, a forma de um lince gigante feito de fogo apareceu às suas costas, e Raphael avançou com grande velocidade com o gato gigante o seguindo no trajeto. — Garra Reluzente do Inferno!

Raphael atravessou as Erínias com seu ataque. Os corpos das deusas se incendiaram como palha seca, e as três caíram ao chão, gritando de dor. As chamas se apagam quando as três param de se debater.

Raphael continuou parado na posição de seu ataque, com o punho esquerdo apontado para a frente, respirando pesadamente. Ele desfaz essa postura para olhar para trás, e encontra Serena caminhando em sua direção com um sorriso no rosto.

—Conseguimos, não é? – pergunta Raphael.

—Só em seus sonhos – responde a voz de Megaira aos seus ouvidos.

“Quando ela...?!”

Ópera Infernal! – o grito estridente da Rancorosa novamente derruba os dois jovens Santos ao chão. Ainda que tivessem entendido como superar os efeitos daquela técnica, não era tão simples evitar o sofrimento imediato que ela causava.

—Vocês dois... merecem um castigo muito pior do que a morte... – disse Tisífone.

—Nós devíamos ferver suas almas no caldeirão do inferno e oferecê-las como um lanche para o Cérbero... – completa Alecto, sorrindo com a própria sugestão.

—Não farão nada disso, Erínias – declara uma voz masculina, que não pertencia a Raphael.

As deusas olham em volta, procurando o dono daquela voz. Raphael e Serena, que não a ouviram, sentiam o Cosmo de seu dono, e também tentaram se mover para olhá-lo. Ele vinha ao longe, caminhando no mesmo sentido que a extensa fila dos mortos, na direção do local onde acontecia a batalha entre os Santos e as deusas: a borda do buraco do Yomotsu. A luta foi levada até esse lugar inconscientemente pelas Erínias, que ao se desviarem das investidas dos Santos, não perceberam estar sendo mais e mais empurradas na direção do poço das almas.

—Quem é você? Mais um humano que deseja encontrar um fim prematuro?

—Um humano? Sim, certamente. Mas não me menosprezem apenas por isso. Afinal de contas, sou relevante o suficiente para que perguntem meu nome – diz aquele homem, instantaneamente chegando mais perto através de teletransporte. — Sou o Santo de Ouro da constelação do Caranguejo, o guardião da Quarta Casa do Zodíaco, Virgílio de Câncer.

Agora que estava a pouca distância (embora ainda precisasse caminhar alguns metros para estar no mesmo local que os outros cinco), podia-se ver seu rosto. Era um homem pálido, de semblante triste. Os cabelos eram brancos no topo da cabeça, mas as pontas dos cabelos, principalmente os fios que formavam sua franja, eram vermelhos, assim como seus olhos, que se escondiam atrás de óculos de armação preta. Em seu corpo, trajava a Vestimenta Dourada de Câncer, e carregava o elmo da armadura na mão esquerda.

—Um Santo Dourado? Você acha que vamos nos impressionar só por causa da cor da sua Vestimenta? Não se superestime, humano!

—Cale-se, Erínia – ordena Virgílio, numa voz calma, mas autoritária. As três deusas tremeram ao ouvir aquela ordem.

“Mas o que é isso? Que aura é essa que esse humano emana, que parece tão acolhedora, e ao mesmo tempo, temível? Parece até... a própria encarnação da morte!”

—Deusas caídas, existências miseráveis sem propósito. Vocês, que tanto se divertiam punindo as pessoas, serão agora julgadas por mim, um humano.

—Já chega de brincadeira! – grita Alecto.

—Não importa quem seja, vocês Santos sentirão na pele a fúria das Erínias, as Deusas Veneradas! – ameaça Tisífone.

—Apagaremos a existência das suas almas nesse momento! – completa Megaira.

—Parece que ainda não entenderam sua situação...

As três deusas foram envolvidas num Cosmo escuro, arroxeado, que criou a imagem de uma horrenda criatura infernal: corpo feminino, cabelos de serpente, asas de morcego: a própria representação das Erínias na mitologia.

Investida Infernal das Fúrias! – exclamam as três, lançando seu Cosmo na forma daquela projeção.

—Oh, espíritos atormentados... – murmura o Santo de Ouro, de olhos fechados, dirigindo-se para os zumbis que Serena ainda não tinha “usado”. — Permitam-me usar a energia de suas almas para proteger a paz e a justiça na Terra – Virgílio então abre os olhos, encarando o golpe desferido contra ele, e apontando a mão direita na direção das deusas, gritou. — Presépio: Desejo dos Espíritos!

As almas restantes foram consumidas, se transformando em fogo-fátuo, que foi disparado na forma de raios de luz contras as Erínias, dissipando sua técnica e atingindo diretamente seus corpos e almas. O impacto despedaçou aquilo que sobrava de suas Sobrepelizes, jogando-as no buraco do Yomotsu.

—Não pode ser! Por que almas controladas por um mero humano podem superar o nosso poder?! – gritou Tisífone, enquanto caía através do poço para o vazio do Submundo.

—Seres como vocês, que encontram prazer na morte dos outros, jamais entenderiam o poder do sentimento de tristeza daqueles que já partiram... Que caiam no Submundo e recebam o devido julgamento por suas ações, assim como os humanos que vocês tanto torturaram – responde Virgílio, numa voz calma, que a Erínia provavelmente não escutou.

Serena e Raphael, ainda caídos ao chão, não puderam deixar de se surpreender com aquela cena. Um único homem, utilizando-se de pouquíssimas almas, derrotou com um golpe só as três inimigas que eles tanto penaram para enfrentar. Esse homem agora caminhava na direção dos dois jovens, com um sorriso melancólico no rosto.

—Conseguem se mover? Desculpem por não ter sentido essa batalha mais cedo. Eu poderia tê-los ajudado antes.

—Como nos achou aqui, Mestre Virgílio? – pergunta Serena, cambaleando enquanto se punha de pé.

—Eu estava em missão na Ilha do Espectro, quando senti um choque violento de Cosmos vindo do Yomotsu Hirasaka. Pedi permissão a Ariel para vir checar o País dos Mortos, e encontrei vocês. Foi um belo trabalho, considerando que suas inimigas eram deusas. Parabéns, vocês dois.

—Se o senhor não tivesse chegado, nós teríamos sido torturados pra sempre por aquelas loucas... – comenta Raphael. — Obrigado por nos salvar, senhor Virgílio.

O Santo de Câncer sorriu e maneou a cabeça, agradecendo o elogio, mas se virou tristemente para Serena em seguida.

—Mas Serena... – começa ele. — Enquanto eu esperava a permissão de Ariel para vir até aqui, eu pude sentir o combate que vocês travavam. E eu pude perceber o modo como você utilizou as almas dos mortos...

—Sim, Mestre, mas foi uma situação de emergência, e...

—Ainda assim, Serena. Nós, os Santos das Almas, não devemos nos portar como se fôssemos os carrascos dos espíritos, e usá-los a nosso bel-prazer – Virgílio estende as mãos, indicando as infinitas filas de mortos. — Estas almas lamuriantes sofreram muito em vida, e estão rumando para seu destino final, onde receberão o justo tratamento. Aqueles que erraram devem pagar por seus erros. Aqueles que fizeram o bem devem ser recompensados. Quando utilizamos nossas técnicas, nós apagamos a existência dessas almas, negando-lhes a sua justiça individual. Você deve ao menos se desculpar com elas quando o fizer.

—Eu sei disso, Mestre... – a garota olha para o céu. Os restos das almas utilizadas durante aquele combate ainda podiam ser vistos, fracamente, mas já desapareciam. Aquelas almas deixariam de existir, e não teriam a vida eterna após a morte. — Obrigada por terem me ajudado nessa batalha...

Virgílio e Serena se ajoelharam, fecharam os olhos, abaixaram suas cabeças e puseram a palma direita aberta sobre o coração, como se fizessem uma prece por aquelas almas. Raphael assistiu aquilo tudo encantado. Os temíveis controladores dos mortos, os guerreiros que usavam o poder do Aglomerado do Presépio, na verdade eram Santos que respeitavam a morte e os mortos, entendendo-os como parte do ciclo da vida humana. Todos no Santuário sempre evitavam se aproximar desses Santos, devido à atmosfera fúnebre que os envolvia. Mas agora, a visão do Santo de Lince sobre esses guerreiros mudara completamente.

—Eu devo retornar para a Ilha do Espectro – diz Virgílio, finalmente se levantando. — Posso deixá-los aqui por conta própria? Verei vocês no Santuário da próxima vez.

—Sim, Mestre. Obrigada por sua ajuda. Iremos relatar tudo ao Patriarca.

—Ah, bom saber disso... Até nosso próximo encontro, Serena. Estou realmente orgulhoso de você – o espírito do Santo de Ouro se desfaz nas sombras. Tinha retornado a seu verdadeiro corpo na Terra.

—Vocês são incríveis... – elogia Raphael, boquiaberto.

—Hehe... Obrigada... Bom, vamos voltar? – Serena estende a mão para o parceiro, que, sorrindo, a toca. Os dois são envolvidos por uma luz branca, e suas almas deixam aquela dimensão.

Um segundo depois, os dois jovens acordam, ainda sentados naquele mesmo banco de praça. Os dois se olham e sorriem, comemorando o sucesso da missão, mas Serena se sente desconfortável. Olhando em volta, ela vê algumas pessoas passando em volta com sorrisos no rosto, encarando os dois Santos. E ela logo se dá conta do porquê: naquela posição (os dois estavam apoiados um no outro), Serena e Raphael pareciam dois namorados que haviam cochilado juntos num banco de praça. A garota se levanta bruscamente, deixando Raphael confuso.

—Muito bem, muito bem... – começa ela, tentando disfarçar o nervosismo. — Você tá inteiro?

—Ainda um pouco surdo, mas no geral, sim – responde Raphael.

—Então, vamos andando. A gente tem que achar um hotel pra ficar, e amanhã cedo nós voltamos pro Santuário.

Serena saiu caminhando apressada, e Raphael logo se levantou e andou atrás dela. A garota ainda estava se perguntando por que ficava tão abalada perto daquele rapaz. O garoto não podia deixar de pensar no quanto aquela menina era interessante.


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Notas finais do capítulo

A terra dos deuses nórdicos, Asgard. Depois do desaparecimento misterioso das duas figuras mais importantes do país, o Santuário de Atena envia Agatha de Prometeu, Acácia de Sísifo e Kyo de Cisne para auxiliar na resolução do caso. Os três Santos procuram informações com os Guerreiros Deuses do Palácio Valhalla, tentando chegar a uma conclusão... Mas será que o perigo não está muito mais perto do que imaginam?

Próximo capítulo de Saint Seiya - Star Army:

A conspiração nas terras geladas – Os temíveis Guerreiros Deuses!

Você, já sentiu o Cosmo?



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